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terça-feira, 4 de março de 2014

Mídia Sem Máscara - A ameaça eurasianista



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Ano IX Ter, 04 de Março de 2014 Número 227







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ESCRITO POR ROBERT ZUBRIN | 03 MARÇO 2014 
ARTIGOS - GLOBALISMO



As ambições de Putin vão muito além da Ucrânia.




Na medida em que o regime de Putin invade a Ucrânia, tornou-se evidente que uma nova força para o mal emergiu em Moscou. É essencial que os americanos se tornem conscientes da natureza da ameaça.


  • Bandeira do partido nacional-bolchevique e a estátua de Lênin.



Putin é descrito às vezes com um revanchista, procurando recriar a União Soviética. Isto é uma simplificação útil, mas não é realmente exata. Putin e muitos da sua gangue podem ter sido comunistas em algum momento, mas eles não o são mais, hoje em dia. Em vez disso, eles adotaram uma nova ideologia política totalitária conhecida como “Eurasianismo”.



As raízes da eurasianismo remontam à interação de emigrantes czaristas com pensadores fascistas nas entre-guerras França e Alemanha. Porém, nos últimos anos, o seu expoente principal tem sido o muito notório e produtivo teórico político Aleksandr Dugin.

Nascido em 1962, Dugin ingressou no Instituto de Aviação de Moscou em 1979, mas foi expulso devido o seu envolvimento com grupos neonazistas místicos. Ele então passou os anos oitenta orbitando ao redor de círculos monarquista e da ala ultra-direita, antes de se unir, por um tempo, ao Partido Comunista da Federação Russa, de Gennady Ziuganov (PCFR, um grupo neo-stalinista parcialmente descendente do anterior partido no poder – Partido Comunista da União Soviética ou PCUS –, mas que não deve ser confundido com ele), após o que Dugin se tornou, em 1994, o fundador e ideólogo eurasianista principal do eurasianista Partido Nacional Bolchevique (PNB).

Cabe recordar que o nazismo era uma abreviação para nacional-socialismo. Portanto, o nacional-bolchevismo se apresenta como uma ideologia que se refere em muito ao nacional-socialismo, da mesma forma que o bolchevismo se realciona ao socialismo. Esta auto-identificação aberta com o nazismo também é mostrada manifestamente na bandeira do Partido Nacional Bolchevique (PNB), que se parece exatamente com uma bandeira nazista, com um fundo vermelho circundando um círculo branco, exceto que a suástica negra no centro é substituída por um martelo e foice pretos.

Dugin se candidatou à Duma na chapa do PNB, em 1995, mas conseguiu somente 1 por cento dos votos. Então, mudando os métodos, ele abandonou o esforço para construir seu próprio partido dissidente e, como alternativa, adotou a estratégia mais produtiva de se tornar o homem de idéias para todos os partidos maiores, incluindo o Rússia Unida de Putin, o CPRF de Ziuganov e ultranacionalista Partido Liberal Democrata da Rússia de Vladimir Jirinovski. Nessa função, ele foi brilhantemente bem sucedido.

A idéia central de eurasianismo de Dugin é que o “liberalismo” (segundo ele, a totalidade do consenso Ocidental) representa um ataque à organização hierárquica tradicional do mundo. Repetindo as idéias dos teóricos nazistas Karl Haushofer, Rudolf Hess, Carl Schmitt e Arthur Moeller van der Bruck, Dugin diz que essa ameaça liberal não é nova, mas é a ideologia do poder marítimo cosmopolita “Atlântico”, que tem conspirado para subverter sociedades terrestres mais conservadoras desde os tempos antigos. Consequentemente, ele escreveu livros nos quais reconstruiu toda a história do mundo como uma batalha contínua entre essas duas facções — de Roma contra Cartago à Rússia contra a “Ordem Atlântica” anglo-saxônica, nos dias de hoje. Se for para Rússia vencer essa luta contra os portadores oceânicos subversivos de tais idéias racistas (porque imposta do exterior), como os direitos humanos, ela deve, por qualquer meio, unir em torno de si todos os poderes continentais — incluindo Alemanha, Europa Central e Oriental, as ex-Repúblicas Soviéticas, Turquia, Irã e Coréia do Sul —, em uma grande União Eurasiana forte o suficiente para derrotar o Ocidente.

De modo a estar bem unida, esta União Eurasiana precisará de uma ideologia definida. E para este fim, Dugin desenvolveu uma nova “Quarta Teoria Política”, combinando todos os pontos mais fortes do comunismo, do nazismo, do ecologismo e do tradicionalismo, permitindo-lhe, assim, apelar aos adeptos de todos esses diversos credos antiliberais. Ele adotaria a oposição do comunismo em face da livre iniciativa. No entanto, ele desistiria do compromisso marxista com o progresso tecnológico (uma idéia derivada do liberalismo), em favor do apelo demagógico do ecologismo para deter o avanço da indústria e da modernidade. Do Tradicionalismo, ele extrai uma justificativa para interromper o pensamento livre. Todo o resto é saído do nazismo, que vai desde teorias legais que justificam o poder estatal ilimitado e a eliminação dos direitos individuais, à necessidade de populações “enraizadas” no solo e a estranhas idéias gnósticas sobre a origem secreta da raça ariana na Pólo Norte.

A devoção aberta ao nazismo, no pensamento de Dugin, é notável. Em seus escritos, ele celebra como uma organização ideal a Waffen SS, assassinos de milhões de russos durante a guerra. Ele também aprova os mais radicais crimes do comunismo, indo tão longe como endossar os terríveis expurgos de 1937, que mataram (entre inúmeros outros cidadãos soviéticos talentosos e leais) quase toda a liderança do Exército Vermelho — algo que, mais tarde, o próprio Stalin reconsiderou.

O que a Rússia precisa, diz Dugin, é de um “fascismo fascista genuíno, verdadeiro, radicalmente revolucionário e consistente”. Por outro lado, “O liberalismo é um mal absoluto... Apenas uma cruzada global contra os EUA, o Ocidente, a globalização e suas expressões político-ideológicas (ou seja, o liberalismo), é capaz de apresentar uma resposta adequada... O império norte-americano deve ser destruído”.

Esta é a ideologia por trás do projeto “União Eurasiana” do governo Putin. Foi para este plano macabro, que ameaça não apenas as expectativas de liberdade na Ucrânia e na Rússia, mas também a paz no mundo, que o ex-presidente ucraniano Victor Yanukovych tentou vender o “seu” país. Foi contra esse plano que os corajosos manifestantes do Maidan se levantaram — com um escandalosamente pequeno apoio do Ocidente — e de alguma forma miraculosa prevaleceram. Mas agora as coisas complicaram. Os ucranianos estão sendo confrontados não com a polícia de choque, mas com divisões russas, subversão e guerra econômica. O país precisa ser estabilizado e defendido. Os ucranianos merecem o nosso total apoio — e não apenas por razões de simpatia para com os que resistem à tirania ou pelo respeito aos corajosos. É do interesse vital da América que a liberdade triunfe na Ucrânia.

Sem a Ucrânia, o projeto fascista da União Eurasiana de Dugin é impossível, e mais cedo ou mais tarde a própria Rússia terá de se juntar ao Ocidente e tornar-se livre, deixando sozinhas algumas desprezadas e condenadas ilhas de tirania ao redor do globo. Mas com a Ucrânia sob seus pés, o projeto dos eurasianistas pode e irá adiante, e uma nova Cortina de Ferro surgirá, aprisionando uma grande parcela da humanidade nas garras de um poder totalitário monstruoso que se tornará o arsenal do mal ao redor do mundo nas décadas vindouras. Isso significa uma nova Guerra Fria, trilhões de dólares gastos em armas, crescimento acelerado do Estado em nome da segurança nacional, conflitos repetidos custando milhões de vidas no exterior, e a própria civilização colocada em risco se um único passo em falso no insano e sem-fim jogo das grandes potências precipitar na confrontação travada e carregada da troca termonuclear.

O século XX viu três confrontos entre grandes potências. Dois deles descambaram na guerra total. Tivemos sorte no terceiro. Nós realmente queremos jogar estes dados mais uma vez? Seremos obrigados, a menos que o programa eurasianista seja detido.

As apostas na Ucrânia não poderiam ser maiores.






Tradução: Jussara Reis e Clovis Kaminski



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