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domingo, 25 de maio de 2014

Rodrigo Constantino - VEJA.com


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Coluna
Rodrigo Constantino

Análises de um liberal sem medo da polêmica
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25/05/2014 às 11:16 \ Economia, Inflação
Os amigos da inflação são os inimigos do povo. Ou: Gustavo Franco x Marcelo Neri



A minha leitura do caderno de Economia do GLOBO de hoje foi feita em uma ordem interessante. Primeiro, a notícia de que a alta inflação corrói a “nova classe média” (lembrando que ela engloba até gente que vive em favelas). O cálculo aponta para R$ 73 bilhões de perda de consumo dos brasileiros que subiram na pirâmide social recentemente:

A escalada da inflação atinge de forma perversa a parcela da população brasileira que ascendeu para a classe C e passou a consumir produtos e serviços antes inatingíveis. O dragão abocanhou R$ 73,4 bilhões desse grupo nos últimos 12 meses, segundo estudo do Instituto Data Popular, feito a pedido do GLOBO. A classe C movimenta cerca de R$ 1,17 trilhão por ano, calcula o instituto. Nos últimos 12 meses, a inflação acumula alta de 6,28%, pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A mordida no orçamento só não foi mais doída porque a renda da classe C continuou a subir. No entanto, ainda em fase de expansão, a nova classe média já está dividida. Boa parte se encontra em uma “zona de rebaixamento” e corre o risco de voltar à classe D por causa das condições da economia brasileira: combinação de inflação persistente e juros altos.

Em seguida, vem uma entrevista com um economista em ascensão na carreira política, Marcelo Neri, alegando que esses índices estão superestimados. Sua sugestão é mexer na cesta de alimentos que compõe o índice, ou seja, se o tomate sobe muito de preço, retira-se o tomate da conta. É uma solução bem nos moldes da equipe de Guido Mantega, adepta dos malabarismos contábeis que atacam sintomas em vez de causas dos problemas. Diz Neri:

A inflação que importa para o brasileiro é quanto aumentou a cesta que ele consome, e o INPC e o IPCA (índices calculados pelo IBGE) estão um pouco superestimados, porque se sobe o preço do tomate, eu consumo menos tomate. Estes índices são conservadores. Nos Estados Unidos, os índices de preços são encadeados, e a cesta vai mudando. Na semana passada, discuti essa ideia com o Banco Central e o pessoal concordou.

Além disso, Neri parece ignorar que a inflação de serviços é que tem rodado sistematicamente acima da média (e da meta), ou seja, não tem nada a ver com uma safra ruim ou condições climáticas, e sim com uma espiral que é resultado de uma política fiscal expansionista, uma política monetária frouxa, e um mercado de trabalho aquecido. Mas Neri acredita (ou finge acreditar) que os mais pobres e a classe média estão muito satisfeitos, e que só os ricos teriam motivo para reclamar:

Se o João é um cara pobre, está feliz; o João do meio da distribuição também está, talvez nem tanto quanto o primo pobre dele. Agora, o primo rico tem todas as razões para não estar gostando muito da situação. Além de a renda dele não estar crescendo muito, ele está tendo problemas, como ter que dividir aeroporto com quem nunca fez check-in, enfrentar engarrafamento com mais carros nas ruas. Os dados mostram que existe uma transformação profunda, não percebida por quem está em cima.

A transformação que existe é na matriz econômica, e ela é para pior! O governo Dilma sacrificou o nosso futuro em nome do populismo, da visão míope de curto prazo, eleitoral. E Marcelo Neri tem sido um instrumento de propaganda enganosa desse mesmo governo, que chegou a abrir uma filial do Ipea na Venezuela, para fazer propaganda enganosa também em prol do autoritário e fracassado governo bolivariano.

Mas a terceira leitura coloca as coisas nos eixos novamente. Trata-se da coluna de Gustavo Franco, uma verdadeira aula sobre inflação, tomando emprestadas lições históricas. Franco demonstra como o discurso oficial que tenta suavizar a ameaça inflacionária é falso, um mero disfarce para enganar a população. Diz o economista:

A verdadeira discussão não é sobre se a inflação nos serviços é “benigna”, mas sobre complacência com a inflação. A alusão a uma nova inflação estrutural serve apenas para trazer de volta uma tese conhecida e maléfica: se há uma boa explicação “não monetária” para a existência da inflação, segue-se que a política monetária não funciona, ou produz um desemprego desnecessário para corrigir o incorrigível.

A própria presidente disse recentemente que reduzir a meta de inflação de 4,5% (na verdade 6,5%) para 3% faria o desemprego pular para 8% ou mais. De onde saiu essa matemática? Se fosse verdade, a redução na taxa de inflação de 916% para 5%, observada entre 1994 e 1997 (taxas acumuladas para o ano calendário), teria criado um caos. Em vez disso, o desemprego oscilou de 5,1% para 5,7%. Para quem não é do ramo parece mágica, não é mesmo?

O fato é que as autoridades governamentais prosseguem com o velho truque de antagonizar o combate à inflação e não a inflação, assim se esquivando canhestramente de fazer uma defesa aberta dessa sua criatura amiga, órfã apenas na aparência, e que parece nascer de causas naturais sem que ninguém lhe dê o que comer. Quem são os amigos da inflação? Basta olhar para os inimigos do combate à inflação.

Nada mais a declarar, meritíssimo!

Rodrigo Constantino

Tags: Gustavo Franco, Marcelo Neri


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25/05/2014 às 9:37 \ Cultura

De Carlos Lacerda para Letícia Spiller




A atriz Letícia Spiller já é velha conhecida dos leitores deste blog. Afinal, foi uma carta a ela a publicação recordista de audiência por aqui, com mais de um milhão de visualizações e quase 300 mil curtidas. Falei para a atriz, que chegou a dizer que foi idiota no passado ao usar camisa com a bandeira americana em vez de Che Guevara, usar o recente assalto que sofreu para refletir sobre as ideias equivocadas que disseminava.

A notícia publicada ontem no Ego, portanto, de que a atriz resolveu passar as férias com os filhos na… Disney, não irá surpreender tantos assim. Por que Disney? Por que não Cuba? Esse pessoal adora adorar Cuba de longe, e odiar o “imperialismo ianque” bem de perto, divertindo-se com aquilo que só os americanos capitalistas sabem oferecer bem.

Incoerência. Hipocrisia. Essas são as palavras que definem a atitude desses artistas. Letícia elogia Cuba e vai para os Estados Unidos, onde pode usar a sua camisa do Che Guevera em paz, ao lado do Mickey e do Pateta (quem é o pateta nessa história?). Se fosse o contrário, se elogiasse os Estados Unidos e fosse para Cuba com a camisa do Tio Sam, seria expulsa, presa ou fuzilada. Isso prova o abismo intransponível entre ambos os regimes, e também nos fala muito sobre a hipocrisia da esquerda caviar.

Nada disso é novo. Nelson Rodrigues já pegava no pé da “festiva” na década de 1960. Roberto Campos já havia resumido bem o fenômeno quando disse: “É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola…”

Outro que percebeu a hipocrisia dos nossos artistas engajados de esquerda, usando como exemplo o maior ícone deles, foi Carlos Lacerda, não por acaso odiado pelos socialistas tupiniquins. Eis o que ele escreveu no livro Depoimento, no ano em que nasci, 1976:

“Eu nunca fui, em outras palavras, da esquerda festiva. Essa glória eu tenho, nunca pertenci à esquerda festiva, que inclusive é um fenômeno relativamente novo. Eu nunca seria capaz de fazer o papel do Chico Buarque de Holanda, cuja música eu aprecio muito e cujo caráter não aprecio nada. Estou falando dele, mas não especialmente dele. Só citando um exemplo. Digo isso porque é uma esquerda festiva, que é contra um regime do qual ele vive, no qual se instala, do qual participa lindamente, maravilhosamente, etc. Eu não conheço nenhum sacrifício que ele tenha feito senão a censura em suas músicas por suas ideias. Agora, acho que se ele tem essas ideias, então seja coerente, viva essas ideias, viva de acordo com elas. Isso não é nenhum caso particular com Chico… Estou apenas dando um exemplo. Enfim, tenho horror à esquerda festiva, porque acho que é uma forma parasitária de declarar guerra a uma sociedade da qual se beneficia e participa integralmente.”

Nada mudou. Ou uma coisa ao menos mudou: hoje em dia eles continuam esfregando toda essa hipocrisia em nossas caras, mas há forte reação! Como a esquerda vem finalmente perdendo a hegemonia cultural no país, agora já temos sites, blogs, jornalistas e milhares de indivíduos nas redes sociais se manifestando, condenando, criticando e cobrando um mínimo de coerência dessa turma.

Não são mais uns poucos corajosos isolados em uma coluna de jornal, mas um monte de gente que contesta a falta de coerência dos artistas que cospem no capitalismo somente da boca para fora. O preço da hipocrisia será cada vez mais alto para eles, o que pode representar um freio em tanta cara de pau…

PS: Assim como a esquerda caviar, eu também vou à Disney, mas ao contrário dela, eu elogio suas qualidades e até chego a afirmar que ela é muito melhor do que Foucault!

Rodrigo Constantino

Tags: Carlos Lacerda, Disney, Letícia Spiller, Nelson Rodrigues, Roberto Campos


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24/05/2014 às 19:35 \ Cultura, Politicamente Correto, Racismo

Sangue nas veias: Tom Wolfe ataca novamente




Finalmente terminei o novo livro de Tom Wolfe, Sangue nas veias, uma história envolvente que se passa em Miami, em meio ao caldeirão étnico e cultural repleto de latino-americanos e com poucos americanos “legítimos” (i.e., WASP). Wolfe é mestre em capturar o zeitgeist e também entrar na mente das pessoas, por meio de seus personagens complexos, e esmiuçar seus motivadores psicológicos, sempre movidos ou mexidos pela vaidade.

Uma mistura de romance policial com debate racial, contando com ataques irônicos ao mundo das artes contemporâneas, as mais de 600 páginas prendem o leitor do começo ao fim. A ditadura velada do politicamente correto simplesmente não tem vez com Wolfe, que demonstra possuir a maior qualidade que pode ter um escritor: coragem.

Qualidade esta que poucos de seus personagens demonstram ter, como infelizmente ocorre na vida real. Um prefeito cubano que só se importa com o que pensam dele, um editor de jornal que almeja apenas preservar seu emprego confortável, poucos ali parecem dispostos a deixar certos receios de lado para simplesmente “fazer a coisa certa”.

Nem por isso, porém, os heróis do livro, como o patrulheiro cubano Nestor Camacho, são figuras maniqueístas, puras e, portanto, desumanas. Sofrem também, como os demais, com a tentação da vaidade ou medos comezinhos – como o pavor do esporro da esposa caso perca o emprego por querer bancar o herói -, mas na “hora da verdade” agem com base em um conceito superior de moralidade. E não é isso que conta?

Em meio a uma história interessante, que daria um ótimo filme, Tom Wolfe não seria quem é se não destilasse todo o seu veneno em cima dos arrogantes e fúteis, aqueles que fazem cara de superioridade afetada pois “entendem das coisas”, apreciam as artes vanguardistas (muitas vezes puro lixo tratado com reverência religiosa), e por incrível carência afetiva precisam estar onde as coisas acontecem.

Sentem-se importantes apenas no burburinho da última moda, e por Deus!, como necessitam do reconhecimento alheio. Esses são os alvos preferidos de Tom Wolfe desde Radical Chic ou Fogueira das Vaidades. Como uma horda de hunos, essa gente parte em busca do mais novo símbolo de status “intelectual”, para provar como pairam acima da “esqualidez” da vida comum, com seu “refinamento” artístico.

Saiam da frente! Lá vêm elas! Hordas de pessoas cultas e abastadas saltitando e urrando com nostalgie de la boue, “saudade da lama”… ávidas para inalar as emanações da Arte e de outras Coisas Mais Elevadas em meio à esqualidez geral do lugar.

Tom Wolfe é cruel na medida certa com nossas elites vaidosas e abobalhadas. Mesmo com todas as suas qualidades, de “América Latina que deu certo”, convenhamos: Miami, com uma das maiores quantidades de “breguice” por metro quadrado, é um prato cheio para o autor tripudiar dessa classe de nouveau riche, não é mesmo?

Rodrigo Constantino


Tags: Tom Wolfe


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24/05/2014 às 10:35 \ Comunismo, Socialismo

Quem ainda consegue defender Cuba?




Duas colunas de hoje na Folha falam sobre Cuba. Uma delas é a do sociólogo Demétrio Magnoli, a outra é a do cubano Leonardo Padura. Ambas apontam para a falta de liberdade na ilha, uma no caso da imprensa, a outra no caso do comércio. Poderiam ser escritas várias outras colunas sobre a ilha caribenha, todas apontando para a liberdade asfixiada em diferentes setores. Afinal, falta liberdade em Cuba, ponto.

Comecemos por Demétrio, que cita o caso da blogueira Yoani Sánchez, que lançou um jornal virtual esta semana, mas já foi bloqueada, boicotada, pois em Cuba é crime discordar do governo. Ele diz:

“Deem-me a liberdade de conhecer, de pronunciar e de debater livremente, de acordo com minha consciência, acima de todas as liberdades”, escreveu John Milton em 1644 no “Areopagitica”, que solicitava ao Parlamento inglês a anulação da exigência de licença oficial para imprimir. O panfleto de Milton está na origem da liberdade de imprensa e da aventura histórica do jornalismo. Seu argumento é que, ao longo do tempo, a obra coletiva de incontáveis autores individuais produziria um saber valioso, muito superior ao saber circunstancial dos censores a serviço do governo. Esse tema, tão antigo, conserva evidente atualidade na nossa era digital. O lançamento de 14ymedio reativa a polêmica deflagrada em meio à Guerra Civil Inglesa do século 17: a liberdade do jornal produzido no 14º andar de um edifício do centro de Havana não é um mero “problema cubano”.

“Estou preso e sou feliz, pois me sinto mais livre que muitos que estão nas ruas ou na União de Escritores e Artistas de Cuba”, respondeu Ángel Santiesteban, em entrevista publicada na edição inaugural de 14ymedio. Santiesteban já foi agraciado com o Prêmio Casa das Américas, principal distinção literária concedida pelo regime cubano. Há 13 meses cumpre pena por delito de opinião. Cuba é um teste político e moral para os intelectuais de esquerda. No Brasil, até agora e com honrosas exceções, eles foram reprovados. Não se viu um manifesto pela libertação de Santiesteban. Duvido que solicitem a liberdade para o 14ymedio. Eles acham que a liberdade deve ser um privilégio de usufruto restrito aos que concordam com eles.

Já a coluna do escritor cubano fala daqueles que saíram do país em busca de liberdade, foram considerados traidores e apátridas, e agora podem, por desespero do regime falido, voltar a investir na ilha, em busca de lucros. Paduro contrasta tal “privilégio” com a situação daqueles que ficaram, sofreram todas as agruras de uma ditadura, da miséria, mas não gozam do mesmo direito. Ele diz:

A lei de investimento estrangeiro aprovada pelo Legislativo cubano decretou que cidadãos de origem cubana residentes no exterior podem vir a Cuba para investir, fazer negócios e obter lucros. Os apátridas podem comprar partes da pátria que eles ou seus pais abandonaram. A condição fundamental para fazê-lo é que tenham triunfado em alguma parte do mundo e disponham de capital suficiente.

Essa lei, como o nome adverte, só contempla a possibilidade de realizar investimentos em Cuba para empresários estrangeiros, entre os quais cubanos que tenham deixado o país. A lei, assim, não dá espaço aos cubanos que permaneceram apegados à sua terra e resistiram a todas as adversidades em seu país.

O máximo a que podem aspirar os cubanos de Cuba é ter um restaurante, um táxi ou uma oficina de conserto de celulares.

Reparem que estamos falando do básico do básico: poder ter um simples jornal virtual para emitir opiniões ou abrir um pequeno negócio em seu próprio país. Tudo proibido em Cuba, país tratado como fazenda particular dos Castro, os senhores escravocratas donos de 11 milhões de seres bovinos, que vivem na completa pobreza e sem liberdade.

Com isso em mente, resta perguntar: quem ainda consegue defender o modelo cubano? Sim, porque ao contrário do que certos “humoristas” dizem, ainda há muita gente que faz exatamente isso, enaltecendo as “conquistas sociais” da ilha-presídio. Muitos desses estão inclusive no poder, fazem parte do governo, chegaram até ao posto máximo de presidente (ou “presidenta”) da República.

Repito, então: quem ainda consegue, ciente do que se passa em Cuba, defender esse regime, a mais longa e cruel ditadura do continente? Tento, com a maior boa vontade, procurando ser o mais obsequioso possível, justificar de alguma outra maneira, mas confesso ser incapaz. A resposta que encontro é sempre a mesma: só alguém totalmente desprovido de caráter, honestidade e empatia, pois a ignorância não pode mais explicar algo tão nefasto.

Rodrigo Constantino

Tags: Cuba, Demétrio Magnoli, Leonardo Padura


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24/05/2014 às 10:01 \ Educação

USP reforça tese de que não adianta nada jogar mais recurso público no modelo atual de ensino




Uma reportagem da Folha de hoje mostra que a USP, mergulhada em grave crise financeira e educacional (vem perdendo posições no ranking mundial de qualidade de ensino), contou com expressivo aumento de repasse de verbas públicas nos últimos anos. Elas mais que dobraram de 2006 a 2013, tendo crescido o dobro da inflação no período:

A USP entrou em crise financeira apesar de sucessivos aumentos de repasses, recebidos ao menos nos últimos sete anos. Os recursos subiram 105,3% de 2006 a 2013.

Os repasses provenientes do governo estadual aumentaram em todos esses anos. O acumulado ficou acima da inflação, que foi de 50%.

Só no ano passado a principal universidade do país recebeu R$ 4,4 bilhões do governo. Por decreto, ela ganha o equivalente a 5% do ICMS, principal imposto estadual.

Apesar desta transferência enorme de recursos públicos, a universidade não foi capaz de evitar a crise. Os gastos que mais aumentaram foram ligados a pessoal:

O atual reitor, Marco Antonio Zago, divulgou carta no mês passado dizendo que o aumento de gastos com folha de pagamento foi o principal fator para o deficit – já foi usado R$ 1,3 bilhão de reservas, o que forçou a suspensão de contratações e obras.

Conforme a Folha revelou nesta semana, os aumentos de gastos foram referendados desde 2011 pelo Conselho Universitário, órgão máximo da USP, que reúne cerca de 150 dirigentes e representantes, entre eles o atual reitor.

Ou seja, a montanha de recursos serviu para beneficiar alguns poucos “amigos do rei” de forma desproporcional, sem nenhuma garantia de melhora na qualidade do ensino. Alguns oferecem como solução a cobrança de matrícula dos alunos mais ricos, ou seja, acham que cobrar dobrado do cliente é a saída, uma vez que eles já pagam via impostos.

Já eu penso que jogar ainda mais recursos no modelo atual não resolve nada. O lamentável fato é que muitas de nossas universidades viraram feudos protegidos pelo corporativismo e reféns da politicagem. Não há meritocracia, a doutrinação ideológica é visível, e muito poder é concentrado em poucos, sem elo com a satisfação do consumidor do produto ofertado.

Parte da explicação é a ausência de responsabilidades individuais pelos problemas, aquilo que os economistas chamam de “tragédia dos comuns”, como aponta o Hélio Schwartsman em sua coluna hoje. O uso de recursos comunitários escassos de forma irresponsável, por não haver um método de accountability decente, acaba exaurindo a fonte dos recursos sem a contrapartida na qualidade. Diz o colunista:

Na USP, a tragédia veio na forma de generosos aumentos salariais para professores e funcionários e outras despesas que, embora defensáveis individualmente, acabaram por comprometer o orçamento da universidade. A nova carreira dos técnicos, por exemplo, que resultou num incremento salarial médio de 75%, foi aprovada por unanimidade no Conselho Universitário. E isso apesar de um parecer técnico ter informado na ocasião que a mudança exigiria que a universidade utilizasse verbas de sua reserva de contingência.

Os membros do Conselho são quase todos docentes, a maioria com certa ambição política e que odeia indispor-se com colegas e funcionários. Deu no que deu. A folha salarial da USP já consome 105% do orçamento. A solução mais prática para a tragédia dos comuns é tentar redesenhar as instituições para que todos sejam penalizados ou recompensados por suas decisões individuais. Isso vale tanto para os condomínios como para o Conselho Universitário.

É mais fácil falar do que fazer, claro, mas o caminho passa por adotar medidas de responsabilidade no uso dos recursos, não por simplesmente jogar mais recursos em um buraco sem fim. Cobrar mensalidade dos alunos mais ricos não resolve nada, além de ser injusto: o consumidor teria que pagar ainda mais por um serviço de qualidade questionável e em deterioração.

O caso da USP, que outrora já fez parte da lista das 200 melhores universidades do mundo, demonstra como estão equivocados todos aqueles que acham que, para melhorar a qualidade de nosso ensino, basta aumentar a fatia dos gastos públicos destinada ao setor de educação. Nada mais falso!

Rodrigo Constantino

Tags: Helio Schwartsman, USP


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23/05/2014 às 17:28 \ Sem categoria
Clipping do dia


Dia de estupidez, com Marcelo Freixo

Livro de Piketty estaria repleto de erros estatísticos, diz Financial Times

Just do it! Uma história fantástica de empreendedorismo

“Ser médico no Brasil não compensa”, diz jovem médico

O cafetão do caos: chacoalhando as árvores para colher os frutos… podres!

Petista se reuniu com criminosos do PCC: não podemos perder a capacidade de indignação!

Viciados em poder e as emoções perigosas. Ou: A doce ilusão de Nelson Motta


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23/05/2014 às 16:14 \ Comunismo, Humor

Dia de estupidez, com Marcelo Freixo



Vergonha alheia. Eis a única expressão que ficou martelando em minha cabeça após ver esse vídeo abaixo, que ofereço ao leitor, mas não sem antes recomendar Plasil na veia. Dizem que a melhor tática contra um comunista é deixá-lo falar. Não resta dúvida de que isso faz sentido, principalmente quando vemos o papelão a que esses vermelhos se prestam.

O queridinho das esquerdas, o socialista Marcelo Freixo, aquele adorado pelos artistas e “intelectuais” do Brasil, pretende, pelo visto, substituir o programa “Zorra Total” da TV Globo, aquele com humor requintado feito para pessoas muito inteligentes e exigentes. Deve ser essa a ideia de “democratização da mídia” dessa turma: impor a todos esse hilário programa que mistura educação com comédia. Vejam o resultado:



Confesso que às vezes dá uma vontade de jogar a toalha e desistir de vez do Brasil…

Rodrigo Constantino

Tags: Marcelo Freixo


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23/05/2014 às 15:55 \ Economia, Filosofia política

Livro de Piketty estaria repleto de erros estatísticos, diz Financial Times





Nassim Nicholas Taleb, autor de The Black Swan, já havia apontado erros um tanto grosseiros nas análises estatísticas de Thomas Piketty, o economista francês que virou a sensação do momento e caiu nas graças das esquerdas, ávidas por atacar o capitalismo e pregar mais e mais impostos sobre os “ricos”. Agora foi a vez de o Financial Times dissecar os números e encontrar vários problemas no tijolo que virou “best seller” internacional (pergunto-me quantos ardorosos fãs realmente leram o calhamaço de 600 páginas).

O FT encontrou erros e até mesmo dados inexplicáveis que entraram nas estatísticas do economista francês. A investigação do jornal britânico derruba a tese central do livro, de que a desigualdade material tem aumentado a níveis não vistos desde a Segunda Guerra. O FT conclui que há pouca evidência estatística de que isso seja verdade.

Há até mesmo erros de transcrição em suas planilhas das fontes originais, ou então fórmulas incorretas. O jornal britânico vai além e levanta a suspeita de que alguns dados teriam sido “marretados”, “torturados” até que confessassem aquilo que o autor desejava. Como exemplo, o FT cita o caso europeu, que não apresenta tendência alguma de crescimento da desigualdade desde 1970.

Procurado pelo FT, Thomas Piketty alegou que utilizou inúmeros dados diversos e heterogêneos, que precisam de ajustes em relação às fontes originais. O economista reconheceu que os dados podem ser melhorados no futuro, mas se mostrou seguro de que as conclusões não serão alteradas. Em meu dicionário, isso se chama ideologia ou ato de fé.

Vários esquerdistas se apressaram ao encher de elogios o jovem “gênio” francês, entre eles dois com Prêmio Nobel de Economia: Paul Krugman e Joseph Stiglitz. Mesmo alguns colunistas que nada entendem de economia, como é o caso de Luiz Fernando Verissimo, passaram a usar seu espaço em jornais para tecer loas ao popstar que resgatou o sonho marxista e deu um pretexto teórico para novos avanços do estado sobre o bolso dos indivíduos.

Uma vez mais, veremos se tratar apenas do desejo de crer em algo, não de uma conclusão efetivamente calcada em sólidos dados e análises isentas. Como disse o austríaco Böhm-Bawerk, que refutou as teses marxistas, “as massas não buscam a reflexão crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções”. Acreditam na teoria marxista porque lhes agrada. O economista conclui: “Acreditariam nela mesmo que sua fundamentação fosse ainda pior do que é”.

Isso vale para as massas enganadas e para os “formadores de opinião” também, que usam as massas de forma oportunista. Mas o rei está nu. Thomas Piketty poderá ser chamado um dia, quem sabe, de Thomas Pikaretty…

Rodrigo Constantino

Tags: Bohm-Bawerk, Joseph Stiglitz, Marx, Paul Krugman, Thomas Piketty


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23/05/2014 às 15:20 \ Empreendedorismo

Just do it! Uma história fantástica de empreendedorismo




O Blog do Empreendedor, no Estadão, contou nesta quinta a resumida história de Phil Knight, o fundador da Nike. É, de fato, muito inspiradora e interessante, pois nos permite compreender alguns itens cruciais do empreendedorismo, com frequência ignorados. São eles:

- para empreender, não é preciso ter grande soma de capital inicial; vários empreendedores de sucesso partiram praticamente do nada, em garagens (Vale do Silício), com pouco mais de mil dólares ou até menos, o que derruba aquela típica imagem do sistema capitalista como instrumento de proteção do status quo de quem já possui muito dinheiro;

- a liberdade econômica é fundamental, incluindo o livre comércio; Knight só foi capaz de criar a Nike porque trouxe com facilidade os produtos importados do Japão no começo, ou seja, em um ambiente com protecionismo comercial e forte nacionalismo, ele não teria prosperado;

- a burocracia é um grande entrave ao empreendedorismo; se Knight tivesse se deparado com uma enorme quantidade de papelada burocrática para abrir sua empresa, contratar seus funcionários e praticar seu comércio, a Nike não teria nascido ou chegado ao seu tamanho atual; a facilidade em se fazer negócios e a flexibilidade trabalhista ajudam o empreendedor;

- o empreendedorismo e o capitalismo não são, de forma alguma, incompatíveis ou antagônicos ao altruísmo; ao contrário: é seu sucesso que permite a filantropia, como vimos no caso de Knight, que doou mais de US$ 100 milhões para a instituição que o inspirou a ousar e arriscar em prol de seus sonhos.

Segue abaixo um artigo meu sobre empreendedorismo com base em livro de Israel Kirzner:

O Empreendedor Alerta



“A economia de mercado tem sido denominada democracia dos consumidores, por determinar através de uma votação diária quais são suas preferências.” (Mises)

A teoria ortodoxa de mercado e do sistema de preços costuma enfatizar a análise de equilíbrio, assumindo as curvas de oferta e demanda como dadas. Insatisfeito com esta postura, que apresenta graves deficiências, o professor de economia da New York University, Israel M. Kirzner, escreveu um excelente livro defendendo a substituição dessa visão de equilíbrio por uma que encara o mercado como um processo, seguindo a perspectiva austríaca.

Em Competition & Entrepreneurship, Kirzner apresenta uma teoria de preços que ajuda na compreensão de como as decisões individuais ocorrem e mudam, automaticamente alterando as demais decisões no mercado. A eficiência dessa teoria não depende de uma alocação “ótima” dos recursos em equilíbrio, mas sim do sucesso das forças de mercado para gerar correções espontâneas nos padrões de alocação durante as fases de desequilíbrio. Entender o processo do mercado exige uma noção de competição inseparável daquela exercida pelo empreendedor.

A ignorância acerca das decisões que os outros estão para tomar costuma levar à escolha de planos inadequados por parte dos tomadores de decisões. No processo de mercado desencadeado após suas escolhas, novas informações são adquiridas sobre os planos dos outros agentes, o que gera uma revisão nas decisões antes tomadas. As decisões feitas em um período de tempo geram alterações sistemáticas nas decisões correspondentes para o período seguinte. Essas séries de mudanças interligadas nas decisões constituem o processo do mercado.

Este processo é inerentemente competitivo. Em cada momento, há a descoberta de novas informações antes não disponíveis, gerando novas oportunidades. No esforço de ficarem à frente dos competidores, os participantes são forçados a buscar uma interação cada vez mais hábil dentro de seus limites. A confiança na habilidade do mercado de aprender com a experiência e gerar um fluxo contínuo de informação que permite o processo de aperfeiçoamento depende da presença do empreendedor.

Segundo Kirzner, a função do empreendedor será justamente aproveitar as oportunidades criadas pela ignorância existente no processo do mercado. Se houvesse onisciência não haveria necessidade de empreendedores. Será a figura do empreendedor que perceberá as oportunidades existentes de lucro. Este empreendedor não precisa ser um proprietário dos recursos para produção. Ele simplesmente saberá onde comprar os recursos por um preço que será vantajoso produzir e vender um determinado produto. Seu valor vem da descoberta dessa oportunidade existente e não explorada ainda.

Em uma situação de equilíbrio de mercado não há espaço para a atividade empreendedora, neste sentido, pois não há ignorância ou falta de coordenação entre os agentes. É a ineficiência existente na realidade que permite uma realocação dos recursos por parte desses empreendedores, tornando o resultado mais eficiente. O empreendedor fica alerta para a possibilidade de usos mais eficientes dos recursos, não apenas para as demandas e ofertas existentes, como também para mudanças nelas. Ele deve saber onde as oportunidades inexploradas estão.

Na busca pelo lucro, a ação empreendedora irá reduzir a discrepância entre os preços pagos pelos agentes do mercado. Sua função é similar a de um arbitrador. O empreendedor é aquele alerta às informações que o mercado gera continuamente, fazendo ajustes que resultam da ignorância existente no mercado.

A competição está presente sempre que não há impedimento arbitrário para novos entrantes. Enquanto os outros forem livres para oferecer oportunidades mais atrativas aos consumidores, ninguém está isento da necessidade de competir. Portanto, toda barreira arbitrária à entrada de novos participantes é uma restrição na competitividade do processo de mercado. Um monopólio, nesse sentido, não ocorre necessariamente quando existe somente um único produtor de determinado produto, mas sim quando o acesso aos recursos desse mercado é restrito por algum controle arbitrário. É totalmente factível que apenas uma empresa ofereça certo produto sem que esteja desfrutando de uma posição monopolista, pela definição ortodoxa, já que ela sofre do mesmo jeito as pressões competitivas através da livre possibilidade de novos entrantes.

No processo competitivo do mercado, os empreendedores tomam decisões tanto sobre o preço como sobre a qualidade dos produtos. Para Kirzner, portanto, não há distinção entre os custos de produção e de venda de um produto. O empreendedor decide sobre tais variáveis buscando antecipar aquilo que o consumidor irá demandar. Neste processo, faz parte da função do empreendedor fazer com que o consumidor tome conhecimento da existência do produto. O esforço de venda é a tentativa do empreendedor de alertar os consumidores quanto às oportunidades de compra. Sua tarefa não está completa ao levar a informação sobre o produto para os potenciais consumidores: ele deve também se certificar de que os consumidores notaram e absorveram a informação.

Eis a relevância da propaganda, que é parte do mesmo esforço empreendedor. Os críticos da propaganda, vista como um desperdício de recursos pago pelos consumidores, ignoram que ela é parte fundamental do processo competitivo que torna o mercado mais eficiente. Os valores são subjetivos e o conhecimento é imperfeito, fazendo com que a propaganda do produto seja parte crucial do papel do empreendedor. Somente com isso a soberania do consumidor é mantida, já que ele pode decidir sobre suas compras depois que os produtores colocaram as oportunidades diante dele.

Afinal, o processo competitivo consiste numa seleção por tentativa e erro das oportunidades apresentadas aos consumidores, e sem a propaganda os empreendedores ficariam impedidos de oferecer uma vasta gama de opções, através das quais eles podem descobrir o padrão da demanda dos consumidores. Quem condena a propaganda está, então, adotando uma postura arrogante de onisciência, como se pudesse conhecer a priori a demanda dos consumidores.

Mises certa vez disse: “Não é porque existem destilarias que as pessoas bebem uísque; é porque as pessoas bebem uísque que existem destilarias”. No livre mercado, os consumidores são os verdadeiros patrões. São eles que decidem o que será produzido no fundo. Mas para que o funcionamento desse processo contínuo seja eficiente, é necessário contar com a presença dos empreendedores. São eles que, alertas a todas as oportunidades que a ignorância dos agentes e a assimetria de informação criam, fazem com que as preferências dos consumidores sejam realmente atendidas. O maior aliado dos consumidores é o empreendedor, alerta a todas as oportunidades de lucro no mercado competitivo.

Rodrigo Constantino

Tags: Israel Kirzner, Phil Knight


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23/05/2014 às 14:27 \ Democracia, Política, Saúde

“Ser médico no Brasil não compensa”, diz jovem médico




Um desabafo sincero de um jovem médico feito em sua página do Facebook no começo do mês deu o que falar, e já conta com mais de 30 mil curtidas. Não é para menos: conhecemos por alto o escândalo que é a saúde pública no Brasil, a ineficiência do SUS, mas é sempre chocante conhecer detalhes de dentro, que ele trouxe à tona, sobre a falta de recursos para se trabalhar direito. Para quem ainda não viu, reproduzo abaixo as denúncias feitas por Renan Scheidegger (meus grifos):

Sou médico, tenho apenas 1 ano de formado e, por mais estranho ou ridículo que isso possa soar aos seus ouvidos, eu estou provavelmente passando por uma crise profissional. Mas tudo bem, isso também soa ridículo aos meus ouvidos.

Se hoje eu pudesse dar um conselho a quem está prestando vestibular para medicina, eu aconselharia que desistisse enquanto há tempo. A não ser que esteja disposto a levar uma vida de sacrifícios sem resultados e decepções diárias. Ser médico no Brasil não compensa. Ser médico no Brasil não é para qualquer um.

Trabalho em um posto de saúde na periferia da capital paulista, onde todos pensam haver os melhores recursos. Possuímos apenas 6 consultórios médicos (minúsculos, diga-se de passagem), mas somos responsáveis por aproximadamente 37 mil pessoas. Eu, como médico do Programa de Saúde da Família, tenho que prestar assistência a aproximadamente 4 mil pessoas (cerca de mil famílias).

Faço atendimentos de clínica geral, pediatria, ginecologia e também realizo consultas de pré-natal. Mas o meu trabalho não se restringe apenas a consultas. O Ministério da Saúde determina que além de consultas, eu organize e execute ações educativas para a população, e ainda garanta consultas domiciliares àqueles pacientes que não podem se locomover até o posto de saúde. Mas como realizar um trabalho de qualidade quando não se tem estrutura para isso?

Comecei a trabalhar nessa unidade de saúde em março do ano passado e desde então vinha solicitando à administração alguns materiais básicos, como balança, balança pediátrica e régua antropométrica (aquela régua de madeira para medir o comprimento dos bebês). Após alguns longos meses de espera, enfiaram no meu consultório uma balança analógica (nova, tenho que dar o braço a torcer – e, sim, funcionava!), uma balança pediátrica enferrujada e uma régua antropométrica encardida com as marcações numéricas já bem apagadinhas.

Certa vez questionei à administração sobre a viatura da prefeitura que faria o transporte dos profissionais até a casa dos pacientes, uma vez que nem todos moram próximo ao posto de saúde; o que ouvi foram gargalhadas bem na minha cara e fui informado que deveria realizar as visitas domiciliares a pé ou usando o meu próprio carro. E é o que faço há pouco mais de 1 ano; vou às casas dos pacientes a pé mesmo… Ou vou com o meu próprio carro e o deixo estacionado lá, em uma área de risco, onde há tráfico de drogas e eventuais tiroteios, porque, é claro, a segurança nesse país também é uma fraude.

Uma vez, em um determinado mês no ano passado eu não cumpri as metas de visitas domiciliares e consultas exigidas pelo Ministério da Saúde, e fui duramente cobrado por isso. Argumentei com a administração, já que naquele mês eu havia sido convocado para muitas reuniões durante o expediente. Além disso, argumentei dizendo que é impossível prestar uma assistência minimamente decente e de qualidade com consultas de 15 minutos de duração, como é determinado; fora o fato de que é exigido que se faça, em média, visitas a 6 casas para avaliação geral de todos os membros da família em um período de 3 horas. Não existe qualidade nisso. A resposta que obtive foi “Não estamos falando de qualidade. Estamos falando de meta, estamos falando de números. Cumpra a meta.”

Essa demanda, não vem só por parte da administração. Essa cobrança vem também dos pacientes, que não conseguem entender que nós, funcionários desse sistema falido, somos tão vítimas do descaso quanto eles. Não há infraestrutura, não há funcionários suficientes e consequentemente não há consultas suficientes. Já tive a porta do meu consultório chutada, já tive o meu consultório invadido por pacientes que não conseguiram vaga de consulta, já colocaram o dedo na minha cara, já tentaram me agredir, já fui chamado de preguiçoso, vagabundo, imprestável, filho da p*ta e tudo mais… E, sim, já fui ameaçado.

Perceba que em momento algum eu me queixei do meu salário, em momento algum eu disse que estou financeiramente insatisfeito. Mas não sou pago para servir de outdor para propaganda política. Não sou pago para fazer milagres em um ambiente sem recursos. Não sou pago para salvar o mundo!

Eu estou cansado desse sistema falido. Cansado de acordar cedo, atender 33 pacientes em um único dia e ainda ouvir que se a população está desassistida, a culpa é minha. Cansado de ser fantoche propagandista desse governo imundo.

Ouvir a senhora Dilma Rousseff (que não teria competência para ser presidente sequer de uma associação de moradores), dizer hipocritamente que os médicos cubanos (coitados trazidos ao país sob um sistema de semi-escravidão em um golpe de maketing eleitoreiro) são mais atenciosos que os médicos brasileiros me enoja. Ao que me consta, ela não tratou o seu linfoma com um médico cubano ou em um hospital sucateado do SUS, mas no Hospital Sírio-Libanês com ótimos médicos brasileiros, os melhores especialistas desse país.

O Bolsa-família, sistema de compra de votos disfarçado de programa social vai receber aumento de 10% este ano, curiosamente no ano de eleições, onde a senhora Dilma se candidata à reeleição. E ironicamente essa notícia foi dada por nossa nada excelentíssima justamente no dia do trabalhador, ou seja, quem não trabalha vai receber aumento de salário no dia do trabalhador. E, pasmem, por inúmeras vezes já ouvi pacientes falando durante a consulta que não precisam trabalhar porque recebem o Bolsa-família. Mas tudo bem, como ela mesma diz, estamos trazendo 36 milhões de brasileiros para cima da linha de pobreza extrema, diminuindo o índice de pobreza em 70% dentro de 11 anos e superando a meta da ONU. Tá ótimo! Educação e saúde de qualidade para quê? Batemos a meta e é isso que importa.

E o Bolsa-recomeço? Iniciativa bonita desse governo tão solidário, não fosse um tiro no pé, assumindo sua incompetência em garantir reabilitação aos dependentes químicos. Então o jeito que encontraram foi pagar reabilitação aos usuários de crack em clínicas de reabilitação privadas, a um valor mensal de 1.350 reais… E os meus agentes de saúde trabalhando arduamente para receber a metade disso no final do mês.

Melhor ainda é o Auxilio-reclusão, onde a família de um detento recebe 682 reais por mês. Já ouvi pacientes falando que acham até bom os maridos estarem presos, porque recebem uma grana todo mês. Ah, tudo bem, esse “auxílio” só é pago às famílias dos detentos que contribuem para a Previdência Social. Mas me parece irônico oferecer qualquer benefício ou auxílio a alguém que cometeu um crime. Me parece que o sujeito não precisa pensar duas vezes antes de realizar qualquer ato criminoso, ele não precisa se preocupar caso, eventualmente (sim, eventualmente), for preso, pois sua família ficará bem. Enfim, opinião pessoal. Podem me julgar.

Então basicamente aqui, funciona assim:

Tem uma penca de filhos e não quer trabalhar? Tudo bem, nós garantimos o seu sustento, pois temos dinheiro para isso.

Se viciou em drogas e quer se recuperar? Bom, nós não temos competência para isso, mas temos dinheiro, então pagamos quem tem competência para fazer isso por nós.

Cometeu crime e foi preso? Tudo bem, essas coisas acontecem. A gente garante o sustento da sua família. Não se preocupe, também temos dinheiro pra isso.

Quer ser um sujeito decente e ganhar dinheiro honestamente? Bom… Aí… Aí a gente faz assim: você vem, obedece as nossas regras direitinho e tem que trabalhar bastante para receber o salário. Mas a gente desconta uma porcentagem da sua grana todo mês, viu? Porque afinal de contas a gente tem todos esses programas sociais pra dar conta e alguém tem que financiar isso, né? Ah! E tem que cumprir as metas, viu?! Se não a gente briga… E não garantimos infraestrutura ou qualquer condição de trabalho, porque a gente não gasta dinheiro com essas futilidades… E no início do ano tem o Imposto de Renda… Ah! E de vez em quando a dona Dilma vai na TV falar mal de vocês.

Não está fácil… Me sinto como se precisasse apagar um incêndio tendo apenas minha boca, um pouco de saliva e umas cuspidinhas fracas.

Mas tudo bem, daqui a 1 mês tem Copa do Mundo. O Brasil é lindo, Deus é brasileiro e já já a gente esquece tudo isso, né?

É ou não é revoltante? Não é apenas a medicina que está difícil exercer em nosso país; é qualquer profissão séria! Mas concordo com uma coisa: um médico que é eleitor do PT é um grande traidor! Pensando bem, qualquer eleitor do PT é um traidor da Pátria, pois quem pode alegar ignorância acerca do que esse partido está fazendo com o Brasil? Ninguém!

Culto à mediocridade, estímulo à vagabundagem, inversão completa de valores, mentiras, autoritarismo, aliança com regimes nefastos, esmolas para comprar votos, isso é o PT. Até quando?

Rodrigo Constantino

Tags: Dilma, Renan Scheidegger, SUS


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-O coletivismo é a negação da liberdade, porquanto a sede da liberdade é o indivíduo. Tanto é que a pena mais severa na história da humanidade é a privação da liberdade. A essência da liberdade é una e indivisível e daí a designação do sujeito como "indivíduo".

Aluízio Amorim

Filósofa russa Ayn Rand :



“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”



Ayn Rand nasceu em São Petersburgo em 1905