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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Caetano, pajé doce e maltrapilho







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16/09/2013 às 4:29



Leia artigo escrito por Paulo Francis em 1983 sobre Caetano Veloso


Se a intelectualidade oficial no Brasil é representada por bacharéis como Roberto Campos, e é, não é difícil entender por que a juventude se rende a alguém como Caetano Veloso. Tudo é preferível ao pedantismo, à autossatisfação mascarada de bonomia e humor, à cara selvagem de Campos. Crianças, como animais, sabemos “sentem” os bichos ainda que não saibam o que pretendem.

Caetano, claro é um compositor de talento, ainda que não crie músicas que sobrevivam sem ele, como Tom Jobim e Chico Buarque fazem. E é, na minha opinião, um cantor que sabe como ninguém unir e valorizar ritmos brasileiros e os subprodutos populares que vieram do “jazz cool” e do “bebop”, esses dois marcos da história da música popular.

Quando não o vejo, gosto. E até vendo no palco, nos tempos pós-golpe de 1964-1968, era uma presença poderosa, naquela minirrenascença que foi a reação das chamadas classes artísticas ao advento do urubu Campos e outros tecnocratas pela mão militar. Nada saiu que perdurasse dessa “mini”, talvez porque o Brasil seja um país de “máxis”. Mas a “mini” foi “legal”. Quem viveu, sabe.

Mas Caetano não era então um totem. Não falava de tudo com autoridade imediatamente consagrada pela imprensa, que é mais deslumbrada do que o público em face dele. É evidente, por exemplo, que Mick Jagger zombou várias vezes de Caetano na entrevista na TV Manchete. O pior momento foi aquele em que Caetano disse que Jagger era tolerante e Jagger disse que era tolerante com latino-americanos (sic), uma humilhação docemente engolida pelo nosso representante no vídeo. E não só ele. Li duas matérias, uma na “Folha” e outra no “Jornal do Brasil”, em que as duas repórteres prostradas como sempre ficam diante de Caetano, citaram essa resposta ofensiva sem acharem nada de mais. O totem não pode errar. É Deus na carne humana, Daí a origem tribal de Jesus Cristo.

O primeiro totem foi Frank Sinatra. Não quero dizer que antes dele (década de 1940) não houvesse cantores, sem falar de estrelas de Hollywood, que o público jovem não adorasse. Mas Sinatra literalmente iniciou o fenômeno de adolescentes tendo ataques de histeria em público, para horror do filósofo Theodor Adorno, exilado nos EUA, que viu nisso uma forma de totalitarismo cultural, em que a massa se submerge sensorialmente a um ruidoso cavalheiro de microfone, como alemães caíram sob a “hipnose” de Hitler. E Adorno só pegou o início da histeria dos anos 60. John Lennon, filósofo, eros encarnado, Paul McCartney, escritor, o rock como filosofia de vida, etc. O pobre Caetano não é bem dessa corrente (que deverá chegar ao Brasil pelos meus cálculos em 1990).

Na mesma entrevista, ele fez uma pergunta que deve ter dado ao amável e brilhante Roberto D’Ávila vontade contida de matá-lo. É aquela de “como você situa o rock na história da música?”. D’Ávila e companheiros (Fernando Barbosa Lima e Walter Moreira Salles Jr.) afinal idealizaram a entrevista, um grande evento jornalístico em TV. Caetano é uma atração. Ninguém resistiria incluí-lo. Mas essa pergunta simplesmente não se faz em televisão, ou até em jornal. É de um amadorismo total. Só serve para seminários de “comunicação” no interior da Bahia. Não é uma pergunta jornalística. Jagger começou a debochar aí. Estava delicado com a figura década de 1960 de Caetano. A moda agora é a de Jagger, cabelo curto e roupa simples, sem adornos. Começou aqui e na Europa em 1970. No Brasil chegará também nos 1990 E foi nesse charme perverso que Jagger, que lê tudo, não disse a Caetano que rock não é música (ver obras completas de Ellen Willis, entrevistas com Janis Joplin, etc.), mas uma manifestação de vida, ou, clichê abominável, de estilo de vida. Willis sempre se refere desdenhosamente aos “music boys”. Uma leitura ocasional como a minha é do “Rolling Stone” deixaria claro. Mas no Brasil é difícil… Sabemos tudo.

Caetano é melhor compositor e cantor do que Jagger. Mas não fez nada comparável a “The Citadel”, cuja letra terrível foi adotada pelos soldados americanos no Vietnã, como hino de desespero. E por que não pode ? Quando me lembro que Caetano, esse doce de coco é conterrâneo de Antônio Conselheiro, tremo, tremeria, se ainda conseguisse. Mas ele prefere fazer o que chamei outro dia de “maltrapilho estilizado”. Simbolizar a miséria raquítica do baiano e interiorano brasileiro, para efeito de mero consumo visual, enquanto muito agradavelmente acaricia as fantasias de amor ilimitado que fazem o narcisismo da classe média confortável no Brasil, um conforto porque pagam cerca de 100 milhões de brasileiros no nosso “Alagados” nacional. Não é que eu queira que ele faça música “engajada”. A poesia nada faz acontecer, notou Auden, e concordo, sempre concordei, me forçando muito na época do meu engajamento. Mas isso, essa ciência, é bem diferente do que adular os privilegiados.

Jagger, é claro, é um farsante. Aquele sotaque de Londres (e não “cockney”, que é outra coisa) é pose, pois Jagger é de classe média e estudou na London School of Economics, onde se falasse assim seria rudemente corrigido. É uma pose, uma imitação de trash dos Beatles, estes sim, autenticamente proletários. Mas está zombando quando diz que subiu por sorte. Ninguém sobe por sorte. Não dá para escrever neste jornal de família como se sobe no mundo do “rock”. Jagger tem pelo menos 150 milhões de dólares, segundo meus banqueiros, mas fala de “algum dinheirinho”. Essa grana aplicada legalmente dá 1,5 milhão de dólares por mês, depois dos impostos, ou no “negro”, 1 bilhão e 200 milhões de cruzeiros por mês até a próxima desvalorização.

Mas talvez eu esteja errado em querer uma entrevista. D’Ávila prudentemente não prometeu nada (e a introdução deve ter sido gravada depois. Sempre é em TV). Está certo, porque o público em geral quer ver e consumir símbolos, totens sem tabus. Não é a toa que Jagger é tolerante com latino-americanos.

Caetano, atacado pela imprensa do Rio, num “show” no Canecão, declarou que nada vai mudar, mas que gostaria de mudar a imprensa. Tem toda a razão. Quem é a imprensa, que o adula dia e noite, à custa de consideráveis artistas não chegados ao “kitsch”, para de repente criticá-lo? Basta que Caetano apareça, no palco e no vídeo. Não precisa fazer nada. É para ser adorado. Deve ter havido um tempo em que ele foi um ser humano vulnerável, sensível, certamente foi esse o Caetano que parou na Polícia do Exército do Rio em 1968. Mas, se me permitem uma de Roberto Campos, pego uma paráfrase de Eliot de uma paráfrase de outro autor e encerro: “Mas isso foi em outro país e aquele rapaz morreu.”Por Reinaldo Azevedo



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