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Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)
01/10/2013 às 6:09
LEIAM ABAIXO
— Haddad decide aumentar o IPTU. Ou: Vem por aí arranca-rabo de classes animado por Marilena Chaui…;
01/10/2013 às 5:43
Os ídolos de Caetano Veloso botaram para, literalmente, quebrar no Rio, nesta segunda. Já chego lá. Antes, algumas considerações.
A greve dos professores da rede municipal há muito ultrapassou o limite de qualquer racionalidade, de qualquer razoabilidade. Já não há mais estratégia de negociação, a não ser o “quanto pior, melhor”, que é o horizonte escatológico dos grupelhos de esquerda que aparelham sindicatos, especialmente o de algumas categorias ligadas ao serviço público. As entidades representativas de professores, Brasil afora, costumam ser porosas a esse tipo de militância. A categoria se considera, antes de mais nada, agente de “conscientização” — seja lá o que isso signifique. O resultado é um desastre, também educacional. Na capital fluminense, os grevistas se tornaram uma espécie de grupo de resistência daquele movimento “fora Cabral” — absurdo nos próprios termos e antidemocrático. Ele foi eleito. Não chegou ao poder por meio de um golpe. Tenho de lembrar aqui que, durante uns bons anos, fui dos poucos, pouquíssimos, na imprensa a criticar com dureza o governador do Rio, especialmente a sua política de segurança pública, que caiu nas graças de alguns deslumbrados — parte deles, diga-se, agora desama Cabral. Saiu de moda. Virou sapato velho. Mas o meu ponto agora é outro.
O pau comeu nesta segunda porque os black blocs, aqueles que, segundo Caetano Veloso (ele não vai se desculpar?), “fazem parte” (de quê, “velho baiano”?), resolveram ser o braço armado do protesto dos professores — na verdade, do grupo da viração composto de militantes do PSOL, do PSTU e do PT e que falam em nome da categoria. Cada um escreva o que bem entender. Eu leio o que está escrito e digo o que acho. O Globo Online publica uma reportagem espantosa a respeito. Depois que o jornal tornou público aquele mea-culpa sobre o apoio das Organizações Globo à ditadura militar, parece que até as fronteiras entre o legal e o ilegal, entre o violento e o pacífico, entre o certo e o errado se esvaneceram. Leio, por exemplo, o que segue (em vermelho). Prestem atenção ao que vai em destaque:
(…)
Policiais militares e cerca de 200 manifestantes entraram em confronto constantemente, provocando violência dos dois lados e depredação nas ruas e avenidas do entorno, começando os principais incidentes em torno das 20h30m na Avenida Rio Branco. Depois de participarem de um comício, um grupo de 300 pessoas saíram (sic) em passeata pela Rio Branco. Em frente ao Theatro Municipal, uma agência do banco Itaú teve vidraças quebradas, culminando no estopim (sic) para a confusão.
Os PMs correram para prender os manifestantes que apedrejaram o banco, mas foram cercados por uma multidão e foram impedidos. Houve uma briga generalizada, com militares usando cassetetes nos manifestantes, que revidaram com pedras, paus e socos. Pelo menos um manifestante foi preso durante o tumulto, e o Batalhão de Choque da PM na Avenida Rio Branco usou uma bomba de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que estavam na Avenida Almirante Barroso.
(…)
Comento
Então ficamos sabendo que houve “violência dos dois lados”. Que feio! Mas, segundo o texto, o que “culminou no estopim” foi a depredação de uma agência bancária. Posso estar errado, mas parece que a “violência dos dois lados” poderia ser mais bem traduzida assim: vândalos resolveram depredar patrimônio privado e público (como se verá), e a Polícia Militar teve de agir, cumprindo o seu papel. Apenas a ação dos depredadores merece ser classificada de “violência”; a polícia tentou foi impor a ordem — uma das razões por que é paga pelo contribuinte fluminense. Mais: ainda cumprindo a sua obrigação, os PMs seguiram no encalço dos vândalos, mas “foram cercados”, não é isso? Em nenhuma democracia do mundo, policiais são tratados desse modo sem reagir. Se acontece, então é porque se vive na anarquia. Não vou explicar aqui os motivos. Quem não souber a razão que vá cantar lá na freguesia do PSOL ou do PSTU. Policiais não “usam cassetetes em manifestantes”. Não sei que diabo é isso. Segundo o relato, eles estavam cercados, e isso quer dizer que poderiam até ser linchados. Assim, por óbvio, os ditos “manifestantes” não estavam “revidando com pedras, paus e socos”, mas atacando os policiais — se revide havia, era dos PMs.
Não estou pegando no pé dos repórteres que redigiram o texto, não! Ocorre que o que vai acima é menos do que um relato, do que uma reportagem, do que sinal do espírito do tempo. Há textos que estão escritos antes mesmo de os fatos acontecerem. Isso é cada vez mais presente na imprensa brasileira, onde a Polícia Militar costuma estar errada, muito especialmente quando está certa. Em que democracia do planeta policiais são cercados por uma multidão e atacados com paus e pedras sem que haja consequências funestas? A que propósito atende esse tipo de abordagem? Sigo com um pouco mais do texto do Globo Online.
Antes de dispersar, o grupo ateou fogo em sacos de lixo e houve focos de incêndio na esquina da Rua México com a Almirante Barroso, e também na Avenida Graça Aranha. Em seis caminhonetes, o Batalhão de Choque saiu em busca dos arruaceiros, no Centro da cidade. O Corpo de Bombeiros apagou os fogos em todos os sacos de lixo. Por volta das 21h15, policiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo e manifestantes correram na direção do Cine Odeon. Os PMs fizeram um cordão de contenção ao redor do prédio. Enquanto o comércio era fechado, quem estava nos bares e no Odeon gritava palavras de ordem e chamavam os policiais no local de covardes. A partir das 22h, a Avenida Rio Branco foi liberada em toda a extensão.
Em seguida, os black blocs se refugiaram na Rua Alcindo Guanabara, onde os professores estavam concentrados para aguardar a assembleia da categoria, marcada para as 10h desta terça-feira. A polícia lançou uma bomba de gás contra os black blocs, intoxicando e dispersando os professores. Um rapaz que atirou pedras contra policiais foi detido, mas logo em seguida foi liberado. Ele carregava consigo uma pequena quantidade de maconha. Advogados da OAB no local argumentaram que não havia provas dele ter sido o responsável pelas pedras e que a quantidade de entorpecente não era suficiente para efetuar uma prisão.
Comento
Um dia, quem sabe?, advogados da OAB do Rio ainda comparecerão à manifestação para proteger também os policiais, não é? Afinal, oito deles saíram feridos dos confrontos em razão da, como é mesmo?, “violência dos dois lados”. O maconheiro — ooops! Perdão, Excelência Usuário de Substância Considerada Entorpecente e Ilegal pelo Estado Autoritário — que jogou pedra contra os PMs logo foi protegido por um dos doutores de plantão, que decidiram, sabe-se lá com base em que bibliografia e em que noção de direito, que seu papel é proteger arruaceiros. Se o dito-cujo, então, porta uma quantidade de mato, aí, meus caros, a chance de ele ser elevado à condição de herói aumenta enormemente.
Espero que não chegue o tempo em que tenhamos de fazer um mea-culpa pelo apoio dado à democracia. Já estamos quase lá.Por Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, Rio
01/10/2013 às 4:19
O Banco Central divulgou nesta segunda a sua expectativa do PIB deste ano: baixou o crescimento de 2,7% para 2,5%. Crescimento da economia é aquela área na qual Guido Mantega costuma fazer previsões com margem de erro de até 2 pontos — a realidade sempre empurra para menos.
Pois bem: quem pode livrar o país de números ainda mais constrangedores? Como tem sido rotina nos últimos anos, é o setor agropecuário — o saco de pancadas predileto dos bem-pensantes brasileiros. Escreve Mauro Zafalon naFolha desta terça:
A queda na estimativa poderia ser pior se o desempenho da agropecuária não tivesse surpreendido. Ainda que representando apenas cerca de 5% do PIB, o setor se destaca no crescimento, passando de 8,4% para 10,5%. O resultado se explica por dois pilares: volume e preços. O setor vem de uma boa safra e se prepara para uma –se o clima ajudar– ainda maior. Os efeitos desse cenário favorável dentro da porteira se espalham pelos demais segmentos industriais e comerciais que dão suporte à atividade agropecuária. A regra abrange a maioria dos itens. Uns estão com um bom volume de produção; outros, além do volume, têm também bons preços. Há exceções, mas não o suficiente para impedir que o setor agropecuário sustente o PIB global neste ano.
(…)
Retomo
Tem sido essa a rotina do Brasil há já um bom tempo. Como vocês sabem, os “ruralistas” costumam ser muito malvistos por certos setores minoritários e barulhentos. Apanham de todo mundo: das esquerdas, dos verdes, dos índios, da imprensa, de atores e atrizes “progressistas”, de fanáticos do aquecimento global, do Bono Vox, do Sting…
Em suma: este é um dos únicos países do mundo em que os que produzem riquezas são alvos da fúria dos que produzem discursos.Por Reinaldo Azevedo
Tags: agropecuária, PIB 2013
01/10/2013 às 3:54
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vai aumentar o IPTU. Elevação de imposto, todo mundo sabe, é uma medida impopular. Tanto pior quando o “artista” de plantão na chefia do Executivo faz a linha “todo governante tem de ir aonde o povo está”. Vamos ver que saída vai encontrar o prefeito. Uma das possibilidades é recorrer à velha tática do arranca-rabo de classes, coisa em que os petistas são mestres. O “arranca-rabo” de classes é uma derivação teratológica da “luta de classes”. Quase sempre funciona assim: promove-se uma gritaria contra os “ricos” e se acaba mesmo é batendo a carteira da classe média — enquanto os realmente ricos sorriem com delicadezas como Bolsa-BNDES, Bolsa-Juros, Bolsa-Desoneração etc. Aí a Marilena Chaui vai a um seminário do PCdoB e baba vermelho, com os olhos estalados e os cabelos em desalinho: “Eu odeio a classe média”. A vassoura voadora a tudo espreita. Marilena, não sei se lembram, é aquela senhora que disse que Paulo Maluf, o neoamigão do PT, não é de direita, mas “engenheiro”. Quem pratica arranca-rabo de classes é capaz de tudo. Volto ao ponto.
Haddad vai elevar o IPTU em São Paulo, mas a sua máquina de propaganda vai bem. O sonho de todo aumentador de imposto é ver a sua proeza noticiada do modo como fez ontem o Estadão Online. Quase me comovo, levanto e aplaudo. Demorou alguns segundos para eu perceber que a proeza do mágico seria feita às custas do meu bolso. Por quê? Leiam este trecho (em vermelho), com o título:
Haddad vai aumentar em 24% arrecadação com IPTU em 2014
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vai aumentar a arrecadação com o IPTU em 24%. A previsão é de que a arrecadação com o imposto saltará de R$ 5,5 bilhões e chegará a R$ 6,8 bilhões em 2014. Serão mais R$ 1,3 bilhão nos cofres da Prefeitura. O aumento vai ocorrer por meio da revisão da Planta Genérica de Valores (PGV), cuja última atualização foi feita em 2009. No entendimento dos técnicos da gestão Haddad, a PGV está desatualizada e não reflete o impacto da valorização do metro quadrado da cidade nos últimos anos motivada pelo aquecimento do mercado imobiliário.
Há 4 anos, a média do m² no Município era de R$ 3,9 mil e hoje está estimada R$ 8 mil. Haddad ainda não definiu as travas que limitarão os reajustes do IPTU para que não se configurem abusivos. Além disso, o prefeito estuda baixar a alíquota do imposto. A arrecadação com o imposto terá alta real, descontada a inflação, de aproximadamente 19%. A cidade tem cerca de 3 milhões de contribuintes.
(…)
Voltei
Tenho um lado crédulo, de boa vontade, entendem? Se o prefeito diz que vai “aumentar a arrecadação”, acho isso bom. Mas percebi no curso da leitura quem pagaria a conta de tal proeza. O truque vem completo: ele vai rever o PGV (Plano Genérico de Valores), mas, homem bom que é, pretende baixar a alíquota. Se realmente fizer as duas coisas, já tenho um bom título para o jornalismo em tempos de surrealismo: “Haddad baixa a alíquota do IPTU, e Prefeitura arrecada mais”. O que lhes parece? É capaz de o sujeito que paga nem sentir, não é mesmo?Por Reinaldo Azevedo
01/10/2013 às 3:01
Leiam que vai na VEJA.com. Volto ao assunto nesta terça.
A paralisação de quase 1 milhão de funcionários de órgãos federais dos Estados Unidos decorrente do impasse sobre a lei orçamentária americana começou oficialmente à meia-noite desta terça-feira, quando expirou o prazo para que o Congresso chegasse a um acordo sobre o financiamento das contas do governo no novo ano fiscal, que começa neste 1º de outubro. Esta é a primeira paralisação parcial do governo desde a administração de Bill Clinton, que suspendeu pagamentos por um total de 28 dias entre o fim de 1995 e o início de 1996, quando duas crises orçamentárias seguidas custaram 1,4 bilhão de dólares aos contribuintes, conforme dados oficiais.
Entre os efeitos da paralisação estão a suspensão dos salários de quase 800 000 funcionários públicos – existem mais de 2 milhões deles no governo federal, e aqueles que não forem mandados para casa podem ser solicitados a trabalhar sem data para receber. Além disso, parques nacionais e tribunais federais serão fechados e a emissão de passaportes deve atrasar.
O mais recente capítulo da batalha entre democratas e a oposição republicana sobre as verbas do governo ocorreu na noite desta segunda, quando a Câmara dos Representantes, liderada por deputados republicanos, enviou ao Senado outra proposta de financiamento emergencial do estado americano. Como continha uma cláusula que postergava a entrada em vigor do Obamacare, a lei de reforma da saúde promovida pelo presidente Barack Obama e já aprovada pelo Congresso, o Senado voltou a rejeitar um plano orçamentário por 56 votos contra 54. Até agora, a maioria dos senadores rejeitou todas as ações da Câmara que modificam a legislação de saúde criando vínculos com a lei sobre gastos federais — e a Câmara rejeitou todas as propostas do Senado associando o financiamento federal à entrada em vigor do Obamacare.
Contexto
Diversos setores do governo americano precisam de financiamento anual para continuar operando. Por essa razão, a cada ano, o Congresso deve votar um projeto de orçamento estabelecendo prioridades e o valor de financiamento a ser liberado. Contudo, com o Senado e a Câmara dos Representantes dominados por partidos opostos, um impasse tem se tornado constante na hora de definir o orçamento.
Mecanismos foram criados para permitir, de forma automática, que o orçamento para financiar tais setores fosse ampliado ao longo do ano. Contudo, o último mecanismo possível termina em 30 de setembro. Assim, se democratas e republicanos não chegarem a um acordo, não haverá recursos para financiar o governo até o final de 2013.
A grande moeda de troca é o Obamacare, o plano de saúde criado pelo governo de Barack Obama. O plano foi aprovado há cerca de três anos, e sua entrada em vigor está prevista para outubro. Contudo, os republicanos, em troca da aprovação do financiamento emergencial do estado, querem vetar determinados pontos do Obamacare por meio de emendas ao plano orçamentário. Tais mudanças não são admitidas pelo Senado, de maioria democrata. E aí se dá o impasse: republicanos da ala mais conservadora, o chamado Tea Party, querem usar a paralisação do estado como artifício para pressionar os democratas a postergarem ainda mais a implantação do Obamacare.
Teto da dívida
O Congresso deve votar, além disso, um aumento do limite legal do endividamento do país, atualmente em 16,7 trilhões de dólares, sem o qual os EUA se arriscam à primeira moratória de sua história a partir de 17 de outubro. No momento, o governo federal funcionou graças a “medidas extraordinárias” adotadas pelo Departamento do Tesouro, mas o titular da pasta, Jacob Lew, advertiu que em meados de outubro os fundos acabarão.
Militares
Mesmo com a paralisação dos pagamentos federais, o presidente Barack Obama assinou nesta segunda-feira uma lei que permitirá que todos os militares continuem recebendo seus salários durante o “fechamento” do governo. A lei foi aprovada unanimemente no domingo pela Câmara dos Representantes e confirmada na segunda-feira pelo Senado. A medida garante o pagamento dos militares ativos, da Guarda Litorânea e os civis e prestadores de serviço que dão apoio aos departamentos de Defesa e Segurança Nacional, durante o período que durar a paralisação temporária do governo. No entanto, se estima que 50% dos 800 mil funcionários civis do Pentágono serão enviados para casa, muitos deles sem receber, enquanto durar a crise.Por Reinaldo Azevedo
01/10/2013 às 0:01
Na VEJA.com:
O ministro de Relações Exteriores da Síria comparou nesta segunda-feira os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos à invasão de terroristas estrangeiros ao país. Em discurso na Assembleia Geral da ONU em Nova York, Walid al-Moualem disse que “terroristas de mais de 83 países estão engajados na morte de nosso povo”, disse o chanceler. Moualem foi além e negou que haja uma guerra civil na Síria. “É uma guerra contra o terror, que não reconhece valores, nem justiça, nem igualdade, e despreza qualquer direito ou lei”.
Segundo as Nações Unidas, mais de 100.000 pessoas já foram mortas no conflito que se prolonga há mais de dois anos e meio na Síria. Em agosto deste ano, um ataque químicodeixou mais de 1.400 mortos, segundo o governo americano, que ameaçou responder com uma intervenção ao território sírio. O ímpeto ofensivo foi refreado pela falta de apoio nos cenários interno e externo e por uma proposta apresentada pela Rússia para que a Síria entregasse suas armas químicas à comunidade internacional para serem destruídas.
No discurso desta segunda, o chanceler sírio fez críticas aos Estados Unidos. “As pessoas em Nova York testemunharam a devastação do terrorismo e foram queimadas com o fogo do extremismo e do derramamento de sangue da mesma forma que nós sofremos agora na Síria”, disse, em referência aos atentados de 2001. “Como alguns países, atingidos pelo mesmo terrorismo que nos atinge agora na Síria, declaram guerra ao terrorismo no mundo todo enquanto apoiam isso no meu país?”, provocou. Os Estados Unidos reagiram às declarações, classificando-as como falsas e ofensivas. “O fato de o regime sírio ter bombardeado escolas e hospitais e usado armas químicas contra seu próprio povo demonstra que foram adotadas as táticas mais terroristas que hoje foram censuradas”, rebateu Erin Pelton, porta-voz da missão americana na ONU.
O regime de Bashar Assad acusa Turquia, Arábia Saudita, Catar, Grã-Bretanha, França e Estados Unidos de armarem, financiarem e treinarem forças rebeldes na Síria. E rejeitou a ideia de que há rebeldes moderados lutando contra o ditador. “As declarações sobre a existência de militantes moderados e militantes extremistas se tornaram uma piada ruim. Terrorismo significa terrorismo. Isso não pode ser classificado como moderado e extremista”.
Os Estados Unidos responsabilizam o regime sírio pelo ataque com armas químicas do dia 21 de agosto e afirmam que os “caras maus” representam entre 15% e 25% das forças anti-Assad. Extremamente fragmentados, os grupos que lutam contra o regime incluem alguns reconhecidos por países ocidentais, que negociam o recebimento de armas do exterior.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Bashar Al Assad, Síria
30/09/2013 às 19:54
Os petistas inventaram um inimigo terrível chamado “mídia”. E o que é essa tal “mídia”. Geralmente é constituída por veículos de comunicação e por jornalistas que publicam notícias que os “companheiros” não gostam de ler. Se os fatos insistem em desmentir as versões oficiais, então resta denunciar conspirações as mais exóticas.
Muito bem. Dilma convidou o empresário Jorge Gerdau para comandar a Câmara de Gestão e Planejamento do Governo Federal, um órgão de assessoramento direito da Presidência da República. Leiam o que informa Márcio Prates no site da revista Exame, Volto em seguida.
*
Há dois anos e meio à frente da Câmara de Gestão e Planejamento do Governo Federal – instância criada dentro da administração Dilma para melhorar a governança pública do país – o empresário Jorge Gerdau deu hoje a sua nota para qualidade da administração pública nacional: qualquer coisa entre 3 e 4. Com ele, concordaram todos os demais debatedores presentes no EXAME Fórum, que acontece hoje na capital paulista para discutir formas de aumentar a produtividade brasileira. Uma questão que perpassa, inevitavelmente, pela qualidade dos serviços públicos. Segundo Gerdau, o quadro não é nada animador nos 39 ministérios do Governo Dilma. Quase todos foram analisados pela Câmara para saber o nível de unidade sobre objetivos e planos de longo prazo.
“No setor privado, querendo ou não, o sistema de governança é quase diariamente debatido. Mas em quase nenhum desses 39 ministérios nós sabemos onde queremos chegar”, afirmou o empresário. Gerdau não estava sozinho em seu diagnóstico desolador, mas outros debatedores lembraram que há algumas (poucas) razões para não perder a esperança. “Existem ilhas de boas práticas dento do governo. Precisamos buscar o que tem de bom e replicar isso. Queremos um projeto de governança para o Estado brasileiro a médio e longo prazos”, afirmou o presidente do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes.
Travas ao desenvolvimento
O chefe do TCU aproveitou a discussão para rebater as acusações feitas por membros do governo federal de que o Tribunal é parte do problema pela baixa execução de obras no Brasil. Segundo ele, por exemplo, das 1.153 obras conduzidas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em certo período, apenas seis foram paralisadas pelo TCU. “Fizemos levantamento que 53% das obras não têm projeto básico e executivo. Culpar o TCU é buscar um bode expiatório sobre o problema da gestão. É esse o grande nó para o desenvolvimento do Brasil hoje”, opinou Nardes.
(…)
Voltei
Acredito que a presidente Dilma tenha escolhido para comandar a tal Câmara de Gestão uma pessoa de confiança. Não estive presente ao seminário, mas creio que a nota dada por Gerdau, bem abaixo da média para alguém “passar de ano” — ou “passar de mandato”, ironizaria eu —, não se restrinja ao governo federal. Segundo entendi, ele está se referindo ao padrão de governança no Brasil.
Ainda assim, é evidente que o centro do seu desalento é mesmo o governo federal. Assim, os céticos ou descontentes com as críticas feitas pela tal “mídia” têm um motivo adicional e tanto para crer em Gerdau: ele está lá dentro. Pelo visto, não poderá dizer como Júlio César: “Fui, vi, venci”. Se, a esta altura, dá uma nota entre três e quatro, poderia dizer: “Fui, vi, fui vencido”. O mau Brasil, infelizmente, ganhou a parada. Tenho cá pra mim, mas isso é lá com ele, que o próprio Gerdau não deve ver motivos para continuar. Fazer o PT aderir à racionalidade não é nem fácil nem difícil. É apenas inútil.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Governo Dilma, Jorge Gerdau
30/09/2013 às 19:23
Ei sei que vocês leram, ou podem ler, em quase toda parte que a Justiça Federal decretou a quebra do sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas no chamado “Caso Alstom”. Entre eles, está Andrea Matarazzo. Já escrevi aqui alguns posts a respeito, demonstrando o absurdo do seu caso em particular. De maneira que me parece soar um tanto cínica, o delegado federal encarregado do caso disse que o indiciou com base na “teoria do domínio do fato” — aquela mesma que teria ajudado a condenar Dirceu. O doutor está fazendo confusão. Nos textos, explico por quê.
Muito bem. Esse caso é mesmo pleno de elementos surrealistas. O ofício que saiu do cartório, de fato, fala em “quebra de sigilo fiscal”, mas não foi isso o que determinou a Justiça. Vejam o documento.
O que se pede é que a Receita Federal e o Banco Central informem se as pessoas ali relacionadas, ou pessoas jurídicas a elas vinculadas, declararam manter contas no exterior entre 1997 e 2000. Caso a resposta seja afirmativa, a Justiça quer os dados sobre essas contas. Isso, evidentemente, não significa — e qualquer pessoa ligada à área sabe disso — quebra de sigilo bancário ou fiscal. Nem todo pedido de informação feito a órgãos federais representa uma quebra de sigilo, que seria coisa bem mais ampla.
“E você está corrigindo a informação por quê?” Bem, porque é a verdade. Acho que isso basta, não? Perguntei a Andrea Matarazzo, um deles, como vê a questão: “Não foi quebra de sigilo, mas, por mim, ainda que fosse, não teria o menor problema. Não vão encontrar nada porque não houve nada”.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Alstom
30/09/2013 às 18:27
O presidente do Paraguai, Horácio Cartes, está no Brasil, em visita oficial, e se encontrou com Dilma Rousseff. Depois da conversa, afirmou a presidente brasileira, segundo se lê na VEJA.com: “O Paraguai está em um processo de volta ao Mercosul, tem o tempo deles. Nossa relação bilateral, como vocês podem ver, nós mantemos intacta. Não houve consequência nenhuma”.
Pois é…
A suspensão do Paraguai do Mercosul, medida originalmente proposta por Cristina Kirchner e logo endossada por Dilma, que acabou assumindo a liderança no processo de punição, constitui um dos maiores absurdos da política externa brasileira. Tratou-se de um ato autoritário e ilegal. A decisão foi uma reação ao impeachment do então presidente, Fernando Lugo, deposto pelo Congresso, em junho do ano passado. Atenção! A acusação de que se tratou de um golpe é uma mentira escandalosa. A deposição de Lugo seguiu os princípios da Constituição do país.
Qual foi o pretexto para suspender o Paraguai? As bases do Mercosul estão estabelecidas pelo chamado Tratado de Ushuaia . Ali se exige:
ARTIGO 1
A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados Partes do presente Protocolo.
ARTIGO 2
O presente Protocolo se aplicará às relações que decorram dos respectivos Acordos de Integração vigentes entre os Estados Partes do presente protocolo, no caso de ruptura da ordem democrática em algum deles.
ARTIGO 3
Toda ruptura da ordem democrática em um dos Estados Partes do presente Protocolo implicará a aplicação dos procedimentos previstos nos artigos seguintes.
ARTIGO 4
No caso de ruptura da ordem democrática em um Estado Parte do presente Protocolo, os demais Estados Partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado.
Retomo
Ao depor Lugo, o Paraguai não feriu nenhum desses dispositivos. Logo, a suspensão foi, obviamente, um abuso. Mas o pior veio pouco tempo depois: aproveitou-se a suspensão para abrigar a Venezuela como membro do bloco. Ora, será que o país então governado por Hugo Chávez (hoje, por Nicolás Maduro) cumpre o primeiro artigo do tratado? Alguém poderia assegurar que há naquele país “plena vigência de instituições democráticas”? Dilma e Cristina suspenderam do Mercosul uma democracia e abrigaram uma ditadura. E o fizeram, cinicamente, em nome da… democracia.
Há mais: segundo as regras do Mercosul, o Parlamento de cada país-membro precisa aprovar esse ingresso. E aí que estava o busílis: o Congresso paraguaio não havia aprovado — e ainda não aprovou — o ingresso da Venezuela. Assim, meus caros, além de a suspensão do Paraguai ter sido arbitrária, a admissão da Venezuela violou duplamente o tratado:
a: porque o país é, hoje, uma ditadura;
b: porque o país entrou sem a aprovação do Congresso do Paraguai.
É bem possível que os paraguaios acabem voltando para o bloco e engolindo a Venezuela. Mas isso não elimina da memória a barbaridade feita pelo Brasil. De vez em quando, como diria Chico Buarque, o Brasil fala grosso também com país pobre — mas só se esse país resolver seguir as regras do jogo democrático. Aí os petistas ficam furiosos. Eles gostam mesmo é de aplaudir arroubos ditatoriais de líderes como Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa, Nicolás Maduro e Daniel Ortega… A simpatia de Dilma nesta segunda só esconde a impostura brasileira nesse caso.
Piada
A piada grotesca é que a Venezuela, no momento, está na presidência do bloco. Ou por outra: o país que hoje lidera o Mercosul é aquele que foi admitido em razão de duas graves violações ao tratado. Alguém indagará: “Mas que importância tem esse bloco?” Resposta: toda e nenhuma! Por enquanto, para o Brasil, o Mercosul tem sido só fator de atraso. Enquanto outros países celebram dezenas de acordos bilaterais, Banânia fica chupando o dedo. Assim, se o assunto tem alguma relevância, é pelo avesso. Por Reinaldo Azevedo
30/09/2013 às 17:19
O jornalista americano H.L. Mencken dizia que, para todo problema complexo, há sempre uma solução clara, simples e errada. A frase é muito boa, à altura do seu brilho. Mas talvez se possa dizer algo mais. E se, para alguns problemas complexos, existirem, por exemplo, soluções claras, simples, certas, porém inexequíveis? Pensem um pouquinho: essa segunda possibilidade consegue ser um tantinho mais pessimista do que aquela aventada por Mencken. “Mas uma resposta inexequível é uma resposta?” No terreno das hipóteses, é. Se, no entanto, inexistirem condições materiais de executá-la, então é nada.
Marina Silva participou nesta segunda, por videoconferência, do “Exame Fórum 2013 – Como Aumentar a Nossa Produtividade” (veja programação), promovido pela revista Exame, editada pela Abril. Falou logo depois do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República. Segundo a ex-senadora, que tenta tornar viável o “não-partido” Rede, “fóruns como esse são possibilitadores de um debate, mas não apenas cada um fazendo diagnóstico e apresentando um amontoado de propostas. Dsso somos capazes todos. Estamos precisando de um novo acordo político, que não seja nas bases da situação pela situação e da oposição pela oposição.”
Como discordar de certas evidências? Há coisas que já não mais dividem; apenas unem. É fato que a Terra é redonda, por exemplo, e que gira em torno do Sol, não o contrário. Assim, é provável que Marina esteja certa ao dizer que um “novo acordo político” nos faria bem. Mas o que é um “novo acordo político”? Não tenho a menor ideia, ela não tem, ninguém tem. Apelando apenas à lógica elementar, sou tentado a achar que, se fosse fácil, já teria sido feito.
Marina é uma eficiente criadora de palavras e categorias. A questão é saber a que servem. Afirmou: “Todo mundo se compromete com a reforma e depois a única reforma que faz é a do compromisso que tinha feito. É por isso que o sociólogo não foi capaz de fazer a reforma politica, o operário não foi capaz de fazer a trabalhista.” Tá. Se o “sociólogo” não fez uma coisa, e o “operário” não fez a outra, teria, então, chegado a hora da… da o quê? Que categoria Marina criou para si mesma?
Se diz que nem “sociólogo” nem “operário” conseguiram fazer isso e aquilo, é evidente que está a sugerir que a respectiva condição de cada um criou embaraços. Mas quais? Marina sabe que alguma resposta precisa ser dada, e ela ensaia: “As promessas que são feitas poderiam ser cumpridas, mas, como se repetem a cada quatro anos, é bom ficarmos atentos para pensar em como fazer isso na forma de um acordo, em que cada um que esteja à frente do processo governamental tenha de seguir essa ações.”
“Acordo”? Qual acordo? Estamos falando, de novo, daquela velha tese do “pacto social” — ou que nome tenha? A dificuldade dessa ideia reside no fato de que o objetivo a ser alcançado costuma ser condição para a sua realização, entenderam? Para que se chegue a uma solução que contemple as respectivas demandas das partes envolvidas, é preciso que as partes envolvidas concordem de antemão com a definição da agenda. E a coisa começa a girar em falso.
Não espero que uma liderança política dê uma receita pronta de como arrumar o Brasil ou algo assim. Mas me parece que é preciso cobrar um pouco mais de precisão do diagnóstico. Não entendi o que Marina quis dizer. Também acho que o mundo fica melhor com pessoas de boa-vontade. Mas, com isso, dá para fundar uma boa, virtuosa e necessária igreja. Em política, quer dizer o quê?Por Reinaldo Azevedo
30/09/2013 às 16:15
Na VEJA.com:
O Brasil registrou em agosto seu primeiro déficit primário desde o início da série histórica, em 2001. O déficit de 432 milhões de reais acumulado em agosto significa que o governo não conseguiu economizar recursos para engordar o montante necessário para pagar os juros da dívida em 2013. Segundo o Banco Central, que divulgou a nota, o déficit foi causado pelos maiores gastos com a Previdência. Contudo, pesou também a queda da arrecadação de impostos.
O resultado foi bem pior que o esperado por analistas, cuja mediana apontava para saldo positivo de 1,85 bilhão de reais. Em julho, o país havia registrado superávit primário de 2,287 bilhões de reais. Em 12 meses até agosto, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 1,82% do Produto Interno Bruto (PIB), longe da meta do governo para o ano, de 2,3%. No acumulado dos primeiros oito meses, o esforço fiscal está em 1,72% do PIB.
Curiosamente, nesta segunda-feira, o BC e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, emitiram declarações afirmando que o cumprimento da meta de superávit não é necessário para reduzir o endividamento público. Segundo Mantega, o governo tem sido capaz de reduzir o endividamento sem cumprir a meta cheia. O ministro fez tal afirmação em evento organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Já o BC declarou que um superávit “amplo” não é necessário no Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta segunda.
O déficit primário em agosto foi causado pelo resultado negativo de 55 milhões de reais do governo central, formado pelo governo federal, BC e Previdência Social. Em agosto, as contas públicas foram afetadas pelo início do pagamento do 13º salário a aposentados e pensionistas, aumentando o rombo da Previdência que, segundo o BC, ficou em 5,733 bilhões de reais. O resultado apurado pelo BC é bem pior do que o divulgado pelo Tesouro Nacional na sexta-feira, que mostrava um superávit primário de 87 milhões de reais do governo central — valor considerado baixo, porém, ainda no campo positivo. Ainda segundo o BC, os estados e municípios tiveram déficit de 174 milhões de reais no mês passado, enquanto que as empresas estatais tiveram saldo negativo 203 milhões de reais.
O BC informou ainda que o déficit nominal – receitas menos despesas do governo, incluindo pagamento de juros – ficou em 22,303 bilhões de reais no mês passado, enquanto a dívida pública representou 33,8% do PIB, ante 34,1% em julho, e chegou a 1,573 trilhão de reais. Em dezembro de 2012, a dívida estava em 35,2% do PIB. No acumulado do ano, o superávit primário soma 54,013 bilhões de reais, sendo 37,441 bilhões de reais feitos pelo governo central e 16,774 bilhões de reais economizados por Estados e municípios. A meta cheia de superávit primário para este ano era de 155,9 bilhões de reais, ou cerca de 3,1% do PIB, mas o governo já reduziu a meta a 2,3%, ou 111 bilhões de reais. Isso significa que, para cumprir a meta, o governo terá de economizar em apenas quatro meses o mesmo valor economizado ao longo de todo o ano.
Os resultados fracos até agosto também foram resultado do baixo dinamismo da receita, afetada pelo mau desempenho da atividade econômica do país, e altos gastos com custeio da máquina pública.Por Reinaldo Azevedo
30/09/2013 às 15:14
Em novembro do ano passado, durante a 32ª reunião do Fórum Nacional da Indústria, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu que a economia brasileira cresceria 4% neste ano. Neste segunda, o Banco Central resolveu ajustar suas estimativas à realidade e afirmou que deve ser, no máximo, de 2,5%. Que se note: não aconteceu nada de extraordinário, nada que estivesse fora do radar de um analista — ou de um governante — prudente. Se o BC não está chutando alto demais, há quem diga que sim, Mantega errou em imodesto 1,5 ponto. É uma pena que a margem de erro foi para menos, não? Imaginem como seria bom a gente ter um ministro da Fazenda do tipo pessimista: prometeria 4% de crescimento e entregaria 5,5%… Mas esse tipo de gente, a política brasileira ainda não produziu. Mesmo essa hipótese seria temerária: o país não teria infraestrutura para crescer isso tudo. Assim, o otimista e errado Mantega ao menos nos protege do colapso que seria produzido pela incompetência do próprio governo — um verdadeiro herói. Não sei se alguém andou consultando a Mãe Dinah no fim do ano passado. Se o fez, estou certo de que ouviu uma projeção mais realista. Leiam texto na VEJA.com.
*
O Banco Central reduziu nesta segunda-feira, por meio de seu Relatório Trimestral de Inflação, a previsão de crescimento da economia brasileira em 2013 para 2,5%. O relatório anterior da autoridade monetária projetava alta de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ao final deste ano. Ao justificar sua decisão, o BC lembrou que o PIB registrou expansão de 1,5% no segundo trimestre deste ano, acima das previsões de analistas, mas afirma que indicadores como a produção industrial e a confiança de empresários mostram que a economia deve registrar desaceleração no terceiro trimestre. Contudo, a autoridade monetária prevê uma retomada no ritmo do crescimento nos três últimos meses deste ano.
Apesar de detectar menor ritmo da atividade econômica, a autoridade monetária destacou que houve aceleração sobre 2012 e que o “cenário central contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano, ou seja, uma trajetória de crescimento, no horizonte relevante para a política monetária, mais alinhada com o crescimento potencial”.
O BC também avalia que o governo da presidente Dilma Rousseff vai entregar, no final de 2013, uma inflação próxima da que foi verificada em 2012. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o final do ano recuou de 6% para 5,8%, no cenário de referência. Em 2012, segundo ano do governo Dilma, o IPCA fechou em 5,84% e em 6,5% em 2011, no primeiro ano do seu mandato. Ao longo de 2013, o presidente do BC, Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeram em várias ocasiões uma inflação menor em 2013 do que em 2012. A queda da inflação este ano também foi uma promessa da presidente Dilma.
Expectativas
Mesmo com o recuo, a estimativa do IPCA ao final deste ano está ainda muito distante do centro da meta de inflação estabelecida pelo próprio governo, de 4,5%. Pelas novas projeções do BC, o IPCA no último ano do governo da presidente Dilma, em 2014, permanecerá ainda em patamares elevados, em 5,7%, acima da estimativa anterior, de 5,4%. Para o IPCA acumulado em 12 meses até o terceiro trimestre de 2015, já no próximo governo, o BC projeta uma inflação de 5,5%.
“Em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária”, afirma o BC. Em agosto, o IPCA fechou em 0,24%, após registrar alta de 0,03% em julho. Em 12 meses até o mês passado, o índice de inflação oficial desacelerou para 6,09%. “Nos próximos meses, a evolução dos índices de preços ao consumidor deverá refletir, de um lado, o efeito da recente depreciação cambial, e de outro, o efeito base da progressiva eliminação do impacto das elevadas taxas mensais de inflação no segundo semestre de 2012″, diz o documento.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Banco Central, crescimento
30/09/2013 às 6:11
— Gilmar Mendes: “Muitos ministros ficaram sob um ataque fortíssimo de blogs e de órgãos de mídia que são vinculados a determinados réus”Por Reinaldo Azevedo
30/09/2013 às 5:27
Lula está assanhado de novo. E, como de hábito, resolveu usar a imprensa para… atacar a imprensa. Sabe que funciona. O Supremo também não escapou de uma observação indecorosa. Já chego lá.
O ex-presidente concedeu uma entrevista ao Correio Braziliense. Depois de dizer, na semana passada, que “está no jogo para a desgraça de alguns”, agora afirma querer ser a “metamorfose ambulante” de Dilma. Nas suas palavras:
“Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela”.
Aquele que, na aparência, se faz de militante raso, humilde, que só quer colaborar, continua a se colocar, na verdade, como tutor da presidente. Também respondeu ao buchicho de que ainda pode vir a ser candidato. E o fez assim: “Se houver alguém que se diz lulista, e não dilmista, eu o dispenso de ser lulista. Eu não estou pedindo que as pessoas gostem dela. Eu quero que as pessoas a respeitem na função institucional e saibam que o PT está lá para apoiá-la.” Não sei se as pessoas devem procurar se proteger mais das críticas ou dos elogios de Lula. Definitivamente, o Apedeuta tem um modo muito próprio de demonstrar apreço e admiração, não é? Se não gostam, que, ao menos, a respeitem… Entenderam?
Lamentou que o PSB tenha saído do governo, mas deixou claro que não considera irreversível a candidatura de Eduardo Campos. Deu uma cutucadinha em Marina Silva, reconhecendo que ela tem o direito de criar sua legenda: “ Tem de ter coragem de dizer que é partido, não tem de inventar outro nome, dizer que não é partido, é uma rede. É partido e vai ter deputado, como todo partido”. Até ele pode, de vez em quando, dizer uma coisa certa.
O indecoroso
A fala mais indecorosa ficou mesmo reservada ao Supremo Tribunal Federal. Disse que, com as informações que tinha à época, indicaria os nomes que indicou. Mas… Leiam: “[hoje] Eu teria mais critério. Um presidente recebe listas e mais listas com nomes”. Já é um disparate que um ex-presidente da República comente a composição da corte suprema do país. Mais estúpido ainda é que dê a entender que hoje faria de modo diferente.
Vamos ver. Quatro dos ministros indicados por Lula seguem na Corte: Joaquim Barbosa, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski. Nomeou outros que já se aposentaram: Eros Grau, Cezar Peluso, Ayres Britto e Menezes Direito (morto). Desses quatro, um participou apenas do comecinho do julgamento do mensalão (Peluso), e outro, de boa parte dele (Britto). Grau e Direito não deram motivos para chateação. Quando o chefão dá sinais de arrependimento, certamente não está se referindo a Dias Toffoli e a Ricardo Lewandowski. Por que estaria? Deve considerá-los dois gênios da raça. As restrições, então, só podem valer para Cármen Lúcia (mas não muito) e, obviamente, Joaquim Barbosa, considerado um “traidor”, mesma pecha que os petistas usam para classificar Britto, já aposentado, e Luiz Fux (este já nomeado por Dilma), feito agora o relator dos embargos infringentes. Ministro bom no Supremo é aquele que diz “sim, senhor!”.
Com a boca torta de sempre, voltou a classificar o processo do mensalão de um “linchamento feito pela imprensa brasileira”. E por intermédio de qual instrumento Lula diz e populariza as suas bobagens? Ora, por intermédio da… imprensa brasileira!
Eis aí. O Nhonhô Supremo da República já começou seu trabalho de boca de urna.Por Reinaldo Azevedo
30/09/2013 às 5:25
Jamais atribuí ao PT algo que o partido não tivesse feito. Nunca foi preciso fantasiar sobre teorias conspiratórias para criar um bicho-papão. Até porque, quando o partido está na área, não resta ao cronista muito espaço para imaginação. No mais das vezes, os petistas surpreendem só porque conseguem ir além dos juízos mais severos que possamos fazer a respeito deles. O diabo é sempre mais feio do que se pinta. Reportagens publicadas no Estadão neste domingo (aqui, aqui e aqui) provam, sem margem para dúvidas, que o programa “Minha Casa Minha Vida”, em São Paulo, transformou-se num instrumento de luta política. Onze das doze entidades cadastradas para receber repasses do governo federal e gerir a construção de casas são comandadas pelo PT; a outra é ligada ao PCdoB. Juntas, elas administram uma bolada de R$ 238,2 milhões. Pior: essas entidades criam critérios próprios para selecionar os beneficiários das casas, que não constam das disposições legais do “Minha Casa Minha Vida”. Vamos ver.
O governo federal, por meio do Ministério das Cidades, seleciona entidades — o único critério é haver uma militância organizada — que passa a gerir fatias milionárias de recursos para a construção das casas. E como é que esses grupos administram o dinheiro? Leiam trecho (em vermelho):
Os critérios não seguem apenas padrões de renda, mas de participação política. Quem marca presença em eventos públicos, como protestos e até ocupações, soma pontos e tem mais chance de receber a casa própria. Para receber o imóvel, os associados ainda precisam seguir regras adicionais às estabelecidas pelo programa federal, que prevê renda familiar máxima de R$ 1,6 mil, e prioridade a moradores de áreas de risco ou com deficiência física. A primeira exigência das entidades é o pagamento de mensalidade, além de taxa de adesão, que funciona como uma matrícula. Para entrar nos grupos, o passe vale até R$ 50. Quem paga em dia e frequenta reuniões, assembleias e os eventos agendados pelas entidades soma pontos e sai na frente.
Ou por outra: as entidades petistas privatizam o dinheiro público e só o distribuem se os candidatos a beneficiários cumprirem uma agenda política. Atenção! O MST faz a mesma coisa com os recursos destinados à agricultura familiar. A dinheirama vai parar nas mãos de cooperativas ligadas ao movimento, e as que são mais ativas politicamente são beneficiadas. Não houvesse coisa ainda mais grave, a simples cobrança da taxa já é um escândalo. Essas entidades, afinal, passam a cobrar por aquilo a que os candidatos a uma casa têm direito de graça. É claro que isso fere o princípio da isonomia.
Mas esse não é, reitero, o aspecto mais grave. Observem que o eventual acesso, então, a uma moradia passa a ser privilégio de quem se dedica a um tipo muito particular de militância política — gerenciada, como é evidente, pelos petistas. Assim, o que é um programa do estado brasileiro passa a beneficiar apenas os que estão sob o guarda-chuva de um partido político. O Ministério das Cidades diz que não pode interferir na forma como essas associações se organizam. Entendi: então o governo lhes repassa o dinheiro — e elas podem, se quiserem, jogar a Constituição e as leis no lixo. Parece-me escandalosamente claro que, ao tolerar essa prática, os responsáveis pela pasta incorrem em vários parágrafos da Lei de Improbidade Administrativa — isso para começo de conversa.
Haddad
As indicações passam a ser arbitrárias. E contam, como não poderia deixar de ser, com o apoio do prefeito Fernando Haddad. Em agosto, ele assinou um decreto em que estabelece que essas entidades poderão indicar livremente os beneficiários do programa. E não pensem que é pouca grana, não! É uma bolada! Leiam mais um trecho:
A maior parte das entidades é comandada por lideranças do PT com histórico de mais 20 anos de atuação na causa. É o caso de Vera Eunice Rodrigues, que ganhou cargo comissionado na Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) após receber 20.190 votos nas últimas eleições para vereador pelo partido. Verinha, como é conhecida, era presidente da Associação dos Trabalhadores Sem Teto da Zona Noroeste até março deste ano – em seu lugar entrou o também petista José de Abraão. A entidade soma 7 mil sócios e teve aval do Ministério das Cidades para comandar um repasse de R$ 21,8 milhões. A verba será usada para construir um dos três lotes do Conjunto Habitacional Alexius Jafet, que terá 1.104 unidades na zona norte.
No ano passado, Verinha esteve à frente de invasões ocorridas em outubro em prédios da região central, ainda durante a gestão de Gilberto Kassab (PSD), e em pleno período eleitoral. Em abril, foi para o governo Haddad, com salário de R$ 5.516,55. A Prefeitura afirma que ela está desvinculada do movimento e foi indicada por causa de sua experiência no setor.
Outra entidade com projeto aprovado – no valor de R$ 14 milhões –, o Movimento de Moradia do Centro (MMC), tem como gestor Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, filiado ao PT há mais de 30 anos e atual candidato a presidente do diretório do centro. Com um discurso de críticas à gestão Kassab e de elogios a Haddad, ele também nega uso político da entidade. “Qualquer um pode se filiar a nós e conseguir moradia. Esse é o melhor programa já feito no mundo”, diz sobre o Minha Casa Minha Vida Entidades.
Campanha eleitoral
Como se vê, esses “movimentos” são tão independentes quanto um táxi. Atuaram abertamente durante a campanha eleitoral em favor de Fernando Haddad e contra a gestão anterior. E é certo que, além da apropriação de dinheiro público, do possível crime de improbidade, da agressão a direitos fundamentais garantidos pela Constituição, tem-se também o crime eleitoral. Leiam:
Nas eleições do ano passado, pelo menos três vereadores petistas – Juliana Cardoso, Nabil Bonduki e Alfredinho – tiveram o apoio de entidades de moradia para obter a vitória nas urnas. Também do partido, o deputado federal Simão Pedro e o estadual Luiz Cláudio Marcolino tiveram com o apoio de líderes dos sem-teto nas eleições de 2010.
“Nas últimas eleições nós fizemos campanha para o Nabil (Bonduki), mas eu gosto mesmo e tenho simpatia é pela Juliana (Cardoso)”, afirma Vani Poletti, do Movimento Habitação e Ação Social (Mohas), com sede na região de Cidade Ademar, na zona sul da capital. Ela afirma estar insatisfeita com o fato de o PP do deputado federal Paulo Maluf ter ficado com a Secretaria Municipal de Habitação. “O movimento esperava que fosse o Simão Pedro.”
Retomo
Simão Pedro, é? É o atual secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo. Não custa lembrar: é ele o amigão e ex-chefe de Vinicius Carvalho, o chefão do Cade, que conduz aquela estranha investigação sobre a Siemens. Um rapaz sem dúvida influente…
Entenderam agora por que os companheiros querem tanto o financiamento público de campanha? Os demais partidos ficariam obrigados a se contentar com o que lhes coubesse de um eventual Fundo. Com os petistas, no entanto, seria diferente. Além do apoio da máquina sindical — proibida, mas sempre presente —, a legenda continuaria livre para usar recursos públicos, por intermédio dessas entidades, para fazer campanha eleitoral.
O caso está aí. Não há dúvida, ambiguidade ou mal-entendido. Um partido está usando dinheiro público em seu próprio benefício e manipulando as regras de um programa federal para que ele beneficie apenas os seus “escolhidos”.
Com a palavra, o Ministério Público. O que é isso senão a criação de um estado paralelo, de sorte que os mecanismos de decisão deixem de obedecer a critérios republicanos e se submetam à vontade de um partido? Pensem um pouquinho: de outro modo e com outros meios, também o mensalão não foi outra coisa. Em São Paulo (e duvido que seja muito diferente Brasil afora), o “Minha Casa Minha Vida” virou propriedade privada das milícias petistas.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Programa Minha Casa Minha Vida, PT
30/09/2013 às 4:14
Jornalistas, às vezes, têm cada uma! Leio no Estadão desta segunda esta notícia. Volto em seguida.
Voltei
Que bom! Vai que Rui Falcão decida ser o mais assíduo… Como ensina um bom amigo, há pessoas cujo rendimento é inversamente proporcional ao trabalho, entenderam? Ainda que eu possa, vá lá, lamentar o desperdício de dinheiro público, melhor não insistir. A cada vez que ele falta, preenche-se uma lacuna…Por Reinaldo Azevedo
Tags: PT, Rui Falcão
27/09/2013 às 20:15
Ai, ai… Quando começo assim… Pois é. A presidente Dilma Rousseff, para todos os efeitos, está de volta ao Twitter. Como pode voltar quem nunca esteve? Com raras exceções, conta de político é gerenciada por assessores e só serve à propaganda. Ela havia postado sua última mensagem no dia 13 de dezembro de 2010, ano em que foi criada a conta, com o propósito de servir à campanha eleitoral. Escreveu algum estafeta em nome da presidente então eleita: “Amigos, muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/estar aqui c/vcs. Vamos conversar mais em 2011”. E não cumpriu também essa promessa. Desapareceu.
Nesta sexta, voltou com tudo, numa operação cuidadosamente planejada por marqueteiros. A presidente reaparece dialogando com uma personagem chamada “Dilma Bolada”.
Apesar de o nome não ser lá muito lisonjeiro, trata-se de uma homenagem rasgada à presidente. “Linda, honesta, diva, inteligente…” são alguns dos qualificativos encontrados pelo criador da conta para designar a presidente. Mulheres, assim, com o perfil aparentemente enérgico, duronas, mandonas, acabam se tornando verdadeiras “musas” — ou “divas” — de rapazes entusiasmados. Vejam.
O Planalto achou o criador do “Dilma Bolada” e divulgou um fato oficial. Vejam.
Trata-se de Jeferson Monteiro. Leio no Globo o que ele disse: “Fui, sou e vou continuar sendo fã da Dilma. Eu gosto dela, não é segredo para ninguém. Tem dor de cotovelo. Acho que os políticos devem se preocupar mais com coisas sérias do que ficar se preocupando com personagem de internet”. Não entendi nada. Ele está nervosinho por quê? Quem tem inveja do quê? Quem estava se “preocupando” com personagem na Internet? Parece que Jeferson é daqueles que gostam de contestar a favor… Vejo a foto: a camisa vermelha fez parte do protocolo, para combinar com o modelito exibido pela “diva”, pela “honesta” e pela “humilde”, segundo, sei lá, o decoro do socialismo petista?
Aí o assessor que se faz passar pela presidente (a de verdade) responde parafraseia Guimarães Rosa ao conversar com a Bolada:
E aproveita para lançar o “Portal Digital.
Informa o Globo:
“Segundo a presidente, o portal vai oferecer cerca de 600 serviços online. Por exemplo, inscrição no Pronatec (programa de formação profissional) e no Fies (programa de crédito para estudantes de ensino superior). A mudança do portal é o primeiro produto do Gabinete Digital, vinculado diretamente à presidente e comandado por Valdir Simão, ex-secretário executivo do Ministério do Turismo. A reformulação do portal vem sendo feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e pela agência TV1, responsável pela produção de conteúdo e pelo desenvolvimento técnico do portal.”
Assim, temos que Jeferson, o rapaz entusiasmado que criou o “Dilma Bolada”, é, à sua maneira, mais “de verdade” do que Dilma, ela-mesma, cuja conta é parte de uma operação de marketing, o que não deixa de ser uma forma que os políticos encontraram de fraudar a essência — boa ou má, é discutível — do Twitter.
Os marqueteiros também aproveitaram o retorno de Dilma para contestar a reportagem especial da Economist sobre a economia brasileira. Há algum tempo, quando a revista sugeriu que era hora de Guido Mantega cuidar de outros assuntos, Dilma ficou furiosa e resolveu bater boca com a revista. Desta feita, recorreu à rede social para dizer que a publicação está desinformada sobre a realidade brasileira.
Estamos a praticamente um ano da eleição. Hora de reativar as contas nas redes sociais. Uma coisa ao menos se deve reconhecer: o governo pode ser uma porcaria, mas é bom de marketing. A operação foi muitíssimo bem-sucedida. Dilma, a verdadeira, que é mais falsa do que a falsa, que tem ao menos um criador verdadeiro (assim presumo ao menos), movimentou o Twitter. O governo pode ser mixuruca, mas a turma da propaganda está de parabéns.
Texto publicado originalmente às 19h53
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Governo Dilma, marketing político
27/09/2013 às 20:11
Escrevi ontem um post sobre o novo presidente do Irã. O título é este: “Os truques do novo presidente do Irã. Ou: Agência oficial de notícias nega que novo líder tenha criticado o Holocausto… É o de sempre. Enquanto isso, programa nuclear avança”. Vejam lá. O valente concedeu uma entrevista à CNN em que teria dito que o “Holocausto do povo judeu é reprovável”. A agência de notícias ligada à Guarda Revolucionária veio a público para afirmar que ele não havia empregado a palavra “reprovável” e que nem mesmo havia se referido a “Holocausto”, mas apenas a “acontecimentos históricos”. Então tá.
Conforme se lê em texto publicado na VEJA.com, o presidente dos EUA, Barack Obama, conversou com Hassan Rohani. O fato está sendo considerado um avanço extraordinário. Vamos ver. Qualquer coisa que não resulte no congelamento do programa nuclear iraniano terá um único beneficiário: o próprio Irã. Leiam o texto da VEJA.com:
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Depois de a expectativa por um encontro entre o presidente americano Barack Obama e o presidente iraniano Hassan Rohani não ter se concretizado, os dois conversaram por telefone nesta sexta-feira. Ao falar sobre o telefonema, Obama repetiu o tom de seu discurso de terça na Assembleia Geral da ONU, mencionando uma “oportunidade única” de progresso nas relações entre os dois países, estremecidas desde a revolução de 1979, que instaurou no Irã uma teocracia islâmica comandada por aiatolás. “Eu reiterei ao presidente Rohani o que disse em Nova York. Embora haja certamente importantes obstáculos ao avanço e o sucesso não esteja garantido, eu acredito que podemos alcançar uma solução abrangente”, disse Obama a jornalistas.
Em um perfil no Twitter que pertenceria a Rohani, uma mensagem afirma que os dois presidentes “expressaram sua disposição política mútua de resolver rapidamente esta questão”. Rohani é o chefe de governo, mas quem manda no Irã é o grão-aiatolá Ali Khamenei, que dá a última palavra sobre assuntos domésticos e estrangeiros. Desta forma, quem baterá o martelo nas negociações sobre o programa nuclear iraniano, ponto principal da relação do Irã com o Ocidente, será o aiatolá. Mesmo assim, Rohani diz que lhe foi dada total autoridade para negociar o tema – e ele não tem sinalizado para nenhuma concessão, reforçando a tese de que o país tem o direito de enriquecer urânio para fins pacíficos, argumento desacreditado pelas potências ocidentais.
Obama fez referência à estrutura de poder iraniana durante a entrevista, sugerindo que um acordo pode atender a um dos pedidos do Irã, a redução das sanções econômicas impostas ao país. “O líder supremo do Irã emitiu uma fatwa (decreto religioso) contra o desenvolvimento de armas nucleares. O presidente Rohani indicou que o Irã nunca vai desenvolver armas nucleares”, disse. “Eu deixei claro que nós respeitamos o direito do povo iraniano a ter acesso à energia nuclear pacífica em um contexto em que o Irã cumpre suas obrigações. O teste será feito com ações verificáveis, transparentes e significativas, que também podem aliviar as amplas sanções internacionais atualmente em vigor”, acrescentou o democrata, sem apontar fatos concretos que sustentem seu voto de confiança.
Há motivos para desconfiança. No período em que conduziu as negociações nucleares do Irã com o Ocidente, entre 2003 e 2005, Rohani prometeu à Inglaterra, França e Alemanha uma pausa no enriquecimento de urânio. Em 2011, contudo, admitiu em entrevista a um jornal local que usou a suspensão temporária para instalar sorrateiramente equipamentos na usina nuclear de Isfahan e aumentar o número de centrífugas na planta de Natanz. “Aproveitamos a oportunidade”, disse, demonstrando cinismo. Em seu discurso na ONU, na terça, o iraniano afirmou que a tecnologia nuclear do país está bastante avançada. “A tecnologia nuclear, incluindo o enriquecimento, já atingiu escala industrial”.
Na quinta-feira, o secretário de estado americano, John Kerry, conversou com o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif durante uma reunião do Irã com os membros do grupo 5+1 (países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha). Kerry e Zarif também tiveram uma pequena conversa bilateral, marcando o encontro de mais alto nível entre os dois países em mais de três décadas.
Mais cedo nesta sexta, Rohani concedeu uma entrevista coletiva e disse ter confiança de que as negociações com o Ocidente “produzirão, em um curto período de tempo, resultados tangíveis”. “A atmosfera está muito diferente do passado. O nosso objetivo é resolver problemas, é criar confiança entre os governos e as pessoas”. Ele disse ainda que um plano para resolver o impasse sobre o programa nuclear será apresentado ao grupo 5+1 durante um encontro em Genebra, em outubro.Por Reinaldo Azevedo
27/09/2013 às 18:25
Na VEJA.com:
O governo central (formado pelo governo federal, Banco Central e Previdência Social) registrou superávit primário de 87 milhões de reais no mês passado, no pior resultado para meses de agosto da série iniciada em 1997, informou o Tesouro Nacional nesta sexta-feira. Superávit é a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida. O valor significa uma queda de 97,7% em relação a julho, quando o superávit foi de 3,77 bilhões de reais. O resultado de agosto ficou dentro do intervalo projetado por analistas (de 1,8 bilhão de reais a um valor positivo de 3 bilhões de reais), mas abaixo da mediana projetada, de superávit de 250 milhões de reais.
O resultado, influenciado pelo elevado déficit de 5,733 bilhões de reais na Previdência Social, só não foi deficitário porque o governo antecipou dividendos de bancos estatais para fechar a conta do mês no balanço positivo. Em agosto, a receita líquida totalizou 73,271 bilhões de reais enquanto a despesa ficou em 73,184 bilhões de reais. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, a economia feita para o pagamento dos juros da dívida pública acumula saldo positivo de 38,474 bilhões de reais, apresentando uma queda de 28,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já as despesas do governo central subiram 12,5% no acumulado de janeiro a agosto frente um ano atrás. As receitas tiveram alta de 8,1%, conforme os dados do Tesouro Nacional. Os recursos arrecadados com concessões no mês passado somaram 876,1 milhões de reais. No acumulado de janeiro a agosto de 2013, as receitas com concessões totalizaram 6,984 bilhões de reais.
Dividendos
O Banco Nacional de Desenvolvimento, Econômico e Social (BNDES) pagou o maior valor de dividendos em agosto, 1,725 bilhão de reais. A Caixa foi responsável pela transferência à União de 1,2 bilhão de reais e o Banco do Brasil, de 1,135 bilhão de reais. Em agosto, as receitas do Tesouro foram reforçadas com a transferência de 4,814 bilhões de reais em dividendos. Se não houvesse essa entrada de recursos, o resultado seria de déficit. No acumulado de janeiro a agosto, os dividendos recebidos pela União somam 12,578 bilhões de reais, queda de 22% sobre o mesmo período do ano passado.
Cai o esforço fiscal
De acordo com dados divulgados pelo Tesouro, o esforço fiscal do governo central caiu de 1,86% do Produto Interno Bruto (PIB) de janeiro a agosto de 2012 para 1,23% do PIB no mesmo período deste ano. Em outro dado ruim, o investimento público acumulado até agosto atingiu 42,1 bilhões de reais com queda de 0,8% em relação ao ano passado. Os dados fiscais continuam mostrando uma dinâmica de gasto público elevado, investimento estagnado e aumento do risco de descumprimento da meta fiscal.
A meta de superávit primário para o setor público consolidado (governo central, Estados e municípios) era de 155,9 bilhões de reais, equivalente a 3,1% do PIB, mas foi reduzida para 2,3% diante da previsão do governo de descontar 45 bilhões de reais em gastos com desoneração e investimento. Contudo, o mercado é cético quanto a esse cumprimento e prevê que o superávit real não deverá passar de 1,5% do PIB.
Do total da meta ajustada, o governo central responde por 63 bilhões de reais e se comprometeu a economizar mais 10 bilhões de reais para compensar eventual descumprimento do objetivo de superávit de 47,8 bilhões de reais dos governos regionais.Por Reinaldo Azevedo
Tags: economia, Governo Dilma
27/09/2013 às 18:10
Alguns amigos, gente que gosta sinceramente de mim, costuma recomendar que eu não entre em determinados temas. Dizem que só rendem desgaste; afinal, vão contra a “doxa” ou o “espirito do tempo”. Mas então existimos, os jornalistas, para referendar tudo o que há? Um desses temas é o “aquecimento global”, expressão que foi ressuscitada, depois de ter sido substituída por “mudanças climáticas”.
Ocorre que o apelo publicitário e escatológico — no sentido teológico da palavra — de “mudança climática” é muito inferior ao de “aquecimento global”. Este último desperta no imaginário o temor de que a Terra vá mesmo derreter se a gente não fizer alguma coisa. Seu horizonte apocalíptico é muito mais forte. O outro era fraquinho, não mobilizava o medo — e houve até quem começasse a considerar os aspectos positivos da “mudança”: poderia ser favorável à produção agrícola em alguns lugares, facilitaria o trânsito de navios no polo Norte do planeta… Então que se recupere o original: o “aquecimento global” está de volta. E com força!
“Lá vem você, que não entende nada de clima…” É verdade! Mas entendo um pouco de linguagem religiosa e sei fazer algumas contas. Nessa área, costumo acompanhar o pensamento de Richard S. Lindzen, sobre quem já escrevi aqui algumas vezes. Ele entende. É professor de Meteorologia do Massachusetts Institute of Technology. As pessoas têm todo o direito de achar que, no MIT, só existem picaretas. Eu tenho o direito de achar que não. Lindzen não é um “cético”. É só um cientista sério que afasta a hipótese apocalíptica. Ele era o coordenador do capítulo científico do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC, em 2001. Seus “colegas” publicaram, então, conclusões sem o seu conhecimento. Como não é um embusteiro, demitiu-se.
Quem quiser contestações científicas as mais detalhadas contra os apocalípticos tem em Lindzen um bom caminho. Leio agora em reportagem da VEJA.com que o novo relatório da ONU amplia de 90% para 95% a possibilidade (ou certeza…) de que o aquecimento global seja mesmo produzido pelo homem. E, noto, o Apocalipse de São João voltou a ameaçar a humanidade.
De novo: quem quer contestação com minudências científicas deve recorrer a Lindzen. Ele tem um currículo respeitável. Eu me atenho a algumas circunstâncias que são ditadas pela lógica — ou falta dela. O IPCC, como é sabido, passou por um processo de desmoralização — e por bons motivos. Suas previsões catastrofistas de curto prazo não se realizaram, e surgiram evidências de que cientistas falsificavam dados para não perder o financiamento de pesquisas. Agora eles estão de volta anunciando que seus métodos de análise são bem mais severos e precisos. Certo! Como a esmagadora maioria da humanidade confiava nos anteriores, resta-lhe confiar neste também. Leio, por exemplo, o que segue na reportagem da VEJA.com (em vermelho):
“Como resultado, o IPCC baixou — um pouco — sua previsão de aquecimento global para este século. Enquanto o relatório de 2007 previa que esse aumento na temperatura iria ficar entre 1,1 e 6,4 graus Celsius, o novo relatório afirma que a temperatura deve subir entre 0,3 e 4,8 graus Celsius — o que está longe de ser tranquilizador.”
VAMOS FAZER CONTA?
No modelo anterior, a diferença entre a elevação mínima estimada (1,1) e a máxima (6,4) era de 482%. No novo modelo, muito mais preciso, segundo se informa, vejam que maravilha: a elevação mínima é de 0,3, e a máxima, de 4,8 — uma variação de 1.500%. Entenderam? O modelo teria se tornado mais preciso, isso forçou os apocalípticos a baixar as previsões, mas a diferença entre o mínimo e o máximo aumentou estupidamente: de 482% para 1.500%. Deve ser o único modelo matemático no mundo que, ao aumentar o espaço da incerteza, reivindica o estatuto de “modelo mais preciso”.
O “reconhecimento”
Reproduzo outro trecho da reportagem de VEJA.com (em vermelho):
A principal controvérsia do relatório, no entanto, deve ser mesmo o hiato constatado no aquecimento global. Segundo o texto de 2007, a Terra vinha passando por um aquecimento linear nos últimos 50 anos, aumentando 0,13 grau Celsius por década. Os cientistas, no entanto, haviam falhado em perceber que, desde 1998, essa tendência havia sido interrompida — o que serviu de forte munição para os críticos do IPCC.
Hoje, o painel reconhece o hiato, afirmando que, entre 1998 e 2012, o aquecimento global caiu para apenas 0,05 grau Celsius por década. No entanto, os cientistas preveem que a taxa deve voltar a subir nos próximos anos. Segundo eles, hiatos de dez ou quinze anos nas mudanças climáticas são comuns, e o que deve ser levado em conta para traçar tendências devem ser períodos mais longos de tempo.
Voltei
Notem que não se trata apenas de uma revisão, mas, quando menos, da admissão de um erro estúpido — e as malandragens denunciadas fazem supor que era, digamos, um erro metódico. Num modelo em que “zero vírgula alguma coisa” pode representar o fim do mundo, é preciso que se note, então, que haviam superestimado o aquecimento por década em… 160% (de 0,05 para 0,13) — e isso, claro, na hipótese de que o 0,05 não seja um, digamos, novo engano.
O novo relatório, como se vê, vai aumentar a certeza dos cientistas, mas ampliando o intervalo do palpite, com uma redução das grandezas, menos num item: o nível do mar. Afinal, é preciso trazer de volta o risco da tragédia. Em 2007, previa-se que ele subiria de 18 cm a 59 cm até 2100 (227% de variação) — em seu filme, Al Gore previu 6 metros!!! Agora, a coisa piorou: a estimativa vai de 26 cm a 82 cm (215%). O mínimo teve uma majoração de 44,4%, e o máximo, de 40%.
Concluo
Eu só faço algumas contas que me deixam um tanto espantado num modelo em que, insisto, índices de “zero vírgula alguma coisa” significam a diferença entre a sobrevivência e o fim da Terra. Como o modelo é chamado “matemático”, parece que a matemática é importante. Mas não sou, obviamente, referência em matéria de contestação científica. Já Richard S. Lindzen é.
E agora volto ao começo. Uma economia bilionária, trilionária, sei lá eu, já se formou em torno desse negócio de aquecimento global. Que importância tem, no balanço geral, um jornalista fazer algumas contas? Não escrevo com a finalidade de mudar o mundo, de ganhar adeptos ou de impor uma agenda. Logo, não sou ideólogo, guru ou político. Só faço algumas continhas e noto que, com modelo “matemático” com essa precisão, em vez de chegar à Lua, o homem teria ido parar na casa do chapéu. Já os “especialistas” e fanáticos do aquecimento, reitero, briguem com Lindzen (entre outros), não comigo. Provem que é ele o idiota. Por Reinaldo Azevedo
Tags: Aquecimento global
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