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Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)
17/02/2014 às 20:05
Lei que endurece com black blocs é melhor do que lei nenhuma, mas é uma capitulação
Um projeto de lei elaborado pelo governo federal vai proibir o uso de máscaras em protestos. As pessoas que se negarem a se identificar serão encaminhadas à polícia. As penas para danos ao patrimônio e agressões serão agravadas. Leiam post na home. Melhor isso do que o que se tem hoje. Danos ao patrimônio resultam em penas de seis meses a um ano — ou seja: nada. Desde o início da bagunça, em junho, há uma pessoa presa. Parece piada, mas é assim. Reitero: melhor essa lei do que nada, mas é claro que já se está diante de uma capitulação.
Como sempre, a turma do “deixa-disso”, que enxerga em toda manifestação de rua a redenção do povo, veio a público para matar no nascedouro o debate sobre uma lei antiterrorismo no país — única democracia do mundo, grande, pequena ou média, a não ter uma. Estamos num daqueles quadros do surrealismo legal brasileiro. Dois artigos da Constituição, o 4º e o 5º, repudiam o terrorismo, mas não temos leis para puni-lo. Os nossos “progressistas”, especialmente os da imprensa, acham que tem de ser assim mesmo.
Existe uma falácia, um cretinismo, segundo o qual penas mais duras não coíbem o crime. É um absurdo nos seus próprios termos. Não coíbem se não forem aplicadas. A questão é de lógica elementar. Se isso fosse verdade, não haveria penas distintas para furto e homicídio — seria uma pena única. Alta, média ou baixa (seria irrelevante), se furtar fosse igual a matar, o provável é que houvesse uma equalização entre furtos e homicídios. Não há como sair dessa armadilha lógica.
Então, sim, as penas maiores ajudam a coibir os crimes — desde que aplicadas. Já expus aqui os motivos por que não se quer e não se vai votar uma lei antiterror. Alguns dos chamados movimentos sociais, como o MST, seriam facilmente enquadráveis na lei.
A propósito: quantas pessoas foram presas e serão indiciadas em razão da pancadaria promovida pelo MST na Praça dos Três Poderes? Resposta: nenhuma! Ao contrário: no dia seguinte, Dilma recebeu a turba para conversar, demonstrando que ela aceita dialogar com quem fere 30 policiais, oito com gravidade.
Por Reinaldo Azevedo
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17/02/2014 às 20:04
Médicos da Câmara negam aposentadoria por invalidez a Genoino
Por Marcela Mattos e Laryssa Borges, na VEJA.com:
Às vésperas de o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, decidir se determina ou não o retorno do ex-deputado José Genoino para a Penitenciária da Papuda, o petista sofreu um novo revés. A junta médica da Câmara dos Deputados realizou mais uma bateria de exames no mensaleiro e concluiu que ele não deve ser beneficiado com a aposentadoria por invalidez. De acordo com o laudo, baseado em exames realizados na última terça-feira, Genoino não é portador de cardiopatia grave e, por isso, não teria direito a receber os vencimentos na íntegra – 26.700 reais. Atualmente, ele recebe cerca de 20.000 reais de aposentadoria por tempo de serviço.
As conclusões dos médicos ainda podem ser revistas, mas foi a segunda resposta negativa ao pedido de aposentadoria por invalidez de Genoino. No final de novembro, a junta médica havia apontado que o ex-presidente do PT tinha problemas cardíacos, mas o quadro não era grave o suficiente para ser afastado definitivamente do trabalho. Na época, os médicos pediram mais noventa dias para concluir a análise.
Como o mais recente laudo é desfavorável, a defesa de Genoino tenta uma última cartada para reverter o quadro. Na última quinta-feira, o petista anexou ao processo novos exames, incluindo o monitoramento ambulatorial da pressão arterial (MAPA), sistema que registra a pressão arterial a cada quinze ou vinte minutos durante 24 horas. Quatro médicos ainda vão analisar os resultados desse exame para decidir se revisam o laudo sobre a aposentadoria ou se tornam definitiva a decisão contra Genoino.
Genoino está provisoriamente em prisão domiciliar em Brasília e aguarda decisão do ministro Joaquim Barbosa sobre a necessidade de retornar para o presídio da Papuda. No final de novembro, um laudo médico elaborado a pedido de Barbosa constatou que a prisão domiciliar não era “imprescindível” para o ex-presidente do PT. Ainda assim, Barbosa estendeu o benefício ao mensaleiro por mais noventa dias, prazo que termina nesta quarta-feira.
Ainda nesta semana, o plenário do Supremo deve julgar o último recurso apresentado pelo petista. Ele contesta, por meio de embargos infringentes, a condenação que recebeu por formação de quadrilha. Se os ministros acatarem a tese do mensaleiro, sua pena pode cair para quatro anos e oito meses de prisão.Por Reinaldo Azevedo
Tags: José Genoino, Mensalão
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17/02/2014 às 19:16
Os debochados – O delegado Zaccone no prêmio “Molotov de Ouro”
O delegado Zaccone e Sininho: o representante da ordem e a da desordem
Por Gabriel Castro e Daniel Haidar na VEJA.com:
O delegado de Polícia Civil Orlando Zaccone, titular da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), mentiu sobre a data em que conheceu a ativista Elisa Quadros, a Sininho. Incluído na lista de doadores para o evento “Mais amor, menos capital”, realizado em 23 de dezembro do ano passado, Zaccone confirmou ter contribuído com 200 reais, e explicou que só naquela noite esteve pessoalmente com Elisa. Uma fotografia publicada em um blog, no entanto, mostra os dois lado a lado em um evento em 20 de novembro, em outro evento: o “Prêmio dos Protestos de 2013”, promovido pelo humorista-militante conhecido como Rafucko. Nada demais se não fosse Zaccone uma autoridade policial e se não estivessem os manifestantes, naquela noite, festejando, entre outros eventos, o “Maior Ato de Vandalismo” do ano, premiado com o “Molotov de Ouro”. O ato ‘premiado’ foi a quebra dos manequins da Toulon – na noite de 17 de julho, no bairro do Leblon.
Zaccone tem direito de rir do que quiser. Mas, a partir do momento em que acha graça do crime de roubo, depredação do patrimônio público e privado e de atos de vandalismo, deixa de ter credenciais necessárias para chefiar policiais que deveriam, na verdade, investigar e prender quem roubou a Toulon. Em tempo: “Pichar a Alerj” e “Queimar ônibus” também estavam indicados ao prêmio.
“Não fico vendo folha de antecedentes criminais das pessoas que conheço. Óbvio que, se tiver conhecimento que a pessoa tem mandado de prisão, teria que cumprir”, respondeu o delegado, por telefone, ao site de VEJA. Como os roubos foram praticados por mascarados, e Zaccone não reconheceu os manequins expostos como egressos da loja saqueada, a história ficou no riso – menos para a Toulon, que amargou o prejuízo, assim como outras lojas atacadas por baderneiros que percorreram as ruas do Leblon e de Ipanema.
Questionado sobre a foto, Zaccone explicou que foi convidado por Sininho, em outubro, para uma palestra em dezembro. O encontro na noite em que o vandalismo foi premiado foi ao acaso. De acordo com o delegado, ele apenas passou pelo evento na Cinelândia, onde encontrou algumas pessoas, e de lá seguiu para um show de Caetano Veloso e Marisa Monte no Circo Voador, na Lapa.
Zaccone reclama que se sente perseguido. “Me sinto como se estivesse passando por um processo de inquisição pelo fato de ter contato com pessoa que não existe nenhum processo contra ela. Estão me cobrando o fato de eu ter conhecido e estado com uma pessoa que nem sequer sofreu um processo”, disse Zaccone, sobre Sininho. “Eu tenho a liberdade de conhecer pessoas que não estejam foragidas, que não estejam condenadas. Mesmo assim, se a pessoa não está presa e não tem mandado de prisão, qual seria o meu crime por tê-la conhecido?”, reclamou Zaccone.
Doações
Além do delegado, aparecem na lista de doadores os vereadores do PSOL Renato Cinco e Jefferson Moura – ambos admitiram que seus gabinetes fizeram doações ao evento. O juiz João Damasceno, que figura na planilha, negou ter feito doações. Os doadores alegam, em seu favor, que o dinheiro foi usado apenas para a compra de uma ceia, com rabanadas, para a população carente. E ignoram o fato de o grupo ali acampado é o mesmo que organizou a ocupação do Palácio Pedro Ernesto.
A Polícia Civil abriu investigação, no âmbito da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), para descobrir se dinheiro doado por autoridades foi usado para financiar atos criminosos em manifestações. A unidade também foi designada para, a partir de cópias de documentos colhidos pela 17ª DP (São Cristóvão), investigar o aliciamento de manifestantes para atuar em ações violentas nos protestos.Por Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, Orlando Zaccone, violência
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17/02/2014 às 18:42
Ministério Público denuncia acusados de matar Santiago Andrade
Na VEJA.com, de Daniel Haidar, do Rio de Janeiro:
Os dois acusados de matar o cinegrafista Santiago Andrade, da rede Bandeirantes, foram denunciados à Justiça nesta segunda-feira pelo Ministério Público do Estado do Rio. O auxiliar de serviços gerais Caio Silva de Souza e o tatuador Rafael Raposo Barbosa, conhecido como “Fox”, ambos de 22 anos, devem responder por homicídio doloso (com intenção de matar) triplamente qualificado – o MP considerou que houve motivo torpe, que a vítima não teve possibilidade de defesa e que foi usado um artefato explosivo para tirar a vida da vítima. Os dois também responderão pelo crime de explosão em área pública – com pena de até quatro anos. A denúncia indica que o entendimento do MP é mais duro que o da Polícia Civil, que enquadrou os ativistas em apenas uma qualificadora para o crime de homicídio (uso de artefato explosivo). A promotora Vera Regina de Almeida, da 8ª Promotoria de Investigação Penal (PIP), concordou com o delegado Maurício Luciano de Almeida, responsável pelas investigações, e requereu à Justiça a conversão da prisão de Raposo e Souza de temporária para preventiva – sem prazo determinado. Os dois estão presos temporariamente no complexo penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. O procedimento foi encaminhado à 3ª Vara Criminal do Rio. Caso o juiz Murilo Kieling aceite a denúncia do MP, será aberta ação penal. Com isso, Raposo e Souza passarão da condição de acusados a réus. Se o magistrado decretar a prisão preventiva dos dois, eles permanecerão atrás das grades até o julgamento, a não ser que obtenham habeas corpus em instâncias superiores. Se ao final da instrução do processo o juiz decidir pronunciá-los, eles serão julgados por um júri popular. Os dois rapazes estão com a prisão temporária expedida, por 30 dias, desde a última segunda-feira. Caio foi preso na quarta-feira, após se entregar em Feira de Santana, na Bahia. Fábio se apresentou à polícia no dia 9 de fevereiro e está preso desde então. Eles foram reconhecidos em vídeos e fotos da manifestação do dia 6 de fevereiro. Nesse protesto, o cinegrafista Santiago Andrade acabou atingido na cabeça pelo rojão e faleceu alguns dias depois. Em depoimento a policiais, Caio e Fabio confessaram que lançaram o rojão. Na última quinta-feira, um colega de trabalho de Caio disse ainda que o suspeito confessou, em uma ligação depois do protesto, que tinha matado uma pessoa na manifestação.Por Reinaldo Azevedo
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17/02/2014 às 16:09
Projeto federal proíbe uso de máscara em protestos
Na VEJA.com:
O governo decidiu incluir no projeto de lei que envia nesta semana ao Congresso Federal a proibição do uso de máscaras durante protestos. O projeto, que será apresentado em regime de urgência, visa conter a violência nas manifestações e aumenta as punições em caso de danos ao patrimônio público. A proposta também prevê o agravamento da pena para quem cometer atos de lesão corporal.
“Quem quiser pintar o rosto pode pintar, mas será vedado o uso de máscara ou camisa cobrindo o rosto, sem que as pessoas se identifiquem, para evitar o vandalismo”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “A lei proíbe o anonimato. As pessoas têm de arcar com as consequências do que fazem. Ninguém pode se infiltrar em manifestações para depredar o patrimônio, agredir, matar e não ser punido.” Pelo projeto de lei, os manifestantes mascarados que se recusarem a apresentar a identificação serão encaminhados à polícia. “Se a pessoa se negar a sair do anonimato, estará cometendo crime de desobediência. E casos de reincidência configuram sanção penal mais elevada”, afirmou Cardozo.
A pena existente hoje para danos ao patrimônio público é de seis meses a um ano de reclusão. Na avaliação do governo, trata-se de penalidade “muito baixa”, que precisa ser reforçada. “Em vários países, como a França e o Canadá, existem leis mais duras, que garantem a liberdade de expressão, mas coíbem com rigor a prática de crimes. É isso que estamos fazendo”, disse o ministro.
(…)
O governo está preocupado com o clima de insegurança perto da Copa do Mundo, principalmente em um ano em que a presidente Dilma Rousseff disputará a reeleição. Além disso, na avaliação do Palácio do Planalto, a participação dos black blocs e mascarados em protestos provoca medo generalizado, sensação de descontrole e acaba diminuindo a adesão de pessoas que querem protestar livremente.
Apesar desse diagnóstico, o governo não aprovou a ideia do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, que dá nova configuração ao crime de formação de quadrilha. Para Beltrame, a quadrilha já poderia ser caracterizada quando duas pessoas – e não três, como é hoje – se reunissem para cometer atos ilícitos. Na semana passada, um cinegrafista da TV Bandeirantes foi morto após ser atingido por um rojão durante manifestação no Rio. Cardozo negou que o projeto de lei tenha o objetivo de coibir atos públicos e protestos contra o governo. “Queremos garantir a liberdade de manifestação, mas vamos atuar com rigor contra a violência e a prática de crimes”, disse o ministro.Por Reinaldo Azevedo
Tags: protestos, violência
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17/02/2014 às 15:12
Caetano, a Soninha Toda-Pura dos black blocs, decide ser a Fada Sininho de Marcelo Freixo
Caetano fantasiado de black bloc: ele apenas viu uma estética, sabem?
Mas os black blocs são também uma ética e fazem isto: Santiago Andrade ferido
Caetano Veloso, o esteta dos black blocs, que se deixou fotografar fantasiado de bandido, resolveu, mais uma vez, fazer reflexões políticas. É aquele senhor que chegou a escrever certa feita que os “os black blocs fazem parte”. Infelizmente, não revelou o complemento nominal que tinha em mente para que soubéssemos, afinal de contas, parte de quê.
Neste domingo, em seu artigo no Globo, ele volta à carga com dois truques manjados, velhos, mas que têm eficácia: atacar o veículo em que escreve para a)demonstrar independência; b) fazer com que o jornal prove, então, que ele está errado. Sempre que veículos da grande imprensa são desafiados por esquerdistas e bocós (ou a soma das duas coisas) a provar que não são “de direita”, caem no truque. Até porque não faltam nas redações… esquerdistas e bocós (ou a soma das duas coisas).
Parafraseando uma deliciosa coluna de Diogo Mainardi, sobre outras personagens, noto que Peter Pan e os black blocs têm a fada Sininho. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) tem Caetano Veloso. Caetano é a fada Sininho de Freixo. Quando a bomba dos piratas está para estourar no colo de Freixo, providencialmente aparece Caetano, batendo as asinhas. Ele carrega a bomba para longe e – bum! – estoura junto com ela, sempre pronto a se sacrificar pela Terra do Nunca.
Leiam o texto de Caetano publicado no domingo. Volto depois.
*
Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo. Sou independente, conforme se vê. Ser estrela é bem fácil. Nada importam as piadas dos articulistas reacionários que classificam minhas posições como Radical Chic. Desprezo a tirada de Tom Wolfe desde o nascedouro. Antigamente tentavam me incluir na chamada esquerda festiva. Isso sim, embora incorreto, me agradava: a expressão brasileira é muito mais alegre, aberta e democrática do que a de Wolfe. Mas tenho vivido para desmontar o esquema que exige adesão automática às ideologias da moda. Deploro o resultado das revoluções comunistas. Todas. E, considerando o Terror que se seguiu a 1789, sou cético quanto a revoluções em geral. Na maioria das vezes, a violência se dá, não para fazer a história humana caminhar, mas para estancar seu fluxo. Olho com desconfiança os moços que entram em transe narcisista ao quebrar vidros crendo que desfazem a trama dos poderes. Ainda hoje não consigo adotar a posição que considera Eduardo Gianetti, um liberal crítico, ou André Lara Rezende, o homem que põe em discussão o crescimento permanente, conservadores. Nem acho que o conservadorismo seja necessariamente um mal. A adesão de alguns colegas meus à nova direita me deixa nauseado, não por ser à direita, mas por ser automática.
Simplesmente me pergunto qual exatamente será a intenção do GLOBO ao estampar manchetes e editoriais induzindo seus leitores a ligarem Marcelo Freixo aos rapazes que lançaram o rojão que matou Santiago Andrade. A matéria publicada no dia em que saiu a chamada de capa com o nome do deputado era uma não notícia. Nela, a mãe de Fábio Raposo, o rapaz que entregou o foguete a Caio Souza, é citada dizendo acreditar que o filho “tem algum tipo de ligação com Freixo”. Isso em resposta a uma possível declaração do advogado Jonas Tadeu Nunes, que, por sua vez, partiu de uma suposta fala da ativista apelidada Sininho. O GLOBO diz que esta nega. Como então virou manchete a revelação da possível ligação entre o deputado e os rapazes envolvidos no trágico episódio? Eu esperaria mais seriedade no trato de assunto tão grave.
Li o artigo do grande Jânio de Freitas em que ele defende a tese de intenção deliberada de assassinar um jornalista, o que está em desacordo com as imagens exibidas na GloboNews. Sem falar na entrevista do fotógrafo, que afirma que o detonador do artefato tinha mirado os policiais. Claro que me lembrei, ao ver a primeira reportagem na GloboNews, dos carros de emissoras de TV incendiados durante as manifestações, o que me levou a participar da indignação dos âncoras do noticioso. Um vínculo simbólico entre aquelas demonstrações de antipatia e o ocorrido em frente à Central é óbvio: um rojão sai das mãos de um manifestante e atinge a cabeça de um jornalista. Mas parece-me abusivo ver nisso o propósito de matar o repórter. Nas matérias que se seguiram, O GLOBO, ecoando falas do advogado Jonas Tadeu, que diz não ser pago por ninguém para defender os dois réus mas conta que um deles diz receber dinheiro para ir às manifestações, insiste em lançar suspeita sobre Freixo, por ser o PSOL, seu partido, um possível doador do alegado dinheiro. Na verdade, as declarações do advogado, mesmo nas páginas do GLOBO, soam inconvincentes. O mesmo Jânio de Freitas, em artigo posterior àquele em que defende a tese de assassinato deliberado, se mostra desconfortável com o comportamento de Jonas Tadeu. Já O GLOBO, no qual detecto uma sinistra euforia por poder atacar um político que aparentemente ameaça interesses não explicitados, trata as falas de Tadeu sem crítica. Uma das manchetes se refere a vereadores do PSOL que teriam contribuído para uma ação na Cinelândia, na véspera de Natal, sugerindo ligação do partido com vândalos, quando se tratava de caridade com moradores de rua. O tom usado no GLOBO é, para mim, de profundo desrespeito pela morte de Santiago.
Freixo, em fala firme ao jornal, desmente qualquer ligação com os dois rapazes. Ele também lembra (assim como faz Jânio) que Jonas Tadeu representou o miliciano Natalino.
Quando Freixo era candidato a prefeito, escrevi artigo elogioso sobre ele. O jornal fez uma chamada de capa que, a meu ver, desqualificava meu texto. Manifestei minha indignação. A pessoa do jornal que dialogava comigo me assegurou não ter havido pressão dos chefes. Acreditei. Agora não posso deixar de me sentir mal ao ver a agressividade do jornal contra o deputado. Tudo — incluindo os artigos de autores por quem tenho respeito e carinho — me é grandemente estranho e faço absoluta questão de dividir essa estranheza com quem me lê.
*
Comento
Caetano Veloso acha que basta classificar de “colunistas reacionários” aqueles que criticam suas irresponsabilidades para que fique tudo bem. Não, senhor! A causa a que ele, em alguma instância, aderiu já tem um morto e é hoje a força que mais constrange a imprensa livre. Essa mesma onde ele vai posar de pensador alternativo.
Os vereadores do PSOL não “teriam contribuído” com black blocs; eles contribuíram. É preciso ser Caetano Veloso para ter a cara de pau de afirmar que quem promove quebra-quebra num dia vai fazer caridade de Natal no outro. É do poeta já morto Wally Salomão a melhor expressão para designar esse lado falso sonso de Caetano: posa de “Soninha Toda-Pura”.
O “instituto”, ou algo assim, que fornece os advogados que livram da cadeia os black blocs é umbilicalmente ligado ao PSOL, a Freixo. Até outro dia, a página do partido trazia o texto de um membro da direção considerando a tática black bloc aceitável, parte do jogo político. Os covardes tiraram o texto do ar. A notícia, omitida por Caetano, saiu no Globo.
Ele faz de conta também que o Sindicato dos Professores do Rio, comandado pelo PSOL — e isso quer dizer “Marcelo Freixo” —, não promoveu ações conjuntas com os black blocs, o que foi admitido até em nota oficial. A parceria é antiga.
Raramente li texto tão desonesto intelectualmente. E, se notarem bem, não há um só lamento, uma miserável linha, nada, pela morte de Santiago Andrade. Vai ver isso também “faz parte”.
Eu achava que Caetano estava apenas decadente e que ninguém, à sua volta, por medo de perder o emprego, tinha coragem de dar um toque. Mas vejo que ele já morreu faz tempo.
Estou respondendo ao texto de um defunto moral. Vejam as duas imagens lá do alto. Caetano, nos últimos anos, vinha provocando em mim algo como repulsa intelectual. Desta feita, santo Deus!, é nojo físico mesmo. Não é assim que se lida com a morte de pessoas. Não é assim que se lida com sangue humano.
Seu irresponsável!Por Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, Caetano Veloso
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333 COMENTÁRIOS
17/02/2014 às 14:19
Não é qualquer governo que produz estes resultados: é preciso ser muito ruim!
Convenham: não é qualquer governo que consegue produzir uma das taxas reais de juros mais altas do planeta (hoje, o Brasil deve estar em segundo lugar) e um crescimento abaixo de 2%, lutando bravamente para a inflação não sair do controle. E não custa lembrar que já está contratado: depois de 13 anos, o Brasil deverá ter déficit na balança comercial em 2014. Aliás, não fosse a contabilidade criativa de Guido Mantega — que fez uma mandracaria, computando como “exportação” plataformas da Petrobras que nunca saíram do país —, já teria havido um déficit de US$ 5,5 bilhões em 2013. Mas eles estão aí: reinventando o passado e senhores absolutos do futuro. Guido Mantega sabe como fazer. Se não for ele, há o risco de ser Aloizio Mercadante. Jesus! Leiam o que informa a VEJA.com.
Na VEJA.com:
Analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central reduziram de 1,90% para 1,79% a expectativa de crescimento da economia brasileira em 2014, de acordo com pesquisa semanal Focus divulgada nesta segunda-feira. Para 2015, a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou de 2,20% para 2,10%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 2,00% e 2,50%.
Já a projeção de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 subiu de 5,89% para 5,93% – bem distante do centro da meta do governo, de 4,5%. Há quatro semanas, a estimativa estava em 6,01%. Para 2015, a projeção segue em 5,70%. Há quatro semanas, estava em 5,60%. A previsão de inflação para os próximos 12 meses subiu de 6,00% para 6,05%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 5,98%.
Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2014 no cenário de médio prazo segue em 5,86%. Para 2015, a previsão dos cinco analistas se manteve em 5,80%. Há um mês, o grupo apostava em altas de 6,19% para 2014 e 6,00% para 2015. Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em fevereiro segue em 0,65%. Há quatro semanas, estava em 0,65%. Para março, a projeção segue em 0,50% há oito semanas.
Ainda que a expectativa de inflação tenha crescido, os economistas mantiveram inalteradas suas previsões quanto a taxa básica de juros da economia, a Selic. Os analistas ouvidos pelo BC esperam a Selic em 11,25% ao ano ao fim de 2014. Para 2015, a mediana segue em 12,00% ao ano. A taxa está hoje em 10,50% ao ano. A previsão para a taxa na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro segue em 10,75% ao ano.
A previsão para a Selic média subiu de 10,94% para 10,97% ao ano para 2014 e de 11,75% para 11,79% para 2015. Há quatro semanas, estavam em 10,69% e 11,42% ao ano, respectivamente. No grupo Top 5 a previsão para a Selic no fim de 2014 segue em 11,75% ao ano. Para 2015, segue em 12,25% ao ano.
A projeção para o crescimento do setor industrial em 2014 segue em 1,93%. Para 2015, economistas preveem avanço industrial de 2,89%, ante 2,95% da pesquisa anterior. Um mês antes, a Focus apontava estimativa de expansão de 2,20% para 2014 e de 2,89% em 2015 para o setor. Os analistas reduziram a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2014 de 34,95% para 34,80%. Há quatro semanas, estava em 34,80%. Para 2015, segue em 35,00% há nove semanas.Por Reinaldo Azevedo
Tags: balança comercial, crescimento econômico, Guido Mantega
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82 COMENTÁRIOS
17/02/2014 às 5:05
LEIAM ABAIXO
— Imprensa livre, democracia e lei antiterror. Ou: Estados democráticos têm legitimidade para dizer o que os indivíduos NÃO PODEM fazer. E se fizerem? CANA!;
— Zavascki e Barroso vão decidir o tempo de cadeia das estrelas do mensalão;
— Os que estão nas ruas na Venezuela querem é democracia; os black blocs no Brasil são é bandidos;
— Este escriba num breve debate sobre as manifestações;
— A 4 meses da Copa, capital do país está abandonada, sob a falta de cuidados do PT federal e do PT local;
— Péssima notícia – Após 13 anos de saldo positivo, país deve ter déficit comercial em 2014;
— A tréplica a Janio de Freitas. E quem financia os black blocs. Ou: É preciso aprender para não acabar como supernanny de mensaleiro;
— A mercadoria “Zé Dirceu preso” rende mais do que o comércio de substâncias lícitas e ilícitas;
— O surto de amor de Suplicy pelos mensaleiros;
— Azeda a relação do PT com o PMDB em vários estados;
— IRRESPONSÁVEIS 2 – A OAB-RJ perdeu a moral para representar a defesa do Estado de Direito no Rio. Nota vergonhosa sobre o ataque a cinegrafista desmoraliza os advogados do Rio. Ou reagem ou passarão a ser serviçais do PSOL;
— Senador quer que ministro diga para onde vai a verba da publicidade oficial. Ou: Dinheiro público não pode financiar difamadores;
— Não tem jeito! No começo, os petistas não tinham limites; depois, eles pioraram. Ou: Como era óbvio, tumulto no metrô interessava ao PT;
— Pizzolato, peixe pequeno, estava montado na grana; Dirceu, o tubarão, tadinho!, precisa pedir esmola na Internet!;
— A campanha terrorista de Padilha na TV, o PT e os cadáveres;
— CRIME ORGANIZADO – Página do Black Bloc faz ameaça a quem revela informações sobre o grupo;
— E o “Mais Médicos” é, agora oficialmente, um “caso de polícia”. Espantoso!;
— Médica cubana cobra na Justiça indenização de R$ 149 mil;
— IRRESPONSÁVEIS 1 – A delinquência intelectual na entrevista de um chefete do PSTU;
— Gilmar Mendes: mensaleiros devem usar expertise arrecadatória para ressarcir aos cofres públicos pelo menos R$ 100 milhões. E o que diz a Constituição. Leia íntegra da resposta do ministro a SuplicyPor Reinaldo Azevedo
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17/02/2014 às 4:55
Imprensa livre, democracia e lei antiterror. Ou: Estados democráticos têm legitimidade para dizer o que os indivíduos NÃO PODEM fazer. E se fizerem? CANA!
Black blocs em ação: será que isso é permitido na democracia? Resposta óbvia: não!
Em dezenas de artigos neste blog e na minha coluna na Folha de sexta, acusei a omissão da imprensa e dos jornalistas, que não revelam a seu leitores, telespectadores ou ouvintes que são obrigados a se esconder nas manifestações. Um colete com a palavra “Imprensa” não seria uma boa ideia porque, em vez de proteger o jornalista, a vestimenta o exporia a riscos ainda maiores. Pode até ter a sua eficácia na Síria, não nas ruas de São Paulo ou do Rio. E a omissão continua. Por enquanto ao menos, homenagens à parte, no que concerne à reação dos profissionais de imprensa, Santiago Andrade morreu em vão. Aliás, note-se, em vez da justa indignação, começou foi o coro dos hipócritas do “deixa disso”. Há até alguns e algumas bacanas sugerindo que os jornalistas precisam evitar a reação “corporativista”. E assim é, vocês já perceberam, porque os assassinos de Santiago são dois manifestantes. Imaginem o escarcéu que se faria — e com razão, noto — se tivesse sido morto pela Polícia Militar.
Aliás, reações, estas sim, corporativistas, vimos e ainda vemos quando se trata de apontar o dedo contra as forças se segurança. É possível que um ou outro policiais tenham atirado balas de borracha contra jornalistas porque jornalistas — e, ficando evidenciado, têm de ser punidos porque o artefato deixa de ser dissuasivo para se transformar em arma de ataque. No mais das vezes, no entanto, jornalistas foram feridos no fogo cruzado. Infelizmente, a tal bala ainda é incapaz de distinguir profissões. Como os coleguinhas estão sempre fazendo a cobertura do ponto de vista do “manifestante”, nunca da polícia, a chance de ser atingido é grande. “Ah, está justificando!” Não estou. Digo como são as coisas.
Vejo associações de empresas e de jornalistas cobrando “garantias” à polícia. Quais garantias? O instrumento mais eficaz, nesses casos, é haver a clara identificação dos profissionais de imprensa. Ou deem outro! Mas assim não pode ser porque eles estão com medo — e com razão. No Rio, no dia 13 de junho, policiais foram literalmente linchados. Então a coisa não começou agora, certo? Um grupo foi sitiado na Assembleia, com vândalos dispostos a botar fogo no prédio. Em São Paulo, um coronel da Polícia Militar teve a clavícula quebrada e poderia ter sido morto não fosse a intervenção de homens do serviço reservado. E o coronel estava lá para negociar. Imaginem se esses canalhas cercam um repórter de TV cuja cara é conhecida. Um carro da TV Record foi incendiado — apesar disso, um gigante moral como Paulo Henrique Amorim usa seus dotes momescos para fazer graça com a violência, tripudiando sobre o cadáver de um colega de sua ex-profissão.
Por que a Globo, a Band ou a Record não mandam para as ruas, com a devida identificação no microfone e nas câmeras, seus profissionais conhecidos, justamente os mais experientes e, em tese ao menos, mais aptos a coberturas com esse grau de complexidade? Porque seriam linchados! Ainda que as empresas fossem irresponsáveis o bastante para convocá-los, eles não iriam. Se conhecerem alguns, perguntem a eles se teriam coragem de enfrentar a parada. Não são doidos. Aliás, os repórteres de TV que me leem agora sabem que falo a verdade. As TVs estão recorrendo a estratégias editoriais: o jornalismo atua de modo clandestino, colhendo imagens. Depois, os mais experientes se encarregam de “amarrar” uma reportagem final. E ninguém está se escondendo da polícia. É vergonhoso que isso não tenha sido denunciado ainda:
a: pelas emissoras;
b: pelas associações profissionais de jornalistas;
c: pelas associações profissionais das empresas de comunicação;
d: pela Ordem dos Advogados do Brasil. Esta, então, por intermédio de sua seção no Rio, está, na prática, justificando a violência, como já demonstrei aqui. A atuação da entidade nesse particular tem sido vergonhosa.
Tim Lopes, sim!, mas pior
Mesmo assim, apesar de todas as evidências de que os jornalistas estão sendo caçados nas ruas, prevalecem o silêncio e a reação, esta sim hipócrita, de culpar os dois lados. Por quê? Porque estão todos com medo dos milicianos organizados das redes sociais.
Leio um texto em que se sustenta que Santiago Andrade não pode ser comparada a Tim Lopes porque, nesse caso, os traficantes sabiam quem estavam matando e se tratou de um agressão explícita à liberdade de imprensa. Já a dupla que atacou Santiago, bem, o rojão não estava destinado a ele; teria havido um acidente. A consideração é de uma imoralidade asquerosa. É claro que não era “para ele”. Como confessou um dos agressores, o objetivo era atingir os policiais. E que se note: fosse o morto um fardado, a reação teria sido ainda mais discreta.
Certas ocorrências, ainda que infinitamente menores do que emblemas de tragédias humanitárias, trazem a memória pura da indignidade. Hitler matou seis milhões de judeus. E encontrou um lugar justo na história, sendo cultuado não mais do que por meia dúzia de lunáticos. Stálin responde pela morte de uns 40 milhões na União Soviética — quase nunca, mas também, matava alguém por pertencer a este ou àquele grupos. A vocação homicida do Bigodão era menos seletiva do que a do Bigodinho. É evidente que o Holocausto judeu merece um lugar único na história porque o ódio a uma etnia, a um grupo social, a um povo reveste-se de particular gravidade. Hitler matava judeus porque eram judeus. Mas como explicar que partidos comunistas mundo afora e esquerdistas em penca ainda hoje cultivem a memória de Stálin — e, mais genericamente, do socialismo — como um reformador?
A sobrevivência, diga-se, das ideias de esquerda decorre, em grande parte, desse dar de ombros para os crimes cometidos pelos socialistas. Admite-se, em larga medida, que a violência é um instrumento aceitável da luta política, daí um certo Marcelo Chalreo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, ter citado alegremente numa nota — num daqueles momentos em que a ignorância se cruza com a truculência — que “a violência é a parteira da história”. Não se enganem: se as organizações judaicas não fossem tão vigilantes e não se empenhassem, ainda hoje, em lembrar quem foi Hitler e o que foi o nazismo, também essa besta-fera já teria sido reciclada para consumo. Afinal, se “a violência é a parteira da história”, então tudo é permitido. Os canalhas intelectuais que acusam os judeus de alimentar “a indústria do holocausto” deveriam atentar para o mal que fizeram os liberais por não terem alimentado a “indústria do morticínio socialista”.
O caso Santiago Andrade, na verdade, é mais grave do que o de Tim Lopes. Sim, os traficantes sabiam quem estavam matando. Mas notem: Tim estava infiltrado no “movimento”, numa operação que sabia de altíssimo risco, para fazer a denúncia por dentro. Fosse um policial ou religioso, uma vez descoberto, teria morrido do mesmo jeito. É tolice achar que o assassinaram porque era um jornalista. Os facínoras que o mataram não estavam se manifestando contra a liberdade de imprensa. Só não queriam ser denunciados. Duvido que Elias Maluco já tenha pensado a respeito da liberdade de informação ou que chame o jornalismo de “mídia conservadora”, com esgar de nojo. Ele habita outro planeta.
Nestes dias, a coisa é bem diferente. Fato: a dupla não tentou matar Santiago — o artefato era para a polícia… Mas Santiago pertencia a uma categoria que não pode se identificar e mostrar a cara porque grupos organizados, que odeiam o jornalismo livre, que se manifestam abertamente contra a liberdade de imprensa, não permitem.
Vagabundos financiados
Entrem nas páginas dos black blocs e afins na Internet para ver o que eles pensam da imprensa, que acusam de “distorcer” as reais intenções do seu glorioso “movimento”. A tal “Sininho”, que apareceu como animadora de torcida de depredadores, chamou de “carniceiros” os cinegrafistas que, trabalhando, cobriam o depoimento de Fábio Raposo, um dos assassinos de Santiago. Um de seus amigos apontou o dedo para eles: “Vocês serão os próximos”. Levou uma “camerada” na cabeça de um dos cinegrafistas — um gesto que mereceu o meu aplauso. Simples assim.
Façam um exercício: comparem o que os black blocs e outros violentos dizem do jornalismo livre com o que vai em páginas do subjornalismo governista-petista, financiadas pelo governo federal e por estatais. O texto é o mesmo. As acusações são as mesmas. A mesma é a vocação persecutória. O que os facinorosos que matam pessoas pensam do jornalismo não é diferente da pregação de Franklin Martins. Não é diferente do que dizem os documentos da Executiva Nacional do PT.
Em razão de tudo o que expus até aqui, escrevi assim na minha coluna de sexta na Folha:
(…)
Eu acuso Franklin Martins de ser o chefe de uma milícia oportunista contra a imprensa livre.
Eu acuso o governo federal e as estatais, que financiam páginas e veículos que pregam o ódio ao jornalismo independente, de ser corresponsáveis por essa morte.
Eu acuso o ministro José Eduardo Cardozo de ser, querendo ou não, na prática, um dos incitadores da desordem.
Eu acuso o ministro Gilberto Carvalho de especular com o confronto de todos contra todos.
Eu acuso jornalistas de praticar a sujeição voluntária porque se calam sobre o fato de que são caçados nas ruas pelos ditos “ativistas” e obrigados a trabalhar clandestinamente.
Eu acuso empresas e jornalistas de se render a milicianos das redes sociais e de se preocupar mais com “o que elas vão dizer de nós” do que com o que “nós temos de dizer a elas”.
Eu acuso uns e outros de se deixar pautar por dinossauros com um iPad nas patas.
(…)
A lei anterrorismo
O Brasil não tem uma lei antiterrorismo. Não posso afirmar com absoluta certeza porque não fiz o levantamento em todos os países do mundo, mas certamente é dos poucos a ter esse vazio legal. O Chile tem. A Colômbia tem. Os EUA têm. A Alemanha, a França, a Itália e Inglaterra têm. Ah, sim, a Venezuela, Cuba e China também — nesses três casos, diga-se, tão apreciados pelas nossas esquerdas, basta defender a democracia para ser enquadrado como terrorista.
Setores da imprensa brasileira já detonaram o Projeto de Lei do Senado nº 499 SEM LER. A íntegra está aqui. Como é óbvio, não pune manifestantes ou tolhe a liberdade de expressão. Pune com severidade quem infunde terror em massa e quem ataca instalações e bens públicos, incluindo meios de transporte, pondo em risco a segurança de milhares de pessoas. Aliás, a Lei de Segurança Nacional, a 7.170, que está em vigor, poderia já ter mandado para a cadeia alguns dos bandidos que estão por aí aterrorizando as pessoas.
A esquerda do PT saiu gritando contra o Projeto de Lei do Senado. Imediatamente, algumas vozes do jornalismo resolveram fazer eco à gritaria. Confunde-se a violência terrorista com simples distúrbios; confunde-se a repressão ao terror com o cerceamento à liberdade de expressão, o que é, obviamente, um absurdo.
É evidente que o estado brasileiro não pode definir O QUE SE PODE FAZER NUMA MANIFESTAÇÃO, O QUE SE PODE DIZER, O QUE SE PODE REIVINDICAR. Mas o estado tem legitimidade para definir, sim, O QUE NÃO SE PODE FAZER: explodir bombas, recorrer a coquetéis molotov, incendiar ônibus, infundir terror nas ruas e em aparelhos públicos, o que pode pôr em risco a segurança de milhares.
Só a mais escancarada má-fé ou a burrice mais saliente podem confundir o ataque a direitos fundamentais de todos os indivíduos como um pressuposto da liberdade de manifestação de alguns indivíduos. Não se trata de ser “progressista” ou “reacionário”, mas de admitir ou não o crime como instrumento de luta política.Por Reinaldo Azevedo
Tags: protestos, violência
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17/02/2014 às 4:53
Zavascki e Barroso vão decidir o tempo de cadeia das estrelas do mensalão
O Supremo começa a votar na quinta-feira os embargos infringentes. É uma nova votação, não um novo julgamento. Os advogados de defesa encaminham seus argumentos aos ministros e têm 15 minutos para defender seu ponto de vista. Mas não podem apresentar testemunhos ou álibis novos ou desqualificar provas que serviram à condenação.
A questão principal diz respeito à formação de quadrilha. Para os ministros do Supremo que absolveram desse crime José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, a quadrilha só existe quando há um grupo estruturado, permanente, organizado para delinquir, com distribuição de tarefas e uma hierarquia. Já a coautoria não. Ela é apenas eventual. Um grupo pode cometer um crime e se desfazer depois. Os advogados dirão que seus clientes são apenas coautores.
Será que os mensaleiros serão bem-sucedidos? Tudo indica que sim.
Tome-se o caso de José Dirceu: recebeu quatro votos absolvendo-o de formação de quadrilha. Qual será o papel do relator — no caso, Luiz Fux? Ele pode recusar a argumentação da defesa, julgando-a descabida, defendendo o resultado do julgamento, ou aceitá-la, votando, então, pela absolvição. Aí os demais ministros se posicionam. Só para lembrar: não pode haver revisão de pena, por exemplo. Ou se mantém a condenação ou se absolve.
Dirceu foi absolvido do crime de quadrilha por quatro ministros, que permanecem na Corte: Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Cinco dos seis que o condenaram também continuam lá: Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello.
Se todos mantiverem seus respectivos votos, o placar começa com 5 a 4 contra Dirceu. A decisão ficará com os dois mais recentes ministros da casa: Teori Zavascki e Roberto Barroso. Zavascki já deu a entender mais de uma vez que discorda da condenação por quadrilha. Então já se pode dar como certo um empate: 5 a 5. Barroso já afirmou mais de uma vez que considerou o Supremo severo demais no julgamento do mensalão. O mais provável, então, é que Dirceu, condenado por 6 a 4 na primeira votação, seja agora absolvido do crime de quadrilha por 6 a 5.
Delúbio Soares e José Genoino estão em situação idêntica, também pelo crime de quadrilha.
O caso de João Paulo Cunha começa diferente, mas termina igual. Ele foi condenado por corrupção passiva, peculato e formação de quadrilha. Neste último crime, a condenação se deu por 6 a 5. Dos que o absolveram, quatro continuam no tribunal: Lewandowski, Rosa Weber, Dias Toffoli e Marco Aurélio. Dos seis que o condenaram, cinco continuam: Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Se ninguém mudar de ideia, o placar contra ele começa com 5 a 4: também ele precisará do voto dos dois novos ministros, que não participaram da primeira votação: Teori Zavascki e Roberto Barroso.
Para arrematar: os ministros não estão obrigados a repetir o voto da primeira rodada. Em tese ao menos, ministro que antes condenou pode absolver, mas quem absolveu também pode condenar, o que dificilmente aconteceria porque os embargos infringentes são um recurso da defesa e não faria sentido o réu ser prejudicado por uma mudança de voto contra si.
O resumo da ópera é o seguinte: o mais provável é que Dirceu, Genoino e Delúbio se livrem do crime de quadrilha, cumprindo pena só por corrupção ativa, e que João Paulo se livre do crime de lavagem de dinheiro, permanecendo preso por peculato e corrupção passiva. Mas todos em regime semiaberto.
Assim, os que apostaram na enrolação de olho na mudança de composição do tribunal foram ao menos parcialmente bem-sucedidos. É claro que essa possível mudança de placar só se dará em razão da decisão desastrosa do STF, que, por 6 votos a 5 (com o desempate decidido por Celso de Mello), declarou a sobrevivência dos embargos infringentes.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: Mensalão, STF
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17/02/2014 às 2:50
Os que estão nas ruas na Venezuela querem é democracia; os black blocs no Brasil são é bandidos
Milhares de estudantes voltam às ruas na Venezuela (Foto: Christian Veron/Reuters)
Recebi aqui de um leitor um arrazoado bastante capenga, afirmando que uso “dois pesos e duas medidas” para avaliar os protestos na Venezuela e no Brasil. Eu seria favorável às manifestações lá e contrário aqui. Pra começo de conversa, peço um favor: vamos usar a expressão com correção. O certo para indicar o que o rapaz tentou dizer é “um peso e duas medidas” — porque desequilibraria a balança, entenderam? Quem diz que o outro usa “dois pesos e duas medidas” só o está acusando de ter sido justo… Não sei se me fiz entender. Mas sigamos.
A Venezuela, técnica e praticamente, é uma ditadura, e o Brasil, felizmente, é uma democracia plena. Ainda é, e vamos lutar para que continue assim. Neste domingo, milhares de estudantes voltaram às ruas de Caracas para protestar contra o governo e contra encapuzados que têm se infiltrado nas manifestações — aquelas, sim, pacíficas — para promover a violência e o caos. Uma nova convocação foi feita para esta segunda.
Na semana passada, três pessoas morreram a tiros em manifestações de rua, dezenas ficaram feridas, e há nada menos de 200 presos — três deles são jornalistas. Os tumultos foram promovidos, já está mais do que claro, por milícias chavistas armadas, que se infiltraram entre os que protestavam para promover o quebra-quebra e a depredação. Isso forneceu ao ditador Nicolás Maduro o pretexto para uma onda repressiva sem precedentes, com ordem para prender políticos de oposição. Um deles, Leopoldo López, está foragido, e a polícia o caça país afora. Maduro o acusa, acreditem, de terrorismo e de tramar um golpe no país. É um lunático. Neste domingo, anunciou a expulsão de três diplomatas americanos, que, segundo ele, estariam envolvidos em conspiração. É o velho truque dos malandros latino-americanos: quanto tudo vai mal, basta culpar os EUA.
Maduro é ditador mesmo tendo sido eleito? É. Para começo de conversa, foram eleições sujas, feitas sob a ação terroristoide das milícias e sem que a oposição tivesse acesso à televisão — hoje um monopólio estatal. As TVs oficiais, diga-se, se negaram a transmitir os protestos. Nota à margem: o marqueteiro que fez a campanha de Maduro é João Santana, o mesmo que cuidou da reeleição de Lula, da primeira campanha de Dilma e que vai agora se encarregar da segunda.
O presidente da Venezuela tem traços claros de psicopatia. Diz conversar com passarinhos, que lhe transmitiriam mensagens de Hugo Chávez, e vê a imagem do ditador morto em rebocos de parede. Seria só um bufão folclórico se não estivesse conduzindo a nação para o caos. A Venezuela é hoje um dos países mais violentos do mundo. Em Caracas, há mais de 100 homicídios por 100 mil habitantes. No Brasil, com toda a escandalosa violência, são 26 — em São Paulo, 10,5. Isso dá conta do que vai pelas ruas da capital venezuelana.
A economia está destruída: de comida a papel higiênico, falta tudo nas prateleiras dos supermercados — inclusive daqueles estatais, criados pelo modelo chavista para supostamente garantir o abastecimento. A inflação no país é a mais alta da América Latina: se a nossa foi de 5,91% em 2013, a venezuelana foi de 56,2% — 8 vezes e meia a mais.
Os estudantes que vão às ruas na Venezuela se insurgem contra um país em que a liberdade de expressão é limitada, o Judiciário e o Parlamento estão submetidos às gangues chavistas, o tal “Socialismo do Século XXI” condena a população à miséria e ao atraso, e líderes da oposição estão sendo encarcerados. Mesmo o jornalismo impresso, mais independente, sofre terríveis pressões porque o governo ameaça cortar a cota de papel.
Assim, comparar os protestos que ocorrem lá com os que ocorrem aqui, como querem fazer alguns, é uma tremenda bobagem. Os critérios com que se avaliam as lutas contra uma ditadura não podem servir de baliza para manifestações de descontentamento num regime democrático. De resto, os estudantes venezuelanos promovem protestos realmente pacíficos e saíram às ruas neste domingo justamente para repudiar a violência, obra de delinquentes a serviço do governo.
Um lamento adicional é saber que, desrespeitando o protocolo do Mercosul — que não aceita governos ditatoriais —, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, presidente da Argentina, promoveram a entrada da Venezuela no bloco. O Brasil decidiu ser sócio de um governo que censura a imprensa, prende opositores e mata seu próprio povo.
Por Reinaldo Azevedo
Tags: América Latina, Venezuela
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17/02/2014 às 1:43
Este escriba num breve debate sobre as manifestações
Foi ao neste domingo à noite, no programa TV Folha, transmitido pela TV Cultura, um pequeno debate entre este escriba e Vinicius Torres Freire, também colunista do jornal, sobre os protestos e a forma como os governos reagem a eles. A conversa, como dá para perceber às vezes, foi bem mais longa do que os sete minutos que foram ao ar. Mas a edição conseguiu expressar, creio, o que cada um pensa de essencial a respeito do tema — nunca é um trabalho fácil.
Segue abaixo o vídeo que foi ao ar.
Alguns leitores reclamam que não estão conseguindo assistir ao vídeo. Não sei qual é o busílis. Aqui no meu micro, está abrindo no Chrome, no Explorer e no Firefox. Em todo caso, segue o link.Por Reinaldo Azevedo
Tags: imprensa, protestos
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17/02/2014 às 1:39
A 4 meses da Copa, capital do país está abandonada, sob a falta de cuidados do PT federal e do PT local
Ponto que interliga o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, a Praça dos Três Poderes lembra um museu a céu aberto por abrigar obras de importantes escultores, entre eles Bruno Giorgi, Oscar Niemeyer e Marianne Peretti. Um dos locais que mais deveria ser valorizado pelo governo local, porém, amarga total abandono: o piso está quebrado e cheio de mato, além dos bancos sujos. O Espaço Cultural Lúcio Costa está fechado para obras de acessibilidade, conforme aponta um cartaz na entrada. O prazo para término: 26 de novembro de… 2012!!! O GDF promete concluir a obra em abril deste ano. (Fotos Cristiano Mariz)
Por Marcela Mattos e Gabriel Castro, na VEJA.com:
A quatro meses da Copa do Mundo, a capital do país-sede de um dos mais importantes eventos do mundo amarga o abandono. Ao contrário do esperado para a cidade que ergueu o estádio de futebol mais caro do país, quem visita hoje Brasília se depara com monumentos sujos, danificados e mal iluminados – o que, somado à dificuldade de utilizar o transporte público e à crescente onda de violência, acaba por decepcionar e afastar o turista.
Não é necessário ir longe para se constatar a falta de cuidado com os principais atrativos de Brasília, que abrigará sete partidas do Mundial de futebol e deverá receber 600.000 visitantes, segundo o Ministério do Turismo. Apenas nas proximidades da Esplanada dos Ministérios, a reportagem do site de VEJA enumerou sete pontos que integram o roteiro turístico, mas estão em situação deplorável – por falta de limpeza e manutenção inadequada – ou com as portas fechadas.
Roteiro certo de quem visita a capital, a Praça dos Três Poderes, que interliga o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, tem mato crescendo entre as pedras que apoiam obras de Bruno Giorgi, Oscar Niemeyer e Marianne Peretti. Além disso, os bancos estão sujos, e o Espaço Lúcio Costa, um dos poucos atrativos da praça, está fechado desde outubro de 2012 – e com prazo de reabertura vencido há mais de um ano. Em nota, o governo do Distrito Federal prometeu que o museu voltará a funcionar em abril.
“Esperava algo mais ajeitado. Aqui é lindo, claro. Mas estamos na capital do país, e era para ser a menina dos olhos”, disse a advogada Juliana Aragão após conhecer a Praça dos Três Poderes. “As coisas estão sujas e bagunçadas”, continuou o administrador de empresas Flávio Ramos. Os dois são moradores de Olinda (PE) e visitaram a cidade nesta semana. No relato, os pernambucanos criticaram ainda a falta de policiamento e as obras inacabadas do aeroporto.
Também não passa despercebida a condição de outros cartões-postais de Brasília. A cúpula do Museu Nacional da República está suja, a rampa de acesso ao local apresenta rachaduras e a pintura descascando. Em situação similar, a Ponte Juscelino Kubitschek ainda está mal iluminada.
“Em Brasília, constroem-se coisas lindas, mas não há manutenção. Há lixo pela cidade toda. O turista vai ver isso e, junto com o retrato dos monumentos, vai levar essa paisagem”, diz a arquiteta Ana Helena Fragomeni, autora do livro Não vivemos em cartões postais. “Faltam lugares em que o turista saiba que vai ser recebido como pessoa. Esses lugares deveriam estar perto dos hotéis, com centro de turismo que forneça água, refrigerante e banheiros.”
Por ser de responsabilidade de diversas secretarias, o GDF afirma não ter como apresentar um valor total de quanto será investido para melhorar os pontos turísticos até a Copa do Mundo. Mas promete concluir a revitalização do Museu da República, da Torre de Televisão e da sua fonte luminosa antes do torneio de futebol. Além disso, o GDF afirma que estão em fase de instalação novas placas de sinalização para turistas.
Localizado entre a Catedral e o Congresso Nacional, o Museu Nacional da República é um dos monumentos mais recentes de Oscar Niemeyer e destaca-se como um dos pontos imprescindíveis no roteiro de turistas interessados nas obras do arquiteto. Ao chegar ao local, porém, os turistas vão se deparar com um ambiente inóspito: a cúpula do museu está imunda, e a famosa rampa de acesso, além da sujeira, apresenta rachaduras. Pior: os arredores de uma das principais referências da capital do país virou ponto de tráfico de drogas e atrai usuários à luz do dia. “Às 15h, já podemos ver os consumidores”, conta um dos seguranças, que preferiu não se identificar. Ele reclamou ainda da falta de segurança e da ausência de policiamento no local
Brasília, atualmente, tem três Centros de Atendimento ao Turista – locais onde são entregues mapas e destinados a ajudar os visitantes –, mas nenhum próximo de onde eles se hospedam. Os dois CATs instalados nos setores hoteleiros foram desativados e serão transferidos para outro ponto, segundo o governo, de maior visibilidade. No local, restou um painel de acrílico com um mapa surrado e um segurança que, além da vigilância, ganhou a atribuição de atender os turistas desavisados: “Vem muita gente pedindo um mapa e querendo informações. Mas falo para buscarem em outro CAT”, diz um dos vigias do centro da Asa Sul.
Cartão-postal de Brasília, a Ponte Juscelino Kubitschek é uma das mais belas obras da cidade e pode ser vista minutos antes da aterrissagem na capital federal. De perto, porém, a ponte de mais de um quilômetro de extensão e que custou 186 milhões de reais aos brasilienses precisa de um reparo com urgência: os visitantes que optarem por completar o trajeto a pé vão se deparar com o corrimão torto e com um local mal iluminado – alguns dos postes inclusive estão sem os bocais das lâmpadas. O descuido também pode ser percebido na sujeira dos arcos e nas pichações de pontos próximos.
Crise
O desleixo com os pontos turísticos de Brasília é mais um sintoma da crise permanente no governo de Agnelo Queiroz (PT). O governador do Distrito Federal tem o segundo menor índice de popularidade do país, atrás apenas de Rosalba Ciarnlini (DEM), do Rio Grande do Norte. Por isso, ao contrário de outros chefes do Executivo, ele ainda não definiu os planos de reeleição. Há partidários que defendem o lançamento de outro nome do PT ao governo neste ano.
Agnelo passou o primeiro ano de mandato tentando explicar os sucessivos casos de corrupção – novos e antigos –, que vieram à tona quando ele assumiu o Palácio do Buriti. Mesmo depois de passada a fase mais aguda dos escândalos, não mostrou serviço: as principais obras haviam sido planejadas pela gestão de José Roberto Arruda, que perdeu o cargo após a Operação Caixa de Pandora. A falta de eficiência na gestão gerou problemas na saúde e na segurança pública.
Recentemente, uma onda de violência atingiu a capital federal, em parte porque policiais militares insatisfeitos resolveram dar início a uma “Operação Tartaruga” para pressionar o governo a aumentar os salários. Foram mais de 70 assassinatos em janeiro, um aumento de 40% na comparação com o mesmo mês de 2013. Era uma rara oportunidade em que a população, refém dos policiais e dos criminosos, poderia dar um voto de confiança a Agnelo caso o governador reagisse com firmeza. Mas ele preferiu se omitir.
Não bastasse um serviço de transporte público insuficiente para atender a população brasilense – e que tende a piorar com a vinda de turistas durante a Copa do Mundo –, a Rodoviária de Brasília é um dos exemplos do descaso que assola a capital do país. Somada às longas filas de espera para tomar um ônibus, os passageiros ainda têm de lidar com um cenário de obras inacabadas, escadas rolantes interditadas, risco iminente de roubo e o consumo indiscriminado de drogas. Diante desse retrato, quem tem condições de pagar um pouco mais opta por tomar um táxi.
Após passar por três anos em obras e sofrer uma sequência de atrasos, a Catedral de Brasília, também projetada por Oscar Niemeyer, foi inaugurada há pouco mais de um ano e já apresenta sinais de abandono. Enquanto a fachada da igreja ainda está conservada, os arredores foram esquecidos pelo governo: os muros mais próximos estão pichados e sujos.
O governo corre para entregar um dos principais pontos turísticos da capital a tempo da Copa do Mundo. A torre de televisão está fechada para a instalação de elevadores para cadeirantes e de escadas rolantes. O prazo de entrega está atrasado em oito meses. O GDF promete a reabertura em junho – mas as obras ainda estarão incompletas. Ficam para depois a revitalização da estrutura metálica e a criação de um centro de exposições sobre a história da capital.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Brasília, Copa do Mundo, GDF
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17/02/2014 às 1:15
Péssima notícia – Após 13 anos de saldo positivo, país deve ter déficit comercial em 2014
Por Eliane Oliveira, no Globo:
Após 13 anos de superávits anuais ininterruptos, a balança comercial brasileira caminha para um déficit em 2014. A principal razão desse cenário pouco promissor é a falta de controle sobre 65,3% do total de exportações, o equivalente a US$ 158 bilhões de tudo que foi vendido no exterior em 2013. São as chamadas commodities, cujos preços são formulados de acordo com os humores do mercado internacional. A conta inclui itens como soja, minério de ferro, celulose, suco de laranja, etanol, óleos combustíveis, gasolina, café e açúcar, entre outros.
A vulnerabilidade do país às oscilações internacionais de preços já era evidente no ano passado. O saldo da balança comercial, de US$ 2,56 bilhões, foi o pior desde 2000. O desempenho só não foi pior em razão de uma manobra contábil, com a inclusão na conta de exportações de sete plataformas vendidas a empresas estrangeiras e alugadas para a Petrobras. Na prática, elas nunca deixaram o país.
Problemas com vizinhos
Especialistas e técnicos do governo acreditam que os preços das commodities continuarão caindo este ano, devido à possibilidade de desaceleração do consumo na China e à recuperação da economia americana. Para piorar, a indústria está à mercê da concorrência chinesa e de outros asiáticos, não só no mercado interno, mas em outros países. “Há pouco o que se fazer para melhorar esse cenário”, disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Assim como já ocorre com a Venezuela, a Argentina ameaça atrasar pagamentos, desestimulando exportações para aquele país, principalmente de pequenas e médias empresas, que não têm fôlego para esperar meses pelo dinheiro. Ao mesmo tempo, crescem as importações de bens de consumo, entre os quais alimentos, automóveis, calçados e móveis. A avaliação geral é que o governo está apático. “Essa apatia pode estar ocorrendo porque o governo espera algum efeito da desvalorização cambial que ocorreu na segunda metade de 2013. Outro fator é que estamos em ano eleitoral”, disse o economista Fábio Silveira, da GO Consultores.
Até semana passada, havia queda generalizada nas cotações de commodities. Os preços do milho e do café, por exemplo, caíram 32,5% e 28,2%, respectivamente, ante fevereiro de 2013. O óleo de soja apresentou redução de 29,4% e do frango, 15,1%. Essas variações precisam ser compensadas pelo aumento do volume embarcado desses produtos, para que o valor exportado não caia, diz o presidente da AEB.
A situação fica ainda pior, porque o Brasil precisa conviver com vizinhos problemáticos: Argentina e Venezuela, terceiro e sétimo parceiros comerciais, foram responsáveis pela compra, no ano passado, de quase US$ 25 bilhões em produtos brasileiros. A Venezuela mantém um câmbio artificial desde a época do então presidente Hugo Chávez, que morreu no ano passado.
(…)Por Reinaldo Azevedo
Tags: balança comercial
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16/02/2014 às 5:31
A tréplica a Janio de Freitas. E quem financia os black blocs. Ou: É preciso aprender para não acabar como supernanny de mensaleiro
Na minha coluna de sexta-feira, na Folha, fiz uma referência ao texto de Janio de Freitas publicado no dia anterior. Neste domingo, ele decide responder afetando uma distante superioridade. Fôssemos Janio e eu quem ele pensa que é e pensa que sou, teria ficado calado. Mas como se engana sobre si mesmo e sobre mim, então falou. E eu respondo. E vocês vão perceber que eu expus uma divergência. Ele procurou me desqualificar. Por que não respondo na sexta próxima, na Folha? Talvez escreva alguma coisa, mas está muito longe. E as respostas que vêm tarde perdem o vigor. Então vai a quente. Para o leitor que não acompanhou a coisa, lá vai.
Na quinta, Janio escreveu (em vermelho):
“Jonas Tadeu é reconhecido como muito habilidoso nas artimanhas próprias da advocacia que pratica. Para quem duvide, uma credencial de peso, no gênero: já foi advogado de Natalino Guimarães, preso em 2008 sob acusação de chefiar uma das mais poderosas milícias da Baixada Fluminense. Não é provável que acrescentar aos dois clientes atuais a condição de mercenários convenha à defesa. Poderia, sim, abrir caminho, por exemplo, para uma delação premiada, com os dois implicando alguém ou determinadas pessoas. Mas essa é uma especulação útil apenas para lembrar que mesmo as denúncias vazias podem ter caroços. Aliás, tê-los é da sua natureza: se não surgem com caroços, logo aparece quem os ponha.
Cedo ainda, ontem já aparecia no rádio um comentarista a falar na “extrema esquerda” como a possível pagadora das arruaças. Por que não também o possível interesse da direita, que toma outras muitas providências de organização encoberta para impor-se na sucessão presidencial? Jonas Tadeu recomenda não responder a certas perguntas.”
No dia seguinte, escrevi:
“PS – Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino Guimarães, chefe de milícia. Alguns figurões do direito defenderam os ladrões do mensalão, e ninguém, com razão, duvidou da sua honra. O compromisso do advogado é com o direito de defesa, não com o crime praticado. O colunista referiu-se a mim –”um comentarista que já aparecia na rádio…”– porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam arruaceiros. Janio indaga se não poderiam ser de extrema direita. Se ela existisse, se fosse organizada, se tivesse partido, se recebesse verbas do fundo partidário, se tivesse suas “Sininhos” e seus piratas de olhos cerúleos, talvez… Acontece que as antípodas direita e extrema-direita no Brasil são substantivos abstratos, que só existem na mente meio paranoica das esquerdas. Ah, sim: apareceu uma lista de financiadores dos “black blocs”. Todos de esquerda. Quod erat demonstrandum.”
Na Folha deste domingo, Janio se enfeza:
FORAS
Reinaldo Azevedo, na Folha de sexta-feira, incluiu este trecho: Janio de Freitas “referiu-se a mim — um comentarista que já aparecia na rádio…’ — porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam arruaceiros”. Admito perder muito, mas não sou ouvinte da Jovem Pan e das ponderações de Reinaldo Azevedo. O comentário por mim citado foi transmitido pela CBN, em torno de 12h20 de quarta-feira, como pode ser comprovado por meio do saite da emissora.
Também não é verdadeiro que “Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino Guimarães, chefe de milícia”. Para quem lê sem má-fé, ficou claro que citei Jonas Tadeu como ex-advogado de Natalino Guimarães para uma informação de entrelinha: os advogados de milicianos, e similares, em geral são definidos no meio advocatício, por suas artimanhas, com palavra que não desejei aplicar.
Por mim, Reinaldo Azevedo pode continuar tentando.
Então vamos ver
1 – Onde ouviu – Ô, meu Deus! Janio não me ouve! Preciso dizer à Jovem Pan que já não são mais 30 milhões, mas apenas 29.999.999. De todo modo, jamais perde ou ganha alguma coisa quem não está disposto a aprender nada nem a esquecer nada. E esse é precisamente o seu caso — como ficará claro quando eu tratar do caso Pizzolato. Pode não me ouvir. Mas, segundo entendi, lê — ainda que isso possa lhe causar algum dissabor.
Ah, então foi outro. Que bom que mais alguém teve a mesma ideia, não é mesmo? Na quarta-feira, pouco depois das 8h30, Jonas Tadeu Nunes, advogado dos dois rapazes que acenderam o morteiro que matou o cinegrafista Santiago Andrade, concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan. O áudio estáaqui. Ele denunciou que partidos políticos e políticos propriamente financiavam a violência, e eu lhe perguntei se os financiadores eram partidos de extrema esquerda. Minutos depois, a coisa se espalhou Brasil afora. Como se vê no link, às 9h56, a Jovem Pan já punha o áudio no ar. Às 11h56, publiquei um post a respeito, um dos mais lidos e reproduzidos da história do blog. Colaborou para que o blog batesse o recorde de visitas num único dia: 560.681.
Não foi a minha intervenção que Janio ouviu porque não perde tempo comigo? A minha resposta, no mérito, segue a mesma. Na coluna de quinta e na deste domingo, ele se esforça, e não estranho, para tapar o sol com a peneira, tentando negar as evidências escancaradas de que partidos de extrema esquerda municiam os black blocs. A turma de Marcelo Freixo tem até um grupo de advogados à disposição para atender a esses patriotas.
2 – A honra do advogado – As palavras fazem sentido, e eu sou um fanático do sentido que elas têm. Sim, Janio de Freitas pôs em dúvida, ainda que por palavras oblíquas, a honorabilidade do advogado — o que, lamento ter de constatar, é coisa de quem não entende os fundamentos do estado de direito e de uma sociedade livre. Se ele souber de outra coisa que deponha contra a honra de Jonas Tadeu Nunes, então diga. O homem ter sido advogado de um miliciano não quer dizer nada. Tanto é assim que, se ninguém aceitasse a tarefa, o estado teria de nomear um defensor público. Janio se irrita porque não tem resposta para a questão que propus: cabeças coroadas se apresentaram para defender os criminosos do mensalão; sua honra, por isso, está manchada? Releiam o que ele escreveu e o que escrevi para ver onde está a má-fé.
Lá vamos nós
Janio encerra a sua diatribe enfezada contra mim afirmando: “Por mim, Reinado Azevedo pode continuar tentando”. Não sei direito o que quis dizer — a clareza nem sempre é seu melhor dom —, mas vamos lá. Em primeiro lugar, fosse por ele, eu nem escreveria nem tentaria. Como não é por ele, então não tento, mas escrevo.
A frase também pode sugerir, sei lá, que busco notoriedade ao contestá-lo. Acho que se superestima e me subestima. Tendo a apreciar os grandes que são modestos sobre suas próprias virtudes. Mas os que praticam o contrário dessa proporção invertida me convidam à piedade. Há certamente uma enorme diferença entre mim e Janio: sinceramente, penso que a vida já me deu muito mais do que eu mereceria ou ansiava. Tenho, no entanto, a certeza de que ele pensa o contrário sobre si mesmo, e a dor, nesses casos, não é pequena. Como eu nunca quis ser Machado de Assis, não terminarei como o Pestana do conto “Um Homem Célebre”. Posso “continuar tentando” o quê? Discordar de Janio de Freitas não me rende um único leitor a mais. Mas ele pode contar que essa sua coluna será uma das mais lidas de sua carreira. Não faço juízo de valor. É só uma questão de fato.
Pizzolato
Que Janio continue a não perder seu tempo comigo. Perdesse, não teria tentado nos convencer a ouvir o que Henrique Pizzolato, este homem honrado, tem a dizer. Minhas retinas cansadas, como disse o poeta, jamais se esquecerão de suacoluna do dia 19 de janeiro, de que transcrevo um trecho (em vermelho), freneticamente reproduzida pela rede petista (os destaques são meus):
Na CPI que se ocupou do chamado mensalão, Henrique Pizzolato foi o depoente mais inseguro, titubeante, no próprio rosto o ritus do medo, senão pânico mesmo. Até muito mais do que o outro sufocado pela insegurança, Marcos Valério. Foi o único, também, a citar companheiro de partido e de governo de modo a transferir responsabilidades que lhe cobravam.
Já consumadas as condenações, participei de uma mesa de conversa sobre o processo, no Sindicato dos Advogados do Rio. À chegada, Henrique Pizzolato me esperava na saída do elevador, com a mulher.
Trazia uma pasta para me entregar, com documentos dados como comprovantes da realização de trabalhos, pela agência de Valério, negados na acusação do Ministério Público e pelo relator Joaquim Barbosa. A votação da maioria, no Supremo Tribunal Federal, acompanhou a negação.
A tibieza de Pizzolato me impressionou. Quem falou foi sua mulher, um ou dois minutos. Não consegui dizer mais do que os cumprimentos, fixado na imagem de Pizzolato.
Mais tarde, registrei parte do indicado pelos documentos, em princípio mais convincentes do que a acusação aparentemente mais fundada no desejo de acusar e condenar do que em fatos e provas bem apurados.
A fuga do casal Pizzolato não significou admissão de culpa. É natural o desejo de evitar a prisão, facilitado, no caso, pela dupla nacionalidade do condenado. Mas um pormenor ficou, para mim, como indagação cuja resposta poderia ser valiosa, diante de tanta coisa mal explicada, ou inexplicada, no processo e nas intervenções do julgamento. Os petistas, tanto os envolvidos no processo como os outros dirigentes, puseram Pizzolato à parte. É dele esta queixa, registrada por um dos seus defensores fora do tribunal: “O PT me abandonou”.
Por quê? Mais uma vez, Pizzolato foi o único. E não poderia faltar um motivo importante, a ponto de ser significativo para tantas pessoas que com ele conviveram em duradoura confiança, e o prestigiaram em indicações para cargos disputados. O que constatei ou deduzi a respeito não confirma nem conflita com a notícia, do “Estado de S. Paulo”, de uma conta na Suíça com possível movimento pelo foragido Henrique Pizzolato. Mas permite a convicção de que no rastro desse fato há numerosas consequências enfileiradas, capazes de mudar muitos aspectos estabelecidos sobre o chamado mensalão.
Retomo
Ainda que o texto possa fazer algumas especulações aparentemente incômodas ao PT — não mais do que aparentemente —, eis Janio de Freitas a lançar dúvidas sobre um dos crimes principais do mensalão: o peculato envolvendo o dinheiro do Fundo Visanet. Segundo diz, os documentos que Pizzolato apresentou provando que as agências de Marcos Valério haviam prestado o serviço eram mais convincentes do que a acusação.
Pois é… Duas semanas depois dessa coluna, aquele homem cuja tibieza impressionou Janio de Freitas, que humildemente saía a carregar debaixo do braço a pasta com as evidências de sua inocência, foi preso na Itália.
- falsificara documentos em nome do irmão morto, Celso Pizzolato, em 2007;
- falsificara passaporte em nome desse irmão em 2008;
- nesse mesmo ano, votou nas eleições como Celso e como Henrique Pizzolato;
- na Itália, viveu uma vida de rico;
- na casa de praia na Itália, há evidências de que movimentou de 20 mil a 30 mil euros, dinheiro oriundo da Espanha.
Janio não precisa perder tempo nem me lendo nem me ouvindo. Que ouça e leia outros que contribuam para que não passe o ridículo de se comportar como supernanny de mensaleiro. Mas ele não tem tempo nem de aprender nada nem de esquecer nada.
Então vai continuar tentando.
Texto publicado originalmente às 4h03Por Reinaldo Azevedo
Tags: direito de defesa, imprensa, Janio de Freitas, Mensalão
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16/02/2014 às 5:10
A mercadoria “Zé Dirceu preso” rende mais do que o comércio de substâncias lícitas e ilícitas
Que coisa!
Um Zé Dirceu preso, pelo visto, rende mais vantagens do que o comércio de qualquer substância lícita ou ilícita. Em três dias, o site para arrecadar dinheiro para pagar a multa imposta pelo STF arrecadou R$ 301.481,28. Nesta segunda, não será surpresa se chegar perto de R$ 1 milhão. Não se esqueça de que Delúbio Soares recebeu, num único dia, R$ 600 mil.
Desse jeito, o PT ainda acaba transformando petista preso em mercadoria e fonte de renda para o partido, não é mesmo? O deboche inconstitucional continua. Caso Henrique Pizzolato seja extraditado, será preciso fazer igual esforço pelo companheiro, certo?
Já ouvi aqui e ali que o PT não pode ser censurado por isso porque não estaria fazendo nada ilegal (não???) e que a luta política, afinal de contas, é legítima.
“Uma ova!”, como gosto de dizer. Os petistas estão fazendo pouco caso da Justiça e deixando claro que não reconhecem seus valores e fundamentos. Ao promover essas campanhas — e ainda que a doação seja uma mandracaria —, é evidente que procura desmoralizar o Poder Judiciário e o julgamento.
O nome da droga que o PT está vendendo é agressão às instituições. Por Reinaldo Azevedo
Tags: José Dirceu, Mensalão
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16/02/2014 às 4:57
O surto de amor de Suplicy pelos mensaleiros
Por que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), odiado e desprezado por Lula e pela turma do mensalão, decidiu agora aparecer como aquele que polariza com ministro Gilmar Mendes? O contexto explica. Fosse pelo Apedeuta, ele não seria o candidato do partido ao Senado em São Paulo. Ou escolheria um outro, mesmo que eleitoralmente menos viável, ou usaria a vaga para negociar com partidos que vão apoiar a candidatura de Alexandre Padilha ao governo do Estado no primeiro turno ou no segundo — se o petista passar.
É remota, próxima de zero, a chance de Suplicy não se candidatar a mais um mandato. Mas é grande a possibilidade de ser abandonado por uma parte da máquina petista. Se Henrique Meireles (PSD), por exemplo, disputar a vaga, não seria difícil Lula aparecer ao seu lado, assim, sem querer. Qual dos dois vocês acham que o chefão petista gostaria de ver eleito?
Então Suplicy teve agora esse surto de amor pelos mensaleiros.Por Reinaldo Azevedo
Tags: Eduardo Suplicy, Eleições 2014
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16/02/2014 às 4:46
Azeda a relação do PT com o PMDB em vários estados
Por Paulo Celso Pereira, no Globo Online:
A quatro meses da convenção nacional que deve sacramentar a aliança do PMDB com o PT para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a relação entre os dois partidos enfrenta problemas em dois terços das 27 unidades da federação. Em alguns casos, como em Pernambuco, Bahia e Acre, o rompimento já vem de longa data e não causa surpresa. O problema é a profusão de estados em que os peemedebistas veem seu futuro em risco pela dita “ganância” do PT. A maioria dos dirigentes do PMDB ainda considera improvável que a aliança nacional não se confirme, mas mesmo os mais próximos aliados de Dilma já consideram possível que boa parte dos candidatos do partido nos estados abandonem a campanha da presidente.
O caso do Rio é exemplar. Após sete anos de aliança, PMDB e PT estão em guerra aberta e a direção peemedebista estadual trabalha para que prefeitos e deputados do partido não auxiliem na campanha de Dilma. Esse cenário corre o risco de se repetir nos outros estados onde os dois partidos se enfrentarão, como no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Piauí. Em São Paulo também haverá disputa entre os dois partidos, mas tanto Paulo Skaf (PMDB) quanto Alexandre Padilha (PT) têm o partido do tucano Geraldo Alckmin como alvo.
Diante da crise, o vice-presidente Michel Temer, num gesto exagerado, chegou a afirmar no twitter há duas semanas que caso a maioria dos diretórios estaduais do PMDB não seja contemplada pela aliança sua indicação à vice pode ser abandonada: “Para mim, isso (o partido) está acima de projeto pessoal (a vice) e farei todo esforço para manter a aliança, mas o que o partido decidir, eu acato.”
Líder dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff por quase seis anos, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) considera improvável um rompimento na aliança nacional, mas destaca que não basta ter esse compromisso para o sucesso da reeleição de Dilma. É preciso engajamento. “Na maioria dos estados vai haver disputa regional, mas esperamos que num clima de aliança nacional. A situação de 2014 é mais complexa que em 2010, e isso requer mais atenção. Vai ser preciso mais tolerância, os palanques regionais vão estar mais conturbados, o clima mais nervoso e a eleição é mais difícil. Então todo cuidado é pouco. É preciso haver uma hecatombe de coordenação politica para haver risco para a aliança. Mas ter a aliança é só a primeira etapa, ter todo mundo engajado é a segunda etapa. A aliança por si só não ganha eleição”, explica.
Concretamente, o risco para a aliança nacional depende da solução que será dada a estados-chave na convenção nacional, como Minas Gerais, o Ceará e Maranhão. No primeiro, as dificuldades internas são maiores que as externas, mas nos dois últimos não. O senador Eunício Oliveira (PMDB), pré-candidato ao governo do Ceará, exige que a presidente Dilma Rousseff dê tratamento igual à sua campanha e a do candidato apontado pelo governador Cid Gomes. A presidente, no entanto, já deixou claro a vários interlocutores que tem um compromisso com Cid, que abandonou o PSB de Eduardo Campos para apoiar a reeleição da petista.
No Maranhão, a família Sarney deseja que os petistas apoiem seu candidato à sucessão da governadora Roseana Sarney, mas o PT reluta. Boa parte do partido deseja apoiar o arquirrival do grupo, Flávio Dino (PCdoB), e encontrou na hipótese de ter uma candidatura própria a alternativa para diminuir a crise com o PMDB. Pouco adiantou. Os Sarney continuam querendo apoio integral a seu grupo político.
Em vários estados onde o cenário era alvissareiro, o caldo começou a entornar com a proximidade das eleições. Há um temor crescente dentro do PMDB em relação à postura que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula tomarão durante a campanha. Os peemedebistas não se esquecem da disputa de 2010 na Bahia, onde o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) havia acertado um acordo pelo qual a então candidata Dilma se comprometera em não privilegiar nenhum candidato da base, mas conforme a disputa avançou acabou mergulhando na campanha à reeleição do governador Jaques Wagner (PT) e abandonou Geddel.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), vem trabalhando para minimizar a crise, mas considera importante as direções nacionais dos dois partidos retomarem o quanto antes o diálogo para estabelecer acordos. “Tem problema em mais da metade dos estados. Isso vai se definir em junho, nesse período é natural que as pessoas coloquem suas pretensões. Quando você tem disputas, é preciso ter paciência, diálogo, habilidade. O PT e o PMDB precisam sentar novamente. Nós estávamos conversando no ano passado com o Rui Falcão mas houve eleição interna do PT e as conversas pararam. Está na hora de retomarmos”, alerta Braga.
(…)Por Reinaldo Azevedo
Tags: Eleições 2014, PMDB, PT
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15/02/2014 às 5:53
LEIAM ABAIXO
— IRRESPONSÁVEIS 2 – A OAB-RJ perdeu a moral para representar a defesa do Estado de Direito no Rio. Nota vergonhosa sobre o ataque a cinegrafista desmoraliza os advogados do Rio. Ou reagem ou passarão a ser serviçais do PSOL;
— Senador quer que ministro diga para onde vai a verba da publicidade oficial. Ou: Dinheiro público não pode financiar difamadores;
— Lula nas asas de um ex-réu do “mensalão mineiro”. Mas PT que o fígado de Azeredo…;
— Não tem jeito! No começo, os petistas não tinham limites; depois, eles pioraram. Ou: Como era óbvio, tumulto no metrô interessava ao PT;
— Pizzolato, peixe pequeno, estava montado na grana; Dirceu, o tubarão, tadinho!, precisa pedir esmola na Internet!;
— A campanha terrorista de Padilha na TV, o PT e os cadáveres;
— CRIME ORGANIZADO – Página do Black Bloc faz ameaça a quem revela informações sobre o grupo;
— E o “Mais Médicos” é, agora oficialmente, um “caso de polícia”. Espantoso!;
— Médica cubana cobra na Justiça indenização de R$ 149 mil;
— IRRESPONSÁVEIS 1 – A delinquência intelectual na entrevista de um chefete do PSTU;
— Gilmar Mendes: mensaleiros devem usar expertise arrecadatória para ressarcir aos cofres públicos pelo menos R$ 100 milhões. E o que diz a Constituição. Leia íntegra da resposta do ministro a Suplicy;
— Delegado pede prisão preventiva de acusados de matar cinegrafista;
— Ou o Brasil não terá uma lei antiterrorismo ou terá uma que, na prática, vai liberar a extrema esquerda para praticar o… terror”! Ou: QUEM TEM MEDO DA LEI ANTITERRORISMO?;
— Eu acuso;
— Um dos assassinos de cinegrafista confirma a existência de grupos que financiam a violência; Cardozo diz que vai investigar. Então tá!;
— Polícia vai investigar se dinheiro doado por políticos foi usado em ações criminosas dos black blocs;
— Lei da eutanásia infantil na Bélgica celebra a cultura da morte;
— O Brasil baderneiro: PT, PSB e outros puxam o saco do MST um dia depois de pancadaria em Brasília;
— Falha a mais recente tentativa de melar o julgamento do mensalãoPor Reinaldo Azevedo
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15/02/2014 às 5:43
IRRESPONSÁVEIS 2 – A OAB-RJ perdeu a moral para representar a defesa do Estado de Direito no Rio. Nota vergonhosa sobre o ataque a cinegrafista desmoraliza os advogados do Rio. Ou reagem ou passarão a ser serviçais do PSOL
VOU MANTER ESTE TEXTO NO ALTO DA PÁGINA. HÁ ATUALIZAÇÕES ABAIXO DELE
Já chamei mais de uma vez, e chamo de novo, a OAB-RJ de “babá de black bloc”. É vergonhoso, tendente ao asqueroso, como vocês verão, o comprometimento ideológico da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ com os baderneiros. Há muito entrou no terreno da indignidade. Os advogados do Rio deveriam se envergonhar.
Lembro que a Ordem dos Advogados do Brasil não é uma mera associação de caráter sindical, à qual as pessoas se filiam se quiserem. Trata-se de uma entidade paraoficial — que conquistou, inclusive, o discutível “direito” de dar ao advogado a competência para trabalhar ou não na área. Se o indivíduo for reprovado no exame da Ordem, nada feito. Sempre defendi essa prerrogativa porque me parecia, até anteontem, que era a garantia de uma maior qualidade dos profissionais, o que é bom para os brasileiros.
Estou em processo de revisão do meu ponto de vista. Se a OAB decide se comportar como um grupelho ideológico, que ignora garantias fundamentais da Constituição e atropela com desassombro uma penca de leis do Código Penal, então OAB para quê? Aliás, se um brasileiro não precisa nem mesmo ser formado em direito para ser ministro do STF — e não precisa: basta ter 35 anos e notório saber jurídico —, então por que precisa ter o “passaporte” da Ordem? Ainda não é o meu ponto de vista definitivo. Estou em processo. Mas os descalabros da OAB-RJ estão servindo de um forte argumento contra esse superpoder da entidade. Afinal, se a ordem é um ente que subordina os profissionais ainda que estes não quisessem, cabe-lhe obrigatoriamente ser politicamente neutra.
Chegou-me só hoje, um pouco tarde, mas ainda a tempo, uma nota oficial emitida por um senhor chamado Marcelo Chalreo. Ele é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Ele se refere ao ataque que sofreu o cinegrafista Santiago Andrade no Rio, no dia 6, que resultou na sua morte. Leiam o texto em vermelho. Os destaques ficam por minha conta porque eu os comentarei em seguida. O texto é indecente já a partir do título. É longo, mas vale a pena. Leiam conforme o original. Volto em seguida.
*
Ação e Reação
Redijo essa por conta do incidente que causou graves e sérias lesões em um cinegrafista de um grupo de mídia na cidade do Rio de Janeiro na última quinta-feira. A Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB RJ esteve presente no Hospital Souza Aguiar na noite da ocorrência para não só emprestar toda solidariedade à família, mas também para melhor se inteirar do ocorrido e compartilhar com dirigentes do Sindicato dos Jornalistas e amigos do atingido sua expectativa de que tudo corresse da melhor forma possível, buscando, outrossim, junto à administração do Hospital, todas as informações possíveis que pudessem dar um quadro real da situação existente. Na ocasião, declaramos à imprensa que seria precipitado e leviano naquele momento, como já faziam alguns órgãos de mídias, imputar a este ou aquele a responsabilidade pelo artefato que atingira o mencionado profissional de imprensa. Constatamos no ato um fato que já vinha sendo posto : o repórter não portava durante seu trabalho qualquer identificação claramente visível de ser profissional de imprensa nem usava qualquer equipamento de proteção individual, como capacete, máscara antigases etc, apetrechos essenciais em coberturas que podem implicar em risco à integridade física, como praxe em certos segmentos da mídia. O uso desses equipamentos de identificação e proteção, reclamados há meses pelo Sindicato dos Jornalistas ao empresariado da mídia, porém não fornecidos aos profissionais de imprensa, poderiam ter evitado ou minorado, a contundência sofrida.
Isso posto, resta pontuar que têm sido recorrentes desde o ano passado ferimentos, lesões, danos físicos de maior ou menor gravidade em decorrência dos protestos que têm tomado as ruas brasileiras, em sua maior medida, como mais de uma vez apurado, mas sem a devida responsabilização dos seus causadores, originários de atos e ações da polícia. Mais uma razão, repete-se, para que os profissionais destacados para essas coberturas portem os necessários equipamentos de proteção individual como meio e modo de resguardarem sua incolumidade física.
Nesse contexto, as reações dos manifestantes às ações policiais, que na maioria das vezes usaram e usam força desmedida, desproporcional e até incontrolável, têm sido um fato. O uso de táticas e métodos contraofensivos é mecanismo mais que antigo na seara do protesto social em face da truculência policial, bastando retroagir aos acontecimentos de Paris em 68, aos protestos estudantis do Rio em 67 e 68 ante a ditadura civil-militar, às greves do ABC no fim dos anos 70, às ações militantes da Alemanha no início dos anos 80, à greve da CSN em 88, às manifestações contra o aumento das passagens de ônibus no Rio no fim dos anos 80, às passeatas de Buenos Aires no início dos anos 90 e mais recentemente aos protestos sociais na Espanha, em Portugal, no Chile, na Turquia, na Colômbia, no Egito e no Brasil.
Frente a uma polícia despreparada, na verdade na ausência de uma política de segurança pública cidadã e que não veja e não tenha o manifestante como um inimigo a ser batido ( a propósito, ver reportagem de “ O Globo “ do dia 02/09 : “ Sem Preparo . Em pesquisa, 64% dos policiais assumem não ter treinamento adequado para agir em manifestações “ ) impera a força a qualquer custo e preço, o que, segundo os próprios policiais ouvidos ( em todo o Brasil ) decorre da “… (a) atuação da tropa é determinada pelos governos estaduais “, não é impensável, muito menos improvável ( e os exemplos mais uma vez vêm do nosso próprio e não distante passado e de outros países ), que os manifestantes se preparem para o pior e portem o que consideram necessariamente defensivo em face da brutalidade policial iminente. No mesmo diapasão, a reforçar ações contraofensivas de maior alcance, insere-se o perfil de uma força de segurança militarizada dos pés à cabeça, das mais violentas e que mais mata no Mundo. Não bastasse, houve e há um conjunto de medidas administrativas e legais draconianas, muitas vezes inconstitucionais e ilegais, adotadas por nossos governantes municipais, estaduais e federal a mais gasolina jogar na fogueira da insensatez pura e simplesmente repressiva, como se não houvesse um estado geral de insatisfação com um conjunto de práticas e políticas governamentais que fizeram e fazem eclodir os protestos em inúmeros pontos do Brasil, o que obviamente não se restringe aos grandes centros e às grandes cidades.
Nessa linha, ação e reação se combinam e se enlaçam em um contexto sócio-político-econômico explosivo ( e isso só não ver quem não quer ),onde o diálogo cessa ou é escasso, com valoração da força bruta do Estado para tentar inibir e conter o que é crescente : uma insatisfação popular cada vez menos latente e mais explícita na qual a juventude precariada é aríete claro à qual se somam outros estamentos sociais de oposição a um modelo excludente e permissivo de tudo que não que seja sua própria negação.
Para finalizar, não podemos deixar de apontar que até momento a grande massa dos que deram entrada nos hospitais públicos e privados brasileiros após os confrontos em nossas ruas, estradas, vilas, favelas, universidades foram os atingidos por ações e artefatos disparados pelas forças policiais, alguns dos quais com lesões irreversíveis, sem que se tenha notícia de quaisquer atos governamentais ( administrativos ou judiciais ) que de fato tenham buscado apurar e responsabilizar os praticantes desses “ excessos “, o que, por óbvio, só faz reforçar o sentido e a necessidade de uma autodefesa por parte do mais fraco, gerando, em consequência do aviltamento da cidadania violada em seu direito de manifestação e protesto, cenas como as vistas no Rio na quinta passada e muito provavelmente se voltarão a repetir em razão da falta de uma cultura efetivamente democrática, distributiva, partícipe, cidadã e de transparência no trato da coisa pública.
A violência, como parteira da história, se apresenta ( na verdade sempre esteve presente ) indelevelmente aos nossos olhos de hoje.
Retomo
Retomo. Começo pelo fim do texto, que, muito provavelmente, põe a ignorância a serviço da imoralidade. Esta frase — “a violência é a parteira da história” — não é de Marx, como já vi em muitos panfletos de extrema esquerda e vejo agora. Marx escreveu outra coisa: “A violência é a parteira de toda a velha sociedade prenhe de uma nova”. Comentando a passagem, Hannah Arendt sintetiza, então, que, PARA MARX, “a violência é parteira da história”. Não se trata de um endosso. Ela lembra que, para o marxismo — e assim deve parecer para o representante da OAB —, o estado é o instrumento de dominação de uma classe. Ora, essa consideração serve para quê? Para legitimar a violência revolucionária. Mas o sr…, como é mesmo o nome dele?, ah, é Marcelo Chalreo, achou a frase do balacobaco. Atenção! O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ acha que a violência é inevitável e redentora. Lixo moral. É incrível a frequência com que encontrei o nome deste senhor associado a pessoas e eventos do PSOL.
Não censura
Notem que, em momento nenhum, o rapaz censura a violência dos atos nem aqueles que agrediram mortalmente Santiago Andrade. Como ele mesmo confessa, foi ao hospital para prestar solidariedade, mas também para saber o que tinha acontecido para municiar de informações o Sindicato dos Jornalistas do Rio, que é comandado pelo PSOL.
Comento agora destaque a destaque, de cima para baixo.
O título da nota é “Ação e reação”. O representante da OAB afirma que os manifestantes apenas reagiram à polícia. É mentira! Está documentado. A polícia é que reagiu ao quebra-quebra.
“Sérias lesões”? Santiago está morto. E já se sabia, desde a primeira hora, que não havia esperança para ele. Pedaços de seu cérebro ficaram na calçada.
O tal Chalreo tem tanto nojo da imprensa que nem dá o nome da emissora a que Santiago pertencia: TV Bandeirantes, Band, escolham. Vira apenas um “grupo de mídia”.
O tal acusa a precipitação da mídia em culpar manifestantes. Mentira! Dez horas depois dos eventos, a principal emissora do país, a Globo, ainda culpava a polícia, embora já estivesse claro que se tratava de artefato que a polícia não emprega. A afirmação é escandalosamente mentirosa.
Repetindo a ladainha vagabunda do Sindicato dos Jornalistas do Rio, dominado pelo PSOL, notem que ele prefere culpar a empresa e o próprio profissional pela tragédia: afinal, ele estaria trabalhando sem capacete. Chalreo acha que se deve cobrir uma manifestação como quem vai para a guerra. Que nojo do texto desse cara! Pior: jornalistas não se identificam nos protestos para não ser linchados. É mais seguro vestir um colete de imprensa na Síria do que numa manifestação comandada por black blocs.
O advogado, vejam lá, justifica o fato de manifestantes irem literalmente armados para as manifestações. Segundo ele, trata-se apenas de uma ação preventiva e defensiva. Isso o faz chamar de incidente o ataque ao cinegrafista. Uma ova! Um dos rapazes que acenderam o morteiro deixa claro que o alvo eram os policiais.
Há um maior número de feridos entre manifestantes porque há mais pessoas nos protestos do que policiais. É matemático. Se, no entanto, formos fazer uma conta proporcional, a conclusão óbvia é que os truculentos mascarados atacam com muito mais ferocidade, com uma diferença básica que não deveria escapar ao advogado: as forças de segurança detêm o monopólio do uso legítimo da força. Ou ele não reconhece esse princípio?
No fim de seu texto, antes de se atrapalhar com Marx e Hannah Arendt, resta evidente que ele defende a ação dos black blocs como tática do que chama autodefesa. É mesmo? De quem contra quem? Pensando o que pensa, este senhor enxerga uma luta da sociedade contra o estado, como se a polícia representasse uma ordem autoritária, aquela vislumbrada por Marx, em que o aparelho estatal está a serviço de uma classe.
Para que seu delírio fizesse sentido, forçoso seria que os mascarados fossem legítimos representantes da classe operária. São? Não! Em São Paulo, o povo de verdade pegou um black bloc em ação. O cretino só não morreu linchado porque foi salvo por seguranças.
Encerro
Reajam, senhores advogados do Rio. Com esse tipo de representação, o risco menor é perder a hombridade.
Post publicado originalmente às 20h44 desta sextaPor Reinaldo Azevedo
Tags: black blocs, OAB-RJ
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