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Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)
09/11/2013 às 7:11
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Por Reinaldo Azevedo
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09/11/2013 às 6:36
Finalmente eu e Lula concordamos numa coisa: Haddad é muito ruim! Ex-presidente chama prefeito em seu instituto duas vezes para lhe dar pitos
O “Rei do Camarote” fica para depois, talvez para este domingo. Vou falar um pouco do “Rei do IPTU”. Escrevi aqui alguns textos criticando a atuação do prefeito Fernando Haddad (PT), que tem se mostrado bastante desastrado. Sua equipe também não se entende. Se os repórteres que cobrem a política municipal apurarem bem os ouvidos, verão que Antônio Donato, secretário de governo, e Jilmar Tatto, dos Transportes, tocam músicas distintas. O prefeito meteu os pés pelas mãos no aumento do IPTU. A questão foi parar na Justiça. Lançou a estrepitosa operação caça-larápios — em si, necessária — como uma espécie de manobra diversionista. Nesta sexta, teve outra grande ideia: afirmou que a quadrilha pode ter fraudado também o IPTU. Vale dizer: o prefeito anuncia que há roubalheira na área, mas pretende impor um reajuste escorchante. Não é do ramo. Muito bem. Reportagem de Marina Dias e Márcio Falcão na Folha deste sábado informa que Lula se encontrou duas vezes com Haddad nesta semana para criticar a ação do prefeito.
O alcaide teve de ir ao instituto comandado pelo ex-presidente para levar os pitos. Os encontros aconteceram na segunda e nesta sexta. Um vexame. No PT, informou o jornal, discute-se uma espécie de “intervenção” na Prefeitura. O temor é que a gestão Haddad prejudique a campanha eleitoral de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. Há quem veja risco de que a própria Dilma acabe arranhada.
Da forma como Haddad detonou a operação para pegar os auditores fiscais corruptos, o principal atingido, obviamente, é Gilberto Kassab (PSD), que pretendia — pretende ainda? — se candidatar ao governo de São Paulo. Dá-se como certo que o PSD estará com Dilma no ano que vem. Mas a coisa não pode azedar muito. Eduardo Campos (PSB), ainda sem aliados, adoraria contar com um tempinho a mais de TV e é interlocutor do ex-prefeito.
O PT contava com Kassab como linha auxiliar de Padilha em São Paulo. O presidente do PSD, obviamente, não tem condições de vencer, e seu apoio pode — poderia? — ser importante num eventual segundo turno. Agora, a receita desandou. Hoje ao menos (e não parece que esse assunto vá morrer tão cedo), as circunstâncias são bastante adversas mesmo para se lançar nessa aventura eleitoral. A base principal do ex-prefeito é a capital. Deixou a gestão com a rejeição nas alturas, como é sabido. Com quase um ano de Haddad no poder, é bem possível que estivesse em curso um processo de recuperação da sua imagem. Se havia, foi para o brejo.
De volta a Lula
É evidente que Lula não está nada satisfeito com o resultado. Haddad lidera uma gestão impopular e ainda detonou uma bomba no quintal de um fidelíssimo aliado do governo federal, que tem — ou tinha — importância estratégica em São Paulo. Ainda que Kassab consiga fazer o cálculo vencer o rancor, há um problema: o eleitor. Sabe que, nas ruas, nos táxis e nos ônibus, é a sua gestão que está na berlinda.
À Folha, declarou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP): “Essa questão do IPTU tem pouco efeito eleitoral. Estamos longe das eleições, e Haddad vai conseguir explicar que esse aumento é para a parte mais rica”. Pois é… Sempre há um petista para tentar resolver tudo pelo arranca-rabo de classes. Lula já viveu o bastante para saber que as coisas não são bem assim. O diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio. A indisposição de camada considerável da cidade que vai arcar com a elevação do IPTU pode, sim, contaminar setores que não serão diretamente atingidos pelo reajuste. Ora, tome-se o caso da tarifa dos ônibus: ganhou o coração mesmo dos que andam de carro. De resto, quem está sendo chamado de “rico” por Zarattini? Não é um caminho prudente.
Assim, os petralhas que ficaram inconformados com as críticas que fiz ao prefeito nos últimos dias devem agora enviar as suas reclamações a Lula. Eis um tema em que os dois concordamos: Haddad é ruim de doer.Por Reinaldo Azevedo
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76 COMENTÁRIOS
09/11/2013 às 6:31
“PSDB padece de bovarismo”, diz Serra
Na Folha:
O ex-governador paulista José Serra fez ontem duras críticas ao PSDB e afirmou que seu partido tem necessidade de “ser aceito pelo PT”. Ele usou o termo “bovarismo”, em referência ao romance “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, para descrever um dos problemas da sigla. “Me desculpem as mulheres, porque é mais complexo que isso, mas a madame Bovary queria ser aceita pelo outro. Ela vai à loucura, quebra a família, trai o marido com Deus e o mundo para ser aceita. E o PSDB tem um pouco de bovarismo, de precisar ser aceito pelo PT”, disse Serra durante palestra no Diretório Estadual do PSDB paulista.
(…) “O PT faz um leilão mal feito como o do campo de Libra. E o que faz o PSDB? Sai dizendo: Olha aí, eles sempre foram contra a privatização e agora estão fazendo a privatização’. Isso dá voto? Nenhum”, disse Serra. O paulista disse que, no PSDB, “se confunde o fato de que a economia deve ser aberta com a ideia de que o mercado vai resolver tudo”: “É um desvio do mercadismo”. Serra afirmou ainda que é um erro fazer uso do “regionalismo” para pautar decisões pré-eleitorais: “A questão regionalista acaba pesando e se supõe que um partido como o PSDB possa transcender essas questões para que esses instrumentos não sejam usados nas lutas internas”.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 21:31
Falei nesta sexta, num dos posts abaixo, sobre os seres elementais que sempre transitaram ali pela mística Eike Batista. Pois é… Leiam o que segue.
Na VEJA.com:
A endividada petroleira OGX pretende mudar o nome para Óleo e Gás Brasil S.A., tirando a letra “X” de sua denominação – marca de todas as empresas listadas em bolsa do ex-bilionário Eike Batista para simbolizar a multiplicação de riqueza. A OGX, que era considerada o ativo mais precioso de Eike e, na semana passada, entrou com pedido de recuperação judicial com dívida de 11,2 bilhões de reais, convocou acionistas para assembleia geral extraordinária em 26 de novembro para deliberar sobre a mudança do nome da companhia. Inicialmente, o encontro estava previsto para o dia 19.
A assembleia também votará sobre o grupamento de ações da OGX. Segundo edital de convocação divulgado na noite de quinta-feira, o “grupamento visa minimizar os efeitos potenciais de pequenas oscilações no valor das ações em termos percentuais”. A empresa, porém, não deu mais detalhes sobre a proposta. A ação da petroleira, que já chegou a custar cerca de 23 reais, vale atualmente 0,15 real. Os acionistas deverão ratificar ainda o pedido de recuperação judicial feito à Justiça do Rio de Janeiro no fim de outubro, o maior da história por uma empresa da América Latina. Finalmente, será discutida e deliberada a venda do controle da OGX Maranhão, subsidiária da petroleira que tem campos de gás em blocos terrestres na Bacia do Parnaíba.
A OGX anunciou em 31 de outubro acordo para sair da OGX Maranhão, em uma operação que deve render cerca de 344 milhões de reais à empresa, recursos cruciais para que ganhe uma sobrevida e inicie produção de petróleo no campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos. A venda da OGX Maranhão ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), além dos credores da petroleira.
A OGX protagonizou a maior campanha exploratória de petróleo por uma empresa privada no Brasil. Mas as ambiciosas estimativas de óleo recuperável nos seus campos não se confirmaram e a empresa se viu sem alternativa a não ser pedir recuperação judicial para tentar evitar uma falência. Se não conseguir recursos em breve, a empresa ficará sem caixa em algum momento de dezembro, de acordo com apresentação aos detentores de 3,6 bilhões de dólares em bônus da empresa no exterior. Eles rejeitaram uma proposta de reestruturação da dívida apresentada pela petroleira antes do pedido de recuperação judicial.
(Com Reuters)
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Eike Batista, OGX
08/11/2013 às 20:31
Ai, ai… Eu vou ter de escrever sobre o “Rei do Camarote”. Eu vou ter de falar algumas coisinhas sobre a hipocrisia e os viciados em virtudes. Vamos jantar com amigos na noite de hoje. Se eu chegar em condições técnicas, hehe, vai ser logo mais, nesta madrugada. No meu artigo desta sexta na Folha, afirmo que restou à esquerda só “a luta sem classes”.
Sim, falarei sobre o Rei do Camarote. Não deve ser o que alguns esperam ler. Sabem como é… Quando vejo consensos muito entusiasmados — com aquele entusiasmo que costumam ter as hienas diante de uma carcaça, geralmente roubada de outros caçadores —, eu fico com vontade de divergir.
Estejam certos de uma coisa: onde há divergência, a tirania não prospera. Nem a comuna nem a fascista. Será densa a coisa. Eu só trato champanhe com brilhareco se for para falar a sério.Por Reinaldo Azevedo
Tags: costumes
08/11/2013 às 19:14
Ai, ai, ai. Quero dizer: “Au, au, au”
Vai ter gente toda arrepiada. Mais adiante, reproduzo um trecho de reportagem de Severino Motta, na Folha Online. Revela o conteúdo do recurso apresentado ao Supremo pela defesa de José Genoino. Ualá! Cita a passagem de um dos trechos mais cretinos jamais produzidos por um cantor de MPB. Sim, é de Chico Buarque. E, antes que se convoque a luta armada contra mim ou que alguma senhora menos contida resolva se contrapor com gentilezas aos meus latidos, observo. Sim, sim: ele é um bom letrista lírico — dos melhores. O problema é seu esquerdismo de “brilhos e bolhas” (né, Caetano?). Na defesa de Genoino, cita-se esta pérola do submarxismo de boteco:
“a história é um carro alegre/
cheio de um povo contente/
que atropela indiferente/
todo aquele que a negue”.
Entenderam, né? Está tudo escrito já. Os mais afoitos relaxem. Aquele tempo chegará…. Reproduzo trecho da reportagem. Volto depois.
*
O deputado licenciado José Genoino (PT-SP) enviou nesta sexta-feira ao STF (Supremo Tribunal Federal) um recurso contra sua condenação no processo do mensalão. Em 25 páginas, sua defesa cita Chico Buarque e chama de ingênuo quem acreditou na história de compra de apoio parlamentar no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Por maior respeito que se tenha por aqueles que ingenuamente acreditaram na maior ficção da história brasileira, a estória do mensalão –urdida pelo maligno rancor de Roberto Jefferson (…) fato é que reuniões entre presidentes de partidos visando apoio ao governo não constitui, por óbvio, a prática de qualquer ilícito”, diz trecho do recurso.
Repleto de palavras de ordem, a defesa de Genoino intercalou frases de efeito sobre a inocência do deputado com versos da música “Cancion por la unidad latinoamerica”, de Chico Buarque e Pablo Milanés. “José Genoino Neto não merece a pecha de bandoleiro. José Genoino Neto não integra quadrilha. José Genoino Neto, sem favor algum, merece absolvição”, diz o recurso pouco depois de citar trecho da ‘Cancion’: “a história é um carro alegre / cheio de um povo contente / que atropela indiferente / todo aquele que a negue”.
Mostrando indignação não somente por sua condenação por formação de quadrilha, na qual obteve os quatro votos necessários para apresentar o novo recurso, conhecido como embargos infringentes, Genoino também critica a mídia, para ele “panfletária e reacionária”, e diz que “brigará até o fim de sua existência pela causa de sua inocência” também no crime de corrupção. “[Genoino] Não se resigna e nem nunca se resignará. Não aceita e jamais aceitará sua condenação (…) brigará hoje e até o fim de sua existência (…) quando for e onde for pela causa de sua inocência”.
No recurso o deputado ainda destaca que não quer somente conquistar o “coração e mente” dos novos ministros, Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, em sua tentativa de absolvição pelo crime de formação de quadrilha. Quer, também, fazer com que os ministros que condenaram seu cliente “evoluam” e concordem com o revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, que inocentou os réus.
(…)
Voltei
Nossa! Temo ler o conteúdo inteiro do recurso e pegar em armas. Nunca antes na história destepaiz o presidente de um partido se meteu numa operação tão escusa com propósito tão heroico. Na defesa de Genoino, vai a síntese da velharia do pensamento de esquerda que remanesce no PT. Seus crimes devem ser encarados como atos de resistência. É um troço obviamente vergonhoso.
Espero que o ministro Luís Roberto Barroso não se comova. Ao negar provimento a um embargo de declaração de Genoino, Barroso cantou as glórias da biografia do condenado, um grande paladino, segundo se entende, da luta democrática. Não ficou claro se o ministro se referia à guerrilha do Araguaia, que, como se sabe, buscava instaurar no Brasil o reino da justiça e da igualdade maoístas.
Mais Chico
A citação da música vem bem a calhar. É, admito, um bom achado para a espécie de defesa que se faz. Genoino é um dos portadores daquele futuro de que trata a letra. Ele é um dos porta-vozes, ou um dos representantes, da tal do “carro alegre”. Se é, então tudo lhe é permitido, e aqueles que se opõem a suas ações são reacionários — um bando de cães que rosnam — contra a alegria popular.
Chico já cantou o regime criminoso de Cuba. Chico já cantou o regime criminoso — e um dos mais corruptos da Terra — de Angola. Não vejo mal nenhum que Genoino tente explicar o mensalão apelando à letra de sua canção.
Au, au, au…Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 17:30
Ai, ai…
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB e pré-candidato do partido à Presidência, chegou a pensar no nome do ator Marcos Palmeira para o governo do Rio. Parece que este não se animou muito. Na semana passada, convidou Gilberto Gil (filiado ao PV), informa Mônica Bergamo, colunista da Folha. No Estado, o PSDB apostava no treinador de vôlei Bernardinho, que é, sabidamente, um excelente… treinador de vôlei. O “não”, com cara de ser definitivo, foi dado por sua mulher, a ex-levantadora da seleção Fernanda Venturini.
E assim caminham as coisas….
Recomendo aos famosos e celebridades do Rio que tomem cuidado. Vocês podem sair, assim, para dar aquele passeio vespertino, poetizando todos os diminutivos dessa cidade realmente superlativa — sim, barquinhos que vão, tardinhas que caem — e voltar para casa candidatos ao governo do Estado.
Lembro uma música de um outro famoso que mora no Rio: “Neste universo todo de brilhos e bolhas/ muitos beijinhos, muitas rolhas/ disparadas dos pescoços das Chandon…”
Sim, no mundo real, vão disputar a eleição Garotinho (PR), Pezão (PMDB) e Lindbergh (PT). Dilma tem dois palanques garantidos e, no terceiro, quando menos, não será hostilizada. Os tucanos e os peessebistas tentam ainda lugar para fazer ao menos um comício. Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 16:47
O populismo é uma porcaria porque, entre outros malefícios, usa boas causas com finalidades escusas; transforma o desejo de justiça e correção da maioria, que é moral, em sede justiceira. É o que está fazendo Fernando Haddad, prefeito de São Paulo — de forma que não parece ser exatamente prudente nem mesmo para a sua administração. Mas isso é lá com ele. Nunca dou conselho para políticos. Deixo essa tarefa para colunistas mais inteligentes do que eu.
A Prefeitura de São Paulo tem uma Controladoria-Geral do Município. Nas democracias, as controladorias, ainda que geralmente subordinadas ao Executivo, gozam de independência. Não fazem nem política nem terror. É justamente o contrário do que faz o prefeito. A operação de caça aos fiscais corruptos — em si, tudo indica, necessária — foi pensada sob medida para enfrentar a reação certamente negativa que sobreviria ao reajuste do IPTU. As democracias investigam ladroagem e punem ladrões. Os aparatos político-policialescos transformam essa ação em instrumento de perseguição a adversários.
Mais: um prefeito não sai dando “dicas” do que a Controladoria está investigando — até para não atrapalhar a apuração dos fatos. Como o órgão certamente não tem ainda a exata dimensão do esquema, evita-se antecipar o resultado para que não haja, entre outras coisas, sumiço de eventuais provas. Ocorre que Haddad está desesperado. O PT está pegando no seu pé. Ele está sendo chamado de atabalhoado e egoísta pelo partido; não estaria pensando na candidatura de Alexandre Padilha. Aí ele fez o quê?
Decidiu dobrar a dose do remédio para ver se acaba com os efeitos colaterais. Enfiou ainda mais o pé na jaca do populismo. Nesta sexta, anunciou que a Controladoria detectou que o esquema corrupto pode ter interferido também na arrecadação do IPTU e no cadastro da dívida ativa. A Folha registra a sua fala:
“Há denúncias de mudança cadastral no IPTU para que as pessoas paguem menos. Neste há participação de parte do grupo preso. Há também indícios de fraude na dívida ativa, com mudança de registro de divida ativa para beneficiar devedores”. O moralizador foi além: “Tem muito trabalho para pouca gente, mas tem que ser feito. Vamos passar a limpo todo o trabalho na Prefeitura”.
O “homem novo” na Prefeitura de São Paulo tem, finalmente, um norte, uma direção: submeter administrações anteriores a uma razia político-administrativa. É o que lhe restou. Se Dilma se segurou com alta popularidade na condição de faxineira, por que não ele?
Ocorre que…
Ocorre que Haddad quer enfiar a faca nas costas — ou melhor: no bolso — de boa parte dos paulistanos, com um reajuste brutal do IPTU. A decisão está hoje na Justiça, dependente da cassação ou não de uma liminar, que tornou sem efeito a sessão da Câmara que aprovou o imposto e a sanção da lei, que, em si, já foi ilegal porque a primeira liminar estava em vigência.
Muito bem! Ao lançar, NESTE MOMENTO, dúvidas sobre a justeza na cobrança do IPTU (e noto que a Controladoria ainda não apresentou o resultado do seu trabalho); ao afirmar que existe um esquema para beneficiar pagadores; ao meter o imposto que hoje causa forte reação de indignação na cidade no meio da sujeirada dos fiscais, o que espera Haddad? Que os paulistanos se conformem com o aumento escorchante? Que digam assim: “Ah, agora estou feliz com esse carnê absurdo; afinal, Haddad, o Moralista, já limpou a Prefeitura de todos os ratos”.
Tipicamente petista
Esse mesmo Haddad que sai fazendo acusações ao léu defende com unhas e dentes o petista Antonio Donato, secretário de governo. Nesse caso, ele nem acha que precisa haver apuração. A ex-amante de um dos fiscais presos diz ao telefone, em tom de ameaça, que vai contar que Donato era beneficiário do esquema. Em depoimento ao Ministério Público, Paula Sayuri Nagamati, amiga de Ronilson Rodrigues, considerado o chefe da turma, diz que este lhe contara que a turma da pesada financiara a campanha de Donato. Sabem o que fez a prefeitura petista? Demitiu Paula, que exercia um cargo de confiança. Sabem quem assinou a demissão? Donato! O que há de verdade nisso? Não se sabe. O que é fato? Já havia denúncias contra Ronilson. Mesmo assim, o auditor fiscal virou diretor da SPTrans, uma empresa com orçamento de R$ 6 bilhões. Quem mandou nomear? Donato! Quem diz que foi Donato? O secretário, também petista, Jilmar Tatto, que é seu chefe.
Essa sequência é prova de culpa? Não! Quando menos, ela indica a necessidade de uma investigação. Mas quê… Haddad, o que antecipa o conteúdo de uma apuração em curso da Controladoria, também se comporta como juiz. No caso do petista, ele absolve por princípio. Já os não petistas são todos suspeitos.
Encerro
Haddad transforma o que poderia ser uma ação legítima e moralizadora numa operação politiqueira. Precisa recuperar prestígio a qualquer custo. Decidiu juntar a estratégia da “herança maldita”, a inventada por Lula, com a da “faxineira exemplar”, criada por Dilma. Vamos ver se, assim, o paulistano se conforma com o assalto a seu bolso e se sobe a popularidade do rapaz. Alexandre Padilha conta com isso.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Fernando Haddad, Prefeitura de SP
08/11/2013 às 15:46
O Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação de algumas obras em razão da evidência de fraudes. Ou melhor: recomendou que se cortem os recursos até que as correções sejam feitas — e isso, na prática, implica a paralisação. A presidente Dilma Rousseff está brava, não quer.
No Rio Grande do Sul, afirmou:
“Eu acho um absurdo paralisar obra no Brasil. Você pode usar de vários métodos. Agora, paralisar obras é algo extremamente perigoso. Porque depois ninguém repara o custo. Se houve algum erro por parte de algum agente que resolveu paralisar, não tem quem repare, a lei não prevê (…). Então você para por um ano ou para por seis meses ou para por três meses e ninguém te ressarce depois.”
Referindo-se à BR 448, afirmou: “De qualquer jeito, essa obra vai ficar pronta. E nós vamos inaugurá-la.”
Heeeinnn? “De qualquer jeito?” Como assim? A tal BR é uma das obras com problema. O Congresso pode aceitar ou não as sugestões do TCU. Se decidir cortar a verba da obra com suspeita de irregularidade, cortada está. E ponto final. O que está a dizer a presidente? Que ela pode não acatar a decisão?
Demonização do TCU
Quem decidir recuperar o histórico da relação dos governos petistas com os mecanismos de controle e transparência vai se assustar. Lula deu início ao trabalho de desmoralização do TCU. Dilma continua seu trabalho.
O tribunal apontou um dos principais problemas hoje em curso: boa parte das obras não tem projeto executivo, que é uma espécie de mapa para orientar o poder público e as próprias empresas executoras das obras. Leva tempo. Tudo está sendo feito à matroca. Boa parte das obras da Copa e da Olimpíada, por exemplo, o dispensa. Como é sabido, o governo criou um regime especial para esses empreendimentos, que os deixa fora também da Lei de Licitações.
No passado, quando eram oposição, os petistas usavam relatórios do TCU como peças de propaganda política. No governo, passaram a demonizar o tribunal e todos os que se atrevem a acompanhar o gasto de dinheiro público. Há uma questão de lógica elementar: se um empreendimento está viciado, contaminado pela corrupção, continuar a irrigá-lo com dinheiro público corresponde a alimentar o bolso de ladrões.
Mas a presidente pode ficar tranquila. O Congresso deve recusar a sugestão do TCU.Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 15:13
Consta que Eike Batista — por pouco o Brasil não tem o maior rio do mundo e o maior bilionário do mundo, além da maior pororoca — apela a pessoas que têm contatos com seres elementais para ajudá-lo na condução dos negócios. Quem há de negar que deu certo? Um dos seres do outro mundo que o auxiliaram bastante foi o BNDES, por exemplo… Mas sigo. Na Folha, Valdo Cruz e Natuza Neri informam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem comentado com interlocutores que o Brasil está vivendo “o inferno astral” na área fiscal.
Entendi tudo direitinho. Eu achava que haviam feito escolhas erradas e temerárias na área fiscal, mas, agora, estou mais tranquilo. O governo é bom. Ocorre que nada pode fazer contra forças que estão acima da sua alçada.
Mais de uma vez — consultem o arquivo — sugeri que o Brasil trocasse Mantega por Mãe Dinah. Nunca acataram a minha sugestão. Deve-se ao excelente Sandro Vaia a melhor síntese sobre as previsões de Guido Mantega para o crescimento, por exemplo: atua como institutos de pesquisa, com margem de erro de dois pontos. No caso dele, a realidade se encarrega sempre de ficar na banda inferior: o país cresce pelo menos dois pontos percentuais a menos do que ele antevê. Já a inflação fica sempre dois pontos e pouco acima do centro da meta.
Pois é… O cristianismo, especialmente o catolicismo, a gente sabe, anda em baixa no Ocidente. As pessoas costumam preferir orientalismos e perspectivas siderais que desafiam a astronomia. Com o tempo, os cristãos foram se tornando racionais demais para dar conta da complexidade do mundo.
Minha proposta sobre Mãe Dinah continua de pé. Místicos costumam fazer previsões mais ou menos pessimistas, passando ao consulente uma dieta comportamental para mudar seu destino. No caso do governo, por exemplo, poder-se-ia sugerir que Dilma e Mantega carregassem um ramo de arruda atrás da orelha e fossem mais responsáveis com os gastos. A arruda funciona. “Podiscrê”, como se dizia antigamente.Por Reinaldo Azevedo
Tags: economia, Guido Mantega
08/11/2013 às 7:03
LEIAM ABAIXO
- — Não entendi! Procurador-geral está querendo bater papinho com black bloc?;
- — Depredando caravelas;
- — Aprovação do governo Dilma ainda patina. Ou: números discrepantes;
- — A verdade é que Haddad tentou dar um truque na Justiça;
- — Agregando valor…;
- — Acusação contra Kassab precisa ser vista com muito cuidado;
- — Auditor investigado diz que Kassab “sabia de tudo”;
- — CNT 2 – Mais uma pesquisa aponta vitória de Dilma no 1º turno no cenário considerado mais provável;
- — Pesquisa CNT 1 – 39% aprovam o governo Dilma;
- — Proposta estabelece mais restrições às paralisações de servidores;
- — Governo sugere pronto-atendimento judicial em protestos. E uma estranha proposta de Janot, o procurador-geral…;
- — De volta;
- — Juiz nega pedido de Haddad e mantém suspensão de lei que aumenta IPTU;
- — UPPs e mistificações. Finalmente, a verdade: bandido solto faz… bandidagem!;
- — Conforme o previsto, vândalos mantêm invasão da Reitoria da USP. Querem a PM porque, assim, aparecerão como vítimas e heróis na TV, nos jornais e nos portais;
- — Haddad afasta do cargo sócio da mulher de Jilmar Tatto;
- — Haddad, o “moralizador” trapalhão do IPTU escorchante;
- — TCU recomenda paralisação de sete obras públicas — quatro são do PAC;
- — Justiça aceita denúncia contra seis por quebra de sigilo de tucanos. Crimes: corrupção ativa, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, falsidade ideológica e uso de documento falso
Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 6:53
Depois de flertar com a bagunça e, de uma maneira oblíqua, até mesmo estimulá-la, o governo federal resolveu que era hora de fazer alguma coisa. Deve ter pesado na decisão o fato de que a quase totalidade da população repudia a violência. Segundo indicam as pesquisas. Muito bem: montou-se um grupo de trabalho que, agora, estuda algumas propostas. Nesta quinta, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, liderou uma reunião com os secretários de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e de São Paulo, Fernando Grella Vieira, e representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). De lá saiu, sim, uma boa proposta. Falarei a respeito. Uma outra, no entanto, parece apelar ao absurdo. Mais preocupante: seu autor é procurador-geral da República,
Em que ela consiste? O procurador-geral quer criar um fórum aberto à participação popular para debater conflitos entre manifestantes e policiais… O exemplo seria o que se faz na mediação de conflitos agrários. Xiii… Vamos ver. Os confrontos de rua a que temos assistido não se dão entre “manifestantes” e PMs, mas entre bandidos mascarados e PMs. A questão é saber se esse grupo de trabalho foi criado para coibir a violência ou para dialogar com ela. Pergunta: existe diálogo possível com gente que cobre o rosto com o propósito deliberado e anunciado de depredar bens públicos e privados?
Que diabo de “fórum” e esse? Quem vai se sentar do outro lado? Seria o Ilustríssimo Vândalo? O Ilustríssimo Black Bloc? De resto, a polícia não é um ente. O ente é o Estado, que detém o monopólio do uso legítimo da força, pois não? Ou isso lhe foi cassado? E que história essa de fórum aberto à “participação popular”? Sabe-se muito bem que, nesses casos, o “povo” costuma ser representado por militantes profissionais, geralmente ligados a partidos políticos de extrema esquerda, que têm tempo e disposição para esse tipo de ação e militância. Um fórum assim tende a se transformar num mero tribunal de acusação, e a ré será sempre a Polícia Militar.
O conceito está errado, e, na origem da proposta, há uma avaliação perniciosa: a de que, de algum modo, os black blocs representam a população. E isso, obviamente, é falso.
A proposta que parece boa — se aplicada com critério — é a criação de um pronto-atendimento judicial para punir com celeridades os que cometem abusos durante as manifestações. Valeria tanto para manifestantes como para policiais. O grupo pode sugerir ainda o aumento da pena para crime de dano ao patrimônio e um agravante no caso de agressão a policiais.
É claro que Cardozo acordou tarde para a gravidade do problema. De todo modo, melhor que tente dar uma resposta. É preciso, no entanto, ter cuidado. Ainda que haja exemplos terríveis e eloquentes do despreparo de alguns policiais, essa comissão não pode correr o risco de achar que tem duas tarefas de igual importância e urgência: reprimir os baderneiros e as polícias. Já há instâncias para punir os exageros dos órgão de segurança. Os black blocs é que seguem impunes.Por Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, violência
08/11/2013 às 5:39
Seguem os dois primeiros parágrafos do meu artigo na Folha desta sexta.
*
Que bom que os excluídos do mercantilismo, a primeira globalização, não decidiram depredar as caravelas gritando “uhu”, “uhu”! O único mídia-ninja presente ao evento, em espírito ao menos, era Camões, caolho e meio marginal. Em “Os Lusíadas”, ele ouve o “outro lado”. Quem conhece o poema sabe que o Velho do Restelo advertiu os portugueses: “Vai dar tudo errado!” Sempre há um reacionário para rosnar pessimismos.
Depois de flertar com os black blocs, o Planalto anuncia a disposição de enfrentá-los. Sem muita convicção. É que alguns pensadores estão convencidos de que os mascarados representam a reação humanista à atual fase de dominação do capital. Marginalizados pelo processo, eles desafiariam com a sua destruição criativa o economicismo sem rosto da nova globalização. Depois que o socialismo acabou, restou às esquerdas a luta sem classes. Para elas, as vanguardas de opinião, não mais a extinta classe operária, é que portam o futuro, organizadas segundo “ismos” de suposto valor universal. Marxistas de fato morrem de tédio.
(…)
Leiam a íntegra aquiPor Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, violência
08/11/2013 às 5:34
Veio a público nesta quinta uma nova pesquisa, encomendada pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes), feita pelo instituto MDA. O índice deaprovação do governo Dilma, por mais que o PT queira comemorar, não é grande coisa: 8% o consideram ótimo; 31% dizem ser bom, 37,7% avaliam que é apenas regular, e 22,7%, que é péssimo. Vejam bem: há o “Mais Médicos”, o leilão do pré-sal, a onipresença da presidente na televisão… Lula também voltou a falar pelos cotovelos. Mas Dilma parece empacada nesse patamar. Não é exatamente confortável.
O instituto testou também cenários eleitorais, sem Serra. Naquele considerado mais provável, Dilma vence no primeiro turno, com 43,5% dos votos. O tucano Aécio Neves obtém 19,3%, e Eduardo Campos (PSDB), 9,5%. No dia 12 do mês passado, os números do Datafolha para esse mesmo trio, eram estes, respectivamente: 42%, 21% e 15%. No Ibope divulgado no dia 24 passado, 41%, 14% e 10%. Se a candidata for Marina, o MDA aponta estes números: Dilma: 40,6%; Marina: 22,6%; Aécio: 16,5%. No Datafolha, na mesma sequência: 39%, 29% e 17%. No Ibope: 39%, 21% e 13%.
Na pesquisa CNT-MDA, se Dilma disputasse o segundo turno com Marina, venceria por 45,3% a 29,1%; contra Aécio, por 46,6% a 24,2%; contra Campos, por 49,2% a 17,5%. Eis estas mesmas disputas no Datafolha: 47% a 41%; 54% a 31%; 54% a 28%. Agora no Ibope: 42% a 29%; 47% a 19%; 45% a 18%.
Os números que dizem respeito a Dilma apresentam certa compatibilidade entre os institutos. No caso dos demais candidatos, as disparidades são gigantescas. O que há de comum em todos eles é o fato de Marina aparecer com o dobro (ou mais) dos votos de Eduardo Campos. Se a realidade estiver mais próxima dos números do Datafolha de há quase um mês, Dilma tem com o que se preocupar: ficou apenas seis pontos à frente de Marina no segundo turno. No Ibope, no entanto, essa diferença é de 13 pontos; no MDA, de 16,2.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Eleições 2014
08/11/2013 às 4:44
Como vocês viram, o juiz Emílio Migliano Neto, da 7ª Vara da Fazenda Pública, negou pedido da Prefeitura e manteve a liminar que suspende o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em São Paulo a partir de 2014. A Justiça refutou também solicitação da Prefeitura para que a sanção da lei, publicada no Diário Oficial do Município na manhã de quarta-feira, não fosse considerada um descumprimento da decisão.
Pois é… Fernando Haddad é mesmo um “homem novo”… Julga que pode dar um truque até na Justiça. Confesso a vocês: não vejo, em tese, com muita simpatia esse negócio de o Poder Judiciário interferir no Legislativo. Falo em tese. No caso, a Justiça concedeu uma primeira liminar contra a sessão da Câmara que aprovou o aumento do IPTU. Ora, concedida, restava evidente que Haddad não poderia ter sancionado a lei, dando uma de esperto: “Ah, não recebi a notificação”…
A antecipação da votação na Câmara foi uma manobra. Dá para debater se é regimental ou não etc. e tal. Agora, sancionar uma lei quando já se tem ciência de que pesa contra ela uma decisão judicial — no caso, contra o ato que a gerou — é uma tentativa tosca de afrontar a Justiça.
Esse “novo homem” está se atrapalhando e metendo os pés pelos pés. Como escrevi na manhã de ontem, por mais que o caso dos fiscais — EM SI, MUITO GRAVE! — tenha sido usado para tentar retirar o IPTU do noticiário, a coisa não colou. Ou melhor: as duas colaram: a tentativa de aumento escorchante do IPTU e o escândalo.
A Prefeitura, claro!, vai recorrer e a chance de derrubar a liminar, entendo, é grande. O desgaste, no entanto, está dado. Falta a Haddad um elemento fundamental para políticos: habilidade.Por Reinaldo Azevedo
08/11/2013 às 4:21
O “Rei do Camarote” está rendendo. Esta aqui, que circula da rede, está bem adequada a estes dias.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, humor
08/11/2013 às 4:11
Há notícias que têm de ser dadas. Mas é igualmente necessário pensar a respeito. Vamos ver. O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, preso sob acusação de integrar o esquema que fraudava a cobrança de ISS da Prefeitura de São Paulo, afirma em conversa gravada que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo Costa “tinham ciência de tudo”. A gravação foi feita com autorização da Justiça, integra a investigação, mas já está na praça, como costuma acontecer nesses casos.
Vamos ver. A conversa ocorreu a 18 de setembro deste ano, no mesmo dia em que ele fora chamado pela Controladoria-Geral do Município para prestar informações sobre o seu patrimônio, considerado incompatível com o seu rendimento. A sua interlocutora era Paula Sayuri Nagamati, sua amiga e chefe de gabinete da secretaria de Finanças na gestão anterior. Ele afirmou literalmente:“Tinham que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito com quem eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”. Rodrigues não é bobo. Sabia que seu telefone deveria estar grampeado, pela simples e óbvia razão de que essa é praticamente a única forma de investigação que há no Brasil. Assim, a sua fala pode ter sido talhada a termo para comprometer terceiros ou, ao jogar a coisa para escalões superiores, tentar provocar um susto e esfriar o ânimo investigatório.
Convenham: nesse caso, o que é “saber de tudo”? Quer dizer, então, que Kassab e o ex-secretário participariam da lambança? Ou, então, não participando, mas cientes, deixaram que a turma roubasse à vontade? Não sei, não… Isso parece não fazer muito sentido. Quando um prefeito e um secretário de Finaças querem roubar, há dezenas de operações mais seguras do que essa. Destaco: estou trabalhando com questões meramente lógicas. Na hipótese de sociedade com fiscais larápios, os dois estariam só enfiando grana no bolso? Seria um esquema político?
Coincidência
É curioso. A interlocutora do fiscal que acusa Kassab é Paula Sayuri Nagamati. Em depoimento ao Ministério Público, ouvida como testemunha, não como acusada, ela afirmou que Rodrigues lhe contara que ele e outros auditores apoiaram a campanha do petista Antonio Donato para vereador, atualmente secretário de governo de Fernando Haddad. Não é a única. Em ligação telefônica, uma mulher, que a polícia diz ser amante de Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos quatro presos na semana passada, acusa o secretário de ter recebido dinheiro do esquema.
O fato é que, na gestão Haddad, Rodrigues foi para um cargo ainda mais importante: virou diretor da SPTrans, que tem um orçamento de R$ 6 bilhões. Jilmar Tatto, secretário dos Transportes, pasta à qual é subordinada a empresa, deixou claro: partiu do gabinete de Donato o pedido de nomeação.
Seja como for, a exoneração de Paula Sayuri foi publicada no Diário Oficial. Reitere-se: até agora, ela é só testemunha no caso. Haddad a tratou como acusada e diz que ela é muito próxima da turma. Quem assinou a demissão? Justamente Donato.
A exoneração de Paula: quem assina é o secretário citado em seu depoimento ao MP (arte: Jornal da Globo)
Concluo
É provável que Kassab esperasse que seus novos amigos, os petistas, o tratassem de outra maneira. Será que ele já concluiu, a esta altura, que jamais será um deles?Por Reinaldo Azevedo
Tags: Prefeitura de SP, propinoduto
07/11/2013 às 23:59
Na VEJA.com:
O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, preso sob acusação de integrar o esquema que desviou 500 milhões de reais da prefeitura de São Paulo, afirmou, em conversa gravada em setembro com autorização da Justiça, que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo Costa “tinham ciência de tudo”. O diálogo foi divulgado na noite desta quinta-feira pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.
“É um absurdo, Paula. Tinha de chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito com quem eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”, afirma Rodrigues, em conversa com Paula Sayuri Nagamati, ex-chefe de gabinete de Mauro Ricardo. No telefonema, Rodrigues demonstra irritação após seu nome ser publicado no Diário Oficial do Município como investigado pela prefeitura.
Kassab e Mauro Ricardo repudiaram a afirmação de Rodrigues, ex-subsecretário de Receita Municipal. “Essa atitude tem objetivo escuso exclusivamente para atingir minha imagem e honra”, disse Kassab, em nota. O ex-prefeito e o ex-secretário de Finanças também reafirmaram que a investigação preliminar do esquema de propina começou em setembro de 2012 e só não foi concluída porque a gestão terminou.
Paula foi exonerada do cargo de supervisora técnica na Secretaria de Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Ela afirmou, em depoimento ao Ministério Público, que o secretário de Governo, Antonio Donato (PT), recebeu dinheiro para campanha eleitoral, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Haddad chegou a dizer que Paula “faz parte da quadrilha”, mas os promotores afirmam que, por enquanto, ela é “apenas testemunha”.
Esquema
O Jornal Nacional também revelou uma gravação feita pelo fiscal Luis Alexandre de Magalhães durante um encontro entre ele, Rodrigues e mais um acusado, o ex-diretor da Divisão de Cadastro de Imóveis, Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral. A conversa foi gravada no apartamento de Magalhães e é considerada uma das principais provas colhidas pelo Ministério Público Estadual sobre o esquema de propina. “Eu não vou ser bode expiatório. Eu levo a secretaria inteira, vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro”, disse o fiscal, irritado com Rodrigues. “Você sabe porque me deu muito dinheiro? Porque eu te deixei lá”, respondeu Rodrigues.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Gilberto Kassab, Prefeitura de SP
07/11/2013 às 23:57
Mais uma pesquisa aponta que, se a eleição fosse hoje, Dilma Rousseff venceria a disputa no primeiro turno — ao menos no cenário considerado o mais provável. A pesquisa da CNT não testa o nome de José Serra como candidato do PSDB. Leiam o que vai no texto de Márcio Falcão, na Folha Online (os infográficos também são do jornal).
A menos de um ano das eleições de 2014, a presidente Dilma Rousseff segue favorita na corrida pelo Palácio do Planalto, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (7) pela CNT (Confederação Nacional do Transporte). O levantamento aponta que Dilma, se disputasse a reeleição com o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), venceria já no primeiro turno. Se a disputa fosse com a ex-senadora Marina Silva, mais nova filiada ao PSB, haveria chances de segundo turno. Em outubro, após ver a Justiça eleitoral negar o registro de seu partido, Marina se filiou ao PSB, no momento mais surpreendente da disputa até agora. Campos e Marina, no entanto, evitam cravar quem será o candidato à Presidência e adiam a decisão para 2014.
Na disputa com Campos em um primeiro turno, Dilma, conforme a pesquisa, tem 43,5% das intenções de voto. O senador Aécio Neves (PSDB-SP) aparece com 19,3% e o socialista registra 9,5%. No cenário com Marina, Dilma tem 40,6% das intenções de voto, a ex-senadora alcança 22,6% e Aécio Neves soma 16,5%. Segundo o levantamento, 20% votariam em branco, nulo ou em nenhum dos candidatos, enquanto 7,8% não sabem ou não responderam.
Segundo turno
No segundo turno, Dilma teria 45,3% contra 29,1% de Marina. Com Aécio, a petista alcança 46,6% e o tucano 24,2% das intenções. Em outra simulação, Dilma teria 49,2% e Campos 17,5%. Segundo a avaliação do instituto MDA, responsável pela pesquisa encomendada pela CNT, o levantamento indica que não há transferência de voto direta entre Marina e Campos. Os dados mostram que a saída de Marina favorece Dilma, que herdaria 7 pontos percentuais dos votos da ex-senadora, enquanto Campos e Aécio teria pontos percentuais cada e outros 5 pontos percentuais seria de brancos e nulos.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Eleições 2014
07/11/2013 às 23:42
Leiam o que vai na Folha Online. É claro que voltarei ao assunto:
Cinco meses após as manifestações de rua, a aprovação do governo Dilma Rousseff atingiu 39% dos entrevistados e o desempenho pessoal da presidente chegou a 58,8%, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (7) pela CNT (Confederação Nacional do Transporte). Na rodada passada, divulgada em setembro, a aprovação do governo era de 38,1% e a avaliação pessoal do desempenho de Dilma era de 58%. O levantamento foi feito entre os dias 31 de outubro a 4 de novembro. Foram ouvidas 2.005 pessoas, em 21 Estados. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais.
Segundo a pesquisa, 8% dos entrevistados consideram o governo da petista “ótimo”, enquanto 31% o avaliam como “bom”. A avaliação positiva considera aqueles que acharam o governo “ótimo” ou bom”. A avaliação do governo como “regular” foi de 37,7% e a avaliação negativa soma 22,7%, sendo “ruim” para 10,8% e péssima para 11,9%. Dos entrevistados, 0,6% não sabem ou não responderam.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: eleição 2014, Governo Dilma
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