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Rio de Janeiro


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Reinaldo Azevedo









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Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)


07/10/2013 às 21:42


Olhem bem este rapaz.


  • Ele está com uma barra de ferro na mão e depreda uma agência bancária em São Paulo. Veste o uniforme de sempre. Alguns sinais indicam que é bastante jovem, talvez um “dimenor”.

Muito bem! Em 1968, Jean-Paul Sartre tinha 63 anos, mas já estava mais gagá do que Caetano Veloso, com 71 — entendam: não é uma questão de idade cronológica, mas de decrepitude intelectual. Sartre apoiava os atos violentos da juventude maoísta e distribuía seus jornalecos.

Ainda na Presidência da República, perguntaram a De Gaulle como agir com o dito-cujo. O presidente deu ordens para que não se tocasse no filósofo com a frase: “Não se pode prender Voltaire”.

Esse rapaz aí acima é o nosso Sartre, é o nosso Voltaire. E este, aí abaixo, é o nosso adolescente black bloc.

Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 21:24


Na VEJA.com:
A OGX, empresa de exploração de petróleo do ex-bilionário Eike Batista, cogita deixar de lado a alternativa de pedir recuperação judicial (a antiga concordata) e optar pela falência. Segundo fontes ouvidas pela Bloomberg, a empresa estuda a possibilidade de fazer o pedido dentro de um mês. A reportagem apurou que o pedido pode ser feito no Rio de Janeiro, onde a empresa está sediada.

A alternativa que vinha sendo considerada pelo mercado até o momento era a de recuperação judicial, que ocorre quando uma empresa busca proteção judiciária para reestruturar sua dívida com credores e continuar operando. Já no caso de falência, todos os ativos da empresa são liquidados.

Caso o pedido se confirme, a OGX dará o calote em 3,6 bilhões de dólares em títulos emitidos com vencimento para 2018 e 2022, configurando-se como o maior default de dívida de uma empresa da América Latina. Na semana passada, a empresa deveria pagar 45 milhões de dólares em juros aos detentores dos títulos mas não honrou o compromisso.

Os campos de exploração da OGX se mostraram sobreavaliados. Primeiro, Tubarão Azul, que era o principal deles, deixará de produzir em 2014 e será devolvido ao estado, devido à sua baixa capacidade de exploração. Na semana passada, o campo de Tubarão Martelo também desapontou: sua capacidade, atualmente, é de um terço da estimativa inicial.

Mais devoluções – Na tarde desta segunda-feira, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) rejeitou pedido da empresa para que mantenha outros três campos de petróleo onde investimentos foram suspensos. A OGX solicitou à agência reguladora a suspensão das atividades nos campos Tubarão Tigre, Tubarão Areia e Tubarão Gato, alegando falta de tecnologia existente. Contudo, a ANP negou e exigiu a apresentação de planos de desenvolvimento para os campos, afirmou o diretor da reguladora, Florival Carvalho.

Se a OGX não apresentar à ANP planos de desenvolvimento para as áreas, poderá ter o contrato de concessão extinto e os campos, originários do bloco BM-C-41, devolvidos à reguladora, explicou. A petroleira ainda pode recorrer da decisão da agência, acrescentou Carvalho. Procurada, a OGX não comentou imediatamente o assunto e se vai apresentar um recurso à ANP.
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 21:11


Os black blocs partiram para a quebradeira no Rio de Janeiro. Tentaram incendiar a Câmara dos Vereadores. Chamem Wadih Damous, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB para falar com esses patriotas. O doutor estava na passeata. Segundo ele, era para evitar a violência dos policiais.

Em São Paulo, delinquentes mascarados que invadiram a Reitoria da USP com uma marreta marcaram um protesto em favor dos… professores do Rio! Um dos promotores da invasão da USP é o PSOL, mesmo partido que está no comando da greve do Rio. Trata-se, portanto, de uma questão partidária. Os black blocs também saíram quebrando tudo. Jogaram coquetéis molotov contra a polícia, depredaram agências bancárias, fizeram o diabo. Esses queridinhos de Caetano Veloso, o “apenas um velho baiano” , são fogo! Literalmente.

Eu sei o que escrevi a respeito desses protestos desde junho. Nunca foram pacíficos. É mentira! Os black blocs sempre estiveram presentes, desde as primeiras manifestações em São Paulo. Mas se estabeleceu, na imprensa, o quase-consenso burro de que qualquer reação da polícia era “violência desproporcional”. Como não se inventou ainda uma forma bonita de enfrentar brucutus que saem por aí quebrando tudo, assistiu-se a uma demonização da polícia de norte a sul do país.

E vão se acumulando, então, as circunstâncias que vão deseducando o país, mantendo-o prisioneiro da espiral de violência. Cometam os policiais excessos ou não, são demonizados pela imprensa, seus respectivos nomes circulam nas redes sociais, passam a ser tratados como bandidos. Se um membro dos black blocs é preso, aparece lá um batalhão de advogados para soltá-lo, e ninguém conhece a sua identidade, de sorte que se tem a seguinte inversão moral: quem atua para proteger o patrimônio púbico e privado passa a ser tratado como bandido, e o bandido passa a ser tratado com o cidadão de bem.

Para onde isso nos leva? Ora, para a casa do chapéu.
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 20:21


O Rio é palco de mais uma manifestação. Mais uma… Segundo informa o Globo, haveria coisa de 20 mil pessoas nas ruas. Há de tudo lá, mas parece que o protesto do sindicato dos professores é que dá o tom do negócio. Escrevi hoje de manhã a respeito. Classifiquei de vergonhosa a atuação dos sindicalistas e de boa parte da imprensa, pautada pelos black blocs. É isto mesmo: algumas dezenas de mascarados desordeiros — que fossem milhares de dezenas… — põem de joelhos critérios de cobertura jornalística que se consideravam sólidos no Brasil, ancorados nos valores de uma sociedade livre, democrática e aberta. Nesse episódio todo, o prefeito Eduardo Paes cometeu um único erro, um só: propor o plano de carreira para os professores. É claro que estou sendo irônico. Mas restou alguma outra coisa para apelar aos fundamentos da razão? Tivesse ele se omitido; tivesse deixado a coisa como encontrou; tivesse mantido o status em que professores fingiam que trabalhavam, e Prefeitura fingia que eles tinham um futuro, não estaria agora tendo de enfrentar uma greve, tratada por idiotas e delinquentes morais como se fosse um ato de resistência a uma tirania.

E, no entanto, essa gente está se mobilizando contra o quê?

Respondo: contra um bom plano de carreira, entre os melhores do país, se não for o melhor. Ocorre que o cheiro de sangue, como disse o poeta, excita a fúria dos algozes. Sérgio Cabral, que foi abandonado ao relento pela mesma imprensa que o protegia de si mesmo, agora virou saco de pancada. Alguém me diga, por favor, em que seu governo piorou tanto. Quando eu, em quase solidão absoluta, o criticava, perguntava cá com os meus botões, para onde estavam voltados os olhos dos meus coleguinhas. Eu sei para onde! Para as imagens de cartão-postal, para as criancinhas que soltavam pipas depois da chegada das UPPs, não é isso? Agora se formou o eixo anti-Cabral, unindo PSOL (Freixo), PT (Lindbergh Farias), Anthony Garotinho e outros… O pega-Cabral-pra-capar chegou a Eduardo Paes. Com medo da militância, que grita slogans contra a imprensa livre, o jornalismo, com as exceções de praxe, vai atrás, como cachorro perseguindo caminhão de mudança.

NOTA ANTES QUE CONTINUE – Os meus amigos cariocas sabem que, mais de uma vez, mantive com eles discussões inflamadas sobre o governo Cabral, especialmente no que respeita à segurança pública. Um ou outro até chegaram a atribuir as minhas críticas a, como dizer?, “coisa de paulista”, esse povo sem cintura, que não sabe entrar no embalo dos requebros febris. É Nelson Rodrigues quem dizia não haver solidão maior do que a companhia de um paulista? Acho que sim. É meio por aí. Em regra (mas há muitas exceções), quando não tem nada de prático a tratar, paulista cala a boca. Nossa poesia, havendo alguma (não garanto que haja), sai da economia das coisas. É uma gente muito pouco sonhática… Eu perguntava: “Para onde vão os bandidos que o Rio não prende?”. Ninguém conseguia me responder. Logo me remetiam para a pipa contra o céu azul. Outros me instigavam: “Você precisa subir o morro para ver…”. Não preciso. Eu acertei sobre o Egito sem ir ao Egito. Eu acertei sobre a Síria sem ir à Síria. Eu acertei sobre as UPPs sem ir ao Rio. Eu vejo com a lógica e com os fatos, não vejo com os olhos. Estar no local pode ser uma terrível fonte de enganos porque certificada. Mas já me distanciei; a digressão ficou longa demais. O paraíso não vira o inferno em três meses. É que o paraíso não era paraíso. O inferno não é o inferno. O que está em crise, agora e antes, é a razão. ENCERRO A DIGRESSÃO. VOLTO AO LEITO.

Marcha da irracionalidade
A marcha que está nas ruas do Rio é a marcha da irracionalidade. Os que estão dando apoio ao movimento estão lutando contra um bom plano de carreira e contra um item em particular desse plano: a premiação por mérito. Trata-se de uma passeata de reacionários, de gente que está lutando objetivamente — e pouco importam suas intenções — contra os interesses do povo. Quem quer que milite contra mecanismos de promoção e de premiação por mérito está militando em favor do atraso, de tudo o que há de pior no país.

Leio este trecho edificante em reportagem do Globo Online (em vermelho):
À frente da passeata, na Avenida Rio Branco, há um grupo de dez jovens com uma criança, o que chama a atenção. Todos seguram cartazes pretos com as palavras “Tropa de profs”, em referência ao filme Tropa de Elite. Eles cantam uma paródia da música tema do longa de José Padilha, enquanto jogam estalinhos no chão. Um deles segura um tambor e o grupo simula, inclusive, um confronto em tom teatral. Logo atrás do bando bem humorado, um grupo de cerca de 50 Black Blocs, todos mascarados e com escudos pretos, segue na passeata.
(…)

Não é bonito? O protesto virou desfile de escola de samba, com comissão de frente e tudo, o que parece até ter comovido um tantinho a reportagem. É a Escola de Samba Unidos do Reacionarismo de Esquerda. Se entendi o simbolismo — E EU QUASE NUNCA ENTENDO ENREDO DE ESCOLA DE SAMBA; ESTÁ ACIMA DA MINHA CAPACIDADE —, a comissão de frente das crianças está, à sua maneira, a pedir paz. Mas os “manifestantes” seguem a máxima latina “Si vis pacem, para bellum” — “Se queres a paz, prepara a guerra”. Logo depois dos jovens e do infante vêm os … black blocs, que passaram a ser admitidos como parte da paisagem política. É espetacular! Gente que tem o propósito declarado de ir para a rua para depredar prédios públicos e privados como forma, dizem eles, de “atacar o capitalismo” passou a ser vista como aceitável, como personagem do jogo. Ou, como disse Caetano Veloso, agora “eles fazem parte”.

A OAB do Rio, para não variar, dá a sua contribuição ao equívoco. O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem, Wadih Damous, participa do ato. E afirma: “Espero que as forças de segurança tenham entendido que se trata de uma manifestação democrática e pacífica. Professores querem melhores condições de trabalho e não receber pancada da polícia.” Entendi. Sobre os black blocs, que têm iniciado os confrontos e espalhado o terror pelo centro da cidade, ele não disse uma palavra. Se um deles for preso por depredação, os rapazes de Damous aparecem lá para libertá-lo.

O que vemos já é parte da campanha eleitoral. No Rio, mais do que em São Paulo, assuntos da Prefeitura e do governo do Estado se imbricam. Só um tema está interditado: os interesses das crianças e dos adolescentes que estão sem aula. É isto: eu continuo a pensar sobre esses “movimentos de rua” o que sempre pensei. Alguns tontos quiseram brincar de “Primavera Árabe” no Brasil, esquecendo-se de que o regime, por aqui, é democrático. Deu nisso aí. Se aquela outra “Primavera” já era uma falsidade e uma tolice, a nossa é só uma impostura cretina. No Rio, os protestos logo se contaminaram pela questão eleitoral, mais do que em qualquer outro lugar do país. E se assiste, então, a esse espetáculo grotesco.

O sindicato dos professores arrebanhou gente contra um plano de carreira inédito nos benefícios que oferece à categoria e à população pobre do Rio. Trata-se de uma marcha de reacionários, que luta contra os interesses do povo.
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 16:33


Eu poderia começar o texto assim: “Toda grande democracia do mundo é bipartidária”. Mas seria inexato. De fato, todas as democracias do mundo, grandes ou pequenas, são bipartidárias, ainda que haja dezenas de partidos. Nos EUA, por exemplo, chegam perto de… 80!, mas só dois têm condições efetivas de governar o país: o Democrata e o Republicano. Na Alemanha, a CDU (União Democrata-Cristã) sempre aparece unida (ou separada) da CSU, a União Social-Cristã, por um hífen. É que particularidades regionais fazem com que a CDU se chame, na Baviera, CSU… Legendas médias, pequenas ou nanicas, mundo democrático afora, orbitam em torno de dois grandes núcleos: um poderia ser definido, genericamente, como “progressista”, e o outro, como “conservador”.

“Progressista” e “conservador” em relação a quê? Às mais diversas questões, que vão da economia (mais distributivista ou menos, mais estatista ou menos) aos valores (mais libertários ou menos em matéria de costumes). Cada um desses núcleos forma um imaginário, e os eleitores fazem as suas escolhas de acordo com as demandas tornadas urgentes. Nos EUA, há um virtual empate entre democratas e republicanos; na Alemanha (desconsidero a unificação), também: com particularidades nas quais não vou entrar, o fato é que a democracia-cristã deu as cartas entre 1949 e 1969; o comando do jogo passou para a social-democracia entre 1969 e 1982; voltou para a democracia-cristã entre 1982 e 1998, foi retomada pela social-democracia entre 1998 e 2005 e voltou para os conservadores — Merkel acaba de ser reeleita. Cito dois sistemas tão distintos para evidenciar que não é a forma de governo que determina nem a polarização nem a alternância. O regime parlamentarista pode ter ciclos mais longos de domínio de um partido — domínio que não implica esmagamento da oposição.

Se a livre organização partidária é própria das democracias, a fragmentação do Parlamento numa miríade de pequenos partidos pode ser um sintoma de doença, a atentar contra a saúde do próprio sistema. A bagunça existente no Brasil, que só tende a crescer, o evidencia à farta. É curioso: Banânia deve ser o país do mundo livre que mais estabeleceu regras e cláusulas para a formação de partidos. Não por acaso, creio, é aquele em que o Parlamento mais está fragmentado. Para a alegria e felicidade dos brasileiros? Não! Para a sua desgraça.

O que distingue, por exemplo, o PSD, a quarta maior bancada da Câmara, depois do troca-troca, do PMDB? São os métodos? É o credo (“nem de direita, nem de esquerda nem de centro)? É o quê? E o Solidariedade? Não é tucano — ou mesmo petista — por quê? Notaram que a imprensa, e não sem motivos, chama o primeiro de “o partido de Kassab” e o segundo de “o partido de Paulinho”? O tempo passa, e o sistema regride: era evidente que essa fragmentação passaria a conviver com uma espécie de privatização de partidos. Há uma afeganistanização do Parlamento, que passa a ser dominado por “Senhores da Guerra”.

Vejam que pitoresco. Mesmo depois de mais de 10% dos deputados terem mudado de legenda, o governo continua a contar com o apoio de escandalosos 75% da Câmara. Em nenhuma democracia do mundo se tem oposição tão nanica. Nem na ditadura venezuelana. É evidente que isso não reflete a vontade expressa nas urnas há três anos. Boa parte dos agora parlamentares do PSD, por exemplo, foi eleita para fazer oposição. E é situação. Há, sim, um ou outro que fizeram o caminho contrário, mas em menor número. O tal PROS, nascido para ser governista, já recebeu parlamentares eleitos para combater o petismo.

O que pesa nessas decisões? Convicção? Não! Grupos vão se organizando para arrancar benesses do poder. Não são direta, esquerda, centro; não são governistas nem oposicionistas; não são “progressistas” ou “conservadores”. São apenas candidatos a sócios do poder, qualquer que seja ele. Por mim, a criação de partidos seria ainda mais livre do que hoje, sem exigência de assinaturas ou sei lá o quê. Mas também não haveria fundo partidário, horário político gratuito — e eleitoral tampouco.

A bagunça na legislação que regula a formação dos partidos — de um lado, cartorial e burocratizada; de outro, relaxada a mais não poder — é uma das raízes do problema. A outra são os superpoderes de que dispõe o Executivo. Se as democracias que funcionam são, na prática, bipartidárias, a nossa, vejam vocês, vai caminhando no sentido inverso. O assunto está longe de se esgotar. Agora mesmo, saúda-se a união de Marina Silva com Eduardo Campos como rompimento de uma polarização que se julgava negativa. Muito bem: digamos que isso fosse verdade, cabe perguntar: ela estaria se rompendo em nome exatamente do quê?
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 14:34


Brinque de demonizar a política e a democracia quem quiser, quem achar conveniente. Eu continuarei a me ater à lógica. Vamos ver. Gene Sperling, conselheiro econômico da Casa Branca, afirmou a um site que o governo não negociará com os republicanos enquanto houver a possibilidade, chamada por aí de “ameaça”, de um calote da dívida do país. Se a elevação do endividamento público não for aprovada até o dia 17, o país poderá decretar o “default” (calote) de parte das dívidas.

A lei não permite que o presidente da República eleve esse limite por conta própria. É preciso contar com a anuência do Congresso. Se é, a administração federal precisa entrar num acordo com o Poder Legislativo. Se precisa, não há de ser um mero ato homologatório. Se não é apenas homologatório (fosse, por que haveria a exigência anuente?), então tem de ser uma negociação. Se há uma negociação, uma parte não pode ter a ambição de impor à outra a sua própria condição. Se o fizesse, então a parte anuente perderia, por óbvio, o seu poder de anuência.

As pessoas, muito especialmente a imprensa brasileira, podem odiar os republicanos pelos motivos que lhes der na telha — entre eles, a jequice e coisa e tal —, menos por deterem uma prerrogativa que não roubaram de ninguém, mas que lhes foi dada pela institucionalidade do país. A propósito: sempre que brasileiros atacam os “jecas americanos”, penso em Monteiro Lobato. Sempre que brasileiros atacam os jecas americanos, penso em como se dão as “negociações” em Brasília. Sempre que brasileiros atacam os jecas americanos, penso em como se formam os partidos aqui. Quem vive de cócoras, já que é para lembrar o Jeca, não são os americanos.

Que se note: não estou endossando a tática dos republicanos — até porque Obama está faturando, posando de coitadinho e de vítima da intransigência; justo ele, o que não negocia. O ponto é outro: há uma diferença enorme entre ser contra a escolha feita e atacar um dos fundamentos da independência entre os Poderes. É claro que, se houvesse PMDB e PSD nos EUA, as coisas não seriam assim, certo? A aprovação do limite da dívida teria um preço, e tudo andaria aparentemente bem.

Com o regime que os americanos têm, eles fizeram aquele país atrasado, com as piores universidades do mundo, com um povo dependente da caridade oficial. Com o regime que temos, nós fizemos essa potência, ponta de lança da ciência e do desenvolvimento, com uma população autônoma, certo? É isto: o que falta aos EUA é ter o regime político brasileiro, onde a autonomia do Congresso jamais é exercida, mas vendida, em nome das virtudes da democracia. Tenham paciência!

De resto, a gritaria existe porque é Obama. Fosse George W. Bush o titular da Casa Branca, e os democratas estivessem no lugar dos republicanos, a democracia americana estaria a ser cantada em prosa e verso. Ou não é verdade que o Bush que depôs Saddam era um cretino, mas o Obama que entregou a Líbia às milícias jihadistas é um amante da democracia? Ou não é verdade que o máximo da crítica a que se permitem os cultores da seita obamista é o fato de ele não ter atacado a Síria, já que suas bombas, à diferença das de Bush, teriam um poder humanista e libertador, ainda que fossem entregar o país à Al Qaeda?

Meu ponto, nesse caso, é de princípio. Os republicanos foram eleitos pelo povo americano, como Obama. Eles integram o Parlamento dos EUA, como os democratas. Quem lhes deu a maioria da Câmara foi o mesmo sistema que legitima o poder do presidente da República. Se o modelo impede o chefe do Executivo de agir unilateralmente na questão, deve haver motivos. Algum compromisso se espera que o Legislativo arranque do Executivo. Como não serão os aliados a impor limites à Presidência, haverá de ser a oposição.

“Ah, mas assim o sistema para…” Pois é. Ao longo dos anos, forças políticas as mais diversas tiveram os argumentos igualmente os mais diversos para jogar no lixo a democracia. E um dos mais fortes é justamente este: nem sempre esse regime é a escolha mais racional. No que concerne a alguns objetivos específicos, é mesmo verdade. Se alguém tiver alguma ideia melhor, esta é a hora de sugerir…
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 6:13





Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 4:40


A cada vez que vejo a baderna promovida no Rio pelo sindicato dos professores, com o apoio dos black blocs, chego a sentir vergonha. Nem é tanto a tal vergonha alheia (no caso, das lideranças do sindicato). A imprensa, com as exceções de praxe, está fazendo um trabalho lastimável nesse caso, ainda contaminada pelo espírito bronco das ruas, que não nos deu nada e ainda nos tirou o que restava de civilidade no trato de questões, vá lá, sociais. E isso é muito constrangedor. Quando penso que aquela gente arruaceira, truculenta e ignorante responde pela educação de crianças e jovens, sou tomado por certo desalento, por certa melancolia. Dou-me, então, conta de como estamos longe, como sociedade, de dar uma resposta para um problema que todos, à direita, à esquerda e ao centro, consideram definidor de nosso futuro: a educação.

A VEJA.com publica uma entrevista de Claudia Costin, secretária municipal de Educação. Trata-se de uma profissional séria, compenetrada, que não se entrega a chicanas. Ali estão sintetizados os pontos principais do plano de carreira enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), já aprovado. É um bom plano — dos melhores que há no país.

O sindicato, tomado por extremistas de esquerda, notadamente o PSOL (do santinho do pau oco Marcelo Freixo, o queridinho de intelectuais da envergadura de Caetano Veloso, Chico Buarque e Wagner Moura), com o apoio indisfarçado do PT, partiu para a guerra. Mantém uma greve (parcial, é bom deixar claro) irresponsável, promove manifestações que incitam a violência e se associa, como evidenciam os cartazes, aos bandidos mascarados dos black blocs (aqueles que “fazem parte”, como diz Caetano). A Polícia Militar do Rio de Janeiro, sob o comando do antes santificado (JAMAIS POR MIM!!!) José Mariano Beltrame, dá o seu show particular de incompetência e truculência. Eu sei: é só uma minoria dos professores que protagoniza aquelas baixarias; da mesma sorte, é uma minoria da PM que envergonha a farda. Mas são eles a conduzir a narrativa, a dar o tom do conflito. E o bom senso que dane!

A cobertura da imprensa, especialmente das TVs, chega a ser asquerosa. Patrulhada por todos os lados, boa parte do jornalismo brasileiro está, literalmente, fora do eixo, tomada pela estética Ninja e pelo padrão moral de Capilé. Se o outro-ladismo, na forma como era exercido, já era perverso, o alinhamento ora em curso com todo mundo que sai gritando na rua expressa um entendimento tosco, demagógico e vigarista do “direito à manifestação”. Direito que é exercido de maneira absoluta, ignorando o conjunto de outras garantias ao qual ele próprio pertence, direito não é. Trata-se, isto sim, de exercício de truculência. Não compreender esse primado básico corresponde a não acatar os próprios fundamentos do regime democrático. “Regime democrático”? Mas do que estou a falar aqui? Os heróis de Freixo, Chico, Caetano e Moura são “socialistas”, ora bolas! Logo, não reconhecem nem mesmo a existência do “outro”. São eles os donos da história.

Tudo se esgota, no fim das contas, em dar a versão de “um lado” (os professores) e dos outros lados (a Prefeitura e, quando há pauleira, a polícia). Até agora, por incrível que possa parecer, por mais escandaloso que se nos afigure, ninguém se interessou pela história dos estudantes, aqueles que estão sem aula, cujas vidas são efetivamente prejudicadas pelo sectarismo desses barnabés da porrada, do confronto, do conflito. Alegam isso e aquilo contra o plano — desculpas escancaradamente ocas, intelectualmente delinquentes —, mas não aceitam mesmo, e este é o ponto central de sua recusa, a premiação por mérito. Exercitam ainda aquela arenga cretina de que políticas que premiam o desempenho violam princípios sagrados da educação.

Reverentes ao espírito truculento das ruas, com medo da gritaria de meia dúzia de celerados que saem por aí a acusar “a mídia” por todos os males da humanidade, esses setores da imprensa de que falo acabam, ao fim e ao cabo, investindo no obscurantismo, na estupidez e na ignorância. Trata-se, antes de mais nada, de um exercício de covardia e também de crueldade de classe. “Crueldade de classe, Reinaldo Azevedo?” Sim! Afinal de contas, os filhos dos socialistas abastados do Leblon, de Copacabana e de Ipanema estão imunes aos malefícios decorrentes dos desatinos desses trogloditas. Estudam em escolas privadas. Os bem-pensantes, munidos de sua má consciência, podem tomar o seu champanhe, sentindo a brisa do mar, cientes de que fizeram a coisa certa ao se alinhar com os supostos “interesses do povo”. Isso é uma caricatura? É, sim! Mas a “militância” que toma conta desse jornalismo também é caricatural.

“Interesses do povo”? Representados por quem? Pelos extremistas do PSOL e grupelhos afins? Não, senhores! O “povo” mesmo está lá nos cafundós do judas, sem aula, entregue a seu próprio destino, sem direito a uma escola que contribua para que se livre da pobreza, do atraso e dos dissabores de uma vida acanhada. O Brasil tem um crescimento mixuruca, políticas públicas mixurucas e um governo mixuruca. Também o jornalismo dá exemplos, com frequência espantosa, de mixuruquice. Está abrindo mão de pensar. Está abrindo mão de fundamentos básicos do estado democrático e de direito, os mesmos que, diga-se, o legitimam. Está se deixando pautar por aqueles que a detestam e que não o reconhecem como apanágio das sociedades livres.

Tudo isso poderia ser irrelevante, mas não é. Os sindicatos de professores são hoje um dos principais entraves a impedir uma reforma da educação que possa tornar o Brasil (e olhem que não seria para já…) ao menos… contemporâneo. País afora, a categoria é assombrada por corporativistas violentos, por partidários de ideologias mortas, por militantes de teses estapafúrdias, que não vigoram em país nenhum do mundo.

E que se note: o salário-base por 40 horas semanais dos professores do Rio passa a ser de R$ 4.147,00. Segundo dados do IBGE de maio deste ano, o salário médio do brasileiro é de R$ 1.792,61. O dos profissionais com ensino superior (17,1% dos trabalhadores) é de R$ 4.135,06. O dos sem-diploma (82,9%), R$ 1.294,70. Não se pode, pois, nem mesmo condescender com a hipótese de que os greveiros ganhem um salário de fome. Basta olhar à volta. De resto, as pessoas sempre são livres para concluir que a carreira que abraçaram não está mais adequada às suas ambições. Uma coisa é certa: os alunos não podem pagar por isso.

Chegou a hora de o jornalismo descobrir que o conflito que envolve professores extremistas, policiais despreparados e banditismo de arruaceiros esconde as verdadeiras vítimas dos desatinos: os estudantes. Há anos escrevo o que agora reitero: o patrão do servidor público é o povo, e a mercadoria que ele produz é o serviço essencial que presta. Quando decide fazer greve, quem está do outro lado não é o “capitalista, que vai deixar de ter lucro”, MAS O CIDADÃO, QUE VAI DEIXAR DE EXERCER UM DIREITO.

Chega dessa pantomima! Esses sindicalistas precisam de um pouco de vergonha na cara. E os setores da imprensa que fazem uma cobertura demagógica e covarde também!
Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 2:03


Abaixo, segue a entrevista que Claudia Costin, secretária de Educação da cidade do Rio, concedeu a Cecília Ritto e João Marcello Erthal, da VEJA.com. Ao longo da entrevista, há quadros com uma síntese do plano e as críticas feitas pelo sindicato dos professores. Comento a questão no post acima.

A revolta dos professores em greve com o Plano de Cargos e Salários apresentado pela prefeitura do Rio, e aprovado na última terça-feira pela Câmara, foi uma surpresa para Claudia Costin. A secretária municipal de Educação do Rio considerava, até antes da ocupação da Câmara por grevistas, que as negociações com a categoria estavam encaminhadas e as principais reivindicações, contempladas. “Fizemos reuniões, registramos em ata, modificamos uma série de itens para atender ao que queria o Sepe (Sindicado Estadual dos Profissionais de Educação do Rio)”, conta. Claudia, reconhecida em todo o Brasil como uma referência em gestão da educação, admite que o plano não é perfeito, mas é, principalmente em termos orçamentários, o melhor dentro da responsabilidade com as contas públicas. “Acho que as pessoas estão fazendo uma leitura errada do plano. Pode não ser o ideal e nem fazer o Rio ter um padrão europeu de escola e de ensino – até porque a rede é antiga. Mas é generoso”, afirma.

Na última quinta-feira, a secretária recebeu a reportagem do site de VEJA para detalhar aspectos do plano e confrontar com as queixas do sindicato. Em linhas gerais, assegura, a intenção do município no momento é privilegiar os professores em regime de 40 horas, para atender à lei que impõe o regime integral até 2020 no Rio. “Diferentemente do ensino universitário, por exemplo, na educação infantil é preciso estabelecer vínculos, inclusive afetivos, e estabelecer uma relação de máxima proximidade com os alunos”, explica. Confira trechos da entrevista:

Qual a razão para uma reação tão exacerbada ao Plano de Cargos e Salários aprovado pela prefeitura?
Há um ingrediente importante na reação dos professores. O Brasil não é o mesmo depois de junho, com as manifestações de rua que serviram como um desaguadouro de insatisfações da população. Os protestos começaram pedindo a suspensão do aumento da tarifa de ônibus, mas muitas outras reivindicações que não estavam articuladas vieram à tona. Todos os interesses e ressentimentos difusos se puseram na mesa ao mesmo tempo. Acho que esse cenário serviu de combustível para o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) conseguir adesão à greve. Até então, as paralisações dos professores municipais arregimentavam 2% da categoria. Desta vez, chegou a 18%. De qualquer maneira, acho que as pessoas estão fazendo uma leitura errada do plano. Pode não ser o ideal e nem fazer o Rio ter um padrão europeu de escola e de ensino – até porque a rede é antiga. Mas é generoso.


Houve um processo de negociação com os professores. Por que não foi possível se chegar a um consenso?
No dia em que começou a greve, em 8 de agosto, demos início também às negociações com os professores. O prefeito Eduardo Paes participou de três reuniões. Em um dos encontros, decidimos que daríamos um aumento real de 8%, fora o reajuste. O Sepe chegou a dizer que o prefeito entraria para a história do Rio porque a categoria estava há 21 anos sem receber um aumento real. Foram assinadas três atas, redigidas pelo sindicato e com os termos ditados por nós, em um sinal de que os dois lados estavam de acordo com o texto. Em todos esses documentos, em que se estabeleceu o aumento da remuneração da categoria e a equiparação salarial de todos os professores da rede, havia o pré-requisito de sair da greve. E eles não saiam.

A senhora chegou a acreditar que haveria um acordo?
Eu, talvez por ingenuidade, achei que a paralisação fosse acabar. Mas só encerraram a greve durante uma semana, em setembro, depois de o prefeito decidir que os professores só continuariam a participar das negociações do plano de cargos e salários se retornassem à sala de aula. Era uma condição que todos sabiam. Cada hora eles vinham com um problema, nós atendíamos e eles não terminavam a greve. Quatro dias antes do prazo para o prefeito entregar o plano à Câmara, os professores voltaram às aulas para poder elaborar o projeto.


Era possível postergar a entrega do plano à Câmara Municipal?
A elaboração de um plano de cargos e salários era uma promessa da campanha à reeleição do prefeito. O Paes fez um decreto para que o plano ficasse pronto em três meses. O Sepe exigiu que o prazo fosse encurtado para um mês e colocado em regime de urgência. Quando eles saíram da greve faltando poucos dias para a votação do projeto, o Pedro Paulo combinou de os professores irem à secretaria para prepararem possíveis emendas. Eles também deveriam procurar os vereadores para propor modificações no texto. Mas o plano seria entregue no momento combinado e exigido pela própria categoria. Em vez de entregarmos no dia 16 de setembro, fizemos isso no dia 17 para que o prefeito, que estava em viagem, pudesse analisar com calma o texto final. Os professores alegaram o atraso de um dia como motivo para voltar à greve. Como entender isso?


Uma das reclamações dos professores é sobre o estímulo do plano à migração para 40 horas semanais de trabalho. O sindicato diz que nem todos poderão fazer essa mudança. Apesar de o artigo 27 do plano dizer que a adesão a essa carga horária dependerá do orçamento do executivo, todos os interessados conseguirão migrar?
Ainda não sabemos quantos poderão migrar este ano. Mas a prioridade será para aqueles que lecionam em escolas com turno de sete horas por dia e para todos os que já fizeram concurso para 40 horas. Esses concursados terão de cara os benefícios por formação (quanto mais especializado, mais alto será o salário). O professor de 40 horas ficará em uma única escola, terá tempo de planejar e estudar dentro da escola, podendo atender aos estudantes. Em educação de criança, você precisa formar vínculos com o aluno.


O sindicato rejeita os critérios de meritocracia.
Os professores acreditam em meritocracia para os alunos. Para eles, os alunos têm que passar de ano por mérito, os melhores precisam ser reconhecidos e os piores devem ser reprovados. A questão do sindicato é que, se há dinheiro para reconhecer os melhores professores e escolas, por que não transformar em salário para todos? Essa é uma questão típica de uma sociedade medíocre. Por que, então, existe prêmio Nobel? Não era mais do que obrigação do cientista pesquisar? Por que há prêmio na área das artes? Por que na educação, parte mais fundamental na sociedade, não podem ser reconhecidos aqueles que fazem um trabalho único? No nosso sistema, não estamos comparando escolas diferentes, de locais distintos. O colégio recebe o dinheiro se tiver melhorado. Ou seja, é uma disputa da escola com ela mesma.

Outro alvo de reclamações é a remuneração. Pelo plano, o ponto de partida salarial para um professor de 40 horas, com superior completo, será 4.147. Quanto a senhora acha que o educador deveria ganhar?
Não falarei um salário que sonho, mas saiba que desejo mais. Mas, se considerarmos a realidade brasileira, é um salário que a atende. Ao longo dos anos, acredito que o Brasil vai aumentar, aos poucos, o salário dos professores. Não podemos esquecer que o maior gasto de folha de pessoal de um estado ou capital é com os funcionários da educação. Todo aumento salarial tem que ser feito com muita responsabilidade para não acontecer o mesmo da época do prefeito Saturnino Braga, quando foi dado um aumento importante, ousado, mas depois os professores ficaram cinco meses sem receber. Por mais que eu brigue e continue brigando por melhores salários, não posso ser irresponsável. Eu brigo até o limite.


Qual saída a senhora enxerga para o fim do impasse entre a prefeitura e os professores?
Não estou enxergando o fim de imediato. Foi um processo doloroso para os dois lados. Primeiro, teremos de voltar à normalidade para ter serenidade nas conversas. Nesse momento, há pouca serenidade nos contatos.

Em linhas gerais, o plano de cargos e salários avança em que direção?
O plano organiza apenas uma parte de como deve ser a educação. A grande transformação na educação tem a ver com algo que não é o plano: colocar o foco na aprendizagem. As pessoas estão acostumadas a dizer que há qualidade na educação se os prédios forem bons, se o tempo da escola é integral ou não – sem se interessar como esse horário é organizado. O plano tem que servir como um instrumento para essa transformação, dando condição adequada de trabalho ao professor.

Ao fim da gestão de Eduardo Paes, como a senhora gostaria de entregar a secretaria de Educação?
Vou estar de alma lavada quando toda criança puder aprender. Não me interessa se tem deficiência, se os pais são de baixa escolaridade. Quero que todas possam aprender e ir para frente de forma a ter sucesso no ensino médio. Também desejo que a gente consiga fazer com que as crianças realizem seus sonhos. Cada ser humano é portador de um sonho. Quando o universo é limitado, o sonho também é. Gostaria que as crianças pudessem sonhar mais alto, com condições de realização.

E qual é o maior desafio para isso se tornar real?
O principal impedimento está associado a mais um estrutura mental do que de recursos. Há quem considere que a educação para criança pobre pode ser de segunda categoria. Temos desafios imensos, de infraestrutura e de escola. Mas o ensino, a parte que nos interessa, tem que ser igual ou superior ao das melhores escolas. Temos os melhores professores da cidade, nossos concursos têm 55 candidatos por vaga. Não há razão para não oferecer também o melhor ensino da cidade, ainda que seja sem ar condicionado em algumas salas de aula e sem quadra coberta. O foco tem que ser no aprendizado.


Por Reinaldo Azevedo






07/10/2013 às 1:34


Abaixo, há uma reportagem de Ana Clara Costa e Naiara Infante Bertão sobre a compra — eufemisticamente chamada de “fusão” — da “Oi” pela Portugal Telecom. Trata-se de uma crônica dos desastres promovidos pelo PT, que resolveu recorrer ao BNDES e aos fundos de pensão para definir alguns “gigantes” da economia brasileira que passariam a ser empresas globais. Além de desastrada, a operação é cara e ineficaz. Deu tudo errado. Keynes atribuía o empreendedorismo a decisões ancoradas em informações racionalmente colhidas, mas também ao “espírito animal” dos empresários — o que implica um grau de incerteza e de aposta no incerto, sem o qual nada acontece. No Brasil, nossos “animais” estão mais para capões enjaulados, que se alimentam avidamente da ração oferecida por braços do estado, como o BNDES e os fundos de pensão — no fim das contas, dinheiro público também.

Eu sei que o mercado todo está saudando a operação e compreendo os motivos. Também eu saúdo. Tudo o mais constante, no ritmo em que ia, a Oi acabaria, bem…, “fora de área”. Mas que fique claro: as fusões só estão acontecendo no setor porque Lula mudou por decreto a Lei Geral de Telecomunicações, que, na forma original, garantia a competição. E o então presidente o fez justamente para beneficiar a Oi, que conseguiu, assim, comprar a Brasil Telecom.

Há realmente uma grande diferença entre os modelos tucano e petista na telefonia: o primeiro quebrou o monopólio estatal e recebeu alguns bilhões do setor privado; o segundo elege alguns “vencedores”, promove uma reestatização branca e torra bilhões de dinheiro público. Leiam a reportagem da VEJA.com.
*
A chamada política das ‘campeãs nacionais’, criada há seis anos pelo governo Lula e executada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), encontra na Oi seu mais novo exemplo de fracasso. A fusão da operadora brasileira de telefonia com a Portugal Telecom, encarada pelo mercado como ‘venda’, deve se concretizar nos próximos meses e criar um gigante com receita da ordem de 40 bilhões de reais. Os investidores estão otimistas com a fusão, afinal, a entrada do capital português poderá ajudar a empresa a investir em infraestrutura e conquistar maior participação de mercado em telefonia móvel e em banda larga. “Para a Oi, é benéfico porque a empresa sai de uma situação de dívida altíssima para uma empresa com uma estrutura de capital bem melhor, além de fazer parte, agora, de um grupo internacional”, diz Pedro Galdi, da SLW Corretora. Contudo, a venda enterra, mais uma vez, o discurso do chamado “capitalismo de estado”, em que empresas são ‘turbinadas’ com dinheiro público para se tornarem multinacionais.

Essa política previa que o estado investisse em alguns segmentos do setor privado por meio do BNDES (comprando participação ou emprestando dinheiro com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro), com o objetivo de criar empresas brasileiras fortes para competir no mercado global. O banco injetou cerca de 20 bilhões de reais em companhias como JBS, Marfrig, Lácteos Brasil (LBR), Oi e Fibria. O resultado, seis anos depois, não é nada animador: LBR pediu recuperação judicial, Marfrig teve de vender a Seara para a JBS para reduzir seu endividamento, enquanto a empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista, apesar de em melhor saúde financeira que a concorrente, também sofre para reduzir as dívidas adquiridas ao longo de seu processo de expansão.

A Oi é um caso de fracasso à parte não só porque envolveu a participação maciça do BNDES. Sua própria constituição foi um exemplo de intervencionismo — e a venda para os portugueses evidencia o plano equivocado. Em 2008, o governo mobilizou todos os seus esforços sob o comando do próprio Lula, da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do ministro das Comunicações, Hélio Costa, para mudar a legislação e permitir que a Oi comprasse a Brasil Telecom.

O negócio, visto como prejudicial para os acionistas minoritários porque diluía sua participação e porque eles tampouco concordavam com o preço (5,8 bilhões de reais), foi viabilizado depois de um lobby ostensivo que contou até mesmo com um decreto do presidente mudando as regras do setor. Segundo a legislação da época, um mesmo controlador não podia ser dono de duas concessionárias de telefonia fixa. O problema foi resolvido por meio de um decreto sem que o Congresso sequer participasse da decisão.

O argumento do governo era de que o país não podia deixar todas as suas empresas de telecomunicações nas “mãos de estrangeiros”. E, como a Brasil Telecom vinha sendo assediada por investidores de fora, como o bilionário egípcio Naguib Sawiris, dono da Orascom, houve uma movimentação sem precedentes para que ela fosse adquirida pela Oi. “O discurso era claramente de que o Brasil tinha de preservar a soberania e não deixar um ativo tão importante nas mãos de um estrangeiro”, afirma um executivo que participou da negociação da Brasil Telecom, em condição de anonimato. O BNDES entrou na negociação financiando 2,6 bilhões de reais, enquanto 4,3 bilhões de reais foram aportados pelo Banco do Brasil. Os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, que já detinham participação na Brasil Telecom, passaram a ser donos de 34% das ações da nova empresa.

A história começou a mudar quando, em 2010, numa negociação entre três partes, a Portugal Telecom vendeu sua participação na Vivo para a Telefonica e entrou na Oi. “Quando isso aconteceu, todos esperavam que os portugueses assumissem o controle cedo ou tarde. Era apenas uma questão de tempo”, afirma outra fonte próxima da empresa, que preferiu não ter seu nome citado. Assim, o anúncio da fusão apenas costura o desfecho de uma estratégia que começou errada e, no lugar de criar uma grande multinacional, deu origem a uma tele ineficiente financiada pelo capital do BNDES. “A Oi receberá um novo aporte de 7 bilhões que ajudará a companhia a aumentar investimento e reduzir dívida. Contudo, o aporte não resolve todos os problemas da empresa. Ela precisará montar um plano para reduzi-la”, afirma Arthur Barrionuevo Filho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O negócio entre Oi e Portugal Telecom ainda não foi assinado, mas foi chancelado pelo governo e pelo BNDES. Em um ‘mundo perfeito’, essa chancela poderia ser compreendida como um reconhecimento, por parte do PT, de que a estratégia de interferir de forma tão contundente no setor privado não poderia render boa coisa. Mas a realidade é bem outra. O governo continua valendo-se do discurso da soberania, mas com outro objetivo — até mais danoso. Ao tentar forçar empresas estrangeiras de tecnologia, por meio do marco civil, a montar seus datacenters no Brasil, numa ingênua tentativa de ‘espantar’ a espionagem internacional, ele mostra ainda não ter aprendido com certos erros do passado.
Por Reinaldo Azevedo

Tags: Oi, telefonia





06/10/2013 às 17:09


Você tem alguma dúvida, leitor amigo, sobre a existência de um excesso de recursos na Justiça brasileira? Hesita em considerar que o sistema brasileiro, na prática, existe para não funcionar? Chegou, alguma vez, a achar que há gente no Brasil chamando IMPUNIDADE de GARANTISMO? Então, como naquele bordão das Organizações Tabajara, do Casseta & Planeta, “seus problemas acabaram”. Já dá para ter certezas:
– há um excesso de recursos na Justiça brasileira;
– o sistema existe para não funcionar;
– estão chamando IMPUNIDADE de GARANTISMO.

Temo cobrar uma opinião de alguns ministros do Supremo e ouvir que assim é desde as Ordenações Filipinas — alguns preferem citar as Manuelinas, como se a impunidade, por aqui, fosse uma determinação da história… Sob o pretexto de coibir a sanha punitiva do estado, como se a justiça penal fosse o território privilegiado do debate sobre direitos individuais (é claro que ela tem de respeitá-los, mas sem abrir mão de punir culpados e desagravar agravados), beneficiam-se larápios. Até parece que, em Banânia, as garantias individuais não podem conviver com a celeridade da Justiça. Por que isso tudo?

Vocês se lembram do caso Silveirinha? Se não lembram, a memória lhes será refrescada daqui a pouco. Em síntese, é o seguinte. Descobriu-se que um gangue de fiscais havia lesado os cofres públicos em muitos milhões de dólares. A grana era enviada para a Suíça. Isso tudo faz dez anos. DEZ ANOS!!! Os operadores de bancos suíços que participaram da fraude já foram punidos com cadeia. JÁ CUMPRIRAM PENA. Os brasileiros ainda estão por aí, à solta. O PROCESSO SE ARRASTA DO STJ. Sabem o que pode acontecer?

A Justiça suíça retém naquele país US$ 28 milhões, frutos da falcatrua. Agora deu um alerta: se nada acontecer com os acusados brasileiros, vai ter de liberar a dinheirama. Não pode retê-la por mais de dez anos. Eles não compreendem por lá por que, até agora, o processo no Brasil continua em curso. EU ESCREVO DE NOVO: os suíços que ajudaram a esconder a grana roubada pelos larápios brasileiros já cumpriram suas respectivas penas; o Brasil, que foi roubado, até agora, não conseguiu punir seus culpados. Por conta dessa desídia legal, os que mandaram dinheiro para fora do país de forma ilegal podem ser premiados agora com a liberação da bufunfa. A história está contada em reportagem de Josette Goulart e Jamil Chade, no Estadão deste domingo. Reproduzo trecho. Volto em seguida.
*
A lentidão da Justiça brasileira pode fazer com que cerca US$ 28 milhões que estão bloqueados na Suíça acabem retornando aos bolsos de condenados por corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha no caso que ficou conhecido como “propinoduto”, que envolvia fiscais das receitas federal e estadual do Rio de Janeiro, entre eles Rodrigo Silveirinha — ligado aos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho.

As autoridades suíças enviaram um ofício ao governo brasileiro, datado de 17 de maio deste ano, cobrando uma definição do caso, que já dura uma década. Alertaram que, pela lei suíça, esse é o prazo limite para reter o dinheiro no país e que sem uma decisão final da Justiça terão de liberar os recursos para saque dos donos originais das contas bancárias.

O Ministério da Justiça repassou o alerta ao Ministério Público Federal que, na semana passada, ingressou com um pedido de “prioridade de julgamento” do recurso. Há quatro anos, o processo vai de um gabinete a outro no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sem que seja apreciado. Já passou pela mão de cinco diferentes relatores, sendo que o último, a ministra Assusete Magalhães, está com o caso há apenas dois meses. Mesmo que seja julgado imediatamente pela turma da qual faz parte a ministra relatora, os quase 70 volumes terão ainda de passar pela análise dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Em Berna, fontes no governo suíço admitem que não entendem a demora da Justiça brasileira. Em Brasília, os procuradores se sentem frustrados, mas não falam oficialmente do caso. O Ministério da Justiça não deu qualquer posicionamento à reportagem. Já o STJ, questionado institucionalmente sobre a demora dos processos que chegam à casa, não fez qualquer comentário.

Condenações
O caso é emblemático pois todos os acusados foram condenados em apenas seis meses pela Justiça Federal do Rio, ainda em 2003, quando a denúncia foi apresentada à Justiça. Quatro anos depois, mesmo com todo o questionamento em torno da legalidade do julgamento da primeira instância (por ter sido tão rápido), todos os acusados foram novamente condenados no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. Boa parte deles com penas ainda maiores do que as originais.

Os recursos aos tribunais levaram quase dois anos para serem admitidos, mas em 2009 chegaram ao STJ. Foi nesta época que o então ministro da Justiça, Tarso Genro, chegou a comemorar o sinal verde dos suíços e emitiu um comunicado de imprensa para anunciar que os recursos seriam devolvidos. Contudo, meses depois, nenhum centavo entrou nas contas brasileiras porque a sinalização da Suíça era na expectativa de que o caso fosse julgado rapidamente no Superior Tribunal de Justiça. Em 2010, mais uma ação do governo foi conduzida. Mas sem resultado.

Prisão. A ironia, segundo o Departamento da Justiça suíço, é que o caso ganhou contornos impensáveis e levou a prisões também naquele país. Cinco banqueiros foram condenados por lavagem de dinheiro, numa ação contra os bancos que há décadas não se via na Suíça. O processo ainda confirmou o envolvimento de um banco suíço diretamente com esquemas de corrupção no Brasil, uma alegação que os tradicionais estabelecimentos suíços sempre se negaram a confirmar. Os banqueiros pegaram entre 405 e 486 dias de prisão, além de multas que variam entre US$ 12 mil e US$ 59 mil.

Todos, porém, já cumpriram suas penas e, nem assim, o processo acabou no Brasil. Essa não é a primeira vez que a demora da Justiça brasileira ameaça derrubar todo um processo de investigação e bloqueio de recursos.
(…)

Encerro
Quem se atreve a defender nosso “modelo”? Já sei: “Desde as Ordenações Manuelinas..”


Por Reinaldo Azevedo

Tags: Justiça





05/10/2013 às 21:01


Leia primeiro post anterior - MARINA-CAMPOS 1 – Líder da Rede acerta ao acusar ‘chavismo’ do PT e põe fim ao esforço de Lula para eliminar uma terceira força da disputa de 2014

O governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem, como afirmo no texto 1, bom trânsito na imprensa e no empresariado. O mesmo se pode dizer de Marina. Ele conta com uma estrutura partidária sólida; ela, com uma fatia muito entusiasmada do eleitorado que dificilmente se deixaria atrair pelo PSB não fosse essa composição. Os partidários da Rede estão ressentidos. Atribuem a maquinações do Planalto, o que nem me parece provável, a rejeição ao registro da Rede. O governador sabe que o petismo está criando dificuldades as mais diversas para que se organize. É, por exemplo, o sujeito oculto a ditar o texto dos irmãos Gomes (Cid e Ciro), do Ceará, que agora tratam como inimigo o ex-aliado. Marina está furiosa, e com razão, com o processo de demonização de que está sendo vítima nas redes sociais e naquela área suja, financiada por estatais e por gestões petistas, que se confunde com a imprensa. A máquina fascistoide do PT não perdoa adversários nem ex-aliados. Se preciso, atira para matar a reputação de seus alvos. Tudo isso conferiu à solenidade da tarde deste sábado um certo caráter, não sem justeza, de resistência democrática.

Mas as dificuldades para que essa união seja bem-sucedida, convém a gente não se enganar, são gigantescas. A primeira e mais evidente delas diz respeito às parcerias para o horário eleitoral gratuito. Em 2010, é verdade, mesmo sem a tal “Rede” formada, Marina conseguiu 20 milhões de votos no primeiro turno com apenas alguns segundos na TV. Desta feita, em tese ao menos, está em situação melhor, mesmo sem partido: o espírito das ruas lhe é favorável ela tem sua própria legenda. O PSB, igualmente tem uma máquina considerável. Mas essa aliança que agora se faz vai se coligar com quem?

Vamos ver como ficará o PSB ao fim do indecoroso troca-troca partidário que está em curso. Marina filia-se pro-tempore ao partido, mas não agrega tempo de TV. Seis deputados do PSB se mudaram para o tal PROS, a legenda-ônibus do governismo (quatro deles, do Ceará, acompanham os irmãos Gomes). Quantos o partido de Campos ganhará? A legislação não abre janela para a migração para partidos já formados — o migrante pode alegar incompatibilidade com os caminhos adotados pela legenda, mas é terreno pedregoso. O risco da perda de mandato existe. Sem mudança nenhuma, o PSB teria coisa de 1min15s. Campos tem dito a interlocutores que precisaria fazer uma aliança que contasse com pelos menos 100 deputados federais, o que lhe daria 3 minutos no horário eleitoral. Hoje, essa tarefa parece impossível. Isso implicaria atrair mais ou menos uns 80. Não vejo onde há legenda para tantos parlamentares.

Durante uma parte da trajetória, o PSD de Gilberto Kassab caminhou em parceria com o PSB. A relação é cordial e coisa e tal. Mas não há a menos possibilidade de aquele partido fechar com Campos. Está 100% compromissado com a candidatura de Dilma Rousseff. O ex-prefeito de São Paulo só toma decisões importantes depois de conversar com a presidente. É uma espécie de PMDB menor e mais fiel. O Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, a menos que faça da traição a sua divisa, está compromissado com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que não mediu esforços para tornar viável o partido — e todos sabem disso. Há uma possibilidade de Aliança Campos-Marina contar com o apoio do PPS, aguerrido, sim, mas pequeno. Ganharia alguns segundos a mais de TV.

É claro que a união de agora dá um ânimo novo ao PSB, mas é certo que o governo não ficará dormindo no ponto. Tentará, por todos os meios, matar a candidatura de Campos (Marina) de inanição televisiva.

As alianças
O governador Eduardo Campos já avançou bastante nas alianças regionais. Em quase todos os estados, esses partidos são, na geografia convencional, mais “conservadores” do que o próprio PSB. Nesse caso, o que fará Marina Silva? Como atuará a Rede? Essa pergunta lhe foi feita na coletiva deste sábado. Marina falou que a aliança conserva a independência dos partidos. Em tese, parece coisa tranquila. Na prática, pode ser complicado. Os dois apareceriam, por exemplo, juntos na campanha nacional, mas separados nas regionais?

Será preciso ter habilidade, também, para distribuir as vagas na disputa proporcional. Os “marineiros” exigirão a sua cota em cada estado — para que possam depois migrar para a sua real legenda. A chance de haver curto-circuito nessa relação é grande. Em São Paulo, o PSB, caso não mude de rota, vai se aliar ao governador Geraldo Alckmin. Há até a chance de ter um lugar de vice na chapa. Os marino-peessebisas do estado vão aderir à campanha do seu partido oficial ou terão licença até para combater a candidatura e aderir a uma outra se acharem melhor? Embora o PSD vá apoiar Dilma Rousseff na disputa nacional, em Santa Catarina, o partido ficará com Eduardo Campos. O provável candidato da legenda ao governo do estado é o deputado Paulo Bornhausen, filho de Jorge, ex-presidente do ex-PFL. O que fariam os marineiros?

Notem: a aliança anunciada neste sábado, como já escrevi, tem o charme da “resistência”, mas, por isso mesmo, tem a marca do artificialismo. Não será nada fácil torná-la operacional no dia a dia da campanha.
Por Reinaldo Azevedo






05/10/2013 às 19:38


Comecemos pela maior de todas as evidências: a entrada de Marina Silva no PSB, ainda que pro-tempore, demonstra como estavam errados, na situação e na oposição, os que tentaram definir os times dois anos antes do jogo. A observação vale para Lula e para FHC, para citar os respectivos técnicos do PT e do PSDB. ATENÇÃO! Estamos, neste sábado, a exato um ano do primeiro turno, marcado para o dia 5 de outubro de 2014. E se deu, desde que se fala no assunto, o fato mais importante do processo. Marina acaba de se filiar formalmente ao partido liderado por Eduardo Campos — segundo ela, trata-se do “Plano C” (“C” de Campos, entenderam?). Organizou-se, para tanto, uma cerimônia em que ambos discursaram. Se o observador se deixa levar pelo calor da hora, acaba concluindo que teve início uma marcha cujo desfecho é o triunfo. A tarefa é bem mais difícil do que parece. Chegarei lá em outro post. Destaco, como segundo dado relevantíssimo, uma crítica que Marina fez ao PT. Que dimensão ela vai tomar? É o que veremos no decorrer dos meses.

Na conversa que manteve com seus pares para tomar uma decisão, a ex-senadora, segundo revelaram interlocutores seus à imprensa, teria afirmado:
“Eu fiz esse acerto com o Eduardo Campos porque chegou a um ponto que eu não tinha outra alternativa. E o PSB é um partido sério. A minha briga, neste momento, não é para ser presidente da República; é contra o PT e o chavismo que se instalou no Brasil”.

Se Marina disse mesmo isso — e tudo indica que sim, porque as fontes variam, com conteúdo muito parecido —, então, pela primeira vez, eu a aplaudo. Eu, que não gosto das imprecisões de seus discursos, que considero que ela tem um pé no messianismo, que rejeito certas concepções de política que me parecem um tanto delirantes, afirmo: ela está certa ao apontar as tentações chavistas do petismo. Marina também teria dito que o PT tem mais de dois mil militantes espalhados na rede para desmoralizá-la.

É verdadeira a existência dessa máquina maligna, mas Marina não é seu único alvo. Qualquer força política que tenha a coragem de expressar um pensamento que o partido, ou seus esbirros, considerem contrários a seus interesses, passa a ser alvo dos ataques mais sórdidos: políticos de oposição, imprensa em geral e alguns jornalistas em particular. Nada escapa. A máquina de difamação dolosa, financiada por estatais e por gestões petistas, expressa o auge dos delírios totalitários do partido. Se uma das motivações de Marina para se juntar temporariamente ao PSB é a constatação de que é preciso vencer esse esquema criminoso, então a sua decisão tem o meu respeito e o meu apreço — ainda que eu não goste de quase nada do que ela diz, com especial ênfase para as suas preferências poéticas. Ocorre que a divergência sobre poesia é menos relevante do que as questões substanciais, e combater o chavismo petista é uma dessas questões substanciais.

Essa aliança, que ela chama programática — mas que é, no fundo, pragmática (já digo por quê) —, tem algumas implicações, que precisam ser pensadas.

1: Candidatura de Eduardo Campos ganha densidade
Parece evidente que, no terreno político ao menos — vamos ver como reagem os eleitores —, a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República ganha densidade política. Em muitos aspectos, Marina lhe fornece um conjunto de valores — coisa fundamental em política, como insisto há bem uns 20 anos — de que ele carecia. Embora o governador de Pernambuco tenha excelente trânsito na imprensa, circule com desenvoltura no mundo empresarial, lidere uma gestão muito bem avaliada em Pernambuco, eu não via, e ninguém via, por onde poderia excitar o imaginário do eleitorado. Dizer apenas que pode fazer melhor do que Dilma, que decide com mais desenvoltura, que é mais competente, bem, tudo isso, convenham, tinha muito pouco apelo.

2: Fratura do bloco hegemônico
Vocês sabem o que eu penso e o quanto lastimo a inexistência de um partido conservador forte no Brasil. Creio que está aí uma das raízes dos nossos desatinos. E esse partido inexiste justamente porque, exceção feita ao PT, as legendas brasileiras ou se perdem no administrativismo sem imaginação ou se entregam a miudezas fisiológicas — inclusive o PSB — sem apelar para conteúdos simbólicos, que marquem a adesão a uma visão de mundo. O PT comete, com ainda mais dedicação, garra e profissionalismo, todos os pecados da política, mas não se descuida dessa mística. Marina é uma liderança que se desgarrou do PT e que sabe operar essa tal esfera dos valores. Tanto é assim que a Rede, do ponto de vista ideológico, é um saco de gatos de várias cores, mas tem essa sacerdotisa que os une. Marina agrega à candidatura de Eduardo Campos um universo simbólico que, até havia pouco, ela não tinha.

Ora, pensemos um pouco: a ex-senadora vem do petismo; Campos, ele próprio, é uma das forças que se agregaram ao projeto petista. O que a eleição de 2014 pode trazer de inequivocamente novo é o racha do atual bloco hegemônico. Um pedaço dele — a frente ampla de esquerda que se formou em 2002, com agregados da direita — se descola da nave-mãe para buscar um voo solo. Se pensarem bem, a última vez em que se deu algo parecido no Brasil foi em 2002, quando o PFL resolveu se divorciar do PSDB. Todos saíram perdendo, muito especialmente o PFL, que, hoje com outro nome, beira a extinção — não só por aquilo, claro, mas foi o ato inicial.

Neste blog, não é a primeira vez que trato da questão. No dia 25 de fevereiro,escrevi aqui:

“Não são poucos os analistas que entendem que o petismo tomou de tal sorte conta da agenda política e construiu tal hegemonia que só será apeado do poder se o bloco hegemônico que lidera for fraturado. Cumpre lembrar que esse foi o episódio inaugural da derrota do PSDB em 2002: o fim da aliança com o PFL. Não estou escrevendo que tal episódio, sozinho, determinou a derrota. O fato é que as coisas começaram a desandar ali…”

3: Campos se fortalece, mas, curiosamente, aumenta o raio de manobra para não disputar
É preciso ver o que está em curso sem algumas travas do convencionalismo. No discurso na tarde deste sábado, Marina foi muito enfática ao afirmar que estava aderindo, por razões estratégicas, ao “Plano C” (Plano Campos). A candidatura do governador, afirmou ela, está posta. Assim, reitere-se, é óbvio que o governador sai fortalecido.

Mas não é menos evidente que falta muito tempo até a eleição. Vamos ver o que vai acontecer, como vão se mover as pesquisas. Noticiou-se que Marina estava indo para o PSB para ser vice na chapa, o que ninguém quis confirmar na solenidade, seguida de entrevista coletiva, neste sábado. O próprio Campos deixou a coisa em aberto — as definições ficam para mais tarde. Ora, quem tem a máquina do PSB nas mãos é ele, não ela. Logo, será candidato se quiser.

Mas digamos que se chegue a junho do ano que vem — vejam quanto tempo falta para a disputa e o quanto erraram PT e PSDB até aqui —, e as pesquisas insistam em apontar Marina com algo na casa dos 20 e poucos por cento dos votos, em segundo lugar, e Campos ali pelos 5% a 7%. A depender da conjuntura, uma Marina titular da candidatura pode ser a diferença entre haver e não haver segundo turno… Vênia máxima ao que parece óbvio, é evidente que o fortalecimento da candidatura de Campos convive perfeitamente bem com a ampliação, por contraste, da possibilidade de que ele não se candidate. Antes de Marina, ele estava entre duas alternativas:
a) candidatar-se mesmo nas circunstâncias mais adversas;
b) recuar, desmoralizando-se.
Agora, ele ganhou uma “Alternativa m”:
a) candidatar-se, mesmo nas circunstâncias mais adversas;
m) abrir mão em favor de Marina, em nome do segundo turno, guardando-se para 2018.

O mais provável é que se candidate, sim, mas não dá para ignorar que tem mais espaço para não disputar, com saída mais do que honrosa — o que antes não existia.

4: Para Dilma, essa união é boa ou ruim?
É evidente que é ruim. Os petistas saudaram entusiasmadamente o “não” do TSE ao partido Rede. Não partilho da ideia de que tenha havido alguma conspiração, mas é certo que os petistas gostaram daquele 6 a 1 no tribunal. Lula vinha atuando freneticamente para impedir também a candidatura Campos. O PT sonhava com a realização de um segundo turno já no primeiro. Num dado momento de sua fala na tarde deste sábado, Campos deu a entender que essa união com Marina acontece num momento em que ele próprio parecia um tanto desanimado. Assim, uma coisa é certa: a adesão de Marina ao PSB elimina uma dúvida do cenário: um dos dois será candidato. Já não há o que Lula possa fazer. Salvo um rompimento da aliança PSB-Rede — e creio que os dois lados serão espertos o bastante para evitá-lo —, já não há o que discutir: haverá, no mínimo, uma candidatura do PT, uma candidatura da oposição e uma candidatura do que Marina chama “posição”: ex-governistas tentando construir uma alternativa.

5: Para Aécio Neves, essa união é boa ou ruim? E para a oposição?
Para a oposição ao petismo (e à sua hegemonia autoritária), é certo que a união Marina-Campos é positiva — como seria, aliás, a eventual saída de José Serra do PSDB para disputar a eleição. Por quê? O argumento é aritmético antes de mais nada. Quando o partido do poder, que manipula uma habilíssima e maligna máquina de propaganda, joga todas as fichas na polarização, fragmentar a disputa é a forma mais inteligente de enfrentar o seu jogo. “Ora, se é bom para a oposição, então também é bom para Aécio, que é da oposição, certo?”

Errado! É um silogismo sem fundamento na realidade porque, nesse caso, desconsidera-se que, no terreno oposicionista, existe também uma disputa e que é preciso chegar em segundo lugar ao menos para ter direito à segunda rodada. Não estou aqui antevendo, de modo nenhum, que a dupla Campos-Marina se consolide em segundo lugar qualquer que seja a composição, mas é evidente que, em tese ao menos, essa possibilidade ganhou corpo.

6: Solenidade em favor da terceira via
É certo que, na solenidade deste sábado, quem mais apanhou foi o governo, foi o petismo em particular. Mais de uma vez, quando Marina e Campos se referiram a um tal “eles”, falavam de um sujeito oculto bastante conhecido. Mas a candidatura do PSDB também esteve na mira. A líder da Rede voltou a criticar a tal “oposição por oposição” e “situação por situação” (análise que considero besta, mas vá lá). O governador contestou o que chamou de “falsa polarização”.

Ainda que o PSB e o PSDB tenham feito uma espécie de pacto de não agressão, a dupla Campos-Marina, a partir deste sábado, convida, oficialmente, o eleitorado a dizer “não” tanto ao candidato do PSDB como à candidata do PT. De resto, é preciso convir que essas forças egressas do governismo conseguiram organizar um ato mais eloquentemente oposicionista do que conseguiu o PSDB nos últimos três anos. Assim, se Dilma não tem motivos para demonstrar satisfação, o mesmo se diga de Aécio, hoje considerado o candidato certo dos tucanos.

Ainda voltarei ao tema. A despeito da energia mobilizada neste sábado e da grandiloquência dos oradores, as dificuldades são imensas, bem maiores do que o entusiasmo dos protagonistas sugeria. De toda sorte, resta da união anunciada neste sábado uma crítica bastante dura ao autoritarismo do PT e do governo. E isso, numa democracia, é sempre saudável.
Por Reinaldo Azevedo






05/10/2013 às 17:02


,,, estou acompanhando a cerimônia de filiação de Marina Silva ao PSB. Ela já discursou. Fala agora o governador Eduardo Campos (PE). Escreverei sobe isso também.
Por Reinaldo Azevedo






05/10/2013 às 15:26


… o significado e as consequências da decisão de Marina Silva.
Por Reinaldo Azevedo






05/10/2013 às 12:22


Na VEJA.com, de Laryssa Borges, de Brasília, e Otávio Cabral

Cortejada por pelo menos sete partidos políticos por ter um capital eleitoral próximo de 20 milhões de votos, a ex-senadora Marina Silva decidiu se filiar ao PSB. O governador de Pernambuco e presidente nacional da legenda, Eduardo Campos, desembarcou em Brasília ainda nesta sexta-feira para costurar os detalhes finais da filiação. Na manhã deste sábado, outros caciques do partido chegaram à capital para discutir os termos da entrada de Marina no bloco socialista. A ideia é que a ex-senadora componha a chapa de Eduardo Campos como candidata a vice-presidente.

Entre os próprios pessebistas, a ideia era de que Marina Silva pudesse ser anunciada como nova filiada à sigla ainda nesta sexta-feira, mas a presidenciável preferiu conversar com outras legendas que também lhe ofereceram espaço para justificar e agradecer os convites. Neste sábado, Marina e apoiadores do Rede Sustentabilidade estão reunidos com o presidente do PPS, Roberto Freire. (…)
Por Reinaldo Azevedo





05/10/2013 às 2:33


Eu estava certo. Escrevi aqui nesta sexta que Marina Silva dava pistas de que estava articulando a sua candidatura. Um pequeno fragmento de sua fala sugeria isso: afirmou que o que definiria a sua escolha seria a necessidade de romper com a lógica da “oposição pela oposição” e da “situação pela situação”. Isso, de fato, não existe, mas eis Marina. De resto, não haveria por que adiar em um dia a decisão se estivesse mesmo determinada a não disputar.

O grupo de Marina debate com dirigentes do PPS na manhã deste sábado, em Brasília, a possibilidade de ela se candidatar à Presidência pelo partido. A ser como noticia o Estadão, em reportagem de Andreza Matais e Eduardo Bresciani, os dois grupos podem protagonizar cenas explícitas de surrealismo político. Não creio que haja erro de apuração, não. A turma da Rede é, sim, capaz de pensar coisas exóticas. A questão é saber se o PPS, que é pequeno, mas dotado de grande valentia, vai se submeter. O que se noticia caracteriza o que seria uma espécie de invasão. Vamos ver.

1 – Vice-presidência do PPS e candidatura avulsa
O grupo acha que Marina tem de ser a vice-presidente do partido — ao menos, entendo, pelo tempo que durar o concubinato. Marina seria a candidata do partido, mas o PPS não teria nenhuma ingerência na campanha. Ela teria autonomia para tomar as decisões.

2 – Empresários que estão no “projeto” querem candidatura
Marina, como a gente sabe, se apresenta como a política mais independente do Brasil, mas ela é deste planeta, não de outro (ainda que alguns duvidem disso). A reportagem diz que o vereador empresário Ricardo Young, do PPS de São Paulo, fez chegar a ela a informação de que o, digamos, núcleo empresarial da Rede quer a candidatura por outra sigla. Pensam assim, além de Young, Guilherme Leal, da Natura, e executivos do Banco Itaú. Informa a reportagem: “Foi dito a ela que não seria possível abandonar um projeto que contou com tantos apoios, inclusive financeiro, na sua trajetória para criar a Rede.” Entendi.

3 – Marina se convenceu, mas decidiu esperar
Marina teria se deixado convencer por esse forte argumento — o empresarial. Adiou a decisão porque preferiu escolher antes a legenda. Essa mesma turma do núcleo financeiro teria recomendado o PPS porque considera o partido programático e estruturado.

4 – Rede dividida entre “sonháticos” e pragmáticos
Houve mais motivos para hesitação: os marineiros mesmo, os de fé, são contra a candidatura por outra legenda. Além do núcleo financeiro, políticos profissionais, oriundos de outros partidos, querem a candidatura — afinal, eles próprios podem ficar em situação difícil. Está nesse grupo Alfredo Sirkis (PV), Miro Teixeira (ex-PDT) e Walter Feldman (ex-PSDB). Ocorre que o que confere mística à Rede é essa outra militância.

5 – Um tal “consenso progressivo”
A reportagem do Estadão traz informações interessantes sobre métodos de consulta e decisão. A Rede adotou um tal “consenso progressivo”: as decisões têm de ser tomadas por consenso. E como se faz isso? Ora, debatendo, debatendo, debatendo e… debatendo mais um pouco. A reunião na madrugada de quinta para sexta para decidir que rumo tomar levou… seis horas. Isso me cheira é a método de tortura. Marineiros espalhados Brasil afora foram ouvidos por videoconferência. Parece que a maioria não quer a candidatura. Foi nessa reunião que Sirkis se desentendeu com Marina, o que o levou a escrever umdesabafo. Marina chama isso de “manejo sustentável de ideias”. Bacana… Caso se eleja presidente, espero que aprenda a tomar decisões por maioria…

Será assim mesmo?
Não duvido da apuração, reitero. Acho que parte da Rede realmente gostaria que fosse assim. Estranho é que o PPS possa aceitar a combinação se for como se informa. A mim me parece que o deputado Roberto Freire (SP), que preside o partido, preferiria continuar a ser o “Freire do PPS” a ser o rei da Inglaterra, ainda que lhe fosse oferecido o trono. Segundo reportagem da Folha deste sábado, o próprio Freire ofereceu a candidatura avulsa a Marina. Se é assim, então ele aceita ser rainha da Inglaterra no PPS mesmo. Pergunta óbvia: isso é “nova política”?

De resto, há outras questões delicadas. Como seriam distribuídas as vagas para a disputa pela Câmara? Um pouco para cada grupo? Tão logo a Rede obtenha registro, o PPS se dilui na nova sigla? Mantém a sua identidade? Nessa segunda hipótese, suponho que os eventuais deputados marineiros migrariam depois para a Rede.

Sem uma perspectiva de fusão posterior, que sentido isso faria para o PPS? Não tenho a menor ideia. Fico cá a pensar: Marina Silva e Roberto Freire numa única legenda só aumentaria a espantosa diversidade ideológica existente já hoje. Considerando que o método de decisão é o tal “consenso progressivo”, uma decisão por lá poderia ser mais longa do que o Concílio de Trento, que durou de 1545 a 1563…
Por Reinaldo Azevedo






04/10/2013 às 22:29


Lula estabeleceu um objetivo em São Paulo: “encontrar um vice de direita” para Alexandre Padilha. Ele quer ganhar a simpatia daquilo que Marilena Chaui, a iluminada, chama o “reacionarismo” de São Paulo e vencer os supostos preconceitos da classe média paulista, que ela, como se sabe “ODEIA” (é preciso ler essa palavra com os olhos arregalados e os cabelos desgrenhados). O chefão petista sempre foi sinceramente grato a José Alencar por ter aceitado ser seu vice, o que contribuiu para esmaecer a imagem de radicalismo que ele próprio e seu partido carregavam. E, com efeito, Alencar foi um vice leal — à parte suas divergências com as políticas monetária e cambial; críticas que, de resto, encontravam eco nos setores mais à esquerda do PT. Se Paulo Skaf, presidente na Fiesp, hoje no PMDB, aceitasse a incumbência, tudo estaria resolvido. Mas ele não aceita. Nas pesquisas de opinião que andam por aí, apenas para o consumo daqueles que as encomendam, Skaf aparece em segundo lugar, bem atrás de Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre à reeleição, mas muito à frente de Padilha (no geral, o triplo).

O nome da hora, para Lula, no qual ele investe suas fichas, é Maurílio Biagi Filho, presidente do grupo Maubisa e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Segundo informa a Folha, Biagi se filiou ao PR, partido que integra a base de apoio da presidente Dilma e que deve marchar com Padilha no ano que vem. A Maubisa atua no agronegócio, gestão imobiliária, gestão de investimentos e novos negócios, segundo informa a sua página na Internet. Biagi confirma a sondagem, mas diz que ainda não tomou sua decisão.

Huuummm… Cada um faça o que quiser da sua vida política e da sua biografia. Sempre acho engraçado quando políticos ou empresários do, como chamarei?, campo conservador (ou mais à direita do PT) se juntam ao petismo. Costumam ser movidos pela vã ilusão de que, uma vez lá dentro, caso a empreitada dê certo, consigam “fazer alguma coisa”, como se o petismo fosse capaz de dividir o poder ou de dividir o protagonismo.

Peguem o caso de Ciro Gomes, coitado! Ligou-se a Lula quando era uma figura de dimensão nacional e está terminando seus dias num troço chamado “PROS”. Continua a ser a língua mais rápida do Nordeste, mas a gente poderia perguntar: “Pra quê?”. E a resposta seria: “Pra nada!”. Chegou a passar o ridículo de mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo na vã esperança de que o os petistas pudessem apoiá-lo na disputa pela Prefeitura. O próprio Eduardo Campos teria sido engolido se não tivesse despertado a tempo. Mesmo assim, não custa notar, se não procurar algum espaço mais próximo à oposição, não lhe resta nada.

“Deu certo com José Alencar”, poderia dizer alguém. É? Eu tinha até simpatia por Alencar, mas cabe perguntar: o que ele conseguiu efetivamente fazer no governo? Além de sua amizade com Lula, restou o quê?

Se esses exemplos não bastassem, vamos para o caso em espécie: um empresário. Jorge Gerdau foi nomeado por Dilma o comandante da Câmara de Gestão e Planejamento do Governo Federal, um órgão de assessoramento direto da Presidência da República. No Fórum da Exame, ele deu uma nota para a governança no Brasil: entre 3 e 4. Não me parece que ele próprio esteja satisfeito com o espaço que tem para trabalhar.

Em Minas, a estratégia é a mesma. Josué Gomes, filho de Alencar, filiou-se ao PMDB. A expectativa é que seja vice do petista Fernando Pimentel. Lula tem dito que seria uma chapa imbatível. O sonho dourado do petismo, como se sabe, é conquistar São Paulo e bater Aécio Neves em seu território. Vamos ver.

O PT, como se sabe, não é exatamente hostil ao empresariado. Muito pelo contrário. Não custa lembrar na generosíssima Bolsa BNDES que vigora por aqui — ou da Bolsa Desoneração Fiscal etc. A única exigência é que o empresariado se subordine às teses do partido e lhe seja servil. Aí alguém poderia dizer: “Ah, melhor assim, né? Melhor o petismo cercado de empresários do que hostil a eles…”. Claro! A questão é saber se o modelo está dando certo. Um país que investe, no máximo, 18% do PIB e tem uma das cargas tributárias mais altas do planeta, com serviços pífios, fala por si.

Não conheço Biagi nem sei se ele está entre aqueles beneficiados por algum favor. Espero que não. Mas isso, para o caso de que trato aqui, é irrelevante. O fato é que o petismo busca esses representantes do capital produtivo para lhe servir de esbirro só como um tributo que o vício presta à virtude. Digamos que tudo dê certo pra eles; digamos que Biagi seja vice de Padilha e que o petista seja eleito. Espero que o empresário não tenha a ambição de que possa, algum dia, ser o titular em alguma disputa relevante. Não com essa turma ao menos. Afinal, não custa lembrar que nem mesmo Dilma é vista como uma petista autêntica por parte considerável dos “companheiros”. Falta-lhe a “pureza” de origem. Para muitos, ela não passa de uma brizolista infiltrada.

Para encerrar: Maurílio Biagi é mesmo “de direita”? Não se tem notícia. Mas assim é o mundo na fantasia petista. Biagi serve basicamente a um propósito: quando alguém lembrar que o PT é a principal fonte alimentadora das loucuras do MST, os companheiros então dirão: “Vejam aqui: o nosso vice é um grande empresário do agronegócio”.
Por Reinaldo Azevedo






04/10/2013 às 20:30


Escrevi na manhã desta sexta um post sobre a decisão absurda de um juiz em São Paulo que se negou a conceder liminar de reintegração de posse à Reitoria da USP, cujo prédio foi invadido por um bando, que recorreu a marretas e pé-de-cabra. Segundo o doutor, a ação é semelhante a atos de “manifestação”. Ah, tá… Se os valentes estiverem reivindicando, estão vale tudo? Fim da picada.

Logo depois da recusa de concessão da liminar, aconteceu o quê? Invasão da Reitoria da Unicamp, também violenta, também com quebra-quebra. Nesse caso, no entanto, a a direção da universidade obteve uma decisão de bom senso da Justiça, que concedeu a liminar de reintegração de posse. Se necessário, o prédio será devolvido a seus legítimos usuários com o auxílio da Polícia Militar.

Assim, já está claro que os invasores são usurpadores de um direito; estão agredindo garantias estabelecidas em lei. A direção da Unicamp, no entanto, fez uma escolha prudente. Considerando que o uso da força, ainda que legal e legítimo no caso, nunca é coisa muito bonita de se ver, está chamando os invasores para uma conversa. Se vai dar certo, bem, isso eu não sei. Esses malucos sempre lucram com o conflito. Está cheio de Mafaldinhas & Remelentos por lá querendo bancar os heróis da luta contra… Bem, só se for da luta contra a democracia. Invadi prédios públicos e tomei borrachada. Não me orgulho da coisa em si. Mas, ao menos, lutávamos contra uma ditadura de fato.

Se as partes em conflito querem negociar, não será um braço do Estado, a Justiça, a impedi-las. O que é inaceitável é que essa mesma Justiça reconheça, na prática, como aconteceu no caso da USP, uma espécie de direito prévio à invasão em nome do “direito à manifestação”.


Por Reinaldo Azevedo






04/10/2013 às 19:48


Neste post, vocês assistirão a um vídeo em que a presidente Dilma faz digressões sobre a vaia. Antes, algumas considerações.

Não há mesmo jeito de eu e as esquerdas — ou isso que está aí e que chama a si mesmo de “esquerda” — nos entendermos. Paulo Bernardo, das Comunicações, está entre os ministros de Dilma que eu não vaiaria, embora existam discordâncias severas entre nós — ou ele não seria petista, e eu não pensaria o que penso do seu partido. No geral, no entanto, parece que ele tem uma atuação correta à frente do ministério. Não o vejo a promover chicanas ou a jogar palavras ao vento. Estaria aí a raiz da indisposição de certos setores da extrema esquerda e do petismo com ele? Não sei. Já percebi também que o JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista), financiado por estatais e por gestões petistas, não gosta dele. É que essa gente quer ainda mais dinheiro oficial para puxar o saco do governo e ofender seus desafetos. Além disso, baba vermelho, num antegozo, quando pensa no tal “controle da mídia”. Até onde sei, Bernardo não é um entusiasta da tese. Os fascistoides de esquerda, assim, o hostilizam. Adiante.

Dilma participou de uma solenidade na cidade de Campo Mourão, no Paraná, estado de origem de Bernardo. Quando a presidente anunciou o nome do ministro, um grupo de funcionários dos Correios o vaiou. Há uma greve parcial na estatal. Os líderes reivindicam um reajuste de 15%, mas a empresa diz que só pode conceder 8%. A representação sindical da categoria está tomada por partidecos como PSOL, PCO e outras minoridades barulhentas, mas que sempre custam caro.

Deu-se então o que segue. Assistiam ao vídeo.



Retomo
Não há dúvida de que esta Dilma que aí está exibe muito mais jogo de cintura do que aquela candidata que foi ao programa de Datena, lá no começo de 2010, e disse que sua santa de devoção era uma certa “Nossa Senhora de Forma Geral”, que é a padroeira dos candidatos que decidem virar papa-hóstia na boca-da-urna. Também não é aquela que, ao tentar explicar um apagão, “minha filha”, dava pito em repórter. Seu marqueteiro pode ficar orgulhoso. Ela própria deve estar feliz com o desempenho.

Não vejo nada de engraçado ou de simpático num evento dessa natureza. A governadora a que ela se refere é Rosalba Ciarlini (DEM), do Rio Grande do Norte. Escrevi a respeito. Nesta quarta, numa solenidade no Estado, Rosalba tentou falar. Foi vaiada por sete minutos. A presidente saiu em seu socorro e acabou vaiada também — mas só por isso. No mais, foi aplaudida.

Aos fazer o discurso que vocês veem acima, simpático só na aparência, Dilma, na prática, separa as pessoas em duas categorias: as “vaiáveis” e as “não-vaiáveis” . Ela própria, como se depreende, está no segundo grupo (mundo que deve ser habitado, também, por Lula). Os outros — e dane-se se isso inclui um ministro seu — estão sujeitos ao que ela chamou “direito de pleitear, de reivindicar”. Já escrevi aqui que, se eu fosse um político de oposição, jamais subiria num palanque com Lula ou com Dilma. Vejo agora que também não aceitaria ser ministro. Dilma deveria ter dito ao menos umas quatro ou cinco palavras em defesa de Bernardo. Nem que fosse para ser vaiada outra vez.

Não é que ela não conheça a estrepitosa manifestação hostil do público — e não de uma plateia formada de petistas e militantes de esquerda. Como esquecer o dia da abertura da Copa das Confederações, não é, soberana?



Ela poderia ter engatado esse discurso gracioso naquele dia. Não o fez. Virou a verdadeira “Dilma Bolada”. E faltou ao jogo de encerramento. Afinal, ela pertence ao mundo dos “não-vaiáveis”.
Por Reinaldo Azevedo








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-O coletivismo é a negação da liberdade, porquanto a sede da liberdade é o indivíduo. Tanto é que a pena mais severa na história da humanidade é a privação da liberdade. A essência da liberdade é una e indivisível e daí a designação do sujeito como "indivíduo".

Aluízio Amorim

Filósofa russa Ayn Rand :



“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”



Ayn Rand nasceu em São Petersburgo em 1905