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23 de setembro de 2013 Carreira Militar
Trata-se de comunicação preliminar associada à construção de um modelo teórico versando sobre fórmulas do poder. Como pergunta de partida tem-se: quais os fatores que melhor representam o constructo “poder nacional”, à luz da realidade brasileira? Como questão associada, tem-se: selecionados os fatores constitutivos, qual a relação entre estes no âmbito da nova formulação? A perspectiva epistemológica teve como base a teoria da complexidade. Assume-se que poder é tanto um constructo quanto um elemento relacional, dependendo da existência de duas ou mais entidades para existir. Neste sentido, os fatores que integram a composição do poder devem ser entendidos como simplificações que buscam captar um determinado momento de um sistema, o qual é composto por elementos internos, domésticos, e externos, associados ao denominado sistema internacional. Assim sendo, tem-se que as fórmulas tentam informar o posicionamento relativo de cada ator dentro de uma escala, em apoio ao processo decisório e de planejamento. Adota-se uma perspectiva interdisciplinar, integrando geopolítica, ciência política, relações internacionais e estratégia. Metodologicamente, trata-se de pesquisa bibliográfica, sucedida por análise de conteúdo (BARDIN, 1977)(1). Como recorte temporal tem-se o período compreendido entre as propostas de Cline (1975)(2) e Hazfenia (2008)(3). Foram analisadas diferentes perspectivas que envolvem o conceito de poder: clássicas e contemporâneas, ocidentais e orientais, etc. Verificou-se a evolução das abordagens de mensuração do poder, o que é, de certo modo, vinculado ao processo de transformação da conjuntura global. Nesse sentido, reforça-se a importância do caráter dinâmico das fórmulas, cuja interpretação atemporal pode induzir a uma análise inconsistente. Por exemplo, a partir dos anos 90, identifica-se a presença de fatores novos – C&T, cultura, aspectos sociais, etc. – diretamente relacionados às ditas “novas guerras” (KALDOR, 2006)(4). A interação entre fatores clássicos e contemporâneos é observada no atual sistema internacional, onde coexistem potências tradicionais e Estados com novas capacidades para alterar o status quo da geopolítica global. Além disso, no campo interno, as novas ameaças desafiantes da autoridade estatal lançam reflexões da adaptabilidade das equações do poder às assimetrias endógenas dos Estados. Portanto, a estimativa do constructo “poder nacional” depende, no momento atual, da capacidade de compreender a conflitualidade contemporânea e a dinâmica entre os múltiplos atores: externos, internos, estatais, não-estatais, tradicionais, emergentes, etc. Assim, estudou-se a composição de cada fórmula, em especial as de Cline e Hazfenia, com enfoque tanto nos fatores componentes, quanto na forma de interação dos mesmos. No caso de Cline, a análise parte da identificação de influência da corrente realista e neorealista das relações internacionais na concepção de sua fórmula do “poder percebido”. Em sua íntegra, o constructo de Cline fundou-se no “núcleo duro” dos fatores componentes do poder nacional: os meios econômicos (e neste contexto inclui-se a população e o território; mão-de-obra/mercado consumidor, recursos disponíveis) e os militares. Por outro lado, Hazfenia formula sua teoria sob ótica construtivista, elencando variáveis que reforçam a importância do culturalismo, das idiossincrasias étnicas, religiosas e socioculturais na conformação das novas estruturas do poder mundial contemporâneo. Identificando aproximações e afastamentos entre as abordagens consideradas, agrupou-se os “elementos do poder” por campos afins, a permitir a construção, atualmente em desenvolvimento, de um modelo teórico de interação entre as variáveis selecionadas. Ressalta-se a combinação de três categorias de fatores: objetivos, subjetivos e mistos. A primeira engloba grupos de fatores cujas variáveis podem ser levantadas e mensuradas de forma quantitativa, independente de interpretações, opiniões e conjunturas específicas. Na segunda, destacam-se os fatores cujas variáveis sofrem ação direta da falibilidade sensorial e intelectiva do analista, sugerindo abordagem qualitativa para sua determinação. Por fim, agrupam-se aqueles elementos que demandam abordagem quali-quanti, tendo em vista as variáveis dependerem de apreciação tanto objetiva quanto subjetiva.
Palavras-chave: teoria do poder, poder nacional (mensuração), estratégia, segurança, defesa.
Alexandre Gueiros Teixeira
(Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares/Instituto Meira Mattos/Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)
Eduardo Xavier Ferreira Glaser Migon
(Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares/Instituto Meira Mattos/Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)
Carlos Alberto Moutinho Vaz
(Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares/Instituto Meira Mattos/Escola de Comando e Estado-Maior do Exército)
Sendo este um trabalho em início de desenvolvimento, associado ao projeto de doutorado do 1º autor, sob orientação do 3º autor, espera-se que o aprofundamento da teorização e que a confrontação do modelo proposto com dados empíricos permita a elaboração de uma fórmula de mensuração do poder adequada à realidade do contexto brasileiro. Neste sentido, comentários são bem-vindos a qualquer momento.
Autor para correspondência: eduardomigon@gmail.com
Notas:
(1) BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011 [1977].
(2) CLINE, Ray S. World power assessment: a calculus of strategic drift. Boulder, Colorado: Westview Press, 1975.
(3) HAZFENIA, Mohammad Reza; ZARGHANI, Seyed Hadi; AHMADIPOR, Zahra; EFTEKHARI, Abdelreza Roknoddinet. Presentation a New Model to Measure National Power of the Countries. In: Journal of Applied Sciences, v. 8, n. 2, p. 230-240, 2008.
(4) KALDOR, Mary. New and old wars: organized violence in a global era. Cambridge: Polity Press, 2006.
Para maiores informações, visite o sítio da Associação Brasileira dos Estudos de Defesa (ABED):http://www.abedef.org/
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