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by lucianohenrique
Um dos pontos mais fascinantes na arte da guerra política é a extrema facilidade com que alguns pontos essenciais na discussão são mal compreendidos. Em alguns momentos, estes pontos são compreendidos de forma inversa ao que realmente significam.
Eu sabia deste risco ao trazer aspectos da guerra política como controle de frame, o que fiz ainda em 2011, com o texto Introdução ao controle de frame OU Como começar a vencer os esquerdistas, com certeza um dos materiais mais polêmicos que já publiquei.
Na época, fui mal compreendido tanto por aqueles ao meu lado, como por meus oponentes. Um daqueles que odeiam este site mais que Drácula odeia a cruz disse: "Luciano está ensinando os seus leitores a mentir". Hoje em dia, meus leitores sabem que controle de frame não tem qualquer relação direta com o ato de mentir ou não. Verbetes que já publiquei, sobre frame e controle de frame, ajudaram a dissipar esses medos injustificados.
No livro Pitch Anyting, Oren Klaff diz que o controle de frame é a coisa mais importante que podemos aprender em nossas vidas. Pena que o vídeo abaixo não tem legendas em português:
Se já "limpei" o território relacionado ao controle de frame, e noto que os leitores deste site já compreenderam que estudar essa disciplina é mais que essencial para quem adentrar à guerra política, agora é hora de corrigir outro aspecto que trouxe essa semana: o poder do pensamento positivo na guerra política.
O que eu quis dizer neste texto é que, diante dos cenários mais complexos da guerra política, temos que atuar com as seguintes premissas essenciais: (1) Vamos vencer, (2) Nossa atuação para levar a cabo essa vitória é obrigatória, e essa vitória depende de nós. Estes dois conceitos, internalizados em nossa mente, constroem resultados fabulosos na guerra política.
Um leitor disse: "Não, obrigado, eu prefiro ver as coisas como elas são ao invés de mentir". O detalhe é que ele não reparou no principal: em momentos de guerra, afirmações como "lado X irá vencer" não pertencem à mesma classe de afirmações como "2+2=4". Isso por que nós sabemos que 2+2 é igual a 4 e podemos validar essa informação a todo momento. Já o resultado de uma guerra é sempre uma ação dependente dos fatores ambientais e dos indivíduos nela envolvidos.
O que estou dizendo é que a afirmação "Nós iremos vencer, sem dúvidas" não está determinada a priori, mas sim que será definida por nossa motivação em vencer. Assim, se nós tivermos um contingente adequado, soubermos usar as estratégias adequadas de guerra e tivermos a motivação necessária para levar nosso empreendimento a cabo, então a afirmação "Nós iremos vencer" é verdadeira. Mas, se estes quesitos não estiverem atendidos, então a informação é falsa. Mas mesmo que não tenhamos os quesitos atendidos, se lutarmos para atende-los, então a afirmação novamente é verdadeira. E assim por diante, num ciclo infinito no qual nós construímos algumas "verdades" sobre eventos futuros.
Se eu compliquei a explicação, tudo pode ser desembaraçado com o exemplo de um filme fantástico de Steven Spielberg, O Resgate do Soldado Ryan, que abre com a cena do desembarque na Normandia, no chamado dia D, fundamental para a derrota de Hitler. O filme já abre com a chegada dos soldados aliados na Praia de Omaha, como parte da operação que visava libertar a França da ocupação alemã.
Nesta cena, vemos vários barcos com soldados aliados, que tem suas "tampas" da frente abertas, deixando vários soldados expostos à artilharia nazista. É quando, a vários metros da praia, vemos aliados serem alvejados de forma impiedosa. Entretanto, não havia outra maneira de fazerem tal invasão à praia. Qual seria a verdade nesse momento: "não vamos invadir a praia, de forma alguma" ou "vamos invadir a praia e chutar os fundilhos dos nazistas"? Note que assumir uma das crenças se tornou uma questão fundamental, a ser tomada em décimos de segundo, pois as rajadas de metralhadoras dos nazistas são incansáveis, e muitos soldados aliados vão caindo na água, mortos. Pior: se os líderes assumirem "vamos perder", todos morrerão. E agora? Imagine-se num barco aliado pronto a desembarcar na praia: em que você vai acreditar?
A compreensão deste evento nos ilustra o pensamento positivo de que falei. Não tem absolutamente nada a ver com ilusões como no filme "O Segredo", que falam de coisas tão absurdas como achar que basta pensar positivamente que surgem vagas em um estacionamento. É exatamente o inverso: falamos de eventos do mundo que são incertos e que dependem de nossa ação para serem concretizados, por isso temos que nos conscientizar de que (1) vamos conseguir nosso intento, e (2) que isso depende de nossa ação. Ou seja, o pensamento positivo da guerra política é quase o inverso da noção da autora de "O Segredo".
Também não estou pedindo para partirmos para o relativismo moral. Existe a diferença clara entre verdade ou mentira, mas isso jamais pode ser cravado em pedra quando falamos de eventos que estão em curso e que são controlados por um misto de fatores ambientais e pelos indivíduos que atuam no ambiente. Por exemplo: afirmações como "pássaros voam" pode ser definida em critérios de verdadeiro ou falso, ou "matar animais por puro prazer é imoral" também pode ser definida pelos mesmos critérios, neste caso em discussões relacionadas a filosofia moral. Mas não podemos dizer que "a espécie X é aquela que, no final, se mostrará melhor em termos evolutivos" com um bom grau de certeza. Imagine que o ser humano intervenha nessa evolução, protegendo uma espécie da extinção e não fazendo o mesmo com outra. Como, na visão desta espécie, poderíamos tomar como verdade a expressão "Seremos extintos, com certeza"? Não, não podemos.
Eu também não estou falando do controle ilimitado das contingências biológicas. Há limites para o que podemos fazer, e não devemos renegar estes limites, para não chafurdarmos em falsas ilusões. Mas vencer uma guerra, em situações adversas, é perfeitamente possível.
Enfim, concluindo: a verdade a respeito das afirmações "venceremos a guerra" ou "perderemos a guerra" não está definida no início ou na metade da guerra, mas sim é definida de acordo com a conjunção entre capacidade, motivação e estratégia de cada um dos grupos no curso da guerra. A partir de um observador externo, neutro, pode até existir a expressão: "Eu acho que lado X vai vencer". Mas, na perspectiva dos combatentes, não há outra opção que não assumir estas duas verdades: (1) Vamos vencer, (2) Somos os responsáveis pelo resultado. Se a afirmação (2) for enfraquecida por auto-avaliações relacionadas a capacidade e estratégia, que este lado lute para aumentar sua capacidade e estratégia, isto é, aumentar seu poderio e melhorar sua estratégia.
Na guerra política, não há opção: estamos diante de totalitários sanguinários que querem destruir nossas noções mais básicas de liberdade. É como lutar com seres tão abjetos quanto os nazistas. E, a bem da verdade, a mesma cadela que pariu o nazismo, pariu o fascismo e o marxismo. Falamos da extrema-esquerda. Hoje em dia eles nadam de braçada na América Latina. Assim, nossa guerra é contra a extrema-esquerda que está no poder. Mas Stalin e Hitler já estiverem no poder. E hoje não estão mais. Nem seus discípulos diretos. Ambos Rússia e Alemanha hoje vivem sob democracias.
Um leitor disse: "acabou-se, melhor esperar uma invasão de uma potência para nos livrar dos marxistas". Ledo engano. A ação de guerra política deve partir de nós mesmos, que já entramos, de largada, com o apoio da maioria da população. Só falta agora alinhar estratégia e construir e usar nosso arsenal, que pode ser um conjunto de frames e discursos feitos para gerar resultados na disputa de quaisquer questões públicas com a extrema-esquerda. Agora, no Brasil, o foco é no PT. Se Campos e Marina vencerem as próximas eleições, eles serão o foco.
O leitor Anderson foi perspicaz ao notar o que eu quis dizer, lembrando que as pessoas de nossa era precisam relembrar que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Somos nós que devemos mostrar ao povo que essa ideia de falso igualitarismo junto com relativismo moral é como uma AIDS social, que, no fim sempre causará colapso social. Eles só conseguiram destruir civilizações, e tiveram que ser salvos a partir de ideias externas a eles. Foi assim desde a queda do nazismo, do muro de Berlim e agora com a quebra econômica da União Européia (ou você acha que os programas de austeridade na Europa são uma ideia de esquerda?). Inchaços estatais só ajudam aos donos destes estados inchados, e os esquerdistas funcionais são os seres mais abjetos possíveis, pois não percebem que constroem a destruição tanto dos outros, como deles próprios.
Não temos outra opção que não lutar contra isso, e é nossa responsabilidade fazê-lo. Voltando à cena inicial de O Resgate do Soldado Ryan. A partir no momento em que as tampas dos barcos foram abertas, aqueles que diziam "é, não tem jeito, os nazistas vão vencer" estavam do lado de Hitler. E aqueles que diziam "vamos, enfim, chutar os fundilhos desses nazistas, a vitória será nossa" são aqueles que ajudaram a salvar nossa civilização de um dos totalitarismos mais perversos que nossa história recente já viu.
Sempre lembrando do alerta final: entrar em campo de guerra com a confiança na vitória, e a certeza de que somos nós os agentes para a construção dessa vitória, não é o mesmo que esquecermos de citar as consequências adversas da vitória do adversário. Na verdade, esse é o combustível fundamental para a nossa motivação: ao apontarmos as consequências adversas da vitória do oponente, nos tornamos ainda mais motivados para a vitória.
Traduzindo para a guerra política, isso significa dizer, para uma boa parcela do eleitorado e para nós mesmos, o que vai acontecer se nós não quisermos vencer. Precisamos disso para dizer a população que nós, intelectuais orgânicos da direita, necessitamos do apoio deles para vencê-los, pois caso a extrema-esquerda vença de forma definitiva, teremos gravíssimas consequências, piores do que as que temos hoje.
Para cada uma das questões públicas, temos batalhas neste ambiente de guerra política. A meu ver a batalha mais importante do momento é a da implementação da censura de imprensa, intencionada pelo PT. Temos que ser enérgicos pela luta contra esse controle de mídia, e contar com o apoio da população, que pode ser enganada por fraudes divulgadas pelo oponente como "existe monopólio de mídia" (o que é mentira, pois a presença da Globo e da Record no mercado empalidece diante da presença da Apple e da Samsung no mercado de iPAD, por exemplo), ou que "conselhos populares para dirigir a mídia são uma boa ideia" (outra mentira, pois os tais "conselhos" são todos aparelhados pelo PT, ou seja, não passam de sovietes criados pelo partido).
Nessa batalha política, temos que assumir a posição: (1) Vamos salvar a liberdade de imprensa no Brasil, (2) Somos nós os responsáveis por isso. Em seguida, temos que discutir nossa capacidade e estratégia para conseguimos esse intento, e é só lutar por isso.
Podemos, no final, adotar uma forma de pessimismo sadio, que é defendido por Julie Norem no livro The Positive Power Of Negative Thinking: Using Defensive Pessimism to Harness Anxiety and Perform at Your Peak, ensinando que podemos usar uma forma de pessimismo defensivo para melhorar nosso desempenho. Eu sou adepto deste método. Ele envolve pensar em tudo que pode dar errado em nossas ações em direção a um resultado, e lutar para corrigir esses desvios de roda antecipadamente. Ao invés de uma confiança cega na vitória, passamos a criar uma confiança racional em nosso potencial de corrigir nossos erros para conseguir a vitória. Para quem ainda não consegue se livrar de uma carga de pessimismo (como eu), melhor usar o pessimismo defensivo, que sempre é bom, ao invés da postura de "ó céus, ó vida, a derrota é um fato", que seria o suficiente para que os aliados tivessem dado a vitória a Hitler na Segunda Guerra Mundial.
Ao tomar as decisões com tal nível de assertividade, poder de decisão e aceite de responsabilidade (ao invés de ficar lançando elocubrações depressivas que só geram resultados para o oponente), entendemos, enfim, o que é o pensamento positivo na guerra política, de que tratei.
lucianohenrique | 2 de novembro de 2013 às 3:49 pm | Tags: batalha política, democracia, estratégia política, extrema-esquerda, fascismo, guerra política, liberdade, marxismo, nazismo, política, questão pública | Categorias: Outros | URL: http://wp.me/pUgsw-7nt
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