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Felipe Moura Brasil
Cultura e irreverência
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17/04/2014 às 19:09 \ Cultura
(…) Notícias da TV apurou que a medida [de cortar os comentários da apresentadora Rachel Sheherazade] foi tomada sob pressão do governo federal. Há duas semanas, [o diretor de jornalismo do SBT] Marcelo Parada se reuniu em Brasília com o ministro da Secretaria de Comunicação Social [Secom], Thomas Traumann. Na ocasião, Traumann manifestou desconforto com os comentários de Sheherazade. O ministro controla as verbas do governo federal, que investe cerca de R$ 150 milhões em publicidade por ano no SBT. (…)
Thomas Traumann é o ex-porta-voz da Presidência que, no começo deste ano eleitoral, substituiu Helena Chagas na Secom. A avaliação era que Traumann ”tem perfil mais agressivo e mais afinado com o ex-ministro Franklin Martins”, que coordena a área de comunicação da campanha de Dilma Rousseff e é conselheiro do Instituto Lula.
Só fico imaginando a doçura e a delicadeza com que um petista de perfil agressivo, afinado com o homem que luta pelo “controle social da mídia”, manifesta a um “companhêru” como o coordenador da campanha passada de Dilma, Marcelo Parada, o seu “desconforto” em relação a uma apresentadora que critica o partido de ambos na emissora cujo jornalismo este dirige. Longe de mim crer que a mãe de Sheherazade foi homenageada…
- Por obeséquio, companheiro Parada, o senhor poderia conversar com esta moça e pedir-lhe gentilmente que pegue mais leve em suas críticas ao governo? Não creio que elas sejam justas, de modo que me sinto um tanto quanto desconfortável. O senhor me faria este favor?”
- Mas é claro, companheiro Traumann, estou certo de que ela entenderá…
- Puxa vida, companheiro Parada, não sei como agradecer-lhe. O companheiro Lula vai ficar satisfeitíssimo de ver mais embasamento por parte dela ao zapear para o SBT.
- Minhas saudações ao presidente, digo, ex-presidente. Até a próxima.
- Até.
Lindo, não? Mas volto à realidade. Helena Chagas sofria um intenso bombardeio dos “blogs sujos” e dos veículos oficialistas, que cobravam mais verba oficial para prestar seus servicinhos. Após o anúncio de sua saída, “motivada por pressões do PT” e “pelo desgaste da falta de transparência com a agenda da presidente Dilma na polêmica ‘escala técnica’ da comitiva presidencial em Lisboa”, ela escreveu no Facebook que “a distribuição da publicidade oficial, que envolve dinheiro público, não pode se transformar em uma ‘ação entre amigos’”.
Deu para entender por que Helena sofria pressões (dos amigos) do PT? Ok.
E quem dizia que a comunicação do governo era “uma porcaria” e que “O Lula mantinha uma canalização de recursos para alguns blogs, mas a Dilma cortou tudo”? Ele mesmo: André Vargas, o petista hoje famoso pelo escândalo da Petrobras. Quando Helena saiu, Vargas comemorou: “Não gosto dela. A Helena foi pro pau! Beleza.” Um doce, não?
Helena, na verdade, entregou sua carta de demissão no dia 30 de janeiro, surpreendida com o vazamento da notícia de que seria substituída. Pouco mais de uma semana depois, em 7 de fevereiro, seu pai, Carlos Chagas, foi um dos três comentaristas demitidos do SBT.
Isso mesmo: coincidências da ditadura petista.
Em 2011, quando o ministro das Comunicações Paulo Bernardo falou que nenhuma proposta que ameaçasse a liberdade de expressão seria apoiada pelo governo Dilma e “o projeto de Franklin Martins está enterrado”, ele também foi atacado por dirigentes petistas – como o negador das Farc no Foro de São Paulo, Valter Pomar – que o acusaram de ter mais afinidade com as grandes redes de TV do que com o partido.
Martins, para se ter uma ideia, deixou de falar com Bernardo por causa disso.
Mas com a sua volta ao comando, trazendo Traumann para a Secom, a ala “mais agressiva” do PT se tranquilizou e os blogs companheiros celebraram. Paulo Nogueira, aquele que me chama de “o reaça-engraçado”, considerou Traumann “uma excelente aquisição” para a Secretaria. Seu irmão e colega de “Diário” Kiko Nogueira, aliás, foi um dos nove “blogueiros progressistas” que participaram da “entrevista dos camaradas” com Lula no último dia 8. Miguel do Rosário, que julgou na época a demissão de Chagas e o retorno de Martins ao núcleo “uma excelente notícia, em todos os sentidos!”, também foi um dos entrevistadores.
Aloysio Nunes Ferreira, líder do PSDB no Senado, já protocolara um requerimentopedindo a Traumann [ouça aqui] informações sobre as verbas oficiais destinadas àqueles “veículos de comunicação que são descaradamente patrocinados pelo governo, por empresas estatais, por órgãos da administração direta, cuja função é repercutir a mensagem política do PT, especialmente na difamação daqueles que se opõem ao atual governo”. Agora o Globo tentou desvendar o segredo, mas a prefeitura de São Paulo avisou que o valor pago pelos anúncios nos blogs é uma informação comercial que não costuma ser divulgada para veículos concorrentes.
“Ação entre amigos” é assim: fica só entre “amigos”.
Com a liberação do dinheiro dos brasileiros – inclusive dos que não votaram no PT – para os “blogs sujos” e as ameaças de corte do dinheiro das estatais para emissoras como o SBT, sem contar a infiltração de militantes em todas as grandes redações, o controle petista da mídia já vai funcionando como pode, embora os líderes do partido queiram sempre mais um bocado.
Rachel Sheherazade foi calada por pressão de Traumann, o companheiro de Martins – o conselheiro de Lula. Se fosse uma esquerdista, o mundo midiático teria caído em cima do governo supostamente reacionário, com manchetes em letras garrafais no alto das primeiras páginas. Como é uma reacionária, na definição rodrigueana de quem reage contra tudo que não presta, as mídias anestesiadas, infiltradas e patrocinadas pelos agentes do Foro de São Paulopreferem dar destaque às censuras de 50 anos atrás.
Só idiotas úteis ainda não entenderam que o controle da opinião pública exercido no tempo dos militares através de medida administrativas oficiais e explícitas se transformou nos tempos de ditadura petista naquele “poder onipresente e invisível” preconizado por Antonio Gramsci.
E só os militantes (ou ameaçados) para se recusar a ver censura quando ela mesma se escancara.
- Até a próxima.
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Tags: Aloysio Nunes Ferreira, blogs sujos, Carlos Chagas, censura, Dilma Rousseff, ditadura, esquerda,Franklin Martins, Helena Chagas, Kiko Nogueira, Lula, Marcelo Parada, Miguel do Rosário, Paulo Bernardo,Paulo Nogueira, PSDB, PT, Rachel Sheherazade, SBT, Thomas Traumann, Valter Pomar
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17/04/2014 às 1:28 \ Mundo
O paraíso esquerdista: 86 milhões sustentam 148 milhões
Enterrado lá no fundo do site do Census Bureau [a agência governamental encarregada do censo nos Estados Unidos] está um número que cada cidadão americano, e especialmente aqueles aos quais foram confiados cargos públicos, deveria saber: 86.429.000.
Este é o número de americanos que, em 2012, levantou-se de manhã e foi para o trabalho – no setor privado – e fez isto semana após semana após semana.
Estas são as pessoas que construíram a América, e estas são as pessoas que podem sustentá-la como um país livre. A mídia esquerdista não as fez famosas como o urso polar, mas elas são realmente uma espécie ameaçada.
Não são um fazendeiro com algumas centenas de cabeças de gado nem uma empresa de energia a desenvolver um combustível fóssil que estão atacando seu habitat. É o governo grande e sua principal arma – um estado de bem-estar social em constante expansão.
Isto é a minha tradução de parte de um artigo de Terence P. Jeffrey na Cnsnews.com, no qual ele ainda analisa o número dos trabalhadores, categoria por categoria, e depois os de beneficiários, programa por programa, até chegar ao resultado e às conclusões abaixo.
(Tão familiares, não é mesmo?…)
Ao todo, incluindo tanto os beneficiários da previdência social quanto os demais, 151.014.000 “receberam benefícios de um ou mais programas” no quarto trimestre de 2011. Subtraia os 3.212.000 veteranos, que serviram o seu país da maneira mais profunda possível, e sobram147.802.000 recebedores não-veteranos de benefícios.
Os 147.802.000 beneficiários não-veteranos excedem os 86.429.000 trabalhadores de tempo integral do setor privado à taxa de 1,7 por 1.
O quanto mais esses 86.429.000 podem suportar?
À medida que os chamados “baby boomers” [americanos nascidos logo após a guerra] se aposentam e que o Obamacare passa a ser totalmente on-line – com suas listas de Medicaid e seguros de saúde subsidiados pelo governo federalexpandidas para qualquer um que ganhe menos de 400% do nível de pobreza – o número de beneficiários inevitavelmente aumentará. E o número de trabalhadores do setor privado em tempo integral também pode diminuir.
Eventualmente, haverá bem poucos levando muitos, e a América irá quebrar.
Nem todos esses 148 milhões estão desempregados: alguns trabalham em período parcial ou o que seja, mas este é o número de pessoas recebendo algum tipo de benefício federal e, obviamente, para que alguém o receba, os que trabalham têm de ser tributados.
Se os 86 milhões viram 80, 75, 70, tendo de sustentar 155, 160 milhões, eles tendem cada vez mais a desistir, recusando-se a pagar o imposto ou mesmo a trabalhar.
Com o mercado anêmico, até os “millenials” [nascidos entre 1980 e o início dos anos 2000] já estão de saco cheio de não encontrar trabalho… Como disse Rush Limbaugh:
Eles têm o seu diploma universitário, e onde está o casarão? Onde está a Ferrari? Eles fizeram o que todo mundo dizia; eles foram para a faculdade. Este era o caminho para tudo. Agora eles vão para a faculdade, saem e não têm nada. Não conseguem encontrar um emprego, uma carreira. O que vai acontecer quando eles descobrirem que independentemente do trabalho que façam, seus impostos vão sustentar as pessoas que não estão trabalhando? Bem, vamos ver.
De acordo com um relatório do Fed de Nova York, 44% dos recém-formados estão subempregados, ou seja, eles têm empregos que não exigem o seu diploma universitário, o que, por sua vez, deixa a situação ainda pior para quem não tem diploma algum. Só falta agora eles entenderem que este é o futuro que Obama e a esquerda americana lhes prometeram.
Eu mostrei aqui como o apresentador Sean Hannity, da Fox News, colocou contra a parede Jason Greenslate, de 29 anos, o surfista californiano que ganhou notoriedade em agosto passado quando foi filmado usando o vale-refeição para comprar lagosta e hoje leva a sua vidinha praiana e musical, com direito a clube de strip-tease, à custa do suor dos outros.
Greenslate é um exemplo tão emblemático dos milhões de parasitas fabricados e moralmente corrompidos pelo assistencialismo obâmico que talvez só encontre par em Manchester, na Inglaterra, onde Sinead Clarkson – uma desempregada de 36 anos que nunca trabalhou, tem dois filhos e vive às custas do governo recebendo 1.200 libras (4.465 reais) mensais –admitiu ao Daily Mail ter incentivado a filha Melissa, de 19, a engravidar para gozar dos benefícios estatais e ter uma vida “sem trabalho e estresse”. Conselho seguido, Melissa ficou grávida seis meses atrás e deixou a futura vovó “maravilhada” com a notícia.
No Brasil, até outro dia havia uma voz na TV aberta que ao menos incentivava os mais de 50 milhões de eleitores do PT, digo, de beneficiários do Bolsa-Família a trabalhar, dizendo: “Não se sai da pobreza sem trabalho, sem salário, sem ganhar com o suor do rosto o pão de cada dia. Assistência? Tem de ser provisória. Senão vira dependência. Senão gera parasitismo. Quem vive do Bolsa-Família precisa subir a outro patamar. Ganhar profissionalização, conquistar um emprego, cuidar da própria vida. Um dia o poço pode secar. É preciso agora aprender a pescar.”
Mas essa “pe(s)cadora” foi calada. A VEJA.com, não. Na matéria Por que o número de beneficiários do Bolsa Família só cresce, Gabriel Castro escreveu: “como um programa criado para tirar pessoas da pobreza pode ser elogiado se o número de dependentes aumenta a cada ano? O crescimento vegetativo da população é uma explicação insuficiente, já que a quantidade de beneficiários sobe muito mais rapidamente do que a de brasileiros.”
Sobe rapidamente, como se vê, tanto aqui como nos EUA, ainda mais em ano eleitoral. Se a América se “brasilianiza” com Obama, o Brasil se americaniza no pior sentido da coisa.
“Devemos medir o sucesso dos programas sociais pelo número de pessoas que deixam de recebê-lo e não pelo número de pessoas que são adicionadas”, dizia o presidente Ronald Reagan, para quem o melhor programa social era um emprego. Mas os números e os exemplos mostram que as esquerdas só sabem medir o sucesso de suas políticas pelo poder que elas lhes garantem.
A propósito: o SBT Brasil já começou a falar dos ursos polares?
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Na Veja.com [13/01/2014]:
- Por que o número de beneficiários do Bolsa Família só cresce
Tags: assistencialismo, beneficiários, Bolsa família, Cnsnews.com, Dilma, esquerda, Gabriel Castro, Lula,Obama, Obamacare, parasitismo, PT, Rush Limbaigh, Terence P. Jeffrey
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16/04/2014 às 1:02 \ Cultura
O Brasil Parada-Dura do PT e a censura à Sheherazade – Se “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, o ano eleitoral começou mesmo diabólico no SBT
Rachel Sheherazade cometeu quatro dos maiores “pecados” no jornalismo brasileiro:
1) Chegou por ordem do patrão – no caso o dono do SBT, Silvio Santos.
2) Entrou já com salário alto – que hoje, segundo a coluna Radar, está em R$ 90 mil.
3) Foi colocada em horário nobre à frente do principal telejornal da casa – o SBT Brasil.
4) E, last but not least, começou a dar, diariamente, opiniões reacionárias.
Se a ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer, endossada depois pela colunista do Globo Miriam Leitão, já chamou Reinaldo Azevedo de cachorro rottweiler quando ele passou a ter uma simples coluna semanal no jornal (escrita longe dos colegas), dá para imaginar os sentimentos que a presença diária de Sheherazade despertou na própria redação da emissora, não é mesmo? Ainda mais, sendo bonita.
Em janeiro, o blogueiro Miguel Arcanjo Prado “revelou” na página de Fabíola Reipert no R7:
Os jornalistas do SBT comentam entre si que têm vergonha de trabalhar na mesma redação que Rachel Sheherazade. O motivo é o tipo de pensamento que a apresentadora faz questão de exibir e que incomoda grande parte de seus colegas. O jornalismo do SBT, que antes era considerado mais imparcial, está cada vez mais associado a um pensamento de direita, por conta da figura de Sheherazade.
“Pensamento de direita”, em geral, significa o pensamento da maioria da população brasileira, de acordo com todas as pesquisas de opinião. Um pecado mortal, sem dúvida, no Brasil das redações esquerdistas, que se vendem como imparciais para ludibriar essa mesma população.
Agora Fabíola acrescentou:
Rachel Sheherazade nem imagina, mas tem gente tentando puxar o tapete dela dentro do próprio SBT. Uma outra jornalista estava torcendo (e mexendo seus pauzinhos) para que a moça não voltasse das férias. O objetivo da fura-olho é ficar no lugar dela. Que coisa feia, né?
É sim, supondo que seja verdade. Mas imagino que Sheherazade “imagine” isso também.
O diretor de jornalismo do SBT e chefe dos supostos envergonhadinhos e puxadores de tapete é Marcelo Parada: nada mais, nada menos que um dos coordenadores de comunicação da campanha de Dilma Rousseff à presidência da República em 2010.
Não é secreta para ninguém sua notória parceria com o presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão, que não deve ser um admirador muito fanático da independência absoluta que sempre tive no SBT nas três vezes em que comentei assuntos políticos por lá.
Isto foi o que escreveu sobre Parada o jornalista Josê Nêumanne Pinto, demitido em fevereiro junto com mais dois comentaristas que atuavam nos noticiários da emissora de Silvio Santos: Denise Campos de Toledo e Carlos Chagas. Se, como já disse Dilma, “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, o ano eleitoral começou mesmo diabólico no SBT.
Na ocasião, Parada comunicou a Nêumanne que um tal “comitê de programação” da emissora havia decidido extirpar a opinião dos telejornais da casa em nome do primado da notícia. Só não sei se foi o mesmo “comitê” que divulgou a nota oficial sobre o caso de Sheherazade, com a memorável frase: “Essa medida tem como objetivo preservar nossos apresentadores“.
Na ditadura petista, como em qualquer outra, censurar é mesmo um modo de preservar – de preservar o governo dos seus críticos, sobretudo os da TV aberta. Como escreveu Deonísio da Silva após a demissão de Nêumanne: ”Quem censura tem medo.”
O próprio Lula já apontava o dedo para Sheherazade em outubro de 2013, segundo informou então Lauro Jardim: o ex-presidente “contou que recentemente assistia TV e, ao zapear, parou no SBT. Sem dar nomes, diz que viu uma jornalista de ‘vinte e poucos anos’ criticar pesadamente o governo e os políticos. Em sua avaliação, as críticas não tinham embasamento algum“.
Entre Lula “avaliar” a apresentadora e ela ser calada, passaram-se seis meses – sinal evidente de que o homem mais poderoso do Brasil está ficando velho…
De todo modo, as pressões externas e internas se avolumaram com as participações e representações especiais no Ministério Público de apoiadores da ditadura venezuelana comoJandira Feghali e seu PCdoB; e Ivan Valente e seu PSOL; sem contar a de Fabio Porchat, o garoto-propaganda da Caixa Econômica Federal, coincidentemente uma estatal cujas verbas publicitárias o governo ameaçou tirar do SBT caso mantivesse os comentários de Sheherazade.
E nunca é demais lembrar, como Nêumanne, da “generosidade com que a cúpula petista tratou o momentoso episódio da falência do Banco Panamericano, empresa do grupo Silvio Santos”.
O Brasil Parada-Dura do PT está (quase) todo resumido aí: uma mistura de inveja, ódio, intolerância, cinismo, infiltração, controle, chantagem, covardia, autoritarismo, abuso de poder.
“Nêsti paíf”, ninguém bate no consenso impunemente.
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15/04/2014 às 16:05 \ Cultura
Major Olímpio defende Rachel Sheherazade: “Esta jornalista está dizendo a verdade: que o crime está dominando no país, nossas leis são defasadas, menor tem licença para matar, polícia está desaparelhada, policial virou alvo preferencial dos criminosos.”
[LEIA TAMBÉM O POST SEGUINTE: O Brasil Parada-Dura do PT e a censura à Sheherazade – Se “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, o ano eleitoral começou mesmo diabólico no SBT.]
Transcrevo o discurso do deputado e pré-candidato ao governo paulista Major Olímpio (PDT-SP) em defesa da apresentadora Rachel Sheherazade, proferido pouco antes da confirmação de que o SBT decidiu proibir seus comentários pessoais no telejornal da noite (porque estamos em plena “democracia”, é claro)… Volto em seguida com Alexandre Garcia e a crise da Polícia Federal.
“Quando um PM morre, eu só ouço o silêncio. O silêncio do Estado, o silêncio do Ministério Público, o silêncio dos direitos humanos. Nenhuma palavra ecoa: nem de conforto, nem de indignação.”
Isto é uma fala da jornalista Rachel Sheherazade do SBT. E, antes de tudo, como cidadão, depois como policial e parlamentar, [quero dizer que] essa jornalista hoje vem expressando o que está calado, deputado Jooji Hato [PMDB], no coração da esmagadora maioria dos cidadãos de bem nesse país. Que são maioria! Sofrem pela ação dos maus, mas são de bem.
E ao que me consta, os meios de comunicação estão dizendo isso o tempo todo, o SBT está sendo ameaçado de perder verbas publicitárias federais se não tirar do ar, se não tirar do jornalismo a Rachel. E o que a Rachel tem dito não tem nada de apologia ao crime e ao criminoso, como chegaram a representar na Procuradoria da República. Fazer apologia e defesa de crime e de criminoso é tentar tapar o sol com a peneira com mensalão, com Petrobras, com metrô, com CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos de São Paulo]. Isso é fazer apologia e defesa do crime e do criminoso.
Pelo amor de Deus. Se nós tentarmos amordaçar a imprensa, que é uma característica em momentos onde se tem administração na ditadura… Supressão da palavra. Censura na expressão, “porque contraria a mim, que sou um agente no time dominante”… Vergonhoso!
Em relação às forças de segurança nesse país, a Rachel Sheherazade se transformou naturalmente na madrinha dos policiais brasileiros. [Ver, por exemplo, o vídeo que contém a imagem ao lado, a partir de 2min22seg] Porque é uma jornalista que exerce a sua profissão e coloca o seu posicionamento e, lamentavelmente, matar policiais, como mataram dois nesse fim de semana… Um investigador de polícia na Praia Grande; e um policial militar aqui em São Paulo acabou morrendo, tinha sido baleado no Guarajá…
Então o que diz a Rachel… ser objeto de censura?
Eu vi uma matéria jornalística onde dizia que o empresário Silvio Santos [estava] dizendo: “Não vou ser suscetível a pressões.” Tomara Deus que não seja mesmo. Tomara Deus que preserve e prestigie esta jornalista, que está dizendo a verdade: que o crime está dominando no país todo, que as nossas leis são defasadas, que o menor tem licença para matar, que a polícia no Brasil está desaparelhada, que o policial virou alvo preferencial do crime e dos criminosos.
Que [é] que essa jornalista está dizendo que é contrário aos interesses da população? Nada! É contrário a interesses de elites dominantes.
Principalmente em ano eleitoral, vão tentar dizer que nós temos a legislação mais aperfeiçoada do mundo, vão tentar dizer que na questão de segurança resolvemos tudo, controlamos o tráfico e o contrabando nas fronteiras, aparelhamos a Polícia Federal, nos estados aparelhamos a Polícia Civil e a Polícia Militar, há uma satisfação plena, acabou a onda de criminalidade… Como ela não diz isso, ela não se presta a esses jabás, fica com a sua profissão e a sua integridade ameaçadas.
Eu quero dizer aqui com muita satisfação como brasileiro, como pai, como cidadão, e ainda como deputado nessa casa, da satisfação em cumprimentar essa jornalista por expressar o sentimento do povo brasileiro.
Voltei.
Quando o deputado Major Olímpio ironiza o discurso petista eleitoreiro de que “aparelhamos” as polícias, ele se refere a “aparelhar” não como “instrumentalizar politicamente”, como Romeu Tuma Jr. vem denunciando ter acontecido com boa parte da PF, mas como “melhorar os equipamentos”, o que obviamente não aconteceu. No Bom Dia Brasil de 11 de abril, Alexandre Garcia relacionou a taxa de homicídios com a falta de equipamentos das polícias:
O Brasil não chega a ter 3% da população do planeta, mas tem 11% dos assassinatos. E se a gente dividir 52 mil assassinados por 365 dias, vamos ter a média de 143 mortos por dia. Campeões mundiais. Não há guerra hoje no mundo que produza isso. Só a capital de São Paulo teve 1.220 homicídios no ano passado. Isso equivale a três vezes o total do ano passado da França e o dobro da Espanha e da Itália. Isso só para citar países de língua latina. Isso é assustador, mas o pior de tudo é que parece que nós nos acostumamos com esse absurdo. Parece que as nossas vidas não têm valor.E uma das causas dessa barbaridade é a impunidade. E uma das causas da impunidade é a investigação policial ainda com métodos antiquados e carentes de meios científicos para produzir provas. Aí sobram o testemunho, que pode ser subjetivo, falho, e o flagrante. O resultado é uma inversão em relação aos resultados europeus. Lá, 81% dos homicídios são resolvidos. Aqui, mais de 90% permanecem insolúveis. Quer dizer: quem pretende matar intencionalmente ou de acordo com as circunstâncias sabe que tem 9 chances em 10 de não enfrentar o Código Penal, nem ir para a cadeia.
“Elefante” mostra a raiz da impunidade (Foto: G1)
No último fim de semana, escrivães, papiloscopistas e agentes (conhecidos internamente como EPA) da Polícia Federal realizaram manifestações em todo o país exigindo “Segurança Pública Padrão FIFA”, com um elefante branco inflável como mascote. Os órgãos que os representam são os mesmos que homenagearam Rachel Sheherazade em março: o Sindipol-DF (Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal) e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), além do SSDPF/RJ (Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro). Os problemas apontados são:
Manifestantes homenageiam Sheherazade em Goiânia.
“Diminuição dos investimentos na instituição; perda do poder investigatório, com pesquisas revelando que 75% dos policiais já presenciaram interferências políticas nas investigações; o não reconhecimento das funções complexas de inteligência que exercem há décadas; baixa anual de efetivo (só no ano passado, 230 PFs deixaram a instituição); congelamento de salários há sete anos; falta de valorização das atividades; insatisfação total, com pesquisa nacional constatando que 86,53% dos policiais se sentem infelizes, e 90,76% subaproveitados quanto às suas funções; situação de verdadeiro apagão, o que tem gerado doenças psíquicas em, pelo menos, 30% do efetivo, e altos índices de suicídios“.
Que interesse o governo Dilma tem em melhorar este cenário de caos e sordidez? Nenhum. Em primeiro lugar, porque uma população amedrontada pela criminalidade vira refém do Estado. Em segundo, porque quem investiga os crimes dos políticos é justamente a PF…
E que interesse as milícias censoras do PCdoB, do PSOL e do PT e dos autoritários e idiotas úteis de sempre têm em permitir que uma apresentadora como Rachel Sheherazade permaneça no ar, na TV aberta, denunciando todo este cenário? Nenhum, é claro. (Daqui a pouco eu cuido de um certo diretor de jornalismo também.)
“Vivemos no país da censura velada”, disse um dos manifestantes no último domingo em Goiânia, como se vê abaixo em vídeo exclusivo deste blog.
Mas esse tempo já passou. A censura está cada vez mais escancarada.
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[LEIA TAMBÉM O POST SEGUINTE: O Brasil Parada-Dura do PT e a censura à Sheherazade – Se “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, o ano eleitoral começou mesmo diabólico no SBT.]
Petição para assinar:
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Tags: Alexandre Garcia, censura, corrupção, criminalidade, direitos humanos, EPA, Fenapef, impunidade,Jandira Feghali, Major Olímpio, manifestação, PCdoB, Polícia Federal, pressão, PSOL, PT, Rachel Sheherazade, SBT, Segurança Pública Padrão FIFA, Sindipol, SSDPF/RJ
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30 COMENTÁRIOS
14/04/2014 às 18:08 \ Mundo
Como a esquerda manipula a opinião pública
Escrevi em maio de 2012: “Quando o país bate o recorde de adultos sem trabalhar (88 milhões do total de 200 milhões), faça como Barack Obama: fale de casamento gay.”
Agora que a eleição de novembro para a Câmara e o Senado se aproxima, e o desastre do Obamacare faz as mensalidades dobrarem, as franquias ou copagamentos triplicarem, sendo que em alguns casos você tem seguro, mas o hospital não está na rede, em outros você tem seguro, mas o seu médico não está na rede, sem contar aqueles em que você tem seguro, mas não é tratado, o jeito é falar de “discriminação contra as mulheres”.
Obama não precisa de um órgão governamental como o IPEA para desviar a atenção dos escândalos do seu governo. Ele e o Partido Democrata tomam a dianteira por si sós.
Para atrair os votos do eleitorado feminino que lhe garantiu a vitória em 2012 e preparar o terreno da vitimização para a “primeira presidente mulher” – a Dilma americana Hillary “Que diferença faz?” Clinton – em 2016, Obama começou por assinar na última terça-feira, 8 de abril, dois decretos supostamente em favor da igualdade salarial entre homens e mulheres: um que exige dos empregadores com contratos federais a divulgação de dados sobre salários e outro que autoriza os funcionários a compartilhar informações a respeito. Tudo como manda o figurino populista, com a mulherada atrás do presidente na hora da assinatura fazendo “cheeeeeeese”.
No dia seguinte (09/04), seria a votação no Senado da Paycheck Fairness Act, a lei do cheque salarial justo que permitiria impor as regras federais ao setor privado. Mas é claro que a lei não passou. O resultado de 53 votos a favor e 44 contra, sendo que os defensores do projeto precisavam de 60 votos, era mais do que esperado e calculado pela esquerda obamista.
ESTRATÉGIA
A tática é manjada, mas sempre dá certo, como escreveu meu compadre Alexandre Borges, enumerando os passos:
1) A esquerda inventa uma pauta que divide a sociedade, balcanizando a população em grupos e jogando uns contra os outros, estimulando ou criando ressentimentos, ódios e conflitos;
[Mais a respeito no meu post Faça a sua parte: estude.]
2) Criam uma lei ou regulações cheios de pegadinhas cercadas de boas intenções;
3) A imprensa só fala das boas intenções e esconde as pegadinhas, como manda o governo;
4) A oposição se coloca contra e derruba a lei por conta das pegadinhas inaceitáveis e que o governo coloca lá exatamente para isso;
[Como escreveu Charles Krauthammer no artigo que traduzi aqui: "Fairness Act Paycheck (…) épouco mais do que um ato de pleno emprego para advogados. Discriminação sexual já é ilegal. O que estas novas leis fazem é eximir os autores da necessidade de provar a discriminação intencional. Para abrir processo, eles precisam apenas mostrar que as mulheres ganham menos nesse local de trabalho."]
5) O governo sai cantando que tentou proteger a minoria da vez mas a oposição fascista, homofóbica, racista, sexista e elitista derrubou a lei por ser contra as mulheres, gays, negros, pobres, jovens, imigrantes ilegais, tanto faz. É uma canalhice, mas quem disse que canalhice não pode render votos se cercada de boas intenções e com o apoio da imprensa?
Quem colocar no Google “Obama igualdade salarial” terá uma ideia de como as notícias dos órgãos internacionais de esquerda são reproduzidas no Brasil – estrelando Obama como o defensor das fracas e oprimidas -, sem a menor averiguação dos fatos por trás do embuste, muito menos crítica adversária, que dirá as constatações de que na própria Casa Branca as mulheres ganham menos do que os homens (88 centavos para cada dólar) e de que os líderes do Partido Democrata no Senado não têm chefes de gabinetes ou diretores de comunicação mulheres, enquanto os do Partido Republicano não só têm como elas recebem cerca de US$ 18 mil a mais do que a quantia paga pelos democratas aos homens que fazem o mesmo trabalho.
Há quem chame isso de hipocrisia dos democratas. A gente chama de canalhice mesmo.
Como escreveu a diretora-executiva do Independent Women’s Forum, Sabrina Schaeffer: “Perpetuar o mito de que as mulheres são uma classe de vítimas prejudica as mulheres, fazendo com que elas se sintam fracas, e isto as distrai do aprendizado de formas inteligentes para aumentar seus ganhos, expandir sua influência no ambiente de trabalho e buscar a vida que elas querem.”
OS VERDADEIROS MOTIVOS DA DIFERENÇA SALARIAL
Mas a vitimização embusteira é cartão de visita da esquerda. Assim como Marcelo Freixo e Vladimir Safatle relacionam a taxa nacional de encarceramento – elevada pelos estados que prendem mais – à taxa nacional de homicídios – elevada pelos estados que prendem menos – para fazer parecer que prender bandido não reduz a criminalidade, os esquerdistas e idiotas úteis americanos comparam os salários gerais entre homens e mulheres (ou brancos e negros) para vender a ideia de discriminação, quando, se você analisar categoria por categoria, como já fizera Thomas Sowell [ver post anterior], poderá descobrir até que as mulheres (e as famílias negras) ganham mais. Em resumo:
1) A suposta diferença de remuneração aparece quando o casamento e os filhos entram em cena. Para cuidar das crianças, as mães saem do mercado e, quando retornam, têm menos experiência do que os homens de idade semelhante. Muitas mães que trabalham procuram empregos que proporcionam maior flexibilidade, seja a distância (teletrabalho), seja com horários flexíveis. Esses empregos geralmente pagam menos do que os trabalhos de período integral.
2) A carreira também é importante. Mesmo entre grupos com o mesmo nível de escolaridade, as mulheres costumam escolher campos de estudo, tais como a sociologia, a psicologia ou as artes liberais, que também pagam menos no mercado. Os homens são mais propensos à especialização em finanças, contabilidade ou engenharia. E, segundo a American Association of University Women, os homens são quatro vezes mais propensos a negociar sobre os salários após entrarem no mercado. (Você aí, mocinha que está reclamando que um homem ganha mais do que você na mesma função, já verificou se ele barganhou mais?)
3) Risco é outro fator. Quase todas as profissões mais perigosas, como a dos madeireiros, são majoritariamente masculinas e 92% de mortes relacionadas a trabalho em 2012 foram de homens. Empregos perigosos tendem a pagar salários mais altos para atrair trabalhadores.
Hillary Clinton desvia de sapatada
De acordo com um estudo dos economistas June e Dave O’Neill para o American Enterprise Institute, em 2012, quase todas as disparidades salariais brutas de 23% citadas pelo sr. Obama podem ser atribuídas a outros fatores que não a discriminação. Os O’Neills concluem que “é improvável que a discriminação no mercado de trabalho represente mais de 5%, sendo que ela pode simplesmente não existir”. Mas que diferença faz?, diria Hillary Clinton, a maior beneficiária do embuste em médio prazo (e atual alvo de sapatada de mulher). Nenhuma, claro. O importante é avançar a agenda.
Entra Sylvia Burwell (esq.), sai Kathleen Sebelius (dir.)
E, se no lugar da secretária de Saúde Kathleen Sebelius, a senhora que “caiu” pelo desastre do Obamacare, ainda se coloca uma mulher mais jovem como Sylvia Burwell (a mesma flor de pessoa que impediu a aguardada visita dos veteranos ao Memorial da Segunda Guerra durante o fechamento do governo em outubro de 2013) para aguentar as inúmeras críticas ao sistema de saúde, pronto: a “guerra contra as mulheres” está reforçada.
PRÓXIMO PASSO: HOLLYWOOD
Como escreveu Alexandre: “Alguém vai se espantar se, de uma hora para outra, os filmes de Hollywood e séries de TV começarem a mostrar mulheres como presidentes dos EUA? Mas é tudo ficção, claro, assim como David Palmer, o presidente negro de “24 horas”;
ou Jamie Foxx, o presidente negro atacado por paramilitares em ‘White House Down” do ano passado.
A política é para profissionais e os profissionais estão vencendo, tanto aqui como lá.
Em todo caso, você aí, pelo menos, não tem mais desculpa para cair nos engodos dessa gente.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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Posts anteriores mencionados:
- Thomas Sowell sobre salários de negros, brancos e mulheres – um vídeo fundamental transcrito e traduzido
- Polícia do pensamento em patrulha
Vídeo em inglês sobre os salários das mulheres:
Tags: Barack Obama, casamento gay, Dilma Rousseff, discriminação, esquerda, gênero, Hillary Clinton,Hollywood, IPEA, Kathleen Sebelius, manipulação, mulher, opinião pública, Paycheck Fairness Act, primeira presidente mulher, salário, sexista, Sylvia Burwell
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14/04/2014 às 17:29 \ Cultura
Thomas Sowell sobre salários de negros, brancos e mulheres – um vídeo fundamental transcrito e traduzido
Para entender melhor meu artigo “Como a esquerda manipula a opinião pública” [próximo post], segue a transcrição do vídeo em que Thomas Sowell desmonta os chavões da Sra. Propel sobre salários de negros, brancos e mulheres, em debate mediado por William F. Buckley Jr.
William F. Buckley Jr.: A Sra. Propel é advogada da Greenbaum, Wolff & Ernst, formada pela Varsa e também pela Columbia Law School, participa ativamente em uma série de movimentos progressistas e feministas. Sra. Propel.
Sra. Propel [para Thomas Sowell]: Gostaria de fazer-lhe algumas perguntas sobre a economia de emprego, em relação aos negros e os brancos.
As estatísticas que encontrei indicam que atualmente:
- homens brancos ganham em média US$ 17.427 por ano;
– homens negros ganham US$ 12.738;
– mulheres brancas ganham US$ 10.244;
– mulheres negras ganham US$ 9.476.
Fica claro a partir destes números, como de fato eu acho que é claro para a maioria de nós, que em nosso sistema atual existe uma discriminação contra os negros e contra as mulheres.
Já que nem todos os negros terão uma superioridade, como você tentaria equilibrar isso, de modo que haja alguma igualdade nas oportunidades de emprego?
Thomas Sowell: Sinto muito que você tenha perdido a primeira parte do programa, quando eu ressaltei que se você não achar pessoas uniformemente representadas, isso não mostra o efeito institucional, porque quase em lugar nenhum, em questão de assuntos humanos, você vai encontrar pessoas igualmente representadas.
Se você comparar funcionários no que diz respeito a idade, educação, etc., você tem uma imagem totalmente diferente, tanto em relação aos negros, quanto às mulheres.
Os números que eu encontrei, por exemplo, mostram recentemente que se você comparar famílias negras nas quais o marido e a mulher possuem educação de nível superior, com famílias brancas onde o marido e a mulher também possuem educação de nível superior, as famílias negras ganham US$ 2.000 a mais por ano. O problema é que bem poucos negros se encaixam nessa categoria, quando você compara categoria por categoria.
Assim, estamos falando sobre dar às pessoas uma educação decente. Eu estou dizendo que você não pode afirmar simplesmente que os dados levantados nas empresas refletem as políticas do empregador; esses dados refletem as condições básicas em toda a sociedade.
Assim como quando fazemos um levantamento do número de pessoas que estão no hospital, esse número não mostra que as pessoas estão doentes apenas porque elas estão no hospital.
Sra. Propel: Eu concordo com isso, mas você também tem que concordar que de um modo geral, as mulheres ganham menos, por exemplo, para fazer os mesmos trabalhos que os homens.
Thomas Sowell: Não, eu não concordo. Eu não concordo com isso.
Se você está falando de mulheres com os mesmos anos de experiência, com a mesma continuidade no serviço, etc., etc., então quando eu observo isso, eu não encontro essa desigualdade. Eu vejo, por exemplo, que em muitos casos, as mulheres estão ganhando mais, dependendo de como você está analisando as estatísticas. A diferença com as mulheres é entre as mulheres casadas e todos os outros funcionários. Essa é a diferença real.
Sra. Propel: Bem, mesmo entre as mulheres solteiras, as estatísticas do Censo mais recente que eu encontrei são de 1978 e dizem que homens solteiros ganham US$ 11.100 e mulheres solteiras ganham US$ 9.300.
Thomas Sowell: Sim, eu gosto desta palavra ‘solteira’ que é usada.
Quando eu fiz meu estudo eu não usei a palavra ‘solteira’, eu usei ‘nunca foi casada’. Veja: uma mulher solteira aos quarenta anos de idade, tendo passado de dez a vinte anos criando seus filhos não é realmente o mesmo que um homem de quarenta anos que vem trabalhando continuamente por 20 anos.
William F. Buckley Jr.: E o diferencial na sociedade não é tão grande, então você pode facilmente explicar…
Thomas Sowell: Sim, porque quando eu analiso os dados por outro ângulo, eu fiz isso no mundo acadêmico, e descobri que as mulheres que nunca se casaram – que é como as chamo – estavam ganhando mais do que os homens, e da mesma forma quando o governo fez uma pesquisa alguns anos atrás com mulheres que estavam trabalhando de forma contínua desde o ensino médio até os seus trinta anos, descobrimos que elas estavam ganhando um pouco mais do que os homens com as mesmas descrições.
Então, a diferença está entre mulheres casadas e todos os outros funcionários. E os homens casados têm uma vantagem extra, porque suas esposas cuidam de várias coisas, e eles são capazes de dedicar mais tempo às suas carreiras.
Sra. Propel: Tenho certeza que você está ciente do fato de que em cerca de quinze por cento de todas as casas apenas um membro da família recebe um salário.
De modo que quando você fala que as mulheres são capazes de cuidar das coisas para o seu companheiro casado assalariado, o fato é que, na grande maioria dos lares americanos as mulheres também trabalham e, portanto, eu não acho que sua explicação de que as mulheres têm outras responsabilidades, e portanto são…
Thomas Sowell: Trabalho pode significar meio período ou tempo integral. As mulheres não trabalham em tempo integral na mesma proporção que os homens. Empregados que trabalham meio período ganham menos do que os que trabalham em tempo integral.
AGORA LEIA O ARTIGO: “Como a esquerda manipula a opinião pública“.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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Tags: branco, diferença salarial, emprego, esquerda, estatísticas, igualdade salarial, mercado, mulher, negro,salário, Sra. Propel, Thomas Sowell, trabalho, William F. Buckley Jr.
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13/04/2014 às 21:54 \ Mundo
Polícia do pensamento em patrulha
Outro dia, como se vê na imagem ao lado, eu aproveitei o erro confesso do IPEA paradebochar no Facebook de um dos modos esquerdistas de vencer o debate sem precisar ter razão, no caso fazendo apenas a caricatura dos adversários com rótulos infames. No último artigo, mostrei O curioso caso de Fabio Porchat contra Rachel Sheherazade, em que o humorista, na prática, endossava a censura à apresentadora do SBT. A tentativa esquerdista de impedir o debate, banindo as vozes dissidentes do discurso público, é recorrente tanto no Brasil quanto nos EUA, que se “brasilianizam” cada vez mais depressa sob o governo Obama, conquanto lá ao menos exista oposição política.
Traduzo abaixo o artigo de Charles Krauthammer sobre isto que já penso em chamar carinhosamente de P3 ou PPP. Voltarei a um dos temas abordados por ele nesta segunda.
Polícia do pensamento em patrulha
Escrito por Charles Krauthammer / Publicado em 10 de abril de 2014 no Washington Post
Tradução de Felipe Moura Brasil, em Veja.com/felipemourabrasil
Há dois meses, uma petição com mais de 110.000 assinaturas foi entregue ao The Post, exigindo a proibição de qualquer artigo questionando o aquecimento global. A petição chegou no dia anterior ao da publicação da minha coluna, que consistia precisamente dessa heresia.
A coluna saiu como de costume. Mas eu me senti gratificado pelo show de intolerância porque eleilustrava perfeitamente meu argumento de que a esquerda está entrando numa nova fase de agitação ideológica – não mais tentando vencer o debate, mas impedindo completamente o debate, banindo do discurso público toda e qualquer oposição.
A palavra correta para essa atitude é totalitária. Ela inflige consequências graves – do ostracismo social à defenestração profissional – e anuncia certas controvérsias sobre aqueles que se recusam a ser silenciados.
Às vezes, a palavra vem do alto, como quando o presidente dos Estados Unidos declara que a ciência do aquecimento global está “estabelecida”. Quem discorda é, então, rotulado como “anticiência” e, melhor ainda, um “negador” – uma calúnia brilhantemente escolhida para imputar aos céticos climáticos o opróbrio normalmente reservado aos propagadores do ódio e malucos que negam o Holocausto.
Na semana passada, então, mais um surto. O último fechamento da mente esquerdista é sobre ocasamento gay. Assim como a ciência do aquecimento global está estabelecida, ao que parece estão também os méritos morais e filosóficos do casamento gay.
Opor-se a isto nada mais é do que fanatismo, semelhante ao racismo. Os opositores devem ser igualmente marginalizados e banidos, destruídos pessoal e profissionalmente.
Como o CEO da Mozilla, que renunciou sob pressão de apenas 10 dias em seu trabalho, quando foi divulgado que, seis anos antes, ele havia feito uma doação à California Proposition 8, que definia o casamento como sendo entre um homem e uma mulher.
Mas por que parar com Brendan Eich, a vítima deste linchamento high-tech? A Prop 8 passou por meio milhão de votos. Seis milhões de californianos se juntaram a Eich no crime de “privilegiar” o casamento tradicional. Assim também o fez Barack Obama. Neste mesmo ano, ele declarou que suas crenças cristãs o haviam feito se opor ao casamento gay.
No entanto, sob a nova ordem, isto é intolerância total. Por essa lógica, o homem que a esquerda levou tão extasiada para a Casa Branca em 2008 era igualmente um fanático.
A coisa toda é tão estúpida a ponto de ser indigna de exegese. Não há lógica alguma. O que está em jogo é puro preconceito ideológico – e a fiscalização do cumprimento da nova norma totalitária que declara, unilateralmente, algumas questões como encerradas.
Fechadas para o debate. Abertas apenas para a aquiescência intimidada.
Para este círculo mágico de conformidade forçada, a esquerda gostaria de acrescentar algumas outras políticas, a resistência ao que é considerado uma “guerra contra as mulheres“. É um sinônimo colorido para sexismo. Nivelar a acusação é uma forma grosseira de enterrar o debate.
Assim, opor-se ao aborto tardio é fazer guerra contra a “saúde reprodutiva” das mulheres. Da mesma forma, questionar a inclusão no Obamacare de contracepção livre para todos.
Alguns se opõem à regulamentação por causa de seu impacto sobre o livre exercício da religião. Outros, pela posição (não teológica) mais simples de uma hierarquia de valores distorcida. Sob a nova lei, tudo está coberto, mas algumas escolhas são oferecidas de graça. A que se deve o enaltecido status da contracepção? Por que ela deveria ser classificada acima, por exemplo, dos antibióticos para uma criança doente, pelos quais essa mesma mãe deve fazer um copagamento?
Diga isso, no entanto, e você será acusado de negar às mulheres “o acesso à contracepção”.
A farsa de Obama para posar de defensor das mulheres. Voltarei ao tema nesta segunda
Ou tente contestar a agora chamadaFairness Act Paycheck para as mulheres [um decreto para "dificultar que empregadores paguem mais a homens do que mulheres na mesma função"], o que é pouco mais do que um ato de pleno emprego para advogados. Discriminação sexual já é ilegal. O que estas novas leis fazem é eximir os autores da necessidade de provar a discriminação intencional. Para abrir processo, eles precisam apenas mostrar que as mulheres ganham menos nesse local de trabalho.
Assim como na Casa Branca, onde as mulheres fazem 88 centavos a cada dólar dos homens?
Isso é chamado de “impacto díspar”. Será que alguém realmente acha que Obama conscientemente discrimina as trabalhadoras, em vez de a disparidade em relação aos homens ser um reflexo da experiência, do histórico de trabalho etc.? Mas só levantar tais questões já é revelar tendências heréticas.
A boa notícia é que a acusação de “guerra contra as mulheres” é geralmente cinismo, forragem para a demagogia em ano de campanha. Mas a tendência está crescendo. Oponha-se ao consenso atual e você é um negador, um fanático, um homofóbico, um machista, um inimigo do povo.
Por muito tempo um componente básico da academia, o impulso totalitário está se espalhando. O que fazer? Defender os dissidentes, mesmo que você não concorde – talvez especialmente se você não concorda – com a sua política. Isto é – isto era? – o modo americano. *
Encerro:
Deve ser ruim viver num país assim, não é mesmo?
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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* Traduções para o blog são feitas na pressa do dia e podem conter imprecisões de detalhe.
Tags: aquecimento global, casamento gay, Charles Krauthammer, esquerda, Fabio Porcha, oposição,patrulha, polícia do pensamento, politicamente correto, Rachel Sheherazade
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6 COMENTÁRIOS
11/04/2014 às 17:36 \ Cultura
O curioso caso de Fabio Porchat contra Rachel Sheherazade – Caixa é coisa do passado. Campanha agora é “Vem pedir cabeças você também!”
Agora sabemos. A pressão para calar Rachel Sheherazade não é do Sindicato dos Jornalistas do Rio, presidido pela militante do PSOL Paula Mairán, ex-assessora de Marcelo Freixo e coordenadora de sua campanha à Prefeitura em 2012, que jamais saiu em defesa de Sheherazade quando Paulo Ghiraldelli desejou o seu estupro, mas emitiu prontamente nota, após seu comentário sobre o bandido amarrado no poste, acusando-a de “apologia à violência quando afirmou achar que ‘num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível’”. Não é da bancada do PSOL no Congresso que protocolou em fevereiro uma representação para que ela e o SBT respondam civil e criminalmente por apologia ao crime. Não é de seu líder Ivan Valente, que transformou o “compreensível” de Sheherazade em “mandar torturar, matar, assassinar” – aquelas coisas que um dos fundadores do próprio PSOL, o terrorista italiano Achille Lollo, não precisava mandar ninguém fazer. Não é da bancada do PCdoB na Câmara que entrou em março com representação também contra a apresentadora e a emissora por crime de apologia e incitamento ao crime, à tortura e ao linchamento. Não é tampouco de sua líder, a deputada Jandira Feghali, que pediu ainda à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República que reveja as verbas publicitárias repassadas pelo governo ao SBT e, quase ao estilo do ditador da Venezuela apoiado pelo seu partido, Nicolás Maduro, declarou: “Ou tira do ar a jornalista, ou recebe punição.” Nada disso. A pressão, na verdade, “é das pessoas mesmo”.
É o que acha o humorista Fábio Porchat, o garoto-propaganda da Caixa Econômica Federal.
Com tamanha precisão de linguagem, não sei como o IPEA não contrata este rapaz. “Por trás dos partidos e da política, há pessoas!”, lembrou-lhe Sheherazade, em parte de sua resposta no Twitter. Se eu fosse Ivan Valente ou Jandira Feghali, entraria com representação contra Porchat pela sugestão de que não sou uma delas. Transformaria o tuíte em xingamento, ofensa, calúnia, injúria e difamação, e nunca mais demonstraria como a frase original se enquadra nessas acusações nem consideraria qualquer esclarecimento posterior, mas apenas repetiria no plenário e em mil entrevistas que ele cometeu um crime inaceitável contra a minha honra e merece ser punido pelos seus empregadores. Mas ufa. Eu não sou Ivan nem Jandira. E sei que eles não tentam assassinar a reputação de seus miguxos ideológicos. O papai homônimo do garoto da Caixa, o ex-deputado Fábio Porchat, não vai precisar pedir uma ajudinha ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR) no Congresso, como fez após as supostas ameaças que o filho teria recebido por ironizar policiais militares em vídeo que circula na internet.
“Tomara que não tentem calar suas piadas também!”, acrescentou Sheherazade, que recebeu da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) o Diploma de Honra ao Mérito no último dia 9 [vídeo ao fim do post]. “Seria uma lástima!”, concluiu, demonstrando pela enésima vez o abismo moral entre o militante esquerdista (voluntário ou involuntário, consciente ou inconsciente) que, na prática, endossa a censura do adversário pelo expediente de conferir a ela a legitimidade de um movimento popular espontâneo e a apresentadora conservadora cristã que, não desejando aquilo em hipótese alguma nem mesmo para o militante que se empenha em calá-la, alerta que ele um dia também pode ser vítima do método que endossa. O comunista Karl Radek, um dos pais da campanha contra a “moral burguesa”, acabou, sob as ordens de Stalin, internado em presídio para delinquentes juvenis, onde morreu surrado e pisoteado pelos filhos da sua revolução sexual. Sempre que um conservador alerta militantes sobre o seu papel de idiota útil na radicalização de regimes revolucionários, é como se dissesse: Lembrem-se de Karl Radek.
Mas como podem os Porchats de hoje “lembrar” de Karl Radek se não “lembram” sequer que, durante a ditadura militar, socorrer e proteger presos políticos foi uma das ocupações mais constantes dos intelectuais de direita, entre os quais Nelson Rodrigues, Adonias Filho, Josué Montello, Antônio Olinto, Gilberto Freyre e Paulo Mercadante? Já escrevia Olavo de Carvalho:
“Para cúmulo de ironia, o mais célebre e aguerrido defensor de presos políticos naquela época foi o advogado Heráclito Sobral Pinto, um católico ultraconservador que confessava e comungava todos os dias e, quando não estava tirando gente da cadeia, estava escrevendo furiosas diatribes contra o Concílio Vaticano II. Hoje seria chamado de ‘fundamentalista’ e jogado no lixo com a multidão dos outros ‘ninguéns’. O que nunca se viu no mundo foi o beautiful people comunista correr em massa para estender a mão a perseguidos da ditadura soviética, chinesa, húngara, polonesa, romena ou cubana. Ao contrário, sempre que aparecia algum foragido revelando as torturas e padecimentos sem fim sofridos nos cárceres comunistas, a gangue toda se reunia, não raro em escala mundial, para achincalhá-lo como ‘agente do imperialismo’.”
Hoje a “gangue” a serviço da ditadura do discurso único se reúne até no Twitter para achincalhar as vozes dissidentes. O célebre texto do pastor protestante Martin Niemöller (1892-1984), que se atribui ora a Maiakovski, ora a Bertolt Brecht, ora ao brasileiro Eduardo Alves da Costa, já sintetizava para a posteridade o quanto o estado anestésico de ignorância e indiferença gerais é o ambiente ideal para a progressão da barbárie. Ele escreveu:
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”
Como Porchat – o destemido piadista anticristão que não faz piada com o fundador do islamismo porque não quer que explodam a sua casa - não é conservador nem de direita, ele não se incomoda que os socialistas venham e levem a voz de Sheherazade. Para quem não gostou do que ele disse, o garoto da Caixa lançou até a campanha “adote a Rachel…”, coisa que centenas de milhares de brasileiros decerto fariam alegremente, dados seus encantos e valores conservadores, condizentes aos da maioria da população, como apontam as pesquisas há anos, apesar dos esforços transformadores por parte dos militantes do show business, inclusive em criar e recriar, dia após dia, “uma imagem hedionda do ‘reacionário’”, como fizera aquele amigo de Nelson Rodrigues que ficou “besta” ao descobrir que Gustavo Corção tinha sentimentos:
Ele imaginava, escreveu Nelson, que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer. Impossível um Corção tomando cafezinho ali na esquina; inadmissível uma gargalhada do Corção, ou um assovio do Corção. E aquele Corção pai, simplesmente pai, e simplesmente terno, e simplesmente infeliz, e simplesmente órfão do próprio filho, contrariava toda uma imagem feita de palavrões, de insultos, de baba.
“Não dá para começar um diálogo com alguém que acha ok amarrar pessoas no poste”, babou Porchat, com sua precisão digna das cartilhas psolistas de Freixo, nas quais não se diz que essas “pessoas” são os “bandidos” justamente para fazer o adversário parecer mais cruel do que eles. Porchat ignora que “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”, como afirma o artigo 301 do Código de Processo Penal. A turma dos “direitos humanos” finge não saber que amarrar no poste é uma das formas de prender um bandido, como o delegado Antônio Abreu Mendes da 2ª DP de Florianópolis confirmou em outro caso, e achar isso ok nada tem a ver com defender seu linchamento, coisa que Sheherazade nunca fez, conforme esclareceu inúmeras vezes. Mas compreendo que quem acha ok a censura não queira dialogar com quem acha ok uma lei.
“Nada mais vil e mesquinho do que pedir a cabeça de alguém“, já dizia Diogo Mainardi sobre os leitores que sugeriam à VEJA a sua demissão, “mas é assim que se manifesta a discordância no Brasil. Imagino que seja a herança de séculos e séculos de regimes autoritários, da escravidão à ditadura militar. Não cultivamos o hábito da contraposição, mas o da pura e simples supressão.”
E se a supressão é endossada em nome das “pessoas mesmo” por um garoto-propaganda de estatal, cujo pai pediu ajuda ao Congresso quando precisou proteger seu filho da sanha autoritária alheia, aí a vileza e a mesquinharia alcançam níveis que só a moral esquerdista pode alcançar. Nada mais vil, mesquinho, cínico, estúpido, covarde e representativo do esquerdismo atual do que as tuitadas de Fabio Porchat. A Caixa é coisa do passado.
A verdadeira campanha dessa gente é: ”Vem pedir cabeças você também!”
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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Ver também Reinaldo Azevedo: “Eu sou ‘o do poste’! Sabe com quem está falando?” Essa é a fala do “Dimenor”-celebridade ao ser detido, roubando de novo! Ou: Ensaios sobre a cegueira
Artigo relacionado aqui no blog: Vamos comparar Rachel Sheherazade e Francisco Bosco, em homenagem ao PSOL e ao Sindicato dos Jornalistas
Tags: Adonias Filho, Antônio Olinto, censura, Diogo Mainardi, direita, ditadura, esquerda, Fabio Porchat,Gilberto Freyre, Heráclito Sobral Pinto, Ivan Valente, Jandira Feghali, Josué Montello, Karl Radek, Martin Niemöller, Nelson Rodrigues, Olavo de Carvalho, Paula Máiran, Paulo Mercadante, PCdoB, PSOL, Rachel Sheherazade, regime militar
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10/04/2014 às 22:47 \ Poesia
Soneto do estudante sério & Sonetinho a três
Após um dia de reuniões que me impediram a prosa, resta-me sacar os versos da manga, o que faço com muito gosto.
I.
Soneto do estudante sério
(Felipe Moura Brasil)
Para Olavo de Carvalho *
E agora que eu li tanto, tantas obras
De autores tão malditos, quanto pude
Receio não haver nem mesmo sobras
Das minhas vis paixões de juventude.
Quão falso era meu mundo, e amiúde
Com quanta prontidão lhe fiz as dobras
Na ânsia de manter minha atitude
Imune a todo tipo de manobras.
Fui tolo, como assim o é quem pensa
Não ser manipulado pela imprensa
Em todas as questões da vida humana.
Ninguém recebe alta desse hospício
Sem auto-humilhação, sem sacrifício
De sua cabecinha provinciana.
[* OBS: Olavo de Carvalho leu e comentou este soneto em seu programa True Outspeak de 20 de junho de 2012 - dos 4min35 aos 9min55 - e mencionou-o novamente na edição de 26 de setembro de 2012 - aos 27min, meses antes de ser apresentado ao meu projeto original do nosso best seller "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota".]
II.
Sonetinho a três
(Felipe Moura Brasil)
Quando o escritor em mim se recupera
Da análise de temas atuais,
É o poeta que em vão se desespera
Como se dele eu nem lembrasse mais.
Poucas coisas lhe são tão infernais
Quanto a prosa que logo se apodera
Das paixões e questões sentimentais
Por cujo monopólio ele se esmera.
Despreza no analista a mira estreita;
No escritor, a extensão e a voz afeita
Muito mais à razão que aos sentimentos.
“É poeta, pudera! Tem rancores!”,
Justificam em verso os prosadores
No tumulto mental dos meus talentos.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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Tags: Olavo de Carvalho, poesia brasileira, Sonetinho a três, Soneto do estudante sério
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09/04/2014 às 16:48 \ Cultura
Artigo do psolista Vladimir Safatle é reduzido a pó por professor de Direito Penal. Números comprovam relação entre mais prisões e menos homicídios. Freixo: “Prisão é um mau negócio.” Eu avisei: “Mau negócio é o PSOL.”
Este post é um daqueles para você esfregar na cara de qualquer esquerdista, seja psolista ou não, quando ele vier com o velho embuste da esquerda nacional de que prender bandido não adianta nada, não muda nada etc. e tal.
I.
Em fevereiro, eu já havia comentado de passagem um artigo do psolista Marcelo Freixo no Globo, intitulado “Prisão é um mau negócio“. Dizia ele:
“(…) Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, de 1990 a 2012, a quantidade de encarcerados cresceu 511%. Chegou a cerca de 550 mil no ano passado. O Brasil já tem a quarta maior população carcerária do mundo. (…)
O que a sociedade ganhou com isso? Nada.Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de assassinatos saltou de 31.989, em 1990, para 52.260, em 2010. Aumento de 63%. É urgente um novo modelo penal, que priorize penas alternativas e a progressão de regime. A privação da liberdade só deve ser aplicada contra quem oferece perigo real à sociedade. Caso contrário, é um péssimo negócio para todos, a maneira mais cara de tornar as pessoas piores. (…)”
Marcelo Freixo diz que a população carcerária aumentou e, para justificar que a sociedade não ganhou nada com isso, diz que o número de ASSASSINATOS aumentou também. Acontece que no Brasil somente 8%(!!!) dos quase 50 mil homicídios anuais (que, na verdade, já estão na casa dos 70 mil) são solucionados. Ou seja: o número de assassinatos aumenta, em primeiro lugar, por um simples motivo: os assassinos não estão e nem vão parar na cadeia! É preciso prender os assassinos, não soltar ou facilitar a vida dos outros criminosos, como naturalmente quer o socialista Freixo. Prisão não é um mau negócio (até porque negócio não é, é necessidade). Mau negócio é o PSOL. A maneira mais barata de tornar as pessoas piores é filiá-las ao partido.
Vladimir Safatle, filiado ao PSOL em outubro de 2013 (não que ele fosse melhor antes, registro) e pré-candidato ao governo de São Paulo, agora também prega “Menos prisões“, na mesma linha dos embustes de Freixo para idiotas úteis: fala da quarta maior população carcerária sem mencionar que o Brasil é a quinta maior população do mundo; ignora a posição vergonhosa que o Brasil ocupa no ranking mundial em número de presos por habitantes (44ª!!!); dá a entender que os únicos criminosos que oferecem perigo real à sociedade – se tanto – são os assassinos; e relaciona a taxa nacional de encarceramento – elevada pelos estados que prendem mais – à taxa nacional de homicídios – elevada pelos estados que prendem menos – para fazer parecer que prender bandido não reduz a criminalidade e o Brasil “precisa de menos pessoas presas”. (Que extraordinário lema de campanha para o governo de um dos estados que mais prendem no país, não é mesmo? Em que será que o filósofo quer transformar São Paulo: em Alagoas ou no Maranhão?)
Veja no item II como o professor doutor de Direito Penal e colaborador de mão cheia deste blog Francisco Ilídio reduz a pó essas e outras imposturas intelectuais de Safatle – inclusive sobre a descriminalização das drogas – com todos os números e fontes que temos sobre o assunto no país. E lembre-se: este Safatle que prega liberdade de bandido é o mesmo que, no caso do bandidinho amarrado no poste (que depois reincidiu no crime), engrossou o caldo da campanha contra a suposta incitação à violência de Rachel Sheherazade com artigos vexaminosos como “A barbárie de sempre, ao melhor estilo Gregório Duvivier de caricatura do adversário.
Quando uma reaça como Rachel compreende as causas sociais de um fenômeno (e depois ainda esclarece sua posição a respeito, mostrando que quis dizer apenas o que o artigo 301 prevê), aquilo é “barbárie” e o PSOL tem de combatê-la com representação no Ministério Público. Se os psolistas sistematicamente pregam medidas que estimulam a criminalidade, além de sealiarem a terroristas como os Black Blocs e apoiarem ditaduras assassinas como a de Nicolás Maduro na Venezuela, isto é prova de suas lindas e maravilhosas intenções.
O que a sociedade ganha com o PSOL? Nada.
II.
Taxas de encarceramento e criminalidade: As bobagens que Safatle nos conta
Escrito por Francisco Ilídio Ferreira Rocha (Doutor em Direito Penal pela PUC-SP)
Fonte: O Rabujo
O colunista Vladimir Safatle, do Jornal Folha de São Paulo, no dia 8 de abril de 2014, publicou o artigo ”Menos prisões“. Nada digno de nota, não fosse o fato que o texto lança mão de diversas informações equivocadas e sem comprovação científica.
Observem abaixo a reprodução do texto de Safatle [em vermelho], acompanhada de observações sobre a correção das informações.
MENOS PRISÕES
O número aproximado de pessoas presas no Brasil é de 550 mil. Trata-se do quarto maior contingente do mundo, atrás apenas dos EUA, da China e da Rússia.
Observação 1: Apesar do Brasil ocupar a quarta posição em números absolutos de encarcerados (574.027 entre presos condenados e provisórios em 2013 – Fonte: MJ), seria de bom alvitre contextualizar tal informação. Observa-se que: (a) O Brasil é o quinto país mais populoso do mundo e; (b) considerando o número de presos por habitantes, o Brasil ocupa a modesta 44ª posição. Para efeitos de comparação, os EUA possuem 707 presos por grupo de 100 mil habitantes, Cuba 510, Rússia 470, Uruguai 289. O Brasil possui 274 presos por grupo de 100 mil habitantes (Fonte: ICPS).
Desses, pouco mais de 10% estão presos por homicídio (simples ou qualificado). Nos outros 90% encontram-se pichadores, pessoas que “desacataram” a autoridade policial e ladrões de quase todo o tipo (os que dilapidam o erário público e corrompem funcionários estão em outro lugar).
Observação 2: Segundos dados do Ministério da Justiça, a distribuição de crimes que fundamentam o encarceramento de presos no Brasil dá-se nos seguintes termos: “Os crimes contra o patrimônio ainda encabeçam a quantidade de crimes consumados e/ou tentados, com destaque para o roubo qualificado na forma § 2º do Código Penal (95.806), o roubo em sua forma simples (51.817), seguidos em quantidades menos expressivas pelo furto qualificado (§§ 4º e 5º do CP) e a sua forma simples. Dentre os Crimes contra a Pessoa, o homicídio qualificado (121, § 2º) apresenta a maior parte das ocorrências (37.214) As incidências penais relacionadas ao tráfico de entorpecentes chegam a marca de 146.276. Os crimes de corrupção ativa (art. 333, CP) e passiva (art. 317, CP) somados estão na casa de 977 incidências. Merecem destaque, ainda, os crimes relacionados à Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), 4.482 incidências. O crime de quadrilha ou bando (art. 288, CP) conta com 10.317 incidências. Quanto aos crimes contra a Dignidade Sexual, os antigos tipos de estupro e atentado violento ao pudor somam, juntos, 22.408 incidências”. Para uma melhor visualização, veja o gráfico seguinte:
No texto de Safatle, fica a parecer que descontados os crimes de homicídio, poucos delitos relevantes restariam, como seriam os casos de “pichadores, pessoas que desacataram a autoridade e ladrões de todo tipo”. O autor dá a entender que excluídos os casos de homicídio, o sistema carcerário brasileiro seria povoado, em regra, por criminosos de baixa periculosidade praticantes de delitos de menor potencial ofensivo. Não poderia estar mais equivocado.
Considerem os seguintes números de encarcerados por crime: Homicídios simples e qualificados (38.397); Roubo (147.623); Latrocínio (15.415); Extorsão (2.651); Extorsão mediante sequestro (2.859); Estupro (20.856). FONTE.
Isso significa que considerando somente presos que praticaram crimes mediante violência física ou grave ameaça, obtém-se a cifra de 227.801 detentos. Em números relativos, isso implica que 39,68% da população carcerária está presa em razão de crimes violentos. Acrescentados a estes números os casos de tráfico de drogas (146.276), alcança-se um número absoluto de 374.077 detentos, ou 68,38% do total.
Deve-se destacar que fora as hipóteses de criminalidade violenta, crimes hediondos e assemelhados (tráfico, tortura e terrorismo), bem como casos de reincidência, é pouco provável – estatisticamente falando – que se encontre um preso cumprindo pena no regime fechado.
Ao contrário do que dá entender Safatle, portanto, a população carcerária brasileira não se divide entre homicidas e pichadores. Aliás, o número de presos por pichação e desacato é insignificante em número relativos.
Um dos maiores grupos, a saber, 138 mil pessoas, representa aqueles presos por problemas ligados a drogas; na maioria das vezes são casos que, com um pouco de boa vontade, um sobrenome “classe média alta” e um bom advogado, seriam vistos como consumo, não como tráfico.
Observação 3: Mais uma informação divorciada da realidade. Um estudo da UFRJ indica que no Rio de Janeiro, a maior parte das pessoas presas em razão de tráfico de drogas foi capturada na posse das seguintes quantidades:
Ainda que a quantidade da substância não seja determinante para qualificar uma pessoa como traficante ou usuário – não é raro que traficantes tragam consigo somente pequenas quantidades para facilitar sua defesa em juízo – é de se concordar que abaixo da marca de 10g fica favorecida a tese defensiva de porte para uso pessoal. Porém as pessoas presas na posse de quantidades inferiores a 10g são uma minoria (9% no caso de maconha e 23,7% no caso de cocaína). Considerando, especialmente, a maconha, pode parecer de pouca monta a posse de uma quantidade entre 10g e 100g. Não é o caso.
Note-se que no caso da “celebrada” legalização da maconha no Uruguai, o usuário está autorizado a comprar 40g mensais. Sabe-se lá como chegaram nesse número, suponho que consultaram especialistas no assunto. De qualquer forma, concluíram os progressistas uruguaios que o consumo médio de maconha por usuário estaria razoavelmente situado ao redor de 40 g mensais. Vai ficando, portanto, difícil de sustentar a condição de usuário quando a quantidade de maconha vai sendo remetida para além desta marca. Noutras palavras, é complicado, ainda que possível nalguns casos, a alegação de consumo próprio quando se é preso portando quantidade equivalente ao consumo mensal de uma determinada substância. Nestes termos é possível observar que a maior parte dos presos foi capturado na posse de uma quantidade superior à que seria de se esperar de um usuário.
Por outro lado, é de se concordar que um bom advogado sempre ajuda e que, em regra, bons advogados cobram bons honorários e, nesta esteira, infelizmente, é de se concluir que muitos não teriam acesso à uma assistência jurídica de qualidade. Lamentavelmente, temos muito que avançar na prestação de serviços jurídicos de qualidade para a população brasileira.
Apesar dessa população carcerária em crescimento vertiginoso (lembre-se que há 20 anos haviam “apenas” 129 mil presos), apesar da polícia brasileira matar a esmo, nem a sensação de segurança aumentou, nem os números de crimes diminuíram. O que mostra como o Brasil é a maior prova da ineficácia brutal da política massiva de encarceramento.
Assim, quando as campanhas eleitorais começam, sempre há alguém a prometer maior número de vagas em cadeias, construção de mais presídios e, como se diz, uma política dura de “guerra” contra o crime. No entanto, seria o caso de insistir que esse encarceramento massivo é caro, burro e completamente ineficaz.
Observação 4. Eis aqui uma informação que deveria ser tratada com mais cuidado. Safatle sustenta que nos últimos 20 anos o número de encarceramentos aumentou, mas o número de crimes não diminuiu. Para demonstrar a incorreção da conclusão de Safatle, lançaremos mãos das taxas de crimes com resultado letal, não por acaso aqueles que mais colaboram com a sensação de insegurança. Seguem alguns números.
Realmente, verificável que o número de homicídios no Brasil aumentou significativamente nos últimos 30 anos. Saltou de 11,7 homicídios por grupo de 100 mil habitantes para 26,2, o que parece corroborar a conclusão de Safatle. Porém, alguns exemplos por unidade federativa fazem-se necessários.
São apresentados abaixo os três Estados mais violentos e os três Estados menos violentos e suas respectivas taxas de crimes letais (Fonte). Tais dados são relacionados com a taxa de encarceramento, ou seja, o número de presos por grupo de 100 mil habitantes (Fonte). Somente foram considerados aquelas Unidades Federativas que produziram estatísticas criminais consideradas confiáveis.
Como pode-se observar pela tabela, a taxa de encarceramento relaciona-se de forma inversamente proporcional com a taxa de crimes letais. Ou seja, pode-se afirmar, pela análise dos números, que quanto maior a taxa de encarceramento existe uma tendência que o número de homicídios seja menor. Não se afirma, entretanto, que a taxa de encarceramento é o único fator, ou mesmo o preponderante, para a determinação dos níveis de violência. Porém, é inegável que exista uma relação entre elevados índices de violência, impunidade e, por conseguinte, taxas de encarceramento.
Ademais, reconhecendo que um número consideravelmente pequeno de criminosos é responsável por um número consideravelmente alto de crimes, pode-se afirmar que o encarceramento destes criminosos habituais força as taxas de criminalidade para baixo.
Por exemplo: Tomando o Maranhão, destaca-se que o número de homicídios aumentou 460% de 2000 à 2013. Não por acaso, a sesmaria do Clã Sarney possui a menor taxa de encarceramento do Brasil (128,5 presos por grupo de 100 mil habitantes). Da mesma forma, Alagoas possui a maior taxa de crimes letais por Unidade Federativa (64,5 por grupo de 100 mil habitantes) e uma das menores taxas de encarceramento do Brasil. Noutro rumo, São Paulo diminuiu a taxa de homicídios de 42,2 para 13,9 no decênio 2000-2010. Justamente São Paulo que possui a segunda maior taxa de encarceramento e a maior população carcerária do Brasil.
Demonstra-se, portanto, o equívoco de Safatle em três pontos: (a) existe uma relação inversamente proporcional entre a taxa de criminalidade e a taxa de encarceramento; e (b) os Estados que mais prendem, são justamente os menos violentos; e (c) uma grande diminuição da taxa de crimes violentos foi verificada justamente no Estado que mais encarcerou (São Paulo).
Se por volta de 60% dos encarcerados reincidem no crime, é porque as condições medievais das cadeias, a humilhação cotidiana e o contato com o crime organizado acabam por anular qualquer esperança de reorientação. É no encarceramento sistemático de sua população pobre que o Brasil demonstra sua verdadeira face totalitária.
Observação 5: Mesmo em países no qual o sistema carcerário não é medieval como o brasileiro, as taxas de reincidência são elevadas. A taxa de reincidência de prisioneiros libertados nos Estados Unidos é de 60%. Na Inglaterra, é de 50% (a média europeia é de 55%). FONTE. Nota-se que países com sistemas penitenciários mais adequados possuem, ainda assim, taxas de reincidência bastantes semelhantes com a brasileira. Isso se dá em razão do fato que a qualidade do sistema penitenciário não é o único fator determinante na construção de taxas de reincidência.
Estudos bastante interessantes relacionam a reincidência com fatores psicológicos (p.e., a psicopatia); fatores sociais (p.e., a discriminação social do egresso do sistema penitenciário); biológicos (p.e., predisposição genética à agressividade). Outro elemento importante seria o histórico de delinquência na infância e adolescência, o que faz crer que nalguns casos poderiam tornar-se pouco permeáveis a qualquer medida de ressocialização. Por fim, a impunidade é um importante fator a ser considerado.
Sendo assim, a qualidade do sistema penitenciário, ainda que seja um fator relevante nas taxas de reincidência, não é o único, tampouco o mais importante.
Levando isso em conta, há de se lembrar que o Brasil não precisa de mais vagas nas cadeias. Ele precisa de menos pessoas presas. Na verdade, as autoridades do nosso país normalmente prendem quem não precisa e deixam solto quem deveria estar na cadeia.
Observação 6: Uma das mais equivocadas afirmações de Safatle. As razões são várias e nos restringiremos às principais.
A impunidade é a regra na Justiça Criminal brasileira. Para se ter uma ideia, dos quase 50.000 homicídios anuais, são solucionados somente 8%. Para se ter uma ideia mais precisa dos terríveis números, existiam até 2007 um total de 100 mil homicídios sem solução (Fonte). O número só fez crescer. Note que tais cifras de impunidade consideram somente os casos de homicídio. Se colocarmos na ponta do lápis os casos de roubo, estupro e outros especialmente graves, o problema seria ainda maior. Assim, mesmo que Safatle defenda a prisão somente para criminosos violentos, faltariam vagas em nosso sistema penitenciário.
O déficit penitenciário é assombroso. O Brasil possui uma população carcerária total de 513.713 presos acomodados em um total de 310.687 vagas. Como é possível afirmar que não precisamos de mais vagas?
Sobre a afirmação de que normalmente prende-se quem não precisa, remetemos aos comentários prévios que atestam que a grande maioria daqueles encarcerados no regime fechado lá está em razão de reincidência, crimes violentos, hediondos ou assemelhados.
Nestes termos, lembrando das taxas de impunidade dos homicídios e reconhecendo que não se prende quem deveria estar preso, é absolutamente insustentável argumentar que não precisamos de mais vagas em prisões.
Neste sentido, uma verdadeira discussão a respeito da descriminalização de drogas leves, nos moldes do que vimos ser feita de maneira corajosa no Uruguai, seria algo muito mais eficaz para encontrar respostas aos problemas prisionais do Brasil do que as velhas propostas que sempre ouvimos. Uma política massiva de transformação de penas em trabalhos comunitários e soluções alternativas seria, por sua vez, algo não apenas mais humano, mas simplesmente mais eficaz.
Observação 7. A mera descriminalização das drogas leves não possui efeito comprovado sobre a diminuição da criminalidade. Aliás, a maconha, exemplo clássico de droga considerada leve, não corresponde aos maiores faturamentos dos traficantes de drogas brasileiros, que obtêm mais receitas com o tráfico de cocaína e crack.
Destaca-se que o Uruguai, país que mesmo antes da legalização da maconha era notoriamente tolerante com o consumo do drogas leves, possui uma população carcerária relativa muito semelhante à brasileira. Enquanto os 274 presos por grupo de 100 mil habitantes brasileiros soam como um escândalo e paradigma de encarceramento maciço para Safatle; o Uruguai é dado pelo mesmo autor como um modelo humanista, mesmo com seus 289 presos por grupo de 100 mil habitantes. Prende-se, pois, mais no Uruguai tolerante do que no Brasil que tem “orgasmos com o porrete da lei”.
No entanto, como há uma parcela canina da população, que tem orgasmos quando vê o porrete da polícia acertar a cabeça de alguém que ela não conheça, colocar tal debate não é das coisas mais fáceis.
Conclusão: Nisso há de se concordar. O debate sobre o problema da criminalidade e do sistema penitenciário brasileiro é indispensável e urgente. Porém, é absolutamente contraprodutiva a desinformação sistemática da população brasileira através de artigos com meias verdades e muita imprecisão. Portanto, Safatle, sejamos mais cuidadosos com as informações que prestamos.
Perfeito, caro Francisco. Mas Safatle, como Freixo, dificilmente presta informações. Só “presta” ideologia que não presta.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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- Vamos comparar Rachel Sheherazade e Francisco Bosco, em homenagem ao PSOL e ao Sindicato dos Jornalistas
Tags: criminalidade, descriminalização, Direito Penal, drogas, encarceramento, esquerda, Francisco Ilídio,maconha, Marcelo Freixo, população carcerária, prisão, PSOL, Rachel Sheherazade, violência, Vladimir Safatle
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