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24/10/2013 às 12:08 \ Paternalismo
Fonte: Estadão
Com o Programa Bolsa Família tendo completado uma década de existência, surgiram muitos elogios oficiais e algumas críticas independentes.
Por exemplo: cerca de metade das famílias que estavam desde o início ainda estão penduradas no programa. Porta de saída? Ou então: por que o governo celebra cada vez mais gente dependendo de esmolas estatais? Não deveria ser o contrário para medir o sucesso de um programa social?
Enfim, o fato é que tem gente que não aceita críticas ou sequer o debate sério, calcado em argumentos. Monopoliza os fins nobres – só quem defende o programa defende os pobres – e rotula quem discorda, atacando não seus pontos, mas suas intenções: insensível, elitista, preconceituoso!
Foi o caso da socióloga (sempre a sociologia!) Walquiria Leão Rego, que fez um estudo com o filósofo italiano Alessandro Pinzani. Em entrevista para a repórter Isadora Peron (sinto muito, mas não tinha outro sobrenome para usar?), Walquiria sustentou sua tese de que os críticos do programa sofrem de preconceito e uma cultura de desprezo pelos mais pobres.
Antes de entrar no detalhe, vale abrir um parêntese: diz a matéria que foi um “exaustivo trabalho de pesquisa”, e logo depois afirma que foram ouvidas 150 mulheres beneficiadas pelo programa. Exaustivo trabalho de pesquisa? Um programa que atende dezenas de milhões de pessoas, avaliado pela conversa com 150 mulheres? Tenho outro critério para o termo exaustivo ou mesmo pesquisa. Mas vamos em frente. Fecho o parêntese.
Essa resistência em dar dinheiro ao pobres acontecia porque as autoridades intuíam que o dinheiro proporcionaria uma experiência de maior liberdade pessoal. Nós pudemos constatar na prática, a partir das falas das mulheres. Uma ou duas delas até usaram a palavra liberdade. “Eu acho que o Bolsa Família me deu mais liberdade”, disseram. E isso é tão óbvio. Quando você dá uma cesta básica, ou um vale, como gostavam de fazer as instituições de caridade do século 19, você está determinando o que as pessoas vão comer. Não dá chance de pessoas experimentarem coisas. Nenhuma autonomia.
Sei que fechei o parêntese acima, mas peço vênia para reabri-lo: uma ou duas mulheres falaram em liberdade, então fica óbvio que 30 milhões de beneficiados com o programa assimilam que as esmolas trazem mais liberdade e autonomia? Estranho…
Estamos tratando de pessoas muito pobres, muito destituídas, secularmente abandonadas pelo Estado. Quando falamos em mais autonomia, liberdade, independência, estamos nos referindo à situação anterior delas, que era de passar fome. O que significa dizer de uma pessoa que está na linha extrema de pobreza e que continua pobre ganhou mais liberdade? Significa que ganhou espaços maiores de liberdade ao receber o benefício em dinheiro.
Já que a pesquisadora usou uma ou duas mulheres para reforçar seu ponto, eu vou usar uma mulher também para reforçar o meu. Vejam o uso que ela queria dar ao benefício do Bolsa Família:
Pois é. Não “tá” dando para comprar nem uma calça para a filha de 16 anos, que custa mais de R$ 300! Acho que essa senhora não foi uma das 150 entrevistadas pela pesquisadora.
O Bolsa Família é um programa barato, mas como incomoda a classe média (ela ri). Esse incômodo vem do preconceito.
Não consigo achar tanta graça. Preconceito? Por criticar uma relação de eterna dependência entre estado e pobres? Por temer que o voto de cabresto esteja de volta com força total ameaçando nossa democracia? Por saber que não é dessa forma que vamos resolver o problema da miséria, e sim com mais liberalismo?
Não, Walquiria. A classe média, ou parte dela, critica o Bolsa Família porque entende que ele pode gerar novos problemas, e não ataca as raízes dos nossos males, mas apenas sintomas, e de forma perigosa para nossa democracia. Conviva com isso. Aceite tais críticas sem chamá-las de fruto do preconceito. Isso, aliás, parece puro preconceito seu contra a classe média! Marilena Chauí fez escola…
- Tags: Bolsa Família, Walquiria Leão Rego
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16 Comentários
yossuf silva -
24/10/2013 às 13:17
assim como as cotas raciais (apesar de haver apenas uma raça) não resolvem o problema do ensino. É cusparada na face de alguém que usa a cabeça para pensar e não para separar orelhas!
anonimis -
24/10/2013 às 13:16
É fácil a solução para tornar o bolsa- família uma ajuda para a inserção
do pobres no processo produtivo é só considerar quem recebe a ajuda
não pode ser eleitor.
Termina qualquer duvida se o bolsa- família é um cabresto nas eleições.
adriano -
24/10/2013 às 13:13
Todo trabalho eh exaustivo para essa gente, o bom deles eh chegar aos frutos do trabalho sem esforco.
Rodolfo Tito -
24/10/2013 às 12:59
Rodrigo, essa turma de esquerdistas na falta de argumentação em defender suas ideias sem nexo, sempre partem para essas “palavras mágicas” que foram adicionadas em seu vocabulário chulo, quando não partem para a agressão verbal com palavras de baixo calão. Tais palavras são: preconceito, racismo, homofobia. São sempre usadas para mudar o foco das discussões, são de extremo apelo popular e batendo sempre na tecla de briga de classes, já que passa a ideia de uma elite oprimindo a classe mais pobre. Recentemente acrescentaram uma nova palavrinha nesse vocabulário medíocre, após a vinda dos escravos cubanos para o atendimento na saúde: xenofobia.
Então tudo se pauta nessas palavras para acabar com o assunto, pois se for pela lógica e argumentos eles não passam por mais de um minuto em uma conversa. Até quando houve as manifestações de junho e julho numa forma estúpida de eximir a responsabilidade do governo, os porta-vozes do PT foram dizer que isso tudo era preconceito da “zelites” contra a “presidenta” que era mulher!
Sinceramente discutir com essa turma é como o Lobão falou, de discutir com um pombo enxadrista, em que derruba as peças, caga no tabuleiro e ainda estufa o peito dizendo que ganhou.
Rodolfo -
24/10/2013 às 12:57
O Brasil deve ser o país que produz mais sociólogos por metro quadrado, por sala de aula nas universidades públicas espalhadas pelo país!
O que essas criaturas produziram de ÚTIL e CONCRETO ao país?
A opinião dessa socióloga é de uma delinquência intelectual de dar dó! Como é que ela consegue olhar e encarar de frente os colegas de profissão, as pessoas que estudaram e possuem alguma coisa na cabeça? Quem ela pensa que engana?
Rodolfo -
24/10/2013 às 12:52
Não sei como ela não chamou a classe-média de reacionária e de nazista! Só faltou isso!
Minha empregada mora numa comunidade (não posso falar favela, é feio!) não-”pacificada”, trabalha para burro e odeia a vizinha, que vive fazendo bico e recebe o Bolsa-Família!
É MENTIRA que só rico e classe-média odeiam o programa(rico e classe-média não odeiam o programa, apenas acham que não é solução de médio e longo prazos para os problemas do país)!
Quem mais odeia é justamente o POBRE que acorda às 5:00h da matina, pega três conduções para chegar ao serviço, mais três para voltar e ainda tem o IR, INSS e FGT descontado na fonte e não recebe nada do Governo em troca!
Willen -
24/10/2013 às 12:51
A estatolatria aparece em “secularmente abandonadas pelo estado”. É o Estado Deus-Pai Liberdade é ganhar dinheiro do governo, sem nada em troca, e gastar como quiser. Lembra adolescente reivindicando mesada. Fico imaginando aqueles pioneiros e imigrantes nos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Nova Zelândia longe do governo britânico. Deram-se bem.
Nico -
24/10/2013 às 12:46
A porta de saída do bolsa família é a porta do cemitério…
Bob sassa silva -
24/10/2013 às 12:41
O sassamutema aqui também quer uma bolsa boquinha no estado baba. Pode ser qualquer coisa desde que me garanta caviar mensalmente e uma tranquila aposentadoria no futuro.
Eu juro que não vou preocupar com a escassez, pra que isso, afinal de contas o estado é um moto perpetuo de produção de riquezas, pois os políticos descobriram uma forma magica de prover de recursos a maquina do estado, o monopólio do dinheiro.
Paulo Boccato -
24/10/2013 às 12:40
fora de tópico mas da MINHA (sublinho), MINHA série “BANANEIRO É MESMO UM
OTÁRIO !” :
carabina de pressão Hatsan GALATIAN, 5.5 mm, na Pyramidair…878 dolares , mais ou menos uns 1.900 reais .
aqui, (nao dou o site mas é so pesquisar) 6.495 reais !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
mais de 2.900 dolares !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Brasileiro é otario Constantino ?
não !
É OTÁRIO, BURRO, IDIOTA, BÊSTA, TROUXA , TAPADO, ALIENADO, ESTÚPIDO, ETC, ETC ,ETC ,ETC ,…
Alexandre Gonçalves -
24/10/2013 às 12:40
Vale lembrar que Raul Castro reduziu esmolas ao povo cubano alegando que incentivava o “desgosto pelo trabalho”, um eufemismo barato, mas ele falou. hehe
Bob sassa silva -
24/10/2013 às 12:33
O Lula antes de ganhar a presidência da republica dizia que os programas sociais da época era esmola e servia para manter os bois dentro do curral para na hora do voto garantir os coronéis.
E agora, quem os bois vão garantir?!
Raul Gomes -
24/10/2013 às 12:32
Caro Rodrigo
Permita uma sugestão de um admirador:
Ao abordar os assuntos concentre-se no foco. Ao fazer gracejos com coisas periféricas (por exemplo, o sobrenome da repórter) você dilui o debate e dá a oportunidade de comentários e desqualificações em questões desimportantes. Faça os gracejos focando no tema. Não temos como escolher o sobrenome, não é mesmo?
E uma observação: é claro que dar dinheiro em vez de vale dá mais liberdade para quem recebe. Não precisa fazer 150 entrevistas para deduzir isto. O esquisito é a pesquisadora julgar que os governos anteriores davam vales porque queriam tolher a liberdade dos necessitados. De onde ela tirou isto? Duvido que esta inferência infeliz tenha alguma base científica ou que tenha saído da pesquisa. Com isto ela demoniza os governos não petistas dentro de uma aura de seriedade acadêmica –uma tática pega-trouxa recorrente.
Muita gente paga uma refeição ao necessitado que pede esmola na rua. Segundo a estudiosa isto é ruim, pois tolhe a liberdade de escolha do pedinte. Mas e a tua liberdade de escolha? O doador não teria a liberdade de escolher onde quer que seu donativo seja aplicado? Só o lado que recebe tem o direito de ser livre?
Pelos parâmetros dos pesquisadores o programa Minha Casa Minha Vida tolhe a liberdade dos beneficiados. Porque financiar apenas casas e casas construídas pelo programa? O correto seria financiar a juros mínimos todas as necessidades e desejos de cada família. Só assim seremos realmente livres!
Seria o Estado Provedor e Babá em sua amplitude máxima!!! É isto que as pesquisadoras querem, e salve-se quem puder.
Abraço e mantenha o bom trabalho,
Raul
Edilaine R. -
24/10/2013 às 12:31
Pois é … Marilena Chauí “fez escola” e continua fazendo a cabeça de um monte de alunos que serão ( ?? ) os novos “intelectuais” do Brasil.
Pobre Brasil!
Odilon Rocha -
24/10/2013 às 12:18
Rodrigo
Envie a ela o vídeo do Lula, lá atrás, atacando justamente isso, dizendo que ia deixar o pobre preguiçoso. Essa gente não vale o que fala!
O que ela teria para para dizer a respeito?
Siará Grande -
24/10/2013 às 12:13
É a ladainha de sempre, a favor do PT é progresso, a favor da Verdade é preconceito.
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