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Rio de Janeiro


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Reinaldo Azevedo





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/ Blogs e Colunistas





Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)



14/01/2014 às 21:05


Quando o governo de São Paulo criou o “Cartão Recomeço”, a rede petralha na Internet inventou a cascata de que se tratava do programa “Bolsa Crack”. Ignorava-se o fato óbvio de que o pagamento pelo tratamento é efetuado diretamente à comunidade terapêutica. O governo de São Paulo não dá dinheiro aos dependentes.

A Prefeitura de São Paulo, sob o comando do petista Fernando Haddad, lançou nesta terça um suposto programa de combate ao crack. Voltarei ao assunto mais tarde com mais vagar. A quantidade de despropósitos impressiona — além de um truque vulgar.

O principal absurdo: Haddad dará dinheiro e hospedagem a viciados — e não cobrará deles a adesão a um programa de tratamento. Se eles não quiserem, não se tratam. O programa vai atender apenas a um pequeno grupo de consumidores.

Na verdade, à diferença do que acaba de noticiar o Jornal Nacional, não se trata de um programa para tentar acabar com a cracolândia. Como vou demonstrar mais tarde, o que Haddad acaba de fazer é oficializar a região como área permanente do crack. Assim, esqueçam qualquer possibilidade de revitalização da região.

Volto ainda ao assunto, reitero. Mas noto que setores importantes da imprensa brasileira demonstram simpatia pelo despropósito porque o programa seria pautado pela tal “política de redução de danos”, um conceito porcamente aplicado no Brasil por aqueles que, de fato, defendem é a descriminação das drogas.

Mais tarde, outros aspectos deletérios de mais uma ideia estupefaciente de Fernando Haddad, que transforma o consumo de crack numa vantagem comparativa.Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 19:43


Quem está rindo, e não à-toa, com o veto, caso se consume mesmo, de Marina Silva à aliança do PSB com o PSDB em São Paulo é o PT. É o chamado riso com causa.

A decisão é boa para todos os adversários dos tucanos no Estado, a começar do petista Alexandre Padilha. Mas também estão contentes o peemedebista Paulo Skaf, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos, e Gilberto Kassab, do PSD, que vai mesmo se candidatar.

Qualquer dos três que esteja no segundo turno — a história autoriza a apostar que, muito provavelmente, será Padilha — contará com o apoio dos outros dois. A prioridade do petismo, neste ano, é tirar o governo de São Paulo das mãos do PSDB.

O PT está contente também por outro motivo. Ainda que a eventual candidatura de Marina a vice na chapa de Eduardo Campos leve votos para a legenda, é evidente que o melhor para ele seria um palanque forte em São Paulo, o que não terá, qualquer que seja o candidato que o apoie no estado — um nome do próprio PSB ou da Rede.


Se Campos desistir mesmo da aliança com os tucanos no Estado — consta que a decisão já teria sido tomada —, parece-me que a reputação do governador sai um tantinho arranhada. Acordos que já estavam num estágio bastante avançado vão sendo rompidos por exigência de Marina. Isso vai criando a imagem de um político inconfiável.

Feita a apuração, o pleito da Rede para se tornar partido volta a ser analisado pelo TSE. Deve acontecer ali pelo começo de 2015. Aí Marina seguirá a sua saga, que tem um objetivo principal, único na verdade: eleger-se presidente da República. Vamos ver em que condições ficará o PSB depois disso.

Tudo somado e subtraído, a entrada da Rede no PSB, pelo tempo que durar, fez um bem imenso a… Marina Silva. E só a ela! Depois de sua chegada, Campos conseguiu o apoio apenas do PPS — e, ainda assim, não é unânime. Nem poderia ser diferente. Ela rejeitaria a aliança com qualquer outro partido — sabem como é… Falta às demais legendas a “pureza” que ela jura ter. Se um dia se eleger presidente da República, talvez governe com o apoio dos seres elementais, né?, como aquela esquisita que cavalga bichos parecidos com pterodáctilos, no filme Avatar…

Ah, sim: a ordem no petismo é parar de bater em Marina. Avalia-se que isso só serve para fortalecê-la. Faz sentido. De resto, uma aliada informal como essa não se acha a toda hora…Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 18:17


Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedido para que a Corte reveja uma resolução que limita a atuação do Ministério Público nas eleições de 2014. Editado na última sessão do ano do TSE, o texto determina que o MP não poderá pedir a abertura de inquéritos para apurar crimes eleitorais. Também estabelece que a apuração de irregularidades eleitorais deverá ser precedida de autorização judicial. A resolução foi relatada pelo ministro José Antonio Dias Toffoli.

De acordo com o procurador-geral, o TSE deve rediscutir o teor da resolução e devolver os poderes para que o Ministério Público possa abrir investigação nas próximas eleições. Caso a Corte eleitoral não se manifeste, Janot pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que a norma é inconstitucional, uma vez que impõe limitações ao MP não previstas na Constituição. No ano passado, o Congresso Nacional tentou amordaçar o Ministério Público por meio da proposta de emenda constitucional número 37 – a PEC 37. A tentativa, entretanto, naufragou após a proposta ser criticada nas ruas na onda de protestos que se espalharam pelo país.

Nesta terça-feira, um grupo de procuradores emitiu nota criticando a resolução do TSE: “Criar embaraços para o MP é dificultar a apuração de graves ilícitos eleitorais, como a compra de votos, as fraudes no alistamento eleitoral e na coleta dos votos e o uso da máquina administrativa em prol de candidatos”.Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 17:38


O PMDB tem cinco ministérios, caso assim se considere também a Secretaria da Aviação Civil: contam-se ainda os de Minas e Energia, Agricultura, Previdência e Turismo. Reivindica agora o da Integração Nacional. Dilma não quer ceder. No partido, informa a Folha, há quem defenda a antecipação da convenção de junho para abril para emitir uma advertência a Dilma: “Ou cede, ou a gente cai fora do governo”.

Pois é… Quem acredita nisso? Nem os eventuais autores da proposta, não é? Qual a chance de o PMDB deixar os milhares de cargos que tem no governo, considerados todos os escalões, as estatais, autarquias, fundações etc.? Deixem-me ver… Muito inferior a zero.

Se Dilma ceder, será em razão de algum outro acordo. Em outras circunstâncias, o máximo que o PMDB faria seria retaliar o governo em votações no Congresso. Acontece que não há nenhuma pauta importante no Parlamento — nunca há em ano eleitoral.

Se o PMDB vai ou não levar outro agrado, não sei. Em razão da eventual ameaça de deixar o governo é que não será porque a presidente Dilma sabe que se trata de bravata.Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 17:18


Ai, ai… Agora a Justiça do Maranhão dá um prazo de 60 dias para que o governo do Maranhão construa novos presídios e zere o déficit de vagas no Estado. Essa é apenas uma das exigências — caso não sejam cumpridas, multa de R$ 50 mil diários para cada transgressão. Parece brincadeira. É claro que não vai acontecer e que a decisão acabará sendo revista, quando menos para renegociar o prazo. A Justiça acolhe agora uma ação proposta pelo Ministério Público em… 2011. Entendo! Quase três anos para dar uma resposta e, depois, um prazo de… 60 dias.

Faltam vagas nos presídios brasileiros. Mas, convenham, às vezes, parece que o Brasil precisa mesmo é de mais hospícios. O Maranhão é o estado brasileiro que menos prende. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, tinha, em 2012, sob a sua custódia, 5.417 presos — ou 128,5 encarcerados por 100 mil habitantes com mais de 18 anos. Para comparação: em São Paulo, são 633,1. Segundo dados que estão circulando por aí, os presos seriam 4.700. Os outros 700 e poucos estão sob a guarda da polícia em cadeias, não em presídios.

Seja como for, trata-se de uma população carcerária ínfima. É impressionante que a situação tenha se degradado tanto. É preciso ser incompetente de forma determinada e convicta para obter tal resultado. Leio em texto publicado na VEJA.com que há 382 agentes concursados trabalhando nos presídios maranhenses. Há 41 outros, já aprovados, aguardando nomeação. O sindicatos dos servidores alega que seriam necessários mais 800.

Oitocentos? É bom notar que parte do serviço, hoje em dia, é terceirizada — portanto, o número é maior do que 382. De todo modo, vamos adotar a conta do sindicato só para pensar: aos atuais funcionários concursados, outros 800 se juntariam, totalizando, então, 1.182 agentes. Huuummm… Se há nos presídios 4.700 presos, teríamos uma razão de 1 agente para cada 4 presos (3,97 para ser preciso). É mesmo, é? São Paulo tinha no sistema penitenciário 174.060 presos em 2012 (o total de encarcerados era de 195.695). Caso se trabalhasse com a proporção reivindicada pelo sindicato do Maranhão, seriam necessários 43.515 agentes só para cuidar dos presídios… Nota: São Paulo tem em torno de 25 mil — mais ou menos 21,5 mil se dedicam à segurança penitenciária propriamente, e outros 3,5 mil à escolta e vigilância.

Impeachment
Leio no Globo online:
“Nesta terça-feira, advogados do Coletivo de Advogados de Direitos Humanos protocolaram na Assembleia Legislativa do Maranhão uma representação pedindo o impeachment contra a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, devido à situação do sistema carcerário no estado. O grupo, composto por 25 advogados de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte e Maranhão, afirma que Roseana tem que ser responsabilizada por falhas e incompetências políticas no caso e que ela não tem cumprido com seu dever constitucional de zelar pelos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos do estado, especialmente os dos presidiários de Pedrinhas.”

Ok, mantém-se a pressão política e coisa e tal, mas não vai dar em nada. Roseana tem o controle da Assembleia Legislativa. De resto, vamos ser claros: caso se vá aprovar o impeachment de governadores em razão da situação lamentável dos presídios, quantos continuariam em seus cargos?

A propósito: o Rio Grande do Sul, de Tarso Genro, é um dos Estados que mais maltratam seus presos. Até agora, ninguém teve a ideia de pedir o impeachment do governador petista, né?Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 15:41


No post anterior, falo sobre o desempenho do agronegócio brasileiro e de como o setor é tratado em áreas formadoras de opinião. Como se pode ler, o superávit comercial do setor em 2013 foi de fantásticos US$ 82,91 bilhões. Como a balança brasileira, no ano passado, ficou positiva em ridículos US$ 2,5 bilhões, alertei que o desempenho dos demais setores tinha sido muito fraco. Era óbvio, não?

Vieram a público os dados da indústria. Pois é! Se o superávit do agronegócio está querendo entrar na reta dos US$ 100 bilhões, o déficit da indústria já superou esta marca: foi de US$ 105 bilhões no ano passado. No anterior, tinha sido de US$ 94,162 bilhões. Vale dizer: está piorando.

Como se vê, apesar do incentivo do governo em várias áreas, é evidente que a indústria brasileira está perdendo competitividade. Assim, é mesmo uma sorte que o agronegócio tenha se profissionalizado, garantindo que o país não vá, célere, para o buraco.

Pode-se argumentar que a indústria é mais suscetível aos erros de operação de política econômica do que o agronegócio. Uma coisa, no entanto, é certa: este segundo setor busca a modernização e a independência com mais determinação do que o outro. E já nem se fale, então, do, como vou chamar?, prestígio político, não é?

Os grandes da indústria brasileira costumam ser paparicados pelo governo como patriotas, independentemente de seu desempenho. A agricultura e a pecuária, ao contrário, têm de enfrentar a campanha difamatória da secretaria-geral da Presidência, dos ambientalistas, dos sem-terra, dos quilombolas, dos índios, dos naturebas e, claro!, dos especialistas em agronegócio do núcleo de teledramaturgia da TV Globo… Lá se encontra a maior concentração por metro quadrado de estudiosos da balança comercial…Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 6:01







14/01/2014 às 5:51


Quem é este segurando, com esse ar de prazer, uma bala de borracha?


Vocês o conhecem. Já chego lá.

Um estrangeiro ou um marciano que visitassem o Brasil e decidissem se inteirar dos números da nossa economia certamente esperariam ver uma nação grata ao agronegócio, quase reverente, reconhecendo que, afinal, o setor livra o país do buraco. Em vez disso, os agricultores brasileiros têm de enfrentar a difamação promovida por setores do governo e da imprensa, pelo MST, por ONGs que se apresentam como porta-vozes de índios e quilombolas e até por atores da Globo e alguns comediantes, que não resistem à tentação de pôr a sua ignorância engajada a serviço da desinformação. Recentemente, o ataque mais boçal à produção agrícola brasileira e ao homem do campo partiu de uma autoridade do governo. Refiro-me ao senhor Paulo Maldos, velho conhecido deste blog, que é secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência — braço-direito de Gilberto Carvalho. É aquele que aparece ali no alto. Já chego ao caso. Antes, é preciso lembrar alguns números para que se possa fazer um debate instruído.

Em 2013, a balança comercial brasileira teve o seu pior desempenho em 13 anos, com um saldo positivo de, atenção!, apenas US$ 2,5 bilhões. E, na verdade, ele é falso. Tem mandracaria aí, uma das muitas artimanhas da contabilidade criativa. O país registrou como entrada US$ 7,7 bilhões por conta da (falsa) exportação de sete plataformas de petróleo que, na verdade, não saíram de Banânia: foram fabricadas aqui, compradas por empresas como a Petrobras no exterior e alugadas para operar no Brasil. Entenderam? Sem o truque, a balança teria fechado no vermelho: US$ 5,2 bilhões.

E o agronegócio com isso? Pois é. Leiam post na home. No ano passado, o superávit comercial do setor foi de US$ 82,91 bilhões. Só para vocês terem uma ideia: o país exportou em 2013 US$ 242,17 bilhões — US$ 99,97 bilhões desse total — 41,28% — pertencem ao agronegócio. Em contrapartida, importou modestos US$ 17,06 bilhões — apenas 7,11% de um total de US$ 239,61 bilhões. Vejam que coisa: os brasileiros gastaram só em viagens no exterior, no ano passado, US$ 23,125 bilhões — 35,6% mais do que tudo o que importou o setor que livra o país do buraco.

Aplausos? Reconhecimento? Reverência? Que nada! O agronegócio brasileiro — na verdade, os produtores rurais de maneira geral — é tratado a tapas e pontapés. E, claro!, no grupo dos detratores que vai lá no primeiro parágrafo, é preciso incluir certo ambientalismo doidivanas. Um setor da economia opera com eficiência máxima para, na prática, financiar a farra daqueles que o difamam. Ou haveria o circo se começasse a faltar pão — inclusive sobre a mesa dos brasileiros? Porque é preciso deixar claro que o agronegócio opera a preços competitivos lá fora e abastece o mercado interno com uma das comidas mais baratas do planeta. Tudo isso é matéria de fato, não de gosto. As coisas são assim porque assim são as coisas. Não são matéria de gosto, de opinião, de achismo.

Acontece que…
Acontece que uma das configurações que assumiram as esquerdas contemporâneas prevê, deixem-me ver como chamar, a “reindianização” do Brasil. Mais números, que são, sim argumento: esse fantástico desempenho do agronegócio brasileiro é obtido com a agricultura e a pecuária ocupando pouco mais de 27% do território nacional. É nesse espaço que se produzem aqueles números que nos livram da bancarrota.

Atenção: essa área corresponde ao dobro daquela que é hoje ocupada por reservas indígenas, que abrigam uns 600 mil índios, onde não se produz uma espiga de milho. Ao contrário: os indígenas brasileiros — bem como boa parte dos sem-terra — se alimentam com cestas básicas fornecidas pelo poder público: sim, são os alimentos produzidos pelo “detestável”… agronegócio!!! Os comediantes, de fato, teriam com o que se fartar caso buscassem se informar, fugindo da piada fácil e do discurso ideológico bocó.

Maranhão
Brasil afora, multiplicam-se os confrontos entre índios e produtores rurais, decorrentes, na maioria das vezes, da reivindicação para ampliar áreas de reserva já estabelecidas ou da decisão da Funai — e seus antropólogos invisíveis —, de considerar indígenas territórios em que agricultores estão instalados há mais de século.

Neste exato momento, a tragédia de Pedrinhas não é o único crime — ou penca deles — que se comete no Maranhão. Há outro em curso. Agricultores instalados há décadas numa área declarada como pertencente aos índios Awá-Guajá terão de deixar suas terras. Atenção! São 1.200 famílias — perto de 6 mil pessoas. A própria Justiça admite que a esmagadora maioria é formada por agricultores pobres, que têm pequenas propriedades. O ódio ao agronegócio contamina, agora, até os pequenos produtores.

De volta a Maldos
Pois bem, na semana retrasada, o senhor Paulo Maldos falou à Voz do Brasil sobre o assunto e disse a seguinte barbaridade (em vermelho):
“A maioria dos ocupantes que se encontram ali vivem da extração da madeira, plantação de maconha e outros ilícitos, como já foi identificado há pouco tempo trabalho escravo na região. Então, a gente tem uma crise humanitária, digamos, em que você, por um lado, povos indígenas sem contato algum com a nossa sociedade, ou um contato muito recente, e, por outro lado, representantes, digamos, da nossa sociedade, que são o que temos de mais criminoso. Então, uma situação que o estado tem que se fazer presente, dando suporte a uma decisão judicial”.

Existem madeireiros na região? Sim! Há pessoas praticando crimes por ali? Não duvido. Mas é a regra? Não! Ao contrário. A maioria das famílias é formada de gente que ganha a vida honestamente, produzindo alimentos. A fala é absurda, truculenta, escandalosa. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da CNA reagiu (em azul):
“A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil vem a público repudiar as declarações levianas, irresponsáveis e ideológicas de um servidor público mal- intencionado, contra as quais buscará as medidas judiciais cabíveis.”

A presidente Dilma obrigou Maldos a se desmentir. Em nota, ele tentou remendar (em vermelho):
“Em relação à desintrusão da terra indígena Awá-Guajá gostaria de esclarecer que não foi minha intenção generalizar e afirmar que os agricultores que se encontram naquele local são plantadores de substâncias ilícitas. No local vivem muitos agricultores corretos e decentes. Se houve qualquer mal entendido a partir de minhas declarações, deixo claro que não foi essa minha intenção.”

A fala dele à Voz do Brasil é muito clara. De resto, este senhor tem uma atuação pregressa conhecida. Já lembrei aqui alguns de seus feitos.

Maldos é braço-direito de Carvalho. A ele cabe conversar com os movimentos sociais. Essa “conversa” assume um sentido muito particular: na prática, o governo os organiza e os financia. Maldos foi, por exemplo, o coordenador-geral do grupo de trabalho criado pelo governo federal para promover a desocupação de uma região chamada Marãiwatséde, em Mato Grosso.

Como ele trabalha? Nessa área, havia uma fazenda chamada Suiá-Missú, que abrigava, atenção!, um povoado chamado Posto da Mata, distrito de São Félix do Araguaia. Moravam lá 4 mil pessoas. O POVOADO FOI DESTRUÍDO. Nada ficou de pé, exceto uma igreja — o “católico” Gilberto Carvalho é um homem respeitoso… Nem mesmo deixaram, então, as benfeitorias para os xavantes, que já são índios aculturados. Uma escola que atendia 600 crianças também foi demolida. Quem se encarregou da destruição? A Força Nacional de Segurança. Carvalho e Maldos foram, depois, para o local comemorar o feito. Republico este vídeo impressionante que mostra o que restou daquela comunidade.



Maldos já disse a interlocutores que não descansa enquanto 25% do território brasileiro não forem destinados a reservas indígenas. Tem dito também que a violência dos índios é compreensível porque isso é uma espécie de direito à rebelião. De novo: o Brasil já destina hoje a menos de 600 mil índios (de um total de pouco mais de 800 mil) uma área correspondente a 26,6 Holandas, 11 Portugais ou duas Franças. Maldos quer 40 Holandas, 17 Portugais e 3,1 Franças. Agora o Pinheirinho.

Pinheirinho
Maldos não é um qualquer. Trata-se, reitero, de um profissional do conflito — e não da resolução de conflitos. Vocês devem se lembrar da desocupação do Pinheirinho, no interior de São Paulo. A Justiça determinou — e não cabia contestação à ordem — a desocupação de uma propriedade. Carvalho e Maldos acompanhavam tudo de perto. A Polícia Militar não podia mandar a Justiça às favas. Tinha de cumprir a ordem. O governo federal poderia ter resolvido tudo com uma assinatura: bastava desapropriar o terreno. Não o fez. Ficou esperando o conflito. Esperando? Não! Fez um pouco mais do que isso.

No dia da desocupação, adivinhem quem estava lá, ajudando a organizar a “resistência” dos invasores? Acertou quem chutou “Paulo Maldos”. Depois ele veio a público, com grande estardalhaço, anunciar que tinha sido atingido por uma bala de borracha. ATENÇÃO: ELE SE NEGOU A FAZER EXAME DE CORPO DE DELITO. Saiu a exibir uma bala de borracha por aí (foto no alto), dizendo ter sido atingido por um artefato daquele e posando de herói. Sim, uma tragédia poderia ter acontecido. Não aconteceu. Forças do oficialismo chegaram a denunciar ao mundo a existência de mortos e desaparecidos. Era tudo mentira.

Eis aqui um agricultor que está sendo expulso de sua terra no Maranhão. É este homem que Maldos considera “o que há de mais criminoso no Brasil”.



Encerro
As 1.200 famílias que lá produzem seu sustento acabarão deixando a terra. A exemplo do que se viu em Raposa Serra do Sol, não se plantará mais nenhum grão ou pé mandioca por lá. Se não saírem por bem, pais de família serão coagidos pelas forças policiais. Hoje, são donos do seu destino. O governo lhes oferece como saída se cadastrar no programa de reforma agrária.

Escrevi na tarde de ontem um texto sobre a expansão do Bolsa Família. Brasileiro bom é brasileiro dependente da caridade oficial, não é mesmo? Gente que produz tem mais é de ser tratada a chicote. Sem querer pautar comediantes, dou uma dica: o próprio ouvidor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos confirmou, em depoimento na Câmara dos Deputados, que os direitos fundamentais dos antigos moradores da fazenda Suiá-Missú foram violados. Quem se importa?

Afinal de contas, direitos, para que possam ser considerados “humanos”, têm necessariamente de ser direitos de alguma minoria sociológica influente no imaginário esquerdopata. Brasileiro pobre que trabalha que se dane. Que vá pedir esmola a Lula e Dilma, pô!
Texto publicado originalmente às 4h05Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 5:49



A imprensa mundial, a brasileira também, pôs na cabeça que Jorge Bergoglio se transformou no papa Francisco com o objetivo de destruir os valores da Igreja Católica e transformá-la, quem sabe?, numa dessas ONGs consideradas “progressistas”. E, como todos sabemos, as pessoas só são progressistas hoje em dia se defenderem o casamento gay, a descriminação das drogas e, acima de todas essas causas, o aborto. Por que é tão importante para as esquerdas de hoje transformar o feto num dente que se pode arrancar quando incomoda (para lembrar uma imagem a que recorreu Dilma Rousseff ainda antes de ser candidata)? Não sei. Essa obsessão desafia a minha capacidade de entendimento dos desvãos da alma humana. Só certo feminismo — que pretende que o feto seja uma mera extensão do corpo da mulher — parece-me insuficiente para explicar a determinação com que se faz a defesa desabrida da morte. Adiante.

Nesta segunda, na mensagem tradicional de início de ano aos embaixadores de seus respectivos países junto ao Vaticano, Francisco fez uma dura condenação do aborto, que chamou de parte da “cultura do descarte”. Afirmou ainda: “Causa horror o simples pensamento de que existam crianças que jamais poderão ver a luz do dia, vítimas do aborto”.

E, acreditem, a declaração está gerando barulho. Estão entendendo a sua fala como uma concessão aos “conservadores da Igreja Católica”, o que é, para dizer pouco, uma leitura boçal. O surpreendente, aí sim, seria se Francisco tivesse condescendido com o aborto. Nessa matéria, não existe “igreja progressista” e “igreja tradicionalista”. Existem o compromisso com a morte e o compromisso com a vida.

Por que essa leitura cretina da fala do papa? Porque, infelizmente, essa mesma imprensa, em matéria religiosa, tem mais compromisso com os seus erros e com os seus preconceitos do que com os fatos.

Em setembro, o papa concedeu uma longa entrevista à revista jesuíta “Civiltà Cattolica”. Trechos de sua fala, retirados do contexto, levaram alguns intérpretes mundo afora à suposição de que o papa estava condescendendo com o aborto e admitindo a possibilidade de a Igreja vir a flertar com tal prática. Escrevi a respeito. Apontei a distorção, sem deixar de apontar o que me desagradava na sua resposta. Chamei a atenção dos leitores para a distorção estúpida. Fui acusado de tentar negar o óbvio. Transcrevo, em português, a afirmação do Sumo Pontífice a respeito (em azul).
(…)
“Esta é também a grandeza da confissão: o facto de avaliar caso a caso e de poder discernir qual é a melhor coisa a fazer por uma pessoa que procura Deus e a sua graça. O confessionário não é uma sala de tortura, mas lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. Penso também na situação de uma mulher que carregou consigo um matrimónio fracassado, no qual chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?”

“Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente”.
(…)

Volto
Reproduzo aqui a crítica que fiz (em azul) e volto em seguida.
Acho, sim, que a fala do papa está transitando por terrenos perigosos, e minha crítica está mantida, mas considerar que o que vai acima significa condescender com o aborto é de uma falsidade escandalosa. A matéria de que se cuida acima é outra. O papa está a falar de arrependimento e de perdão. E, a rigor, não há novidade nenhuma nisso.

“Mas por que você mantém a crítica?” Porque ele não deve ignorar o ambiente em que faz considerações dessa natureza e porque as palavras não são duras o bastante em relação à questão em si. Espera-se do pastor por excelência da Igreja que seja mais preciso ao acolher a mulher que abortou e ao repudiar o aborto em si.

Assim, é fato que Francisco, em alguma medida, criou condições favoráveis à distorção intelectualmente dolosa do que disse. O lobby em favor da legalização do aborto é um dos mais organizados do mundo. E demonstra, uma vez mais, a sua força. Entender por que alguém se dedica a essa causa com tanto afinco, como se estivesse a propugnar por um novo iluminismo, é um dos grandes enigmas morais do nosso tempo.

Retomo
Ao deixar clara, de forma inequívoca, a condenação ao aborto, o papa não presta satisfações aos “conservadores”. Apenas põe nos justos termos o pensamento da Igreja Católica a respeito. Não se trata de uma guinada conservadora, mas da exposição daquele que é o pensamento da Igreja a respeito da inviolabilidade da vida.

Li em algum lugar que, assim, Francisco reafirmava também um ponto de vista “conservador” sobre as questões sexuais. Então o “aborto”, agora, passou a ser parte da “liberdade sexual”? Em nome do exercício dessa liberdade, fetos devem passar a ser coisas, que se descartam, assim, como um contratempo, mera consequência indesejada de uma imprudência qualquer?

Insisto: o mundo só teria o direito de se surpreender se o papa dissesse o contrário. Alguns tolos dispensam a Francisco o mesmo tratamento que dispensavam a Barack Obama quando se elegeu presidente dos EUA. Parecia que, finalmente, chegaria o presidente, escolhido pelo povo, para destruir o país. Ainda que eu não tenha simpatia nenhuma por Obama, o fato é que não aconteceu o que esperavam os inimigos dos EUA. Sim, ainda que de um modo que eu não gosto, ele é um homem do establishment. Nota: parte da gritaria em favor do vigarista Edward Snowden é promovida por aqueles que queriam que Obama fosse o Gorbatchev do sistema americano.

Esses mesmos esperam que Francisco seja o Gorbatchev da Igreja Católica. Como sabem, já recorri aqui a essa imagem. Talvez o papa tenha se dado conta de que sua imagem, mundo afora, estava começando a assumir os traços de uma caricatura: “aquele que veio para desmontar a Igreja”… Não! Ele veio para preservá-la.

Acolher as mulheres que abortaram é parte da doutrina do perdão. Não significou, de modo nenhum, condescender com o aborto. Uma coisa é a Igreja abraçar aqueles que sofrem, ser inclusiva, abrir-se para o mundo; outra, distinta, é renegar seus próprios valores. O papa não havia feito isso na entrevista à revista católica. E, agora, faz o óbvio e reafirma seu compromisso com a doutrina que o fez o sumo sacerdote.

O que há de novo ou de especial nisso?
Texto publicado originalmente às 21h46 desta segundaPor Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 5:38


Por Giba Bergamin, na Folha:
Jovens que participaram do “rolezinho” no Shopping Metrô Itaquera, no último sábado, serão investigados sob suspeita de furto, de roubo e de perturbação do sossego. O delegado titular do 65º DP (Artur Alvim), Luiz Antonio da Cruz, disse ontem à Folha que já abriu inquérito para apurar os delitos e que usará imagens de circuito interno do centro de compras, que fica na zona leste da capital, para identificar envolvidos nos respectivos crimes. Os “rolezinhos” são encontros marcados pelas redes sociais que atraem centenas de jovens a shoppings. Eles entram pacificamente nos espaços, mas, depois, costumam promover correria.

Além do Itaquera, outros cinco shoppings conseguiram liminares da Justiça para coibir os eventos. Juízes determinaram multa de R$ 10 mil para quem for flagrado em tumultos. Jovens devem começar a ser intimados nos próximos dias para serem comunicados sobre a possibilidade de serem multados. No do último sábado, PMs usaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os participantes do evento em Itaquera. O delegado disse que, desde dezembro, policiais monitoram postagens sobre os eventos no Facebook.

Após o “rolezinho” de sábado, PMs foram à delegacia e apresentaram duas ocorrências. Na primeira, dois irmãos foram agredidos e tiveram celulares e correntes roubados por um grupo na estação do Metrô, ao lado do shopping. Na segunda, um rapaz disse ter sido assaltado por jovens que, pouco antes, furtaram uma loja de videogames. Cruz disse que vai investigar os dois casos e a perturbação –prevista na Lei de Contravenções e que pode resultar em três meses de prisão — no mesmo inquérito. ”Esses jovens têm o direito de se divertir. Mas que democracia é essa em que 2.000 pessoas prejudicam outros 5.000 que vão passear?”
(…)

Por Reinaldo Azevedo





14/01/2014 às 1:29


Na VEJA.com:
As exportações do agronegócio do Brasil alcançaram a cifra recorde de 99,97 bilhões de dólares em 2013, alta de 4,3% em relação a 2012, informou o Ministério da Agricultura nesta segunda-feira, destacando que a China superou a União Europeia como o principal destino das vendas do setor do país. As importações do agronegócio cresceram 4%, atingindo 17,06 bilhões de dólares, e o saldo do comércio exterior do setor foi positivo em 82,91 bilhões de dólares. As vendas externas de soja em grão e derivados (farelo e óleo) somaram 30,96 bilhões de dólares, liderando a pauta do setor com 31% das exportações.

Os embarques de soja em grão alcançaram o valor recorde de 22,81 bilhões de dólares, crescimento de 5,36 bilhões de dólares em relação a 2012, segundo o ministério. A quantidade exportada passou de 32,9 milhões de toneladas para um recorde de 42,8 milhões de toneladas, o que representou 52,5% da safra brasileira 2012/2013.

No embalo do crescimento das exportações de soja, a China, maior importadora global da oleaginosa, ultrapassou pela primeira vez a União Europeia como principal comprador de produtos do agronegócio brasileiro, adquirindo 22,88 bilhões de dólares, alta de 4,91 bilhões de dólares em relação a 2012.

A participação da China nas exportações subiu para 22,9% em 2013, alta de 4,1 pontos percentuais, enquanto a participação da União Europeia caiu de 23,6% em 2012 para 22,1% em 2013.

Outros produtos
As vendas externas de carnes subiram de 15,74 bilhões de dólares em 2012 para 16,80 bilhões de dólares em 2013 (alta de 6,8%). A carne bovina se destacou pelo aumento do valor exportado (mais 15,9%) e atingiu a cifra recorde de 6,66 bilhões de dólares em 2013, segundo o Ministério.

Outro recorde histórico foi obtido nas vendas externas de milho, que somaram 6,25 bilhões de dólares, crescimento de 18,2% em relação ao ano anterior. O complexo sucroalcooleiro exportou 13,72 bilhões de dólares em 2013, queda de 8,8%, obtendo a terceira posição dentre os principais setores exportadores do agronegócio.

Apesar da expansão de 11,6% nos embarques de açúcar, que passaram de 24,34 milhões de toneladas para 27,15 milhões de toneladas, a queda de 17,4% nos preços médios afetou o setor. As vendas externas de álcool diminuíram 14,5% em valor, atingindo 1,87 bilhão de dólares, com queda no preço e na quantidade.
(Com Reuters)Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 19:31


O PT decidiu criar o “movimento” #vaitercopa, uma resposta a um tal #naovaitercopa que anda por aí, criado sei lá por quem e com que propósito. Se eu fosse da “marquetagem” petista, incentivaria uma besteira assim só para lançar, como se lançou, o antídoto.

Digam-me: alguém acredita, sinceramente, que exista o risco de a Copa do Mundo não se realizar? Mais: a esta altura do campeonato, alguém é imbecil o bastante para considerar que a não realização do torneio poderia trazer algum benefício ao Brasil? Pergunto: quem cria um “#nãovaitercopa” quer exatamente o quê, além de ver nascer a reação “#vaitercopa”? Será que estou sugerindo que tanto uma coisa como outra pertencem à lavra petista? Não estou sugerindo nada. Só revelo a natureza do jogo.

É evidente que vai ter Copa e que a esmagadora maioria dos brasileiros aplaudirá o evento. Isso nada tem a ver com governos, a despeito de sua competência ou incompetência. Faço ainda uma outra previsão, arriscadíssima, leitor! A esmagadora maioria da brasileirada, a exemplo deste escriba, vai torcer pela Seleção Canarinho.

As coisas são aborrecidamente óbvias e simples. Ao se apropriar do “#vaitercopa”, o PT e Dilma Rousseff estão fazendo política; pretendem, assim, jogar no colo dos adversários, das oposições, o “#naovaitrcopa”. Espero que os candidatos tenham cuidado ao tratar do assunto para não parecer que estão na defensiva.

Pode até ser, o que duvido um pouco, que esse tal “#naovaitercopa” seja mesmo um troço espontâneo, sem má-fé nenhuma. Nesse caso, só tenho a lamentar, com todo o respeito, a burrice. Deveriam mandar a fatura ao PT, cobrando pelos seus serviços. Essa gente está ajudando o partido a fazer uma previsão 100% segura — “#vaitercopa” —, posando, adicionalmente, de patriota.

Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 17:33


A VEJA.com desta segunda publica uma excelente reportagem de Gabriel Castro sobre o Bolsa Família. Já escrevi aqui algumas vezes que uma das medidas do sucesso do programa seria a diminuição do número de famílias atendidas, certo? Não preciso explicar os motivos, acho… Mas quê! Em Banânia, dá-se justamente o contrário: o governo bate no peito, cheio de satisfação, quando cresce o número de atendidos.

Pensem um pouquinho: faz sentido o país estar com o menor desemprego de sua história e com o Bolsa Família em expansão? Faz, mas de um modo que muito talvez não suspeitem (leiam a reportagem). Nessa história toda, muita coisa está errada — envolta em mistificações — desde a origem. Pra começo de conversa, a renda derivada do trabalho informal não entra na conta do estabelecimento da linha de corte para a concessão do benefício. Vamos ao extremo: consumidores de crack que vagam pelas cracolândias Brasil afora, sem casa, sem mais nada, consomem em pedra um valor muitas vezes superior aos R$ 70 per capita que habilitam alguém a se candidatar ao programa.

Recorro a esse exemplo extremo porque esse grupo acaba sendo uma espécie de emblema de pessoas que vivem à margem da sociedade. Atenção! Um consumidor de crack pode gastar com a droga R$ 70 por dia — não por mês. E qual a origem dessa “renda”? A esmola e pequenos serviços prestados informalmente.

Só 1%
Os mistificadores agora deram para acusar de crueldade os críticos da expansão do Bolsa Família porque, afinal, o programa consome apenas 1% do PIB brasileiro, e isso não passaria de uma migalha. Por outro lado, o governo gastaria muito mais com os tais “rentistas” (são os alvos da hora dos esquerdopatas) por intermédio do pagamento de juros.

É uma crítica que concentra várias formas de vigarice. Começo pelo mais óbvio: o governo paga aos ditos “rentistas” pelo dinheiro que é obrigado a tomar emprestado em troca de títulos que põe no mercado. E só faz isso porque precisa de recursos para se financiar. E só precisa fazer isso porque gasta mais do que arrecada, já que concede mais benefícios — se quiserem, a pobres e ricos — do que teria condições de fazê-lo e porque a máquina é cara e ineficiente.

Em segundo lugar, fica parecendo que o Bolsa Família é o único programa social vigente no país. Não! É preciso colocar na conta a saúde, educação e programas de moradia — nas três esferas da administração — e a Previdência Social. O 1% do PIB do Bolsa Família é, com efeito, a menor fatia do desembolso social.

O problema é que o programa se converteu — vejam os números na reportagem — numa ação que tem forte apelo eleitoral; na verdade, eleitoreiro. Não há corrente política no país capaz de falar com a parte da sociedade que paga a conta; todos preferem ter como interlocutores os beneficiários. Nas disputas eleitorais de 2006 e 2010, os petistas fizeram terrorismo aberto, acusando a oposição de querer pôr fim ao programa. Desta feita, o PSDB se blindou da fofoca: Aécio Neves apresentou um projeto incorporando o Bolsa Família aos benefícios permanentes, que não dependam da boa vontade de governos. É uma medida eleitoralmente prudente, dada a vigarice oficial. Mas é inescapável constatar que isso só nos distancia de uma resposta adequada.

Sem medo de ser feliz
E pensar que, de fato, o Bolsa Família foi criado pelo PSDB. Não é mera questão de opinião, não. É matéria de fato. Como já demonstrei aqui por A + B, quem achava que programas de bolsa deixavam o pobre vagabundo é Lula. No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, ele fez um discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não! Em vermelho.

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…

No dia 27 de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudando o nome do programa Bolsa Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”. Vocês devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão serviria só para comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar cachaça com ele?; o beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou poderia pegar o dinheiro e fazer o que bem entendesse?

A questão se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não saía do papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época: “O Fome Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.

No dia 20 de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas de renda do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa Família? E o que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas que ele atacara em um só. Assaltava o cofre dos programas alheios, afirmando ter descoberto a pólvora. O texto da MP não deixa a menor dúvida (em vermelho):
(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás,instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Compreenderam? Bastaram sete meses para que o programa que impedia o trabalhador de fazer a sua rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os assistidos passariam a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as crianças frequentassem a escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que fossem vacinadas, como já exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também que as gestantes fizessem o pré-natal! Esse programa era do Ministério da Saúde e foi implementado por Serra.

E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?

Ora, o Apedeuta passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda deixavam acomodados os plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se aquele não fosse rigorosamente o seu próprio discurso. No dia 23 de março de 2005, em Cuiabá, atirava contra as pessoas supostamente contrárias ao Bolsa Família. Leiam e confrontem com o que ele próprio dizia em 2003:
Eu sei que tem gente que fala: “Não, mas esse presidente está com essa política do programa Fome Zero, do Bolsa Família, isso é proselitismo, isso é esmola.” Eu sei que tem gente que fala assim. Lógico, o cidadão que toma café de manhã, almoça e janta todo santo dia, para ele Bolsa Família não significa nada, ele não precisa. E ainda mais se ele puder fazer uma crítica a mim tomando uma Coca-Cola em um bar, um uísque ou uma cerveja. Agora, tem pessoas que, se a gente não der essa ajuda, não conseguem comer as calorias e as proteínas necessárias à vida humana. E se for uma criança de antes de seis anos de idade, nós sabemos que essa criança poderá ter o seu cérebro atrofiado e nunca mais se recuperar.

Fora do horário eleitoral; imprensa crítica
Estudar como se deu a mudança desse discurso explica, em boa parte, como se construiu a hegemonia petista. Em 2002, havia nada menos de 5 milhões de famílias atendidas por alguma das bolsas do governo FHC — que depois foram reunidas sob a rubrica Bolsa Família.

As concessões, acreditem, não foram usadas pelo PSDB na campanha eleitoral de 2002. Ao contrário até: havia certo esforço para escondê-las. Não se deve criticar apenas o partido por isso. Quem consultar o noticiário da época vai constatar que a própria imprensa — contaminada pelo petismo — dispensava às bolsas tratamento semelhante ao de Lula: NÃO PASSAVAM DE ESMOLAS.

Os analistas “de esquerda”, isentos como um táxi, tachavam os programas de meras “medidas compensatórias” para minimizar os efeitos de um suposto ajuste neoliberal na economia, que teria sido operado por FHC. Era conversa mole; era bobagem, mas a coisa colou. Assim, o PSDB preferiu esconder, em 2002, que havia 5 milhões de famílias recebendo benefícios — o que atingia bem uns 25 milhões de pessoas. Os tucanos, vejam vocês!, na verdade, se envergonhavam daqueles programas e achavam que eles depunham contra o Brasil. No particular, então, concordavam com… Lula!

Com menos de um ano de poder, o Apedeuta percebeu que poderia transformar o que considerava uma titica em ouro eleitoral puro. Como se vê acima, unificou todos os programas num só, chamou de “Bolsa Família”, anunciou a redenção dos pobres e, três anos depois, já havia dobrado o número de famílias beneficiadas: 10 milhões. Na eleição de 2006, sugeriu que os tucanos é que achavam os beneficiários “vagabundos”, não ele.

E, é fato, na imprensa, o Bolsa Família passou a ter um prestígio realmente inédito. Também os analistas isentos como um táxi acreditam que só reacionários de maus bofes criticam o Bolsa Família; também eles acham que o aumento de pessoas atendidas é uma medida de sucesso do governo.

E assim vamos.

Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 16:50


Por Gabriel Castro, na VEJA.com. Volto no próximo post.
Há oito meses, boatos sobre o fim do Bolsa Família causaram pânico e levaram milhares de pessoas a agências da Caixa Econômica Federal em todo o país. Em meio ao episódio, duas cenas exibidas em telejornais foram reproduzidas na internet por seu aspecto inusitado. Elas mostravam beneficiárias do programa fazendo queixas incomuns. Francisca Flores, de São Luís (MA), reclamava: “Só ganho 134 reais e não está dando nem para comprar uma calça para minha filha, que tem 16 anos. Porque uma calça para uma jovem de 16 anos (sic) é mais de 300 reais”. Diana dos Santos, de Fortaleza (CE), contou diante das câmeras: “Eu fui à lotérica, como vou de costume, fazer um depósito na poupança do meu esposo. Fui depositar o dinheiro. Como eu já estava lá, aproveitei, levei o cartão, e tirei o Bolsa Família”.

Francisca acreditava que o dinheiro do auxílio do governo deveria ser usado para bancar bens de consumo mais caros do que os que o trabalhador médio pode bancar com seu salário. Diana revelou, sem se incomodar, que sua família poupa dinheiro mensalmente – e quem faz poupança evidentemente não está em situação de emergência financeira. É difícil estimar a quantidade de beneficiários irregulares do Bolsa Família: mas os exemplos de Francisca e Diana mostram que há algo de errado com o programa. Os números de 2013 reforçam esta impressão.

No ano passado, o total de beneficiários e o valor gasto com o programa atingiram novos recordes. Foram 20,6 bilhões de reais, pagos a 14,1 milhões de famílias. O próprio Ministério do Desenvolvimento Social aponta que mais de 50 milhões de pessoas, ou seja, mais de 25% da população brasileira, são atendidas pelo Bolsa Família. É o equivalente à população da África do Sul.

Em 2004, as dimensões eram bem menores: o total pago foi de 5,5 bilhões de reais, divididos por 6,6 milhões de famílias. Para 2014, os números indicam que deve surgir um novo recorde: o Orçamento previsto para o programa é de 25,2 bilhões de reais. Uma elevação tão acelerado no número de dependentes de auxílio governamental não aconteceu nem na parte da Europa que mergulhou em uma grave crise econômica nos últimos anos. Comparado com o total do orçamento, o valor significa pouco mais de 1% dos gastos do governo. O problema é a ampliação indefinida no programa. Não é exagero afirmar que, se fosse mantida a curva de crescimento, metade dos brasileiros poderia ser beneficiada com o dinheiro do Bolsa Família daqui a dez anos.

A presidente Dilma Rousseff tem como meta para 2014 incluir no programa outras 500.000 famílias – cerca de 1,8 milhão de pessoas – que teriam direito ao benefício mas estão fora do cadastro dos programas sociais do governo. Fora isso, o crescimento vegetativo e as oscilações da economia podem lançar no Bolsa Família novos beneficiários. É fácil entrar no programa – e a saída não é tão rápida: mesmo que a família passe a receber acima do limite de 140 reais mensais per capita, o corte no auxílio financeiro não é automático. Se a renda per capita não ultrapassar meio salário mínimo (362 reais), o cancelamento do benefício só é feito durante o período de revisão cadastral, em outubro de cada ano.

O governo usa o Bolsa Família como exemplo de uma medida bem sucedida. Mas como um programa criado para tirar pessoas da pobreza pode ser elogiado se o número de dependentes aumenta a cada ano? O crescimento vegetativo da população é uma explicação insuficiente, já que a quantidade de beneficiários sobe muito mais rapidamente do que a de brasileiros. “Se uma em cada quatro pessoas recebe Bolsa Família, isso quer dizer que três em cada quatro pagam por uma quarta. Não me parece que a longo prazo isso seja sustentável”, diz o economista Adolfo Sachsida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O combate à pobreza é necessário, e o Bolsa Família cumpre essa função. Mas a expansão indiscriminada no número de atendidos pode não ser um simples lapso. Para o governo, há pouco a perder e muito a ganhar com o crescimento descontrolado no número de assistidos pelo dinheiro público: um programa relativamente barato, que tem pouca rejeição popular, mantém dependente do Estado uma parcela cada vez maior dos cidadãos. Com a devida propaganda, a lealdade desse eleitorado a cada quatro anos costuma ser elevada.

Fiscalização
As falhas na fiscalização também ajudam a explicar o número cada vez maior de beneficiários, apesar do crescimento da economia. Trabalhadores que possuem empregos informais – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40 milhões de pessoas – por vezes acabam burlando as regras e recebendo o benefício. “Não tem sido feito um controle adequado e isso desvirtua o programa”, diz o professor Newton Marques, da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Relatos de fraudes no programa não são raros: algumas das irregularidades descobertas envolvem pagamentos em nome de crianças, estrangeiros, mortos e até animais. As dificuldades na verificação dos critérios facilitam os desvios. A fiscalização é feita no plano municipal, com o uso de ferramentas oferecidas pelo governo federal.

Em um fórum virtual que reúne gestores do Bolsa Família, os relatos sobre as dificuldades são frequentes. Em uma das mensagens publicadas na página, um funcionário admite que não pretende cancelar os pagamentos a uma beneficiária que, pelas regras, já ultrapassou a renda exigida para participar do Bolsa Família: “Eu me sinto frustrado em ter que fazer parte desse processo. Será por iniciativa minha que ela deixará de receber o dinheiro que já está acostumada a receber. Sou eu quem irá explicar o motivo de ela estar com o beneficio bloqueado. Enfim, serei eu quem irá escutar as reclamações, ameaças e tudo mais”, diz ele.

O Bolsa Família contempla os núcleos familiares com menos de 70 reais de renda per capita ou famílias que tenham renda de até 140 reais per capita e possuam ao menos um jovem menor de quinze anos. O menor auxílio pago aos beneficiários do programa é de 32 reais. De acordo com a renda familiar e a quantidade de filhos, o valor pode subir muito: há beneficiários que recebem 600, 700 e até 800 reais por mês. O valor médio pago é de 120 reais.

Um dos problemas mais graves do Bolsa Família é a falta das tão propaladas portas de saída. Apenas 12% dos atendidos pelo programa abriram mão do benefício até hoje, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social. E não se pode dizer que eles superaram a miséria necessariamente graças ao auxílio do governo.

O efeito do programa também pode ser uma das explicações para a baixa no índice de desemprego. A metodologia aplicada pelo IBGE só considera desempregada a pessoa que, tendo mais de dez anos, procurou um emprego nos trinta dias anteriores à pesquisa e não encontrou. Com o Bolsa Família garantido por tempo indeterminado, argumentam alguns economistas, muitas pessoas não se dedicam com afinco à procura por um novo trabalho. Como consequência, elas não são vistas estatisticamente como desempregadas.

Adolfo Sachsida e Newton Marques concordam que seria adequado instituir um limite temporal – três ou quatro anos, sugere o pesquisador do Ipea – para que os beneficiários busquem uma qualificação e adquiram uma fonte de renda por conta própria. Mas, dado o potencial eleitoral do programa, nenhum partido político encampa uma proposta do tipo.

Eleições
No período eleitoral de 2014, não haverá debates sobre o fim do Bolsa Família, nem sobre a instituição de limites temporais ao programa. O candidato do principal partido de oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), já se vacinou contra os potenciais boatos de que iria encerrar o programa: apresentou um projeto de lei transformando o benefício em política de Estado.

“Não se pode falar disso durante a eleição. E a principal razão é esta: 50 milhões de pessoas dependem do programa”, diz o professor Paulo Kramer, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Ele lembra que, em 1996, o governo americano implementou uma reforma no sistema de assistência social para impor limites temporais aos benefícios concedidos às famílias pobres. As mudanças implementadas por Bill Clinton alteraram o modelo implementado três décadas antes, no governo de Lyndon Johnson.

O desgaste do sistema anterior era evidente: muitas pessoas em perfeitas condições de procurar trabalho deixaram de fazê-lo para não perder os benefícios; o número de crianças nascidas fora do casamento aumentou, já que os homens solteiros já não se sentiam obrigados a assumir a responsabilidade financeira sobre as crianças; e os gastos federais com a assistência social impediam o saneamento das contas públicas.

A regra aprovada em 1996, após um esforço suprapartidário, instituía um prazo de dois anos para que o beneficiário encontrasse um trabalho; depois disso, ele perderia direito ao auxílio financeiro. Durante toda a vida, o cidadão poderia receber o benefício por no máximo cinco anos. Também foram criados incentivos para a responsabilidade individual dos assistidos. É bom lembrar: Bill Clinton pertence ao Partido Democrata, mais à esquerda. Isso não impediu a reforma moralizadora.

É razoável que o governo auxilie famílias que, por razões diversas, estejam à beira da miséria. O debate gira em torno do modelo aplicado: sem critérios rigorosos e apoio à autonomia dos mais pobres, programas de assistência social podem causar efeitos negativos. É a lição que os Estados Unidos aprenderam e que, aparentemente, o Brasil ainda precisa aprender.Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 15:58


Vejo com simpatia, por definição, candidaturas de oposição a Dilma Rousseff, o que não chega a ser surpresa para o meu leitor, certo? Isso não quer dizer que eu ignore que pode, sim, haver coisa pior do que o petismo. Marina Silva como titular de uma candidatura, por exemplo, no meu “piorômetro”, obtém mais pontos do que Dilma — e já escrevi isso aqui. Não surpreendo ninguém também nesse caso. Estou entre aqueles que consideram que, boa parte das vezes, o que ela fala não faz sentido; mas é justamente quando faz que ela salta para a primeira posição do “piorômetro”. De todo modo, por enquanto ao menos, que se saiba, o candidato do PSB será Eduardo Campos, hoje governador de Pernambuco.

Pois bem.

Nesta segunda, Campos admitiu que há divergências entre o PSB e a Rede — partido que, por enquanto, usa os peessebistas como barriga de aluguel —, mas que elas serão resolvidas e coisa e tal e que aqueles que apostarem na divergência entre ambos vão perder. Segundo diz, em mais de 20 estados, há convergência. Então tá.

Um dos palcos da discórdia é São Paulo. O PSB local quer se aliar ao governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição pelo PSDB. Marina não quer saber e insiste na candidatura própria. Embora os dois grupos tenham decidido que, onde não houver consenso, cada um segue o seu caminho, parece que, nas terras paulistas, não pode ser assim. E olhem que é grande a chance de o PSB ter o candidato a vice na chapa de Alckmin caso haja acordo.

Campos afirmou ainda o seguinte: “Se você for fazer um quadro comparativo dos problemas que tem na aliança governista em cada Estado, enche uns dez cadernos de jornal e umas 50 telas. Nós temos muito menos problemas e temos, sobretudo, a disposição de resolvê-los”.

Pois é, governador… Eis um fato que só ajuda a distorcer a verdade caso se vá fazer uma comparação a sério. Por quê? Quantos aliados tem Dilma Rousseff? Todos! Quantos aliados tem o PSB? Um! Que a aliança governista enfrente dificuldades em razão de suas coligações-ônibus nos estados é até compreensível. Ocorre que o seu partido, até agora, tem o apoio apenas do PPS. A Rede, como se sabe, ainda não existe formalmente.

É claro que Marina Silva agrega, entre perdas e ganhos, um saldo positivo de votos a Campos caso se candidate a vice, por exemplo. Mas não deixa de ser impressionante o seu esforço para, na prática, impedir que seu aliado tenha um palanque forte no estado com o maior número de eleitores do país.

A resistência da chefona da Rede à aliança com o PSDB atende aos interesses do PSB e de Campos ou aos de seu partido e dela própria? Ao tentar, de todas as formas, impedir essa aliança, Marina está tacitamente admitindo que o governador de Pernambuco já é um derrotado, que suas chances eleitorais são muito pequenas e que é preciso, desde já, pensar no cenário pós-2014.

O governador de Pernambuco diz ainda: “Há um desejo de que essas coisas [aliança com Marina] não deem certo. Tem muita gente que deseja muita coisa e não consegue. Não vão conseguir essa, por exemplo”. Tem lá a sua graça no jogo político e coisa e tal, mas a fala, lamento observar, não faz sentido. Digamos que o PT queira, sim, que a aliança se inviabilize. Ora, querer coisas é do jogo político. Torcer contra os adversários também. Mas de uma coisa não se pode acuar o PT: de estar criando dificuldades para Campos em São Paulo. Quem está empenhada, de forma pertinaz, nesse propósito é… Marina Silva.

Não há nenhuma razão objetiva para ela recusar a aliança em São Paulo a não ser, reitero, o esforço para fortalecer o seu próprio partido e a certeza antecipada da derrota do seu aliado — o que, convenham, é o fim da picada a esta altura do jogo. Sob qualquer critério que se queira, a gestão paulista é, por exemplo, bem mais “verde”, bem mais “ecológica”, do que a do Acre, onde Marina é governo há 15 anos, aliada aos petistas. Não é muito popular por lá. Na eleição de 2010, ficou em terceiro lugar em seu próprio estado, atrás de Serra (em primeiro) e Dilma.

Quem poderia estar agastado com a eventual composição do PSB com o PSDB em São Paulo é o senador Aécio Neves (PSDB), que veria o palanque governista no estado dividido entre a sua candidatura e a de Campos. Esse, sim, poderia ser um arranjo difícil, e, no entanto, ele se viabilizou.

Não adianta Campos tentar dourar a pílula. Quem está criando constrangimentos importantes para o PSB em São Paulo não são os petistas, mas a própria Marina Silva, que tem, como qualquer hospedeiro — refiro-me à biologia —, as suas próprias prioridades. A questão é saber se Marina usará o PSB como comensal, mutualista ou parasita.

Impedir a aliança do PSB com o PSDB em São Paulo caracteriza escancarado parasitismo.Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 14:55


Pronto!

O Maranhão já pode voltar a ser o Maranhão.

José Eduardo Cardozo já pode voltar a ser José Eduardo Cardozo.

E certos vícios da imprensa já podem voltar a ser exercidos à luz do dia.

Três ônibus foram incendiados em Campinas nesta segunda, no bairro Vida Nova, e cinco outros foram depredados. Seria uma reação da “população” — “população” põe fogo em seu próprio meio de transporte??? — a 12 assassinatos ocorridos entre a noite de domingo e a madrugada de segunda em bairros da região do Ouro Verde.

As mortes, por sua vez, seriam uma reação ao assassinato de um policial que estava de folga, também no Ouro Verde, ocorrida na tarde de domingo.

As 12 mortes já são chamadas de “execuções”. A imprensa recorre a essa palavra quando quer acusar a polícia, mas não tem provas.

Pronto!

José Eduardo Cardozo já pode conceder agora mais uma dura entrevista contra a Polícia de São Paulo (ver post anterior), oferecendo seus préstimos ao Estado de São Paulo. Mais: pode aproveitar o episódio para demonstrar que não há diferenças essenciais entre São Paulo e o Maranhão.

E as TVs podem recuperar o sotaque de indignação cívica, que foi perdido ao retratar o descalabro maranhense.Por Reinaldo Azevedo

Tags: violência




13/01/2014 às 6:55


Mortos sem pedigreePor Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 6:43



O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o Garboso, concedeu umaentrevista à Folha desta segunda. Chega a ser constrangedor. Desperta na gente o que se passou a definir, com muita propriedade, “vergonha alheia” — vale dizer: já que ele próprio não enrubesce, a gente cora em seu lugar; alguém, afinal de contas, tem de fazê-lo.

Leiam a entrevista. Não há uma só nota de crítica ao governo de Roseana Sarney (PMDB), nada! Muito pelo contrário! Cardozo faz questão de destacar que a governadora tem plena autonomia para cuidar da segurança pública (não me diga!) e que o governo federal está lá para oferecer seu apoio. Para retirar o peso das costas da governadora, Cardozo insiste que os presídios, Brasil afora, estão em petição de miséria.

Ele só se esqueceu de um pequeno detalhe: todos os presídios brasileiros estão subordinados a um órgão federal, que pertence justamente ao Ministério da Justiça. Leiam esta pergunta e esta resposta (em vermelho):
O Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional recebeu 34,2% a menos de verba em 2013 do que em 2012. Não era a hora de investir mais?
O tempo médio para a construção de um presídio chega a três anos. A escolha do local nem sempre é fácil porque muitas cidades não querem receber unidades prisionais. Elaborar o projeto e fazer a licitação também é complicado. Esses problemas acabam dificultando o repasse de dinheiro. Acredito que vai melhorar em 2014.

O que foi que ele disse mesmo? Absolutamente nada! Num outro momento da entrevista, com aquela pompa muito característica, afirma: “A presidente Dilma Rousseff determina ao Ministério da Justiça e a toda sua equipe que aja de maneira absolutamente republicana, pouco importa se o governador é aliado ou de oposição.”

Os fatos
É mesmo? Que pena que os fatos desmintam o ministro de maneira tão acachapante e acabrunhante, não é mesmo?

Em 2012, São Paulo passou por um surto de violência — insuficiente para retirá-lo do penúltimo ou último lugar no ranking de homicídios. Cardozo concedeu diversas entrevistas atacando o governo e a polícia de São Paulo. Acusou a Secretaria de Segurança Pública de ter rejeitado ajuda do governo federal. Era falso. Muito pelo contrário: o então secretário, Ferreira Pinto, havia encaminhado uma solicitação de ajuda, que ficou sem resposta. Numa entrevista, com grosseria impressionante, Cardozo disse que o Planalto não era “Casa da Moeda” para ficar dando dinheiro a São Paulo… Ferreira Pinto acabou deixando a secretaria. Desmontei a farsa aqui.

Vejam esta imagem.



É de uma entrevista de Cardozo na Folha do dia 18 de junho, em meio à pauleira das manifestações. Abaixo, reproduzo a sequência de eventos até que o ministro da Justiça tivesse o desplante de concedê-la.

No dia 9 de junho, o Estadão chegava às bancas com uma estranha entrevista de Cardozo, tornada manchete. O alvo principal: o governador Geraldo Alckmin, em particular a política de segurança pública. Era um domingo. Eis a imagem.



Na terça-feira, dia 11 de junho, o Passe Livre e os black blocs voltaram às ruas — já tinham promovido depredações no dias 6 e 7 daquele mês. A violência chegava ao paroxismo. Coquetéis molotov foram lançados contra a polícia. Um policial foi linchado.

Aí veio a tragédia do dia 13. O Passe Livre voltou às ruas ainda mais disposto à pauleira. Aqui e ali já se colhiam na imprensa sinais de simpatia pelos vândalos. Jornalistas foram atingidos por balas de borracha. Uma imprensa que já estava doida para aderir encontrou ali o pretexto de que precisava. A PM passava a ser a vilã. E os protagonistas da truculência dos dias 6, 7 e 11 eram tratados como heróis que estivessem lutando contra um estado autoritário.

Naquele mesmo dia 13, com a cidade tomada pelo caos, Cardozo concedeu uma entrevista aos portais oferecendo “ajuda” ao governador Geraldo Alckmin. Não telefonou, não conversou, não procurou nem foi procurado. Falava pela imprensa. Tirava uma casquinha. Fazia de conta que o problema era de São Paulo.

No dia 17, marca-se outra manifestação em São Paulo. A polícia aceita as condições dos trogloditas que haviam vandalizado a cidade nos dias 6, 7, 11 e 13: nada de tropa de choque, nada de bala de borracha, nada de bombas e nada de restrição a áreas de protesto. No dia 18 de junho, aí era a Folha que trazia outra entrevista de Cardozo, também contra o governo de São Paulo, com ataques diretos à polícia. É a imagem da página que vai ali no alto.

Concedida no dia 17, antes do término das manifestações, esse gênio usou como exemplo bem-sucedidos as polícias do Rio e do Distrito Federal: “O que vi em SP, e as câmeras mostraram, é de uma evidência solar que houve abuso. Vi o que aconteceu no Distrito Federal e no Rio. Padrões de comportamento bem diferentes”.

Patético! Naquele dia 17, não houve violência em São Paulo. Alguns bananas tentaram invadir os jardins do Palácio dos Bandeirantes, mas nada muito grave. No Rio, no entanto, um dos bons exemplos de Cardozo, assistiu-se ao caos.

O ministro da Justiça que “ofereceu” ajuda a Alckmin no dia 13, que já o havia atacado no dia 9 e que censurou a polícia de São Paulo no dia 17, tinha tudo para organizar, então, com o seu aliado Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, uma ação preventiva exemplar quando o protesto chegou ao Distrito Federal, certo?

Pois bem! No dia 20, o caos se instalou em Brasília. Meteram fogo no Itamaraty. E ninguém ouviu a voz de Cardozo, o chefe da Polícia Federal e o homem que pode acionar a Força Nacional de Segurança.

Caminho para o encerramento
Eis uma breve síntese de José Eduardo Cardozo e sua “isenção”. Desde que este senhor assumiu a pasta da Justiça, tem atacado a segurança pública de São Paulo — goste-se ou não, uma das mais eficientes do país — de maneira sistemática. E o faz por intermédio da imprensa, mobilizando os muitos amigos que tem na área.

Quando, no entanto, se trata do Maranhão, aí o crítico feroz de São Paulo se transforma num cordeirinho da família Sarney.

Com São Paulo, Cardozo ruge; com o Maranhão, ele bale. Palmas para a sua valentia!

PS – Ah, sim: O “Fantástico” também está de parabéns! Por muito menos, em 2012, cheguei a achar que São Paulo estivesse à beira da anomia social. No Maranhão, um representante do governo falava com muita segurança sobre o descalabro. E nem uma palavra sobre lagosta, caviar e champanhe. Nada, em suma, que possa ter envergonhado a Rede Mirante de Televisão, retransmissora da Globo no Maranhão, que pertence à família Sarney, a exemplo da Rádio Mirante AM, da Rádio Mirante FM e do jornal “O Estado do Maranhão”.
Texto publicado originalmente às 3h44Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 6:41

O presidente Kennedy com o embaixador Lincoln Gordon: o que foi que disseram?

Este blog tem milhares de leitores, como vocês sabem, e conta com alguns conselheiros informais, leitores que, volta e meia, colaboram para que as coisas se mantenham nos eixos. Um deles se identifica como “Admirador do Bardo”. Não gosta de aparecer. Envia comentários sugerindo coisas, mas pede que não sejam publicados. Já colaborou com algumas correções. Quem é “o Bardo” do seu apelido? Segundo ele diz, é Shakespeare.

Pois é… Desta feita, ele enviou um texto para ser publicado. Verifiquei, com o auxílio de um amigo, se a correção que ele faz — não de texto meu — procede. E cheguei à conclusão de que ele tem razão.

“O Admirador do Bardo” aponta erros importantes na transcrição de um trecho da conversa entre o John Kennedy, ex-presidente dos EUA, e Lincoln Gordon, seu então embaixador no Brasil, em 1964, conforme está publicado no site do jornalista Elio Gaspari. Lá se encontra a seguinte transcrição:
Kennedy [interrompendo]: “What about the… Do you see a situation coming where we might be, find desirable to intervene militarily ourselves?”

Com a seguinte tradução:
“E os… Você vê a situação indo para onde deveria, acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?”

O professor ouviu o áudio e constatou que, no essencial, a frase correta de Kennedy em inglês é:
“Do you see a situation coming where we might be finding desirable to intervene militarily ourselves?”
Tradução:
“Você vê uma situação iminente em que nós poderíamos considerar conveniente intervir militarmente?”

Aí o “Admirador do Bardo” escreve (em azul, conforme chegou):
Pior foi colocar na boca do presidente americano uma frase ilógica, por mais coloquial que seja — e, mais, com atentados à língua inglesa. “A situação indo para onde deveria…”??? Heavens! Kennedy fala em “uma situação” e não “a situação”. O sujeito de “find” é “nós”, e não “a situação”.

Kennedy não pergunta a Gordon se ele (Gordon) acha aconselhável fazer uma intervenção militar. Kennedy conjectura sobre a hipótese de os Estados Unidos (“we”) virem a considerar ser conveniente intervir. É outra coisa. Aliás, a frase foi tirada de uma conversa de mais de uma hora entre JFK e LG. Só naqueles poucos segundos há referência a uma intervenção militar por parte dos americanos. O presidente e seu embaixador discutem longamente os cenários políticos prováveis no Brasil, falam da personalidade e da força de arregimentação dos mais eminentes políticos brasileiros, mas não discutem nenhum plano de invasão do país.

Enfim, Tio Rei, os caras ouviram o galo cantar, mas não souberam onde e nem em que idioma. Uma lambança só: essa falta de rigor, de precisão e objetividade fazem muito mal ao jornalismo, viu? Obviamente, ninguém duvida que os americanos estivessem felizes com a queda do Jango (não tanto quanto os próprios brasileiros, mas estavam…) ou que tivessem um plano para ajudar os militares brasileiros caso o Brasil afundasse em guerra civil entre comunistas e defensores da democracia. Era o ápice da Guerra Fria. Os EUA e a URSS tinham planos para invadir qualquer país.

Bem, Tio Rei, despeço-me com um abraço e a admiração de sempre. Antes de ir-me, mais uma observação: não é instrutivo constatar a superioridade moral da democracia americana — que preservou as provas materiais de seu envolvimento com a crise havida no Brasil — no cotejo com a tirania soviética, que, em 1964, se meteu no Brasil tanto quanto os americanos (ou mais), mas destruiu as evidências?

Shakespeare, o “bardo” admirado pelo leitor
Texto publicado originalmente às 2h11Por Reinaldo Azevedo





13/01/2014 às 6:39


Esquerdistas bocós (existem os não bocós?) já estão de olho no “rolezinho”. Aqui e ali, noto a vocação ensaística de alguns dos meus coleguinhas na imprensa. Já há gente, assim, treinando o olhar para teorizar sobre mais essa erupção — e irrupção — da luta de classes. É fácil ser bobo. Fosse mais difícil, não haveria tantos bobalhões. Daqui a pouco o Gilberto Carvalho chama os teóricos dos “rolezinhos” para um bate-papo no Palácio do Planalto.

O “rolezinho”, que até pode ter começado como uma brincadeirinha irresponsável nas redes sociais, está começando a virar, vejam vocês!, uma questão política — ao menos de política pública. A coisa pode ser tornar mais séria do que se supõe. Infelizmente, noto que muita gente, inclusive na imprensa, está tentando ver essas manifestações como se fossem uma espécie de justa revolta de jovens pobres contra templos de consumo da classe média.

Isso é uma tolice, um cretinismo. Os shoppings têm se caracterizado como os mais democráticos espaços do Brasil. São áreas privadas de uso público, muito mais seguras do que qualquer outra parte das cidades brasileiras. Os pais preferem que seus filhos fiquem passeando por lá a que façam qualquer outro programa, geralmente expostos a riscos maiores. É uma irresponsabilidade incentivar manifestações de centenas ou até de milhares de pessoas num espaço fechado. Ainda que parte da moçada queira apenas fazer uma brincadeira, é evidente que marginais acabam se aproveitando da situação para cometer crimes, intimidar lojistas e afastar os frequentadores.

Esse negócio de que se trata de uma espécie de revolta dos pobres contra os endinheirados é uma grossa bobagem. Boa parte dos shoppings de São Paulo, hoje em dia, serve também aos pobres, que ali encontram um espaço seguro de lazer. A Polícia precisa agir com inteligência para que se evite tanto quanto possível o uso da força. É necessário mobilizar os especialistas em Internet da área de Segurança Pública para tentar identificar a origem dessas convocações.

É preciso, em suma, chegar à raiz do problema. As redes sociais facilitam essas manifestações, como todos sabemos, mas é evidente que elas não são espontâneas. Há pessoas convocando esse tipo de ação, que pode, sim, como se viu no Shopping Metrô Itaquera, degenerar em violência.

No dia em que os shoppings não forem mais áreas seguras, haverá fuga de frequentadores, queda de vendas e desemprego. E é certo que estamos tratando também de um sério problema de segurança pública. Num espaço fechado, em que transitam milhares de pessoas, inclusive crianças, os que organizam rolezinhos estão pondo a segurança de terceiros em risco.

E que ninguém venha com a conversa de que se trata apenas do direito de manifestação num espaço público. Pra começo de conversa, trata-se, reitero, de um espaço privado aberto ao público, que é coisa muito distinta. De resto, justamente porque os shoppings têm essa dimensão pública, não podem ser privatizados por baderneiros que decidiram ameaçar a segurança alheia.

Encerro notando que o Brasil precisa ainda avançar muito na definição do que é público. Infelizmente, entre nós, muita gente considera que público é sinônimo de sem-dono. É justamente o contrário: o público só não tem um dono porque tem todos.Por Reinaldo Azevedo







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-O coletivismo é a negação da liberdade, porquanto a sede da liberdade é o indivíduo. Tanto é que a pena mais severa na história da humanidade é a privação da liberdade. A essência da liberdade é una e indivisível e daí a designação do sujeito como "indivíduo".

Aluízio Amorim

Filósofa russa Ayn Rand :



“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”



Ayn Rand nasceu em São Petersburgo em 1905