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reinaldo azevedo
08/11/2013 - 03h40
Que bom que os excluídos do mercantilismo, a primeira globalização, não decidiram depredar as caravelas gritando "uhu", "uhu"! O único mídia-ninja presente ao evento, em espírito ao menos, era Camões, caolho e meio marginal. Em "Os Lusíadas", ele ouve o "outro lado". Quem conhece o poema sabe que o Velho do Restelo advertiu os portugueses: "Vai dar tudo errado!" Sempre há um reacionário para rosnar pessimismos.
Depois de flertar com os black blocs, o Planalto anuncia a disposição de enfrentá-los. Sem muita convicção. É que alguns pensadores estão convencidos de que os mascarados representam a reação humanista à atual fase de dominação do capital. Marginalizados pelo processo, eles desafiariam com a sua destruição criativa o economicismo sem rosto da nova globalização. Depois que o socialismo acabou, restou às esquerdas a luta sem classes. Para elas, as vanguardas de opinião, não mais a extinta classe operária, é que portam o futuro, organizadas segundo "ismos" de suposto valor universal. Marxistas de fato morrem de tédio.
O capital incorporou e sustenta a militância. O "sedizente" neomarxista Slavoj Zizek pode até emprestar algumas prosopopeias e metáforas aos "ativistas", mas quem financia as causas, aqui e mundo afora, é o multibilionário George Soros. É fato, não teoria conspiratória. Há esquerdistas em penca nos institutos culturais dos grandes bancos, por exemplo, mas não em Pequim.
A guerra promovida pelas minorias organizadas se dá na esfera dos valores, é cultural. Seu campo privilegiado de batalha são as redes sociais. Já os "black blocs" --que, segundo Caetano Veloso, "fazem parte" (sei lá do quê)-- são admirados por sua prontidão para o confronto físico, por seu muque, por sua descrença nas palavras. A truculência desorganizada das ruas seria uma resposta à violência institucional do Estado. Nesse novo mundo, pode-se ser "fascista" por comer um bife, mas não por rachar cabeças; por se opor às cotas raciais, mas não por depredar o Parlamento; por admitir o uso de animais em laboratórios, mas não por considerar "coisa" o feto humano.
Na quarta-feira, o Instituto Royal, o dos "simpáticos beagles", anunciou o fechamento das portas. Militantes não querem mais que estudantes de medicina treinem traqueostomia em porcos. Médicos teriam de praticá-la, pela primeira vez, em humanos. Na nova ordem, o homem é o porco do homem. Nem George Orwell foi tão longe.
Pululam na imprensa candidatos a Jean-Paul Sartre desse humanismo estrábico. Falam de certo "malaise" social, de um mal-estar subterrâneo, de que os baderneiros seriam a manifestação visível. São obcecados pela tese de que o crime é um sintoma indesejável, mas fatal, da luta por justiça e de que o bandoleiro é só a expressão primitiva do libertador. Marcola seria, então, um Lênin que cometeu os crimes errados. Voltam-se até contra o PT, mas não por abrigar falanges da intolerância, financiadas com dinheiro público. Ao contrário! O partido, advertem, não teria avançado o bastante na agenda dos ditos vanguardistas. Cobram ainda mais intolerância.
Alguém indagaria: "Mas por que o país não pode ser entregue às vanguardas de opinião? Que mal há nisso?" Quem disse que não? Era o que Robespierre tinha na cabeça.
Caravelas... Globalizaram a escrita, a matemática, a astronomia, a física... "Mas também a gripe, a sífilis, a fé, a lei e o rei", gritam os justos. Ora, também sou justo. O pecado original foi sair da caverna. Uhu.
Reinaldo Azevedo, jornalista, é colunista da Folha e autor de um blog na revista "Veja". Escreveu, entre outros livros, "Contra o Consenso" (ed. Barracuda), "O País dos Petralhas" (ed. Record) e "Máximas de um País Mínimo" (ed. Record). Escreve às sextas-feiras.
Luiz (413)ontem às 10h40
Puxa! Como o Reinaldão pegou leve hoje. Ele até afrouxou a gravata dos 'extremistas da esquerda'. Hoje não da para uns reclamarem dele.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
LOUIS BLÉRIOT (638)ontem às 10h00
O fato é que está sobrando tempo na agenda desta molecada. Se mamãe e a empregada não fizessem tudo por eles, se tivessem que, ao menos, manter o quartinho deles limpo e arrumado, e se tivessem que trabalhar o dia todo e estudar à noite, talvez não houvesse tanto tempo livre para fazer bagunça.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
pedro volpe (556)ontem às 12h23
Reinaldo Azevedo, brilhante como sempre.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
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