Feliz Natal from Augusto César Ribeiro Vieira on Vimeo.
Da Mihi Animas
Posted: 24 Dec 2013 11:59 AM PST
Desejamos a todos os nossos leitores e amigos um Santo e Abençoado Natal!
Posted: 24 Dec 2013 06:15 AM PST
Às vésperas do Natal do Senhor, curiosa entrevista do Prefeito da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, ex- Santo Ofício. Mais curioso é a sua declaração quantos aos bispos de Mgr Lefebvre, que os considera cismáticos e excomungados, ao mesmo tempo que ver como ortodoxo e católico o religioso Gustavo Gutierrez, grande defensor da Teologia da Libertação. Vale salientar que foi Mons. Muller quem fez de tudo para que acontecesse o encontro do Gutierrez com o Papa Francisco.
A FSSPX, por sua vez, acusou o Prefeito da Doutrina da Fé de heresia em seus escritos onde, entre outras coisas desdenha da Virgindade Perpétua de Nossa Senhora.
O conteúdo é interessante, sobretudo as voltas diplomaticamente teológicas que o Prefeito dá para interpretar a interpretação que o Papa faz do já interpretado.
Leiam e interpretem também.
Traduzido do original italiano por Carlos Wolkartt
Apresentamos a tradução completa da entrevista concedida pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Gerhard Ludwig Müller, ao jornalista Gian Guido Vecchi, do portal Corriere della Sera, em 22 de dezembro de 2013.
Dom Müller: «Alguns interpretam a Evangelii Gaudium como se o Santo Padre quisesse favorecer uma certa autonomia das igrejas locais, tendendo a distanciar-se de Roma. Mas isto não é possível. O particularismo, como o centralismo, é uma heresia. Seria o primeiro passo a uma autocefalia».
Em que sentido, Excelência?
«A Igreja Católica é composta por igrejas locais, porém é una. Não existem igrejas "nacionais", somos todos filhos de Deus. O Concílio Vaticano II explica em termos concretos a relação entre o Papa e os bispos, entre o primado de Pedro e a colegialidade. O Romano Pontífice e os bispos de forma individual são, por direito divino, instituídos por Jesus Cristo. Também a colegialidade e a colaboração entre os bispos, cum Petro et sub Petro, tem aqui seu fundamento. Mas os patriarcados e as conferências episcopais, tanto historicamente como na atualidade, pertencem ao direito eclesiástico, humano. Os presidentes das conferências episcopais, embora importantes, são coordenadores, nada mais – não são vice-papas! Cada bispo tem uma relação direta e imediata com o Papa. Não podemos ter uma descentralização nas conferências, com o perigo de um novo centralismo: com a presidência que recebe toda a informação e os bispos inundados de documentos, sem o tempo de preparar-se».
E o que Francisco queria dizer quando falava de "conversão do papado" e escrevia que as conferências deveriam ter "alguma autêntica autoridade doutrinal"?
«O Papa partiu da reflexão sobre o exercício do primado que Wojtyla fez em 1995 na [Encíclica] Ut Unum Sint. O sentido é claro na dimensão ecumênica e também em relação à colegialidade. Quanto às conferências, estas também têm, sob certas condições, uma autoridade magisterial: quando, por exemplo, preparam um catecismo local, se ocupam do missal, governam universidades e faculdades teológicas. Trabalham em uma dimensão concreta – o Papa não pode saber de tudo o que acontece em cada país. Trata-se de encontrar um equilíbrio prático. Não podemos aceitar antigos erros, como o conciliarismo, o galicanismo ou, pelo contrário, um curialismo...».
Em 2013, assistimos a renúncia de um Papa. Algo mudou no papado?
«Sem dúvida, a renúncia de Bento XVI foi surpreendente, um caso absolutamente novo: disse que lhe faltavam as forças para realizar esta grande tarefa, muito mais onerosa nesta época de globalização da informação. Decidiu sobre a possibilidade de eleger um novo Papa, e agora Francisco é "o" Papa. Ratzinger é como um Padre para a Igreja e seu pensamento permanece; Francisco lhe chama frequentemente para enfatizar a continuidade teológica. Mas só uma pessoa pode ser o Papa, não um coletivo. Não há dois. É o fundamento e o princípio permanente da unidade da Igreja. Eleito pelos cardeais, porém instituído pelo Espírito Santo».
E sua função, mudou? Francisco disse que a Igreja "não é uma alfândega"...
«É verdade, nem mesmo a Congregação o é! O Papa tem o carisma de expressar-se não só com conceitos teológicos, mas também através de imagens próximas ao coração das pessoas, que expressam a proximidade de Jesus com todos nós. Nós, os teólogos, corremos sempre o risco de fechar-nos no mundo da reflexão acadêmica. E Francisco não vai por outro caminho: muda a ternura do pastor e da ortodoxia, que não é uma teoria qualquer, mas a reta doutrina expressada na plenitude da Revelação. O primeiro guardião da fé é Pedro e seu sucessor no Episcopado de Roma. E nós, na Congregação, estamos diretamente a seu serviço».
Sobre a privação dos sacramentos aos divorciados em segunda união, Hans Küng escreveu: "O Papa quer avançar; o prefeito da congregação para a doutrina da fé põe o freio".
«Veja, em Maguncia temos um grande carnaval tradicional... Eu estou e estarei sempre com o Papa. A verdade é que não podemos esclarecer estas situações com uma declaração geral. Sobre os divorciados em segunda união civilmente, muitos pensam que o Papa ou um Sínodo podem dizer: "receberão, sem mais, a Comunhão". Não é possível. Também a práxis dos ortodoxos da "segunda união" não é uniforme e eles mesmos a toleram, sem favorecê-la. Um matrimônio sacramental válido é indissolúvel: esta é a práxis católica reafirmada por Papas e Concílios, em fidelidade à Palavra de Jesus. E a Igreja não tem a autoridade de relativizar a Palavra e os Mandamentos de Deus».
Francisco disse que os sacramentos não são para os "perfeitos" e podem ser uma "ajuda"...
«É verdade que o sacramento é uma graça – não somos pelagianos! O Papa fez referência justamente a este aspecto medicinal. Mas há condições objetivas. Uma situação irregular no matrimônio é um obstáculo objetivo para receber a Eucaristia. Não deve ser visto como um castigo: não o é. E não impede de participar da Missa».
E então, não há nada a fazer?
«As coisas não são assim. Devemos buscar a combinação dos princípios gerais e a situação particular, pessoal. Encontrar soluções para os problemas individuais, mas sempre sobre o fundamento da doutrina católica. Não se pode adaptar a doutrina às circunstâncias: a Igreja não é um partido político que faz levantamentos para buscar consenso. É necessário um diálogo concreto, pastoral. Há situações diferentes que devem ser avaliadas de maneira diferente».
A solução é a anulação do matrimônio?
«Se existem condições para declará-lo nulo, sim. Para isto temos os tribunais eclesiásticos».
Mas é possível mesmo se houver filhos?
«Sim, não são os filhos os que determinam a validez, mas o consenso entre cônjuges conscientes do sacramento. Em muitos países encontramos apenas resquícios da tradição cristã; perdeu-se o sentido [do matrimônio], há uma confusão total».
Quais são as novas heresias, hoje?
«Os problemas se concentram na antropologia. Falta uma consciência da dimensão transcendente do homem, de sua vocação divina. O sentido da dignidade humana. Penso nas novas escravidões, nos pobres, no aproveitamento das mulheres, nos abusos não só sexuais sobre menores, nos enfermos vistos como um custo a eliminar, na vida reduzida à funcionalidade produtiva, nas condições de trabalho: uma organização econômica que tende a destruir a vida da família com grave dano para a própria vida, para os filhos...».
Tendo falhado as negociações, qual é a posição dos lefebvrianos?
«Aos bispos foi-lhes revogada a excomunhão canônica pelas ordenações ilícitas, mas permanece a sacramental, de fato, por cisma: eles se separaram da comunhão da Igreja. Não fechamos a porta, nunca, e os convidamos a reconciliar-se. Mas também eles devem mudar de atitude, aceitar as condições da Igreja católica e do Sumo Pontífice como critério definitivo de adesão».
O que o senhor pode dizer do encontro entre Francisco e Gutiérrez, em 11 de setembro?
«As correntes teologias passam por momentos difíceis, se discute e se esclarece. Mas Gutiérrez sempre foi ortodoxo. Nós, europeus, devemos superar a ideia de sermos o centro, sem, no entanto, subestimar-nos. Ampliar os horizontes, encontrar um equilíbrio: isso eu aprendi com ele. Para abrir-me a uma experiência concreta: ver a pobreza e também a alegria das pessoas. Um Papa latino-americano foi um sinal do Céu. Na reunião, Gustavo estava emocionado. Eu também. E Francisco também».
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