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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

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Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)


05/12/2013 às 6:30

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  • Por Reinaldo Azevedo






05/12/2013 às 6:07


José Dirceu agora quer fazer seu blog na cadeia. Para tanto, precisa, naturalmente, de um laptop e de acesso à Internet. Sugiro que lhe concedam também secretária e equipe de apoio. O pedido foi encaminhado por seu advogado, José Luís de Oliveira Lima.

Quem sou eu para cuidar da reputação de Oliveira Lima, né? Ele deve saber o que faz. Advogado é advogado e deve procurar fazer o melhor para seu cliente. Mas também deve atentar para certas coisas. Há causas que grudam no profissional. Às vezes, para o bem; às vezes, não. Tomemos o caso do grande, do gigantesco homem franzino Sobral Pinto, que lutou bravamente contra duas ditaduras, a do Estado Novo e a de 1964.

Sobral Pinto apelou à Lei de Proteção aos Animais para proteger o militante comunista Arthur Ernst Ewert — que tinha o codinome de Herry Berger — que viera ao Brasil para auxiliar Luiz Carlos Prestes no golpe comunista de 1935. Preso, foi barbaramente torturado, o que levou o militante católico e anticomunista ferrenho Sobral Pinto àquela decisão. Não encontrando na lei que protegia os homens uma forma de livrar seu cliente do horror, apelou à que protegia os bichos. Era um homem digno! Aquele ato corajoso se grudou à sua biografia.

Oliveira Lima, há alguns dias, inventou que foi ele quem arrumou o emprego para José Dirceu no Hotel St. Peter. Ninguém havia acreditado. Depois que reportagem do Jornal Nacional evidenciou as, digamos, origens panamenhas do empreendimento, acredita-se menos ainda. Agora ele vem com essa história de pedir autorização para que Dirceu faça o blog. É mesmo? Reportagem de Severino Motta, na Folha, expõe os motivos. Leiam trecho:
“No pedido à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, o advogado José Luis Oliveira Lima cita que a Lei de Execução Penal estabelece como direito dos presos “o contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação”. Desta forma, o direito à liberdade de expressão e informação está garantido aos presos, argumenta. No seu entender, só poderia haver restrição visando impedir crimes, para preservar a segurança do presídio ou evitar fugas e motins.”

Retomo
Como Oliveira Lima não é sonso, ele só pode estar fazendo pouco caso da inteligência alheia. No mundo inteiro, mesmo nos países em que o respeito aos direitos dos presos é absoluto, existem regras em penitenciárias: corta-se o cabelo dos presos, impõe-se o uso de uniformes, recomenda-se que o detento não encarem os carcereiros, limita-se o direito à manifestação…

Trata-se só de intimidação? Seria o estado burguês impondo, pela violência, as regras do capital ao corpo poético dos rebeldes, como poderiam sugerir alguns foucaultianos destrambelhados? Não! A penitenciária é um minissistema social. Se há um lugar em que deve prevalecer a igualdade — especialmente na restrição de direitos — é a cadeia. E é essa igualdade que desperta certo sentido de solidariedade, que acaba garantindo a convivência — sempre tensa. Dilma tentou ensinar isso aos petistas outro dia. Não adiantou.

É claro que o pedido é um absoluto despropósito. Se Dirceu pode, por que não os outros? E se o Marcola resolver escrever textos de filosofia, por exemplo? E se Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP quiserem publicar suas memórias na rede? É uma piada. Vejam bem: por mim, a Papuda teria um ala só para abrigar alguns blogueiros. Mas sem blog.

Congresso do PT
O PT realiza na semana que vem o seu 5º Congresso Nacional. O partido já decidiu que fará um desagravo a seus mensaleiros. Corresponde, entendo, à apologia da corrupção passiva, da corrupção ativa, da formação de quadrilha e da lavagem de dinheiro.

Por Reinaldo Azevedo





05/12/2013 às 6:05


Por Sheila D’Amorim e Natuza Nery, na Folha Online:
Insatisfeitos com os ataques à dificuldade do governo de equilibrar gastos e receitas, técnicos do Tesouro passaram a cobrar do secretário Arno Augustin uma definição mais clara sobre até onde o governo pretende ir na área fiscal. Ou seja: qual é o teto de endividamento para bancar a política atual. Segundo a Folha apurou, há dez dias ele reuniu sua equipe para “lavar roupa suja”. Pouco afeito a debates com seus assessores, Arno foi obrigado, dessa vez, a ouvir reclamações e cobranças. Técnicos quiseram saber, por exemplo, se há limites para as operações do BNDES, principal financiador da agenda econômica.

O encontro ocorreu antes da mais nova manobra atribuída ao petista: um empréstimo da Caixa para a Eletrobras pagar dívidas com o setor elétrico. A operação teve de ser abortada diante da repercussão negativa, embora tenha sido decidida em reunião com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e a própria presidente Dilma.

Desde o ano passado, Arno é apontado como o principal responsável pela perda da credibilidade de Dilma na área fiscal. Em 2012, lançou mão do que foi chamado de “contabilidade criativa” para engordar o caixa do governo sem, de fato, economizar. A prática consiste em tirar da conta dos gastos despesas como as feitas com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e em inflar as receitas antecipando, por exemplo, a entrada de dividendos de estatais. Arno também foi atacado por falta de transparência nas estatísticas oficiais.
(…)Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 23:21


Na VEJA.com:
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou nesta quarta-feira, sem análise de mérito, dois pedidos dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE) e Carlos “Bispo” Rodrigues (PL-RJ), que tentavam, por meio de habeas corpus, evitar que fossem presos. Ambos foram condenados por participar do escândalo do mensalão e aguardam ordens de prisão para começar a cumprir suas penas.

A defesa de Corrêa alegava que o ex-deputado não deveria ser preso, apesar do trânsito em julgado, enquanto todos os ministros do Supremo não julgassem a possibilidade de seus embargos infringentes serem admitidos. O ministro Joaquim Barbosa rejeitou, em decisão individual, a possibilidade dos infringentes porque o mensaleiro não tinha quatro votos a seu favor, requisito previsto no regimento do STF para a admissão do recurso. O ex-parlamentar foi condenado a sete anos e dois meses de prisão, em regime semiaberto, por corrupção e lavagem de dinheiro.

O ex-deputado Bispo Rodrigues também alegava que a pena não deveria ser executada até que o plenário se pronunciasse definitivamente sobre a possibilidade de embargos infringentes com menos de quatro votos. Ele foi condenado a seis anos e três meses por lavagem e corrupção.
(Laryssa Borges)Por Reinaldo Azevedo

Tags: Mensalão, STF




04/12/2013 às 23:12

  • Lula, ao lado de Dilma, exibe o titulo de doutor honoris causa, observado por Mercadante e Marisa Letícia (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

Vejam a imagem acima. Ela é o retrato de um tempo.

Lula exibe o seu diploma de doutor honoris causa, conferido pela Universidade Federal do ABC. Até aí, tudo bem! O establishment universitário federal, estadual, municipal ou privado é petista, com exceções aqui e ali. Não há surpresa nisso. Títulos “honoris causa” quase sempre são matéria de simpatia, de afinidades eletivas, não de mérito. Mas não exclui a necessidade do decoro. E foi tudo o que faltou na solenidade da UFABC. A começar, como de costume, do próprio homenageado, que não sabe honrar o mérito da democracia e da República. E foi seguido por um discurso indecoroso do reitor, um tal Helio Waldman.

Em sua fala de agradecimento, informa Diógenes Campanha, na Folha Online, Lula aproveitou para fazer proselitismo político-eleitoral:
“Eu já estou pensando no Brasil de 2022, quando a gente completar 200 anos de independência e fizer uma comparação do que era o Brasil. Aí vai ser duro, Dilminha, quando a gente falar do Brasil que nós deixamos em 2022 e o que nós pegamos”.

Trata-se de um discurso intelectualmente vigarista por vários motivos. Em primeiro lugar, porque o país que o PT pegou era infinitamente melhor do que, por exemplo, aquele que caiu no colo de Itamar e de FHC. Contra os votos do PT, o PSDB liderou o esforço de combate à inflação, com o Plano Real, e fez reformas que foram essenciais para os futuros governos petistas. E teve de enfrentar as sabotagens do petismo. Se o PT ficar no poder mais nove anos, completando 20, o mínimo que se espera é que entregue um país melhor. Estará cumprindo a sua obrigação, não é? Mas não estejam certos disso.

Ao doutor honoris causa não bastava o raciocínio tautológico e emburrecedor. Era preciso avançar na goela dos seus adversários. Ao lembrar que um deputado petista apresentara a proposta de uma universidade no ABC, afirmou:
“Três governos estaduais se sucederam sem atender à reivindicação, mesmo com a aprovação na Assembleia. O governo federal, quando foi procurado, no ano 2000, também rejeitou a proposta.”

Como é fácil ser Lula! São Paulo tem três grandes universidades estaduais — inclusive a USP, a maior do país — e, com efeito, não precisava de uma quarta. Assim, os sucessivos governos tucanos fizeram muito bem em não dar consequência ao projeto. Quanto à suposta recusa do governo federal, Lula sabe muito bem que a proposta jamais chegou a ser debatida a sério.

O Apedeuta continuou a espancar a verdade porque fala para desmemoriados. Leio na Folha (em vermelho):
Lula disse ainda que as gestões do PT no Planalto, a partir de 2003, criaram 290 escolas técnicas no país, ante 140 que haviam sido feitas “em um século”. “Porque houve um dia um governo que fez uma lei tirando a responsabilidade do governo federal pelo ensino técnico. Era como [se dissessem] faz quem quiser e quem Deus ajudar. Pois bem, nós revogamos a lei e voltamos a fazer escola técnica”, declarou.
“A lei é de 98″, disse Lula, para deixar claro que se referia ao final do primeiro governo de FHC (1994-1998), e foi aplaudido pela plateia.

É mentira!
O ex-presidente está se referindo à lei Lei 9.649, que apenas estabelecida que novas escolas técnicas fossem criadas em parceria entre a União, os estados, o setor produtivo e entidades não governamentais. A íntegra da lei está aqui. A questão de que Lula trata está no artigo 47, a saber:
O art. 3o da Lei no 8.948, de 8 de dezembro de 1994, passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos:
“§ 5o A expansão da oferta de educação profissional, mediante a criação de novas unidades de ensino por parte da União, somente poderá ocorrer em parceria com Estados, Municípios, Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não-governamentais, que serão responsáveis pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino.
§ 7o É a União autorizada a realizar investimentos em obras e equipamentos, mediante repasses financeiros para a execução de projetos a serem realizados em consonância ao disposto no parágrafo anterior, obrigando-se o beneficiário a prestar contas dos valores recebidos e, caso seja modificada a finalidade para a qual se destinarem tais recursos, deles ressarcirá a União, em sua integralidade, com os acréscimos legais, sem prejuízo das sanções penais e administrativas cabíveis.

Como se vê, a fala dele é mentirosa. Tratava-se, em suma, de uma boa lei.

Será que o PT criou todas essas escolas mesmo? A ver. Há quatro anos, a verdade era bem outra, como notou, então, Paulo Renato, ministro da Educação de FHC em artigo. Transcrevo:
“Segundo as informações do Ministério da Educação, em 2003 o número de alunos matriculados nas escolas técnicas federais era levemente superior ao da rede de escolas técnicas de São Paulo: 79 mil no Brasil inteiro e 78 mil nas escolas técnicas estaduais paulistas. Seis anos depois, em 2009, o Estado de São Paulo registrava 123 mil alunos nas suas escolas técnicas, ante apenas 87 mil nas escolas federais. Assim, entre 2003 e 2009, a expansão das matrículas no governo federal foi de apenas 9%. Nesse mesmo período, o ensino técnico público paulista cresceu 58%, sob o comando de dois governadores do PSDB – Geraldo Alckmin e José Serra.”

O reitor
O reitor da UFABC também enfiou o pé na jaca do proselitismo partidário. Leiam:
O reitor da UFABC, Helio Waldman, também fez um ataque velado aos tucanos em seu discurso. Ao justificar a outorga do título para Lula, ele contou ter visto, durante um debate eleitoral em 2006, o petista se referir à criação da universidade, na época em implantação, como um dos feitos de seu primeiro mandato. “Tive um sentimento de consternação e choque quando o adversário de Lula, em sua réplica, referiu-se também à UFABC, mas para dizer que era apenas um projeto que não ia sair do papel”, declarou o reitor. Em 2006, Lula concorria à reeleição e disputou o segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB), atual governador de São Paulo.
Waldman afirmou que, naquele momento, já trabalhava havia um ano para implantar a universidade. “E agora um candidato a presidente dizia em rede nacional que nós não íamos tirar aquele projeto do papel? Confesso que, naquele momento crítico, fiquei indignado, mas também preocupado e inseguro com o futuro da recém-nascida UFABC.” Ele disse ter “respirado aliviado” com a reeleição de Lula para o segundo mandato.

Encerro
É preciso verificar se Alckmin disse mesmo o que o reitor lhe atribui. Considerando o amor dessa gente pela verdade, não sei, não… De todo modo, ainda que tivesse dito, é evidente que não cabe a um reitor fazer esse tipo de discurso. Uma coisa é honrar o laureado, outra é atacar seus adversários políticos. Afinal de contas, este senhor não é — ou melhor, não deveria ser — militante de um partido. A UFABC pertence ao estado brasileiro, que é apartidário, não ao PT.

Mas esse é o jogo. O nome desse negócio é aparelhamento do estado. O dia, aliás, é bastante adequado. Saiu a lista das 100 melhores universidades dos países emergentes, um ranking inédito feito pela publicação britânica Times Higher Education (THE). Há apenas quatro brasileiras: as três estaduais de São Paulo — USP, Unicamp e Unesp — e umafederal, a UFRJ.

Em síntese, São Paulo tem três universidades, e as três estão entre as 100 melhores dos países emergentes (100%). Das 61 federais, apenas uma está na lista (1,6%).Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 19:43


Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
O juiz Vinícius Santos Silva, da Vara de Execuções Penais (VEP) do Distrito Federal, negou pedido do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para que a avaliação da idoneidade de sua proposta de trabalho no hotel Saint Peter, em Brasília, fosse tratada com prioridade em relação aos demais detentos. Dirceu alegava que a análise deveria ser acelerada porque ele tem mais de 60 anos de idade. Como o trabalho externo tem a função de ajudar na ressocialização do condenado, é realizado um estudo técnico preliminar sobre a idoneidade da proposta de emprego. Em sua decisão, o juiz afirma que as propostas de emprego para condenados já são tratadas com prioridade pela VEP, mas pondera que não pode haver prioridade também na elaboração dos estudos psicossociais preliminares. Com isso, Dirceu terá de esperar, na fila, a análise psicossocial antes de a VEP deliberar sobre o pedido de emprego.

“Todas as propostas particulares de emprego já são tratadas e conduzidas com absoluta prioridade por esse juízo e seus órgãos auxiliares, independente da condição etária ou de saúde”, disse o magistrado. “A proposta de emprego do ora sentenciado José Dirceu não é mais frágil e suscetível de perecimento que as demais que aguardam há mais tempo”, concluiu.

De acordo com reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, o presidente da Truston International Inc, empresa sediada no Panamá e sócia majoritária do hotel, é o panamenho José Eugênio Silva Ritter, que trabalha como auxiliar de escritório em uma advocacia chamada Morgan y Morgan. Segundo ministros do Supremo Tribunal Federal, essa nova informação será considerada pela Justiça na hora de definir se Dirceu pode ou não exercer a função de gerente administrativo do Saint Peter, cargo para o qual foi contratado com salário de 20 000 reais mensais. Não há prazo para a decisão da Vara de Execuções Penais.Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 19:37


Clique aqui, vocês têm acesso à página que reúne todos os comentários que faço na Jovem Pan. A propósito: eles estão indo ao ar todos os dias a partir da 6h, não das 7h30, como eu havia anunciado aqui. Abaixo, os desta quarta:







Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 18:39


Não há nada de errado — muito pelo contrário — em um advogado fazer o que estiver ao seu alcance, nos limites do que oferece a lei, para defender e proteger o seu cliente. E isso inclui recorrer a leis que até podemos considerar detestáveis. Creio que esteja para nascer quem deixaria de apelar a um dispositivo legal que o protegesse porque, sei lá, seria um seu adversário intelectual.

Assim, José Luís Oliveira Lima — “Juca” para os seus amigos íntimos da imprensa; uma penca! —, advogado de José Dirceu, cumpre o seu dever ao se esforçar para beneficiar aquele que o contratou. Pergunto, no entanto, se ele não ultrapassou o limite saudável quando disse ter sido ele próprio a arrumar o emprego para o seu cliente no hotel St. Peter.

É bem possível que o advogado tenha sido, vá lá, enredado nessa história. E escrevo isso até em seu benefício. Dado o que se sabe, vocês apostariam que a turma do St. Peter é íntima de Oliveira Lima ou de José Dirceu?

Um advogado não deve se apaixonar por um cliente, assim como um humorista não deve se apaixonar pela piada. É tudo profissão.Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 18:16


Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, pretende aguardar todos os pareceres do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, antes de determinar as próximas prisões dos condenados no escândalo do mensalão. Onze mensaleiros já cumprem pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Outros sete condenados podem ser presos assim que forem expedidas as ordens de prisão, entre eles o delator do esquema, Roberto Jefferson, e os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).

Janot ainda não opinou sobre os casos de Jefferson e Henry. Nesta terça-feira, o procurador-geral encaminhou ao STF pareceres em que defende a perda dos mandatos dos deputados Valdemar Costa Neto e João Paulo Cunha (PT-SP). Nos textos, porém, Janot não discute a prisão dos dois deputados. No caso de Jefferson, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) deve encaminhar laudo em que analisa as condições de saúde do condenado, já que ele foi diagnosticado com câncer de pâncreas. A ideia de Barbosa é determinar a prisão dos últimos mensaleiros em bloco. O entendimento de magistrados do Supremo é que até Valdemar poderá começar a cumprir pena, mesmo tendo o direito de questionar a perda do mandato parlamentar por meio de embargos infringentes.

Hotel
Um dia depois de o Jornal Nacional, da TV Globo, ter revelado a suspeita de que o dono da empresa que administrava o hotel Saint Peter, novo empregador de José Dirceu, seja um laranja, ministros do STF defenderam que o caso seja analisado com cautela pela Vara de Execuções Penais do DF.

“É uma questão que precisa ser analisada com cautela pela Vara de Execuções Penais, certamente em entendimento com a relatoria aqui do processo no Supremo Tribunal Federal. Tem que haver bastante cautela por parte de quem decide para que não ocorram abusos”, disse o ministro Gilmar Mendes. Mais cedo, o ministro Marco Aurélio Mello disse que “não vê o caso com bons olhos”.

Para ele, a idoneidade do hotel Saint Peter deve ser levado em conta na análise sobre o trabalho externo de José Dirceu. “Certamente [vão avaliar a idoneidade da empresa], porque o propósito é permitir a reintegração, a ressocialização de forma regular”, completou.Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 16:13


O ministro Marco Aurélio, do STF, comentou hoje o caso do hotel em que José Dirceu pretende trabalhar. E chamou a atenção para uma questão que certo jurista amador — eu mesmo — já havia destacado neste blog e no debate na VEJA.com. Começo pelo debate. A partir de 11min31s, observo que o regime “semiaberto é um regime fechado”. Segue o vídeo. Volto em seguida.



Voltei
Nesta quarta, com correção, o ministro Marco Aurélio observou que estão confundindo o regime semiaberto com o regime aberto — neste, sim, o preso pode passar o dia inteiro fora, trabalhando, e voltar para dormir na cadeia. Afirmou o ministro:
“A Justiça não age de ofício, age mediante provocação. Está havendo confusão entre regime semiaberto e aberto. No regime aberto, há o direito do reeducando, e esperamos que todos sejam reeducas, no sentido de trabalhar durante o dia e pernoite, à noite. No semiaberto, as saídas dependem de autorização e não podem ser saída continuadas e de forma linear.”

É isso mesmo! Eu já havia chamado a atenção de vocês para essa questão em post do dia 23 de novembro. E transcrevi trechos da Lei de Execução Penal, com destaque para o Artigo 123. Seguem mas imagens. Volto para encerrar.




Encerro
O PT conseguiu criar mais uma confusão e, mais uma vez, botou a imprensa no caminho errado — e esta, infelizmente, acabou caindo na conversa, inclusive a de alguns advogados dos condenados. Quando José Dirceu passar para o regime aberto, aí, sim, ele pode sair todos os dias para “trabalhar”, por exemplo. Mas tem de ser um trabalho honesto.

Marco Aurélio também comentou a história atrapalhada do hotel Sr. Peter:
“A explicação é à sociedade. Todos nós devemos contas à sociedade e cada qual adota a postura que é conveniente. Não chego a julgar o caso, porque não está retratado em um processo, mas como cidadão, não vejo com bons olhos”.Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 15:35


Na VEJA.com:
A aplicação de reajustes aos preços de combustíveis não será automática como resultado da política de preços aprovada no fim da semana passada pelo Conselho de Administração da Petrobras, informou a estatal nesta quarta-feira. Em esclarecimentos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras disse ainda que a metodologia para estabelecer o valor de venda da gasolina e do diesel “contém parâmetros baseados em variáveis como preço de referência dos derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado”. “A metodologia estabelece bandas de reajuste, conferindo à diretoria executiva poder discricionário à luz da dinâmica dos mercados doméstico e internacional”, acrescentou a empresa.

A dúvida em relação a como serão os aumentos dos combustíveis no ano que vem fez com que as ações da Petrobras caíssem cerca de 10% no começo da semana. Os investidores ficaram decepcionados com a decisão da empresa de não divulgar detalhes de sua nova política de preços e com o aumento dos combustíveis aquém do estimado. As ações chegaram a registrar alta no início da manhã desta quarta-feira, mas passaram a registrar leves perdas por volta das 11h30. Na sexta-feira passada, a Petrobras havia dito que, por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação seriam “estritamente internos à companhia”. A companhia também anunciou um aumento de 4% da gasolina e de 8% do diesel nas refinarias, porcentuais que vieram abaixo do esperado por analistas. No documento desta manhã, a Petrobras também refutou especulações sobre a saída da presidente da companhia, Maria das Graças Foster.

A diretoria da Petrobras apresentou ao seu Conselho presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no fim de outubro, uma proposta de metodologia de preços prevendo reajustes automáticos e periódicos de combustíveis. O mecanismo enfrentou forte resistência dentro do governo, por ser visto como uma maneira de indexar a economia e, portanto, pressionar a inflação.
(com agência Reuters)Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 15:20


Um leitor me envia o link com a página do Ministério da Saúde que traz a agenda desta quarta do ministro Alexandre Padilha, que será candidato do PT ao governo de São Paulo. Nesta segunda, o PP de Paulo Maluf decidiu apoiar Padilha em São Paulo. Vejam:


Voltei
Entendi. O ministro decidiu debater justamente com Maluf as, como é mesmo?, “ações de saúde para o Estado de São Paulo”. Ninguém mais habilitado! Maluf é um velho militante da área. Costuma resolver essas questões lá no… Sírio-Libanês, a exemplo, aliás, de toda a elite política brasileira. Afinal, o SUS “é quase perfeito”, como já disse Lula, mas para pobre.

Se vocês acessarem toda a agenda, verão que o dia é praticamente dedicado aos políticos: só nesta quarta, ele se encontrará com seis. Por curiosidade, fui consultar a agenda da ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, que é justamente a encarregada do contato com os políticos. Mais modesta do que Padilha, ela só se encontrará com quatro nesta quarta.Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 14:55


Pois é…

Parece que a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal não está mesmo muito inclinada a deixar José Dirceu trabalhar no, como podemos chamar?, “polêmico” hotel St. Peter. Também não gostou da ideia de Delúbio Soares prestar seus inestimáveis serviços ao setor de “formação” da CUT. Mais um pouco, o ex-tesoureiro do PT, que já foi professor de matemática, pediria para dar aula de educação moral e cívica.

No post desta manhã, escrevi:


Na Folha Online, informa Igor Gielow:
“No STF (Supremo Tribunal Federal), segundo a Folha apurou, é dado como muito provável que o juiz Bruno Ribeiro não concederá o benefício nem a Dirceu nem ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, que pediu para trabalhar na CUT (Central Única dos Trabalhadores).
(…)
Colocar um condenado por corrupção dentro de um hotel com mais de 400 quartos e várias possibilidades de manter contatos políticos e empresariais é, na opinião de uma pessoa próxima do caso, ‘parecido com deixar um alcoólatra em recuperação trabalhando em um bar’.”Por Reinaldo Azevedo





04/12/2013 às 6:23







04/12/2013 às 4:05

  • Vladimir Netto conversa com Ritter: esse homem seria o verdadeiro dono do hotel St. Peter…

Estarrecedora, para dizer pouco, a reportagem que o Jornal Nacional levou ao ar na noite desta terça-feira sobre o hotel St. Peter, do qual José Dirceu quer ser “gerente administrativo”. A história já cheirava mal por várias razões. Na semana em que a carteira do mensaleiro presidiário foi assinada, o suposto dono do hotel, Paulo Masci de Abreu, foi autorizado a transferir de Franco da Rocha para a Paulista uma antena de uma emissora sua. A Anatel disse “não”; o governo disse “sim”. Tenho a certeza de que nem o repórter Vladimir Netto imaginava que a coisa pudesse render tanto.

Resumo da obra para quem não leu o post a respeito (ver home) ou não assistiu à reportagem:
1: O tal Paulo de Abreu não é o dono do hotel;
2: a dona, registrada no papel ao menos, é uma certa Truston International Inc, uma empresa com sede no Panamá;
3: o presidente da empresa, oficialmente, é um pobre-coitado panamenho chamado Eugenio Silva Ritter;
4: o repórter da Globo foi ao Panamá e encontrou o dito-cujo morando num bairro pobre. O “dono” de um hotel de luxo em Brasília, com mais de 400 quartos, estava lavando carro…
5: o homem confirmou constar como sócio de centenas de empresas, mas disse mesmo trabalhar para uma certa Morgan y Morgan;
6: o procurador da Morgan y Morgan no Brasil é Raul de Abreu, filho daquele que se apresentava como “patrão” de José Dirceu;
7: por telefone, Paulo de Abreu assegurou que Ritter era mesmo um empresário e que já havia se encontrado com ele…
8: ninguém na Morgan y Morgan quis dar entrevista;
9: Ritter, na verdade, consta como mero auxiliar de escritório da empresa;
10: a Morgan y Morgan se diz uma empresa especializada em fundar outras empresas e em administrá-las;
11: a legislação do Panamá permite que empresas mudem de mãos sem qualquer informação às autoridades; o país pode, assim, atrair capital sem que precise saber a origem do dinheiro;
12: ao saber que a reportagem estava sendo feita, Rosane Ribeiro, advogada de Paulo Masci de Abreu, afirmou que a sócia majoritária da Truston International era, na verdade, a nora dele, a empresária lara Severino Vargas.

Vamos ver
No debate que fizemos na VEJA.com, ironizei que, se o emprego de José Dirceu fosse para valer, ele finalmente teria a chance de trabalhar. Mas quê… É impressionante como não há uma só história envolvendo este senhor que seja reta, direta, transparente, sem caminhos oblíquos. E, não é preciso ser muito sagaz para concluir, sendo quem é, ele atrai para a sua órbita gente que tem caráter parecido.

Vejam o roteiro que vai acima. A legislação vigente no Panamá, obviamente, permite toda a sorte de lavagem de dinheiro. Inclusive — E NÃO FAÇO UMA ACUSAÇÃO, MAS APENAS UMA CONSTATAÇÃO LÓGICA — a do narcotráfico, que é quem mais movimenta somas sem origem que possam ser declaradas.

Ritter é sócio de tantas empresas que nem mesmo se lembrava da tal Truston International Inc, a verdadeira dona do hotel St. Peter. Como a legislação panamenha não cobra registro de quem vende o quê para quem, a advogada de Paulo de Abreu agora diz que a nora de seu cliente é que era a dona e que vendeu as ações para o sogro. Verdade ou mentira, isso, como se vê, não tem registro nem no Panamá. Ninguém quer saber. Para todos os efeitos, a dona da empresa no Brasil é a “Truston”, que passou a pertencer a Paulo de Abreu só depois da reportagem do Jornal Nacional: ele a teria comprado da nora…

Se a empresa era mesmo de sua nora, por que Abreu não contou isso ao repórter Vladimir Netto quando conversaram? Um advogado do empresário acompanhava a conversa. Nada! Em vez disso, ele confirmou que a Truston pertencia ao tal panamenho.

Um caso para José Eduardo Cardozo
Nesta terça, José Eduardo Cardozo prestou depoimento ao Senado. Disse que a sua obrigação é mandar investigar denúncias de irregularidades que chegam às suas mãos. Sei. Mesmo as anônimas. Por isso ele enviou aquele papelório contra os tucanos para a Polícia Federal.

Eis aí um caso apetitoso para o ministro, não? Nem se trata de denúncia anônima. Os fatos gritam de maneira escandalosa. O ministro vai mandar investigar os eventuais braços dessa tal Morgan y Morgan no Brasil? Uma empresa com essas características pode ser uma verdadeira lavanderia.

Tanto emprego para o Zé…
Na minha coluna na Folha de sexta passada, escrevi isto:


Estava na cara que algo de muito errado havia com esse “emprego” de José Dirceu. Vamos ver, agora, se os órgãos competentes se encarregam de investigar essa história, que tem cheiro de lambança.

Que vocação tem esse José Dirceu, não é mesmo! Chega a ser espantoso. Tanto lugar para trabalhar! Tantas ONGs que cuidam de carentes, às quais ele poderia se dedicar. Tantas causas nobres há na praça, a requerer o entendimento superior de um homem com a sua estatura. Mas quê… Ele foi logo arrumar emprego num hotel, cujo sócio majoritário até ontem era um pobretão panamenho, que confessa ser laranja de uma empresa que pode atuar livremente num país cuja legislação permite a mais desbragada lavagem de dinheiro.

O mínimo que o juiz da vara de execuções penais pode fazer é dizer “não” ao emprego que Dirceu arrumou, apesar de sua carteira assinada. Dado o ambiente, isso certamente não faria bem à sua reeducação. Afinal de contas, um dos objetivos da pena é ressocialização do preso, não é mesmo?

Não é bom que alguém como o Zé fique num ambiente tão cheio de tentações.Por Reinaldo Azevedo





03/12/2013 às 21:40


Reportagem do Jornal Nacional que acaba de ir ao ar, de autoria de Vladimir Netto, indica que há algo de profundamente errado com o tal hotel St. Peter, que resolveu “empregar” José Dirceu, com salário de R$ 20 mil. A dona da empresa seria uma “empresa” do Panamá chamada “Truston International Inc.”. Seu presidente é José Eugenio Silva Ritter, um panamenho pobre, que não tem um gato para puxar pelo rabo. Ele admite ser sócio de centenas de empresas porque é funcionário de uma empresa chamada “Morgan y Morgan”. Leiam o que vai Portal G1. Volto mais tarde.
*
O Jornal Nacional localizou em uma área pobre do Panamá o homem que seria o presidente da empresa que administra o hotel Saint Peter, em Brasília, onde o ex-ministro José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, pretende trabalhar.

Dirceu está preso na Penitenciária da Papuda, onde cumpre pena em regime semiaberto, que permite a ele trabalhar durante o dia e voltar à noite para a prisão, para dormir. Ele recebeu uma oferta de trabalho do Saint Peter, hotel no centro de Brasília, que fica em um prédio de 15 andares e 424 apartamentos. O Saint Peter pretende pagar ao ex-ministro R$ 20 mil por mês para que ele exerça o cargo de gerente administrativo.

O homem que preside a empresa administradora do hotel mora numa área pobre da Cidade do Panamá, capital do Panamá, país da América Central, e trabalha como auxiliar de escritório numa empresa de advocacia. Um dos sócios do hotel, Paulo Masci de Abreu, é irmão de José Masci de Abreu, presidente do PTN (Partido Trabalhista Nacional), que em 2010 apoiou a eleição da presidente Dilma Rousseff. Mas ele é sócio minoritário. Tem uma cota, no valor de R$ 1, como mostra o contrato social da empresa.

Todas as outras cotas, que somam R$ 499.999,00, pertencem a uma empresa estrangeira, a Truston International Inc, com sede na Cidade do Panamá. A Truston está inscrita no registro público do Panamá e tem como presidente um cidadão panamenho, José Eugenio Silva Ritter. O nome dele, abreviado, aparece , junto a outros dois nomes: Marta de Saavedra, tesoureira, e Dianeth Ospino, secretária. José Eugênio Silva Ritter também aparece ligado a mais de mil empresas em um site criado por um ativista anticorrupção. O procurador da Truston no Brasil, como mostra o contrato do hotel Saint Peter, é Raul de Abreu, filho de Paulo Masci de Abreu.

Por telefone, Paulo de Abreu e o advogado de Raul de Abreu disseram que José Eugenio Silva Ritter é um empresário estrangeiro apresentado por meio de um advogado. Também afirmaram que a empresa presta contas a José Eugenio regularmente. O repórter Vladimir Netto, da TV Globo, travou o seguinte diálogo por telefone com Paulo de Abreu:

- Vladimir Netto: Quem é o seu sócio majoritário?
- Paulo de Abreu: É a Truston. É uma empresa que investe em hotéis.
- Vladimir Netto: Quem é o dono da Ttruston?
- Paulo de Abreu: Ah, tem vários acionistas, né? Precisa ver, até porque as ações, como são vendidas constantemente, né?
- Vladimir Netto: Quem é José Eugenio Silva Ritter?
- Paulo de Abreu: É o presidente.
- Advogado: É o presidente da empresa.
- Vladimir Netto: mas vocês o conhecem?
- Paulo de Abreu: Uma vez nós já tivemos… em reunião.
- Vladimir Netto: Ele veio ao Brasil, dr. Paulo?
- Paulo de Abreu: não, eu estive lá em Miami.
- Vladimir Netto: Isso foi quando? Foi quando os senhores resolveram fazer uma sociedade pra administrar o Saint Peter?
- Paulo de Abreu: É, quando formalizamos a parceria. De lá pra cá, a gente manda as informações pra lá e ele se dá por satisfeito, enfim, ou pergunta alguma coisa, mas houve essa reunião em miami quando da formalização do entendimento.

O Jornal Nacional foi ao Panamá para tentar entrevistar o presidente da empresa que administra o hotel Saint Peter. Jose Eugenio Silva Ritter mora em uma rua em um bairro pobre na periferia da cidade do panamá. Quando o repórter chegou, ele estava lavando o carro na porta de casa. Ritter disse que trabalha num escritório de advocacia, o Morgan y Morgan, há mais de 30 anos. E reconheceu que aparece mesmo como sócio de muitas empresas mundo afora. “Trabalho na Morgan y Morgan e eles se dedicam a isso”, afirmou.

Ele disse que não lembra da Truston International Inc, que administra o hotel Saint Peter, empresa da qual ele é o presidente. “Eu sequer sei se é o nome de uma sociedade de várias pessoas. Você, por favor, vá lá na Morgan y Morgan, lá com um advogado e tudo, aí eu posso te dar a informação que você precisa. Se me autorizam, se posso falar, te dar as respostas, porque pode botar em perigo meu emprego”, afirmou.

No órgão que regulamenta e fiscaliza o mercado de capitais dos Estados Unidos consta que José Eugenio Silva Ritter é auxiliar de escritório do Morgan y Morgan. A Morgan y Morgan fica em um prédio no centro financeiro da Cidade do Panamá. É uma firma que ajuda na fundação e administração de empresas internacionais com sede no Panamá. A legislação do país permite que ações de companhias sejam transferidas de um empresário para outro sem que seja necessário informar as autoridades. Isso faz com que seja muito difícil saber quem é o verdadeiro dono de empresas como a Truston International Inc, proprietária do hotel Saint Peter.

“Esses países percebem como uma estratégia econômica de trazer recursos para aquele país, justamente flexibilizar as regras sobre tributação, sobre identificação. Então, esses países acabam diminuindo essas exigências de identificação de documentação pra atrair capitais, pra atrair ativos pra fomentar a propria riqueza do país”, afirmou Pierpaolo Bottini, professor de direito penal da Universidade de São Paulo (USP).

O Jornal Nacional procurou Morgan y Morgan para perguntar sobre a propriedade da administradora do hotel Saint Peter, mas ninguém quis atender. A advogada de Paulo Masci de Abreu, Rosane Ribeiro, revelou que a sócia majoritária da Truston International é a nora dele, a empresária lara Severino Vargas. E que a nora vendeu a Paulo de Abreu o controle acionário do hotel Saint Peter. A advogada lembrou também que o cliente é dono de 60% do prédio onde funciona o hotel Saint Peter. Os outros 40%, segundo a advogada, pertencem ao empresário Paulo Naya.Por Reinaldo Azevedo





03/12/2013 às 21:13


Ah, sim: Dilma Rousseff havia afirmado à edição brasileira online do jornal El País que o PIB do ano passado seria revisado de 0,9% para 1,5%. Já é o fim da picada que uma presidente da República faça um anúncio desses numa entrevista. E por que é? A revisão só poderia ser operada pelo IBGE, que é um órgão independente. Que diabo de independência é essa, soprada aos ouvidos da presidente?

O Brasil não é a Venezuela. O Brasil não é o Equador. O Brasil não é a Argentina. O Brasil tem mercado, e os políticos não podem fazer como Cristina Kirchner: dar um murro na mesa e decidir qual é o índice de inflação. Sim, houve a revisão: o PIB, pessoal, no ano passado, não cresceu apenas 0,9%, mas 1%.

É… Em termos percentuais, é uma correção de 11,11%. Para quem pretendia uma de 66,67%, até que houve modéstia. O governo afirmou que Dilma se baseou em dados preliminares ao fazer aquela afirmação ao jornal espanhol. Entendi. O IBGE foi passando os dados, a presidente foi formando a sua convicção…

Nada disso faz sentido.

Por Reinaldo Azevedo





03/12/2013 às 19:20

  • Perrellão e Perrellinha: se eles não precisam da política, menos ainda a política precisa deles

O senador Zezé Perrella (PDT-MG), cuja família é dona de um helicóptero que foi flagrado com quase meia tonelada de cocaína, discursou nesta terça no Senado. Ele se disse “vítima de injustiça”. Qual “injustiça”? Até agora, que eu saiba, ele e o filho, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG), estão sendo considerados apenas testemunhas. Gustavo, a irmã e um primo são os donos da empresa proprietária do aparelho.

A questão da cocaína é gravíssima, sim! Estupidamente grave. Mas o que há de mais ameno nessa história já é uma vergonha. Deveria bastar para que pai e filho pegassem o boné e fossem pra casa. Já que ele diz que a família não precisa da política, parece-me evidente que a política não precisa deles.

O piloto que foi preso transportando a cocaína era “assessor parlamentar” do Perrelinha na Assembleia de Minas. Tenham paciência! O custo do combustível da aeronave era fraternalmente divido entre pai e filho — ou melhor, entre a Assembleia Legislativa de Minas e o Senado; nós pagávamos, em suma, para que os Perrellas (ou quem mais entrasse naquele helicóptero) saíssem voando por aí. O aparelho estava especialmente adaptado para carregar pequenas cargas. Suponho que não fosse para levar soja, boi ou fertilizantes. Os Perrellas não precisam da política? Então a política não precisa dos Perrellas.

Afirmou o senador:
“Meu filho usou o ano inteiro R$ 14 mil com o abastecimento de aeronave. Poderia usar R$ 20 mil por mês. Se está errado, que se mude o regimento. Quando eu vejo tudo isso, dá vontade de largar a política. É muito fácil jogar pedra. Nunca precisamos disso, de R$ 14 mil por mês”.

Pois que se faça a sua vontade, senador! Não hesite! Pule fora! A política é mesmo um lugar cruel demais para almas sensíveis e probas.

Cocaína
Atenção, leitores! Peço muita prudência nos comentários. Nem acusações nem ilações. Só fatos. O piloto, “funcionário” da Assembleia, avisou o patrão, o Perrellinha, que iria fazer um “bico”, um frete. O chefe disse “ok”. Não deveria ter dito. Como deixou claro a Anac, isso é ilegal. Aeronaves privadas, de pessoas ou empresas (como é o caso), não podem ter fins comerciais. É espantoso que os Perrellas não soubessem disso.

Quanto ao resto da história, a mirabolância não bate com os fatos e com a matemática. Na segunda, escrevi aqui um post, felizmente endossado por especialistas demonstrando por que a história contada pelo piloto à Polícia Federal tem cara de ser mais falsa do que talco Pom Pom disfarçado de cocaína. Reproduzo trecho (para quem não leu). Volto depois. Percebam que eu não entendo nada de helicóptero, mas sei fazer conta (em azul)
*
Este que escreve não entraria num helicóptero nem debaixo de porrete. Se é pra voar, nada menos do que um jato — um amigo piloto lamenta a minha ignorância e a minha descrença nas leis da física; essa descrença só existe a alguns mil metros do solo, deixo claro… Muito bem! A história despertou a minha curiosidade.

O helicóptero da Família Perrella é um Robinson 66 (R-66). Não que eu esteja a fim de comprar um, mas fiz a lição de casa para vocês. É dos mais baratinhos. Por US$ 970 mil, vocês podem comprar um. Quem entende da área diz ser uma aeronave ideal para transportar pequenas cargas. Entendo.

Em seu depoimento, o piloto afirmou que o aparelho já saiu de Avaré, em São Paulo, carregando a droga. Fez uma viagem relativamente curta até o Campo de Marte. Dali seguiu para Divinópolis, em Minas, região onde fica a sede da empresa dos Perrella. Da cidade mineira, rumou para a fazenda no Espírito Santo, onde foi surpreendido pela Polícia Federal. Vejam o mapinha (do Jornal Nacional).


O peso máximo para um R-66 sair do chão é 1.225 quilos — ocorre que só a aeronave pesa 581 quilos. Sobram 644. Desse total, devem-se descontar 224 kg do combustível. Sobraram 420. Notem: só a carga de cocaína (445 kg) já ultrapassou esse limite. Há ainda os dois pilotos — calculemos 140 quilos. A conta não fecha. Restaria uma possibilidade: o helicóptero não estar com a carga completa de combustível. Quanto teria de ser? Vamos pensar:
peso da aeronave – 581 kg
peso dos pilotos – 140 kg
peso da cocaína – 445 kg
soma – 1.166

Sobraram apenas 59 quilos para o combustível. Com 224 kg, segundo pesquisei, a autonomia do R-66 é de três horas, voando a 220 km/h. Assim, pode-se percorrer, chegando ao limite da pane seca (os prudentes não ousam tanto) 666 km. Huuummm… Regra de três: se, com 225 kg de combustível, pode-se voar 660 km, com 59 kg, voa-se, no máximo, 173,8 km.

Pois é… Vejam lá a rota do helicóptero. Entre Avaré e o Campo de Marte (também fui pesquisar), em linha reta, já são 265,8 km. Entre o Campo de Marte e Divinópolis, há 513 km — chega-se bem perto da autonomia do aparelho se tivesse saído com o tanque cheio. De Divinópolis até a fazenda no Espírito Santo, sempre em linha resta, há 393 km. Nada nessa conta fecha.

A minha hipótese é que o piloto pode não estar contando toda a verdade. O mais provável é que esse aparelho tenha sido abastecido em vários pontos ao longo da trajetória. E intuo que a droga entrou no helicóptero foi em Divinópolis mesmo, não em Avaré.

Encerro
Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, se negou a afastar Gustavo Perrella do partido. Em nota, disse que que evitar prejulgamento e coisa e tal. Pois é… Num país normal, o uso de dinheiro público para abastecer o helicóptero que pertence a uma empresa e a contratação de um piloto como assessor parlamentar já liquidariam uma carreira política — especialmente quando o tal helicóptero é adaptado para carregar cargas, como é o dos Perrella. A propósito: qual é a carga habitual?

Essa história não fecha, quer nos seus aspectos, digamos, narrativos, quer na matemática.

Retomo
Isso incrimina os Perrellas? Não. Mas o conjunto dos dados evidencia que, até agora, muito pouco se sabe sobre o que realmente aconteceu.

Por mim, o senador cumpriria a sua vontade e deixaria esse negócio de política pra lá. Chega de tanto mártir na política, né, Senhor Perrella!?Por Reinaldo Azevedo





03/12/2013 às 18:47


Para ter acesso à página que reúne todos os comentários da coluna “Pingo nos is”, que mantenho na Rádio Jovem Pan, clique aqui. Abaixo, seguem os links dos três que foram ao ar nesta terça:



Sobre o processo de cassação de Genoino (comentário feito de manhã; já há outro, poterior à renúncia).


Por Reinaldo Azevedo





03/12/2013 às 17:22


O deputado José Genoino enviou uma carta de renúncia. O tom é o de sempre: o do herói injustiçado. E continua a produzir mistificações sobre o passado e sobre o presente. Leiam o texto. Volto em seguida.
*
“Dirijo-me a Vossas Excelências após mais de 25 anos dedicados à Câmara dos Deputados, e com uma história de mais de 45 anos de luta em prol da defesa intransigente do Brasil, da democracia e do povo brasileiro, para comunicar uma breve pausa nessa luta, que representa o início de uma nova batalha dentre as tantas que assumi ao longo da vida.
Assim, e considerando o disposto no inciso II, do artigo 56 da Constituição Federal;
Considerando ainda, a transformação midiática em espetáculo de um processo de cassação;
Considerando, de outro modo, que não pratiquei nenhum crime, não dei azo a quaisquer condutas, em toda minha vida pública ou privada, que tivesse o condão de atentar contra a ética e o decoro parlamentar;
Considerando que sou inocente;
Considerando, também, que a razão de ser da minha vida é a luta por sonhos e causas ao longo dos últimos 45 anos, reitero que entre a humilhação e a ilegalidade prefiro o risco da luta; e
Considerando, por derradeiro, que sempre lutei por ideais e jamais acumulei patrimônio e riqueza.
Por tudo isso e ao tempo em que agradeço a confiança em mim depositada, ao longo de muitos anos pelo povo do Estado de São Paulo e pelo Brasil, RENUNCIO ao Mandato Parlamentar e encaminho a presente missiva através do deputado José Guimarães PT/CE e do Dr. Alberto Moreira Rodrigues, Advogado inscrito na OAB/DF nº 12.652
Atenciosamente
José Genoino Neto
Deputado Federal Licenciado

Dr. Alberto Moreira Rodrigues
OAB/DF nº 12.652″

Comento
Vamos pôr 0 devido pingo nos “is”. Começo pela questão propriamente jurídica. Existe uma diferença entre uma declaração subjetiva de inocência; a expressão, em suma, de uma consciência ou convicção individuais, e a inocência, digamos, jurídica. Não! Genoino foi condenado por corrupção ativa em última instância. Para o estado, ele não é inocente, mas culpado.

Sim, ele praticou crimes — aquilo que a ordem jurídica de um estado democrático e de direito define como tal. Genoino pode não gostar dessa ordem, isso é com ele, como não gostava daquela outra, sob o regime militar. Naquele caso, escolheu a pior maneira de enfrentá-la. Nesse caso, também. Sempre destacando que há, sim, diferenças entre ser marginal do poder na ditadura e ser marginal do poder na democracia.

Eis o ponto. Genoino fala dos seus 25 anos de vida parlamentar. Até o advento do mensalão, era, sim, considerado um dos príncipes do Congresso. Aliás, era mais fácil encontrar pessoas que o admiravam fora do PT do que no petismo — onde era tachado, imaginem vocês, de “a direita do PT”.

Ocorre que Genoino diz ter dedicado 45 anos à luta democrática. Aí é preciso discordar, não? A menos que ele me prove que o PCdoB queria democracia e que a guerrilha do Araguaia era seu instrumento.

E este é não o equívoco, mas a trapaça histórica, conceitual e moral da narrativa inventada por Genoino e pelos petistas: democracia não é ditadura; assinar um empréstimo fraudulento não é como pegar no trabuco. São crimes diferentes. Nem aquele serviu para construir a ordem democrática — que foi obra da resistência pacífica — nem este outro serviu para consolidar o “poder do povo”. Guerrilha e fraude bancária eram só escolhas erradas de partidos que supõem, em tempos distintos e com equívocos distintos, que detêm a condução da história.Por Reinaldo Azevedo








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"A Revolução Francesa começou com a declaração dos direitos do homem, e só terminará com a declaração dos direitos de Deus." (de Bonald).

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-O coletivismo é a negação da liberdade, porquanto a sede da liberdade é o indivíduo. Tanto é que a pena mais severa na história da humanidade é a privação da liberdade. A essência da liberdade é una e indivisível e daí a designação do sujeito como "indivíduo".

Aluízio Amorim

Filósofa russa Ayn Rand :



“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”



Ayn Rand nasceu em São Petersburgo em 1905