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02/11/2013 às 19:00 \ Política & Cia
“Um país que tem embargos infringentes, por exemplo, é um país burro — não pode existir vida inteligente num sistema em que, para cumprir a lei, é preciso admitir a possibilidade de processos que não acabam nunca” (Imagem: Dreamworks)
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
CRÊ OU MORRE
E se de repente, um dia desses, ficasse demonstrado por A + B que o grande problema do Brasil, acima de qualquer outro, é a burrice?
Ninguém está aqui para ficar fazendo comentários alarmistas, prática que esta revista desaconselha formalmente a seus colaboradores, mas chega uma hora em que certas realidades têm de ser discutidas cara a cara com os leitores, por mais desagradáveis que possam ser.
É possível, perfeitamente, que estejamos diante de uma delas neste momento: achamos que a mãe de todos os males deste país é a boa e velha safadeza, que persegue cada brasileiro a partir do minuto em que sua certidão de nascimento é expedida pelo cartório de registro civil, e o acompanha até a entrega do atestado de óbito, mas a coisa pode ser bem pior que isso.
Safadeza aleija, é claro, e sabemos perfeitamente quanto ela nos custa — basicamente, custa todo esse dinheiro que deveria estar sendo aplicado em nosso favor mas que acaba se transformando em fortunas privadas para os amigos do governo, ou é jogado no lixo por incompetência, preguiça e irresponsabilidade.
Mas burrice mata, e para a morte, como também se sabe, não existe cura. Ela está presente pelos quatro cantos da vida nacional. Um país que tem embargos infringentes, por exemplo, é um país burro — não pode existir vida inteligente num sistema em que, para cumprir a lei, é preciso admitir a possibilidade de processos que não acabam nunca.
Também não há atividade cerebral mínima em sociedades que aceitam como fato normal trens que viajam a 2 quilômetros por hora, a exigência de firma reconhecida, o voto obrigatório e assim por diante. A variedade a ser tratada neste artigo é a burrice na vida política. Ela é especialmente malvada, pois age como um bloqueador para as funções vitais do organismo público — impede a melhora em qualquer coisa que precisa ser melhorada, e ajuda a piorar tudo o que pode ser piorado.
A manifestação mais maligna desse tipo de estupidez é a imposição, feita pelo governo, e a sua aceitação passiva, por parte de quase todos os participantes da atividade política brasileira, da seguinte ideia: no Brasil de hoje só existem dois campos.
Um deles, o do governo, do PT, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, é o campo do “bem”; atribui a si próprio as virtudes de ser a favor da população pobre, da verdadeira democracia, da distribuição de renda, da independência nacional e tudo o mais que possa haver de positivo na existência de uma nação.
É, em suma, a “esquerda”.
O outro, formado automaticamente por quem discorda do governo e dos seus atuais proprietários, é o campo do “mal”. A ele a máquina de propaganda oficial atribui os vícios de ser a “elite”, defender a volta da escravidão, conspirar para dar golpes de Estado, brigar contra a redução da pobreza e apoiar tudo o mais que possa haver de horrível numa sociedade humana.
É, em suma, a “direita”.
O efeito mais visível dessa prática é que se interditou no Brasil a possibilidade de haver um centro na vida política. Ou você está com Lula-Dilma ou vai para o inferno; “crê ou morre”, como insistia a Inquisição da Santa Madre Igreja.
Essa postura é um insulto à capacidade humana de pensar em linha reta, que continua sendo a distância mais curta entre dois pontos. O Brasil não é feito de extremos; isso simplesmente não existe em nenhum país democrático do mundo.
Abolir o espaço para um centro moderado é negar às pessoas o direito de pensar com aquilo que lhes parece ser apenas bom-senso, ou a lógica comum. Por que o cidadão não poderia ser, ao mesmo tempo, a favor do Bolsa Família e contra a conduta do PT no governo?
É dinheiro de imposto; melhor dar algum aos pobres do que deixar que roubem tudo. (O programa, aliás, foi criado por Fernando Henrique; de Júlio César para cá, passando por Franklin Roosevelt, dar dinheiro ou comida direto ao povão é regra básica de qualquer manual de sobrevivência política.)
- “No Brasil 2013 Fernando Gabeira, Marina Silva e tantos outros que querem pensar com a própria cabeça são ‘de direita’” (Foto: Leonardo Soares / AE)
Qual é o problema em defender a legislação trabalhista e, ao mesmo tempo, achar que quem rouba deve ir para a cadeia? O que impediria alguém de ser a favor do voto livre e contra o voto obrigatório? Nada, a não ser a burrice que obriga todos a se ajoelharem diante do que o PT quer hoje, para não serem condenados como hereges.
É por isso que no Brasil 2013 Fernando Gabeira, Marina Silva e tantos outros que querem pensar com a própria cabeça são de “direita”, segundo os propagandistas do governo. Já Paulo Maluf, José Sarney etc. são de esquerda.
Vida inteligente?
Tags: Bolsa Família, Dilma Rousseff, embargos infringentes, Fernando Gabeira,FHC, J. R. Guzzo, José Sarney, Lula, Marina Silva, Paulo Maluf, voto obrigatório
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9 Comentários
IZIDRO SIMÕES -
03/11/2013 às 1:08
GEEEENTEEEE! Olha a sózia do Gilberto Gil, aí!
Nilo -
03/11/2013 às 0:39
Guzzo :
Reinaldo-BH deixou pouco a se acrescentar , só noto depois que os petistas assimiram o planalto , há com ações pontuais e gradativas de chinalizar o país. infelizmente achou terreno fertil na maioria do povo que assume a sua burrice ao não exercer seu livre pensar e pior não planeja seu futuro . o proximo governante que assumir pós pt vai apanhar muito em função da omissão da maioria , até parece que foi incutido na cabeça da população uma variável de um dito popular que destesto : farinha pouca , meu pirão primeiro , no caso , antes que acabe , meu bolsa (qualquer uma) primeiro .
Paulo Pinheiro -
02/11/2013 às 22:50
Seu comentário arrogante, agressivo e pretensioso — sobretudo ao referir-se a um mestre do jornalismo, como J. R. Guzzo, que formou duas gerações de grandes profissionais — foi deletado.
Jacques Amorim Filho -
02/11/2013 às 22:24
Outro dia o Guzzo escreveu que somos um país de otários. Agora, de burros.
Mas é verdade: basta ver quem é que a gente colocou e mantém no poder…
Claudinei Maciel -
02/11/2013 às 22:15
A sobriedade da análise do sr. Guzzo me deixa com sentimentos ambíguos:
Feliz por ver tanta loquacidade em um artigo e desesperançoso por ver que estas coisas não mudarão com tanta facilidade.
Este é um país burro, porque é cheio de pessoas que preferem levar vantagem do que fazer as coisas da forma correta. Todos almejam entrar para a vida pública para ter a oportunidade de se locupletar. Quem não consegue a vida pública, quer trabalhar para o Governo, para poderem ter estabilidade e também a possibilidade de se locupletar de alguma forma.
Enquanto isso, o povo burro, tem que ser forçado a engolir leis esdrúxulas, ver essas mesmas leis serem usadas para livrar a cara dos que tem dinheiro e poder, ver todos os malfeitos serem feitos às claras com a certeza de jamais haver punições.
Triste país esse…
A saída de todo esse imbróglio? Não se sabe.
A tomada dos poderes e das leis pelo partido no poder é tão grande que a esperança deixou de ser um sentimento para ser apenas algo etéreo e inatingível para todos nós.
Reynaldo-BH -
02/11/2013 às 20:47
A legenda da foto do Gabeira e Marina expõe a verdade – deles – de modo insofismável.
Poderia se ler: “quem não adere ao pensamento único é oposto a mim, que afirmo ser de esquerda”.
Pensar é crime. Discordar é ser rotulado. reafirmar dúvidas (ou posições) é ser um desprezível que não merece nada além de ofensas.
O que surpreende é que não consigo acreditar na sinceridade de todos. Sei que muitos agem por interesse. Pelas benesses e sinecuras oficiais. Um restante movido por ódio (nunca é bom sentimento) que cega o que se fez e os empurra a reescrever o passado. Mas e o restante? Seres pensantes, que tem o direito da escolha. E exercem – hoje – de modo pleno. E se recusam a admitir o mesmo direito a quem ousa pensar de moto próprio. Mais fácil demonizar, rotular, falsear números, expor argumentações que não se sustentam nem mesmo em um exercício primário de lógica e acima de tudo, tentar calar os que pensam diversamente pela intimidação. QUe país pretendem? Que caldo de cultura pensam produzir? Qual noção de democracia (e respeito à diversidade) pregam? Não sei.
É como criticar o piloto por se recusar a voar: não se busca as razões da negativa. Citam-se ofensas e exemplos passados como que a obrigar que todos estejam no voo do perigo. (E esta é uma opinião, portanto sujeita a toda a sorte de ironias, desqualificações e impropérios. Se tiverem a coragem de responder).
Somos todos fascistas e direitistas raivosos ou ressentidos. Elitistas sem dó nem piedade. Cultuadores da desigualdade social. E possivelmente contra o advento da luz elétrica.
É proibido pensar, tangenciando ao poeta que não permitia proibir e hoje é censor.
Para que pensar pela própria cabeça se o exercício já é feito por terceiros? Porque não aceitar o que pensam por nós? De onde viria a “audácia” de pensarmos de modo independente?
Talvez da anestesia. Ou ainda da comodidade, pois quem pensa pensar pelo que os outros pensam pensar, está imune a críticas. Errara com todos. E assim, se todos erram, todos estarão certos. Confuso? Menos que a ideologia do não pensar. Abrindo mão do que nos separa de manadas dóceis e sem vontade própria.
Não receio os oponentes. Tenho medo dos aderentes sem estofo, que usam da concordância para usufruir da dita zona de conforto. Assim agiram – sempre !- os neo-lulopetistas: Sarney, Henrique Alves, Romero Jucá, Collor, etc. São sempre aderentes ao pensar sem a própria cabeça.
E assim são todos – como ita mestre Guzzo – de esquerda. Afinal repetem – sem saber o que dizem ou pior ainda, sabendo – o que lhes mandaram pensar.
Cabe a cada um dos aderentes buscar as desculpas (ou explicações) para a rendição de pensar. O não pensar. Seja fé nos ditames de uma esquerda que – eles não veem – nunca foi bandeira do petismo. A esquerda envolve conceitos sociológicos baseados na ética. E a nova esquerda, em conceitos econômicos que em bada diferem do capitalismo. (Vide, Europa e mesmo a China).
Livre pensar é só pensar, dizia Millor Fernandes.
Hoje pensar é só seguir o que mandam que se pense.
Em 1945, um país seguiu a receita. Sei que estamos longe disto.
Mas a história nos dá exemplos.
Este é mais um deles.
norton -
02/11/2013 às 20:42
COMO CONVENCER DEZ MILHÕES
leia até o final
os políticos atuais estão viciados na pior forma de fazer política
o prato do dia é a pizza, o interesse é somente individual
não vote em branco, não anule seu voto
voto de protesto? e daí?
aquele(a) que você votou decepcionou?
troque, virão novos canditados
você vai deixar os outros decidirem por você?
cada eleitor convence em média 10 eleitores para votar
até as eleições convencer em média 1 eleitor por mês
1, 10, 100, 1.000, 10.000, 100.000, 1.000.000, DEZ MILHÕES
VAMOS FAZER UMA GRANDE LIMPEZA DEMOCRÁTICA, PELO VOTO
VAMOS RENOVAR A MAIORIA DOS ATUAIS POLÍTICOS
você vai continuar somente reclamando?
converse com vizinhos, no trabalho, na universidade, etc.
vamos começar cedo a conscientização
compartilhe no facebook etc., entre nesta corrente
copie o texto e envie por e-mail aos seus amigos
AJUDE A MUDAR O BRASIL
tadeu tedesco -
02/11/2013 às 19:58
pois é, meu amigo…por ser de “direita”, ou de “esquerda”, ou de “centro”, ou de “qualquer esquina”, mas sempre contra este partido que tomou conta a mais de 10 anos e não larga o osso…que me vou embora com a família para os E.U.A…aquele mesmo, imperialista…do mal…que quer roubar nossas riquezas…espero sinceramente que meus netos sejam americanos, e que nunca, mas nunca mesmo, queriam voltar para este país da República das Bananas…onde quem trabalha e quer levar uma vida justa, é considerado “elite”, e não merece uma sombra ao sol…
Jayme Guedes -
02/11/2013 às 19:17
Setti, a abertura – “e se de repente, um dia desses, ficasse demonstrado por A + B que o grande problema do Brasil, acima de qualquer outro, é a burrice?” – já vale o texto. Não conheço ninguém, além de mim, que use com mais frequência as expressões “burrice”, “burro” e suas variações para referir-se ao Brasil do PT, morada da burrice e cuja maior ambição não vai além da conquista do campeonato mundial de futebol. Não, não avançaremos um centímetro enquanto não conseguirmos que nossas crianças se interessem pela matemática, pelo menos com intensidade igual ao do interesse demonstrado pelo futebol, pelo passinho, pelo treinamento para porta-bandeira de escola de samba, e assemelhados. Até lá, nossa tragédia continuará a ser essa paixão desmedida que faz com que nossas crianças valorizem acima de tudo, o ponto do corpo mais extremo em relação ao cérebro: o pé.
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